quinta-feira, 19 de julho de 2018

GOFFMAN, E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada.





GOFFMAN, E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2013. 158 p.


RESUMO


Goffman, sociólogo e escritor, esclarece qual a relação do “estigma e desvio social”. Para o autor essa relação é determinada pelo contexto sociocultural no qual os indivíduos estão inseridos. Ele reexamina os conceitos de estigma e os discute relacionando-os com a informação social que os indivíduos transmitem sobre si, ou seja, busca uma compreensão de como as relações sociais se estabelecem e sua permanência como ideia normatizada na sociedade. Em seu livro “Estigma [...]” o autor traz cinco perspectivas que pretende elucidar: Estigma e identidade social, controle de informação e identidade, alinhamento grupal e identidade do eu, o eu e o seu outro e desvios e comportamento desviante. Num primeiro momento faz um apanhado histórico para o termo “estigma” a fim de introduzir como esse conceito se atualizou e estabeleceu. O estigma poderia ser o que determinaria “a priori” da identidade ou identificação, pois isento de contato o juízo moral já estaria pré-estabelecido aos indivíduos. O papel social estaria consolidado. Para o autor o estigma é uma situação em que o indivíduo está indisponibilizado de defesa porque já estaria condenado e, portanto, a sua aceitação social não poderia ser plena. A sociedade possui em sua estrutura categorizações pré-definidas, por isso estigma seria uma qualidade que torna sem efeito o direito já que impõe sobre o outro uma imagem social prévia, sendo logicamente um mecanismo que executa um controle social. Segundo o autor “O normal e o estigmatizado não são pessoas, e sim perspectivas que são geradas em situações sociais durante os contatos mistos, em virtude de normas não cumpridas que provavelmente atuam sobre o encontro.” (p.148-149). Logo, o estigma está para diferenciar sempre de forma negativa um ou vários indivíduos grupais em equivalências. Deseja, então, determinar pela comparação a “normatividade”. Por essa causa muitos indivíduos acabam, por tornarem-se reféns de um papel que define aceitação, pois se sentem obrigados a realizar a manutenção constante de sua identificação e da interação nos grupos a que pertencem, bem como as normas maiores (moral), tendo, assim sua liberdade de ação tolhida ou limitada. Dessa forma a inadequação as normas daquilo que se julga “normal” tornaria o indivíduo que não se enquadra, por assim dizer “estigmatizado”. A conduta para com esses seria a priori discriminatória e excludente. Daí vê-se a utilização de termos pejorativos em referência a essa inadequação ou “anormalidade”. Numa ação que clama por aceitação o estigmatizado se esforçaria para ser aceito pela maioria grupal ou em reação tornar-se combativo. Goffman afirma: “pode-se acrescentar que a pessoa estigmatizada algumas vezes vacila entre o retraimento e a agressividade, correndo de um para a outra, tornando manifesta, assim, uma modalidade fundamental na qual a interação face-to-face pode tornar-se muito violenta.” (p.27). Essas categorizações sociais pré-estabelecidas podem ser negativas ou positivas recebendo pelo indivíduo o caráter de maior ou menor prestígio influindo em sua autoestima e em como ele se relaciona consigo mesmo a depender de como o outro reage. Esse processo que envolve as funções psíquicas superiores vai se tornando determinante das interações sociais, visto que a autoimagem só poderia ser aceita se os outros indivíduos também a aceitassem. O ponto culminante de toda essa relação processual é que a depender de como o grupo reage ao estigmatizado modifica a leitura individual de si mesmo. Muitas vezes os indivíduos passam a se depreciarem e se auto-odiarem por não estar adequados à norma. A sociedade afirma que ele faz parte do grupo amplo, mas contraditoriamente lhe impõe a “diferença” como estigma, já que negar essa diferença seria absurdo. “A diferença, em si, deriva da sociedade, porque, em geral, antes que uma diferença seja importante ela deve ser coletivamente conceptualizada pela sociedade como um todo” (p. 134). Esse processo que inferioriza pessoas é matriz geradora de disque-me-disque, depreciações e maculações difundidas pelas culturas de massas reafirmando padrões e generalizações negativas que ao longo do caminho assumem caráter de “verdade” e minam qualquer chance de defesa e de unidade entre membros de grupos inferiorizados os quais, infelizmente, muitas vezes não esboçam reação assumindo a qualidade que lhes foi imputada.





Nenhum comentário:

Postar um comentário

Das introspecções de o ovo e a galinha em Clarice Lispector.

Ilustração da obra Tacuinum Sanitatis Quem sou eu para desvendar tal mistério se nem mesmo Clarice desvendou, embora intuitivamente eu o sai...