domingo, 11 de outubro de 2020

Práxis: desvelando princípios básicos.

 Por Damaris Melgaço


Práxis, palavrinha tão usada nos meios educacionais, mas você sabe o que significa?

O termo aparece já nos tempos homéricos, quando eleva a contemplação filosófica ao status quo de positividade e de reflexão. Nesta época há uma verdadeira distinção entre as produções voltadas a intelectualidade e as produções de trabalho manual. Um homem elevado intelectualmente não deveria se ocupar de trabalhