sexta-feira, 30 de julho de 2021

Passado o dia D, reflexões fenomenológicas


A humanidade está em ser movimento. A frustração é o momento do vivido e não é vergonhosa, por isso não apago o dia D. Há de se digerir os processos, ruminá-los, chorar feito criança, entrar no casulo, é processo autofágico. 

Passado a crise, refletir nossos processos egoístas. Quantos de nós entramos na competitividade da vida sem pensar o quanto isso já é excludente. São os fenômenos desta sociedade dita inclusiva. E por mais que tentemos ser inclusivos, ainda assim estamos dentro de um sistema exclusivo.

É contraditório não aos moldes hegelianos, mas marxiano. E é pensar esse fenômeno enquanto movimento aparente que podemos nos debruçar no objeto a ser investigado. 

Entendo que para iniciar uma pesquisa partimos dos pressupostos hipotéticos. Então, uma pesquisa sempre parte de três possibilidades: Ausência de um constructo crítico, Presença de um constructo crítico insuficiente, Presença de constructo crítico mistificador.

Um marxista parte desse referencial insuficiente e mistificador para apropriar-se das categorias objetais, desmistificando aquilo que se apresenta de imediato, sem as intervenções de um pensamento crítico. 

É importante observar que toda concepção teórica e científica é relativa, mas não relativista. É relativa porque não aceita uma verdade absoluta, mas busca a reprodução ideal do conhecimento real do objeto investigado. Em outras palavras não é a idealização do objeto que se apresenta de imediato no ambiente, mas de sua concretude e gênese. 

A inclusão, por exemplo, como fenômeno apresenta-se na imediaticidade como uma solução das questões sociais que envolvem a problemática das desigualdades. No entanto, o que aparentemente se apresenta possui em si movimentos ideais não reais. 

A tendência é o mascaramento das realidades existentes e a total insuficiência das pesquisas existentes nesta área, pois muitas delas apoiam-se no relativismo das Ciências Sociais. 

O materialismo histórico dialético possui dois elementos básicos historicidade e valoração. A historicidade implica em dois aspectos fundamentais: 1) Apenas quando a sociedade burguesa (material primordial maxiano) estiver consolidada é que o objeto revelará o seu florescimento quanto as suas tendências estruturais; 2) As tendências estruturais estão a vista no território político e são elas o explorado e o explorador.

A valoração, por sua vez, não é necessariamente um saber científico, é na verdade um conluio de ideologias. Ou seja, não se trata apenas de uma análise objetal, mas de uma relação sujeito-objeto como fruto da ação dos homens.

Portanto, categorias, para Marx não são um conceito ou uma definição.

A inclusão não pode partir de uma investigação conceitual ou de uma definição, mas de uma relação que busca os traços pertinentes ao campo de estudo. Quando não pensamos a dialética, valemo-nos do imediatismo ou do mundo aparente que não faz uso da mediação. Para Marx as determinações do objeto de estudo já está dado e é através da abstração das determinações deste objeto que o pesquisador revelará a sua constituição real, ou seja; não há nada a ser colocado ou acrescentado ao objeto pelo pesquisador.

São estas determinações que precisam tornar-se evidentes quando estuda-se a inclusão na sociedade capitalista. É entender que o critério da verdade é processo factual e implica na prática social. 

Categoria em Marx, portanto; são formas de ser, modos de existir socialmente e realiza análise do objeto em sua riqueza categorial que são processos constitutivos da sociedade capitalista. Nos estudos da inclusão parte-se da categoria simples chamada trabalho e de todas as implicações do trabalho, sendo importante pensar categoricamente nos modos de produção, na mais valia, no ser produtivo e improdutivo.

É preciso compreender que o concreto é concreto como síntese de múltiplas determinações. Incluir está para além de técnicas e métodos de inclusão. É praxis que visa superar as estruturas dessa sociedade burguesa, que é em sua gênese excludente. 




Das introspecções de o ovo e a galinha em Clarice Lispector.

Ilustração da obra Tacuinum Sanitatis Quem sou eu para desvendar tal mistério se nem mesmo Clarice desvendou, embora intuitivamente eu o sai...