1. INFORMAÇÕES BIBLIOGRAFICAS
FERREIRA, M. C..
A Psicologia Social Contemporânea: Principais Tendências e Perspectivas
Nacionais e Internacionais. Psicologia:
Teoria e Pesquisa, Brasília, Vol. 26, n. especial, p. 51-64, 2010.
Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/ptp/v26nspe/a05v26ns.pdf>.
Acesso mai. 2018.
2. DADOS SOBRE O AUTOR
Maria Cristina Ferreira possui graduação em psicologia pela Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (1972), mestrado em psicologia pela Fundação
Getúlio Vargas - RJ (1977), na área de Psicologia Cognitiva, doutorado em
psicologia pela Fundação Getúlio Vargas - RJ (1985), na área de psicologia
cognitiva, e estágio pós-doutoral realizado na Victoria University at
Wellington (2009). Tem experiência de docência e pesquisa nas áreas de
psicologia organizacional e do trabalho, metodologia de pesquisa e psicometria,
e atua principalmente nos seguintes temas: comportamento organizacional,
psicologia transcultural e medidas psicológicas. Foi membro da diretoria da
Sociedade Brasileira de Psicologia Organizacional e do Trabalho no biênio
2003-2005; membro da diretoria da ANPEPP no biênio 2008-2010 e 2010-2012;
coordenadora de GT da ANPEPP nos Simpósios de 2008 e 2010; representante
regional para a América do Sul da International Association of Cross-Cultural
Psychology no período de 2010-2014, tendo sido reeleita para o período
2014-2018. Em 2012, presidiu a Comissão Organizadora do V Congresso Brasileiro
de Psicologia Organizacional e do Trabalho e atuou como professora visitante do
Mestrado Europeu em Psicologia Organizacional e do Trabalho, na Universidade de
Coimbra.
Disponível em:
< https://www.escavador.com/sobre/4618498/maria-cristina-ferreira>.
3. DADOS SOBRE A OBRA
1)
Breve histórico da Psicologia Social faz um balanço do seu
estado atual, no plano nacional e internacional.
2)
Revisão inicial das principais tendências que marcaram
a evolução da Psicologia Social na América do Norte.
3)
Apresentação das características atuais mais relevantes
dessa disciplina na América do Norte, na Europa e na América Latina.
4)
Análise da recente produção brasileira em Psicologia
Social. Discussão dos desafios futuros que se colocam à produção nacional na
área de Psicologia Social, especialmente no que diz respeito a seu impacto no
cenário acadêmico internacional.
4. RESENHA
Na introdução a autora
apresenta uma visão geral sobre o tema informando a dificuldade de delimitar o
objeto de estudo dessa disciplina. Para ela o binômio indivíduo-sociedade
oscila de um lado para outro. Primeiramente seu objeto de estudo eram os
processos socioculturais, depois focou no indivíduo e no processo intraindividual. A reação a essa
individualização foi o nascimento de outras abordagens voltadas à análise histórico-cultural
e sua dinâmica. Surgem duas modalidades: 1) Psicologia Social Psicológica:
sentimentos, pensamentos, comportamentos são explicados por outros indivíduos
reais ou imaginários (clássica) e 2) Psicologia Social Sociológica: Indivíduo
adquire seus comportamentos nos grupos sociais de convivência (fenômenos
emergentes dos grupos). A Psicologia Social Crítica é a vertente mais recente.
Caracterizada por uma “postura crítica em
relação às instituições, organizações e práticas da sociedade atual” contra
a opressão e a exploração e a favor da mudança social. Fazem parte dela
posturas teóricas como: Socioconstrucionismo, Psicologia Discursiva, Psicologia
Marxista, o pós-modernismo e o feminismo, entre outros. O texto é constituído
de três tópicas principais sobre a Psicologia Social: 1) América do Norte:
Psicologia Social Psicológica: tendência predominante. 2) Europa: Psicologia
Social Sociológica: processos grupais e socioculturais e 3) América Latina: Psicologia
Social Crítica: abordagem preferencial pelos graves problemas sociais que
costumam assolar a região.
Num segundo momento a
autora aborda a Psicologia Social na América do Norte. Psicologia e Sociologia
caminharam juntas durante algum tempo e depois se concentraram mais
especificamente no behaviorismo, cuja tendência predominante seria a Psicologia
Social Psicológica. Sob influências da Gestalt, Sheriff e Lewin, desenvolveram
e realizaram experimentos sociais cuja temática eram a influência social e de
dinâmica de grupos. Sheriff preocupou-se com o “processo de formação de normas sociais” enquanto Lewin dedicou-se “à análise da influência dos estilos de
liderança e do clima grupal sobre o comportamento dos membros do grupo.”. Dois
temas marcaram a década de 20 e 30: atitudes
e percepção de pessoa. No campo das atitudes, Hovlan e equipe estudaram
comunicação e persuasão e concluíram que diferentes fatores interferem na
mudança de atitude e que atitudes são fundamentais para a Psicologia Social. No
campo da percepção de pessoas, Heider estudou e concluiu que “indivíduos associam as ações das pessoas a motivos e disposições
internas”, ou seja, entendem que o comportamento está relacionado com a
qualidade pessoal. Desenvolveu também a teoria do equilíbrio, que o indivíduo
tende a manter sentimentos e cognição focados em um objeto ou pessoa única,
pois quando isso entra em desarmonia surgem tensões que logo terão de ser
equilibradas. Já Asch, conclui “que as
informações sobre as características pessoais do outro são organizadas em um
todo coerente, que difere da soma das partes e pode ser modificado por peças
críticas de informação que provocam a reorganização desse todo”. Nos anos
50 e 60 novos rumos para a temática influência social e processos intergrupais surgem.
