segunda-feira, 31 de outubro de 2022

O 18 Brumário de Louis Bonaparte

Antonio Carlos Mazzeo | O 18 Brumário de Luís Bonaparte | A guerra civil na ...

YouTube · TV Boitempo

20 de dez. de 2012

Nada tão atual. Nada tão rico. Nada tão importante, quanto esta leitura marxiana.

Ressurge o bonapartismo na figura de outrora. O salvador da pátria conciliador das massas, que ainda representa uma classe social e um projeto de capital.

Na medida em que os homens traem, vendem a ideia da humanidade e chacinam ou trancafiam os que lutam por ela, a ideia como tal deixa de ser pronunciável; o escárnio e a sátira constituem a aparência real da sua verdade.
Em alguma passagem de suas obras, Hegel comenta que todos os grandes fatos e todos os grandes personagens da história mundial são encenados, por assim dizer, duas vezes. Ele se esqueceu de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa.
Os homens fazem a sua própria história; contudo, não a fazem de livre e espontânea vontade, pois não são eles quem escolhem as circunstâncias sob as quais ela é feita, mas estas lhes foram transmitidas assim como se encontram. A tradição de todas as gerações passadas é como um pesadelo que comprime o cérebro dos vivos.
E justamente quando parecem estar empenhados em transformar a si mesmos e as coisas, em criar algo nunca antes visto, exatamente nessas épocas de crise revolucionária, eles conjuram temerosamente a ajuda dos espíritos do passado, tomam emprestados os seus nomes, as suas palavras de ordem, o seu figurino, a fim de representar, com essa venerável roupagem tradicional e essa linguagem tomada de empréstimo, as novas cenas da história mundial.
Não é do passado, mas unicamente do futuro, que a revolução social do século XIX pode colher a sua poesia. Ela não pode começar a dedicar-se a si mesma antes de ter despido toda a superstição que a prende ao passado.

 

Referência:

Marx, Karl, [1818-1883]. O 18 de brumário de Luís Bonaparte / Karl Marx ; [tradução e notas Nélio Schneider ; prólogo Herbert Marcuse]. - São Paulo: Boitempo, 2011.


quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Cantando e dançando na chuva







"I'm singin' and dancin' in the rain!"

(Gene Kelly)

Não me convide para cantar na chuva

Na chuva eu já estou

Não me convide para dançar na chuva

Eu sempre estou na chuva

Não me convide para celebrar

se estou maltrapilho

Não me convide, não.

Não me convide para cantar na chuva

se o que me resta

é o leito do hospital

uma gripe que não cessa

uma pneumonia adquirida

nesse cantar

Não me convide para dançar na chuva

se todos os dias estou na chuva

nas ruas à beira dos sinais

nas praças à roda dos bancos

nos mercados à roda dos restos

nas fábricas à roda de contas injustas

Não me convide para cantar na chuva

se a sua dança vier acompanhada da morte

das balas perdidas

e do seu cacetete

os teus fuzíveis dançam sobre os túmulos

dos meus sonhos

Não me convide para cantar e dançar na chuva

se isso serve para amenizar sua consciência

se isso é a esmola que cala a tua 

responsabilidade social

se em algum momento eu sou inferior

se mereço a tua caridade

se sou apenas a tua tarefa diária de bem

Não me convide, na chuva eu já estou

eu sempre estou na chuva

sem teto e sem esperança

Por Dâmaris Costa




Das introspecções de o ovo e a galinha em Clarice Lispector.

Ilustração da obra Tacuinum Sanitatis Quem sou eu para desvendar tal mistério se nem mesmo Clarice desvendou, embora intuitivamente eu o sai...