Asch e Festinger interessam-se “pela
análise dos processos que levam os indivíduos a se conformarem com as normas do
grupo ao realizarem julgamentos”. Seguindo a mesma vertente Milgram
abordará a obediência à autoridade. Festinger introduz a teoria dissonância
cognitiva, o equilíbrio está atitudes e ações e pessoas são motivadas a
procurá-lo. Os anos 60, 70 e 80 serão dominados pelas teorias da atribuição,
onde indivíduos atribuem causas (internas) pessoais ou (externas) situacionais
ao comportamento do outro. Foram importantes para entender princípios que
governam o pensamento social e compreender fenômenos psicossociais, como
depressão e ajustamento conjugal. A partir dos anos 80 o foco estará no
cognitivismo social que buscaria compreender “os processos cognitivos que se encontram subjacentes ao pensamento
social”.
Em seguida Ferreira discorre a Psicologia Social na Europa informando que
essa caminhou inicialmente com a Psicologia Social Psicológica, porém devido à
crise e suas próprias necessidades nos anos 70 adquiriu uma identidade própria
centrando seus estudos em duas vertentes temáticas: 1) a identidade social e 2)
as representações sociais. Identidade
Social: Tajfel, dimensão social do comportamento individual e grupal, o
indivíduo é moldado pela sociedade e pela cultura. Três postulados básicos: 1)
auto-conceito – eu pertenço ao grupo, 2) autoestima – eu sou motivado e 3)
identidade social positiva – eu me comparo favoravelmente ao meu grupo e outros
grupos. Turner, Hogg, Oakes, Reicher e Wetherell, apontam que indivíduos
realizam determinadas categorizações e essas são consequentes no comportamento
coletivo. Pode-se dizer que as identidades sociais são categorias socialmente
construídas e emergem de acordo com a situação social, ou seja, elas estão ali
para serem usadas. Representações Sociais:
Para Moscovici elas se originam do senso comum e na coletividade e interações
sociais. Dessa forma conceitos, imagens e explicações vão se alterando
inserindo na realidade novos conceitos. Elas buscam dar sentido ao
desconhecido. O núcleo central é fundamental para o sentido e se ancora na
memória coletiva do grupo, portanto, ele é normativo.
Dando seqüência à lógica a autora apresenta a Psicologia Social na
América Latina que nos anos 70 foi influenciada pela Psicologia Social Psicológica
americana, porém no final dos anos 70 os psicólogos sociais latino-americanos
começaram a questionar essa psicologia pela realidade latina marcada por
desigualdades, miséria, e ditaduras militares. A ruptura deveria ser radical.
Martin-Baró foi o pioneiro nessa Psicologia mais crítica, assim denominada
Psicologia Social Crítica. Ele defendia uma psicologia que fosse comprometida
com a realidade social da América Latina e entendia que os psicólogos sociais
deveriam trabalhar para a construção de identidades pessoais, coletivas e
históricas cuja finalidade seria romper com a alienação da classe popular que
vivia oprimida e desumanizada. Maritza Montero foi outra autora latino-americana
a defender a Psicologia Crítica questionando os modos de produção do
conhecimento e a Psicologia que estava sendo praticada. Ela defendia uma
transformação social, a importância da pesquisa para a sociedade, bem como a
intervenção da psicologia nos problemas que causavam terror a população. Suas
pesquisas estavam voltadas ao estudo de estereótipos, autoimagens, identidades
sociais, nacionalismo, movimentos sociais, poder social, relações de gênero,
violência doméstica, direitos reprodutivos da mulher, entre outros. No Brasil,
até os anos 70 a psicologia americana foi dominante, porém no final dos anos 70
psicólogos sociais brasileiros vão participar do movimento de ruptura com a
mesma. Aroldo Rodrigues desde o início dos anos 70 passa a pesquisar e
desenvolver uma profunda linha de pesquisa em Psicologia Social. Silvia Lane e
outros pesquisadores seguiram a mesma linha e defenderam uma Psicologia Social
Crítica com interesses nos “problemas
sociais enfrentados pelo país, como, por exemplo, a violência doméstica, as
crianças de rua, a pobreza, a desigualdade social e a exclusão educacional.”
A ABRAPSO (Associação Brasileira de Psicologia Social) foi fundada em 1980
sendo desde então uma grande cooperadora na construção de embasamento teórico
científico e também divulgadora do pensamento que entende o ser humano como produto
histórico-social, ou seja, construído historicamente e socialmente.
Finalizando Ferreira elenca uma série de informações em pesquisa
realizadas na base de dados Scielo em periódicos de artigos de produção
brasileira em Psicologia Social das três vertentes (Psicologia Social
Psicológica, Psicologia Social Sociológica e Psicologia Social Crítica). Ela
informa ao leitor que “foram selecionados
636 artigos para compor uma base de dados com informações sobre características
de autoria e sua natureza teórica, temática e metodológica”. A conclusão
foi de que “as três vertentes atuais da
Psicologia Social encontram-se representadas nessa produção, com maior
preferência por estudos de natureza teórica ou de natureza empírico-qualitativa
conduzidos na perspectiva da Psicologia Social Crítica.”
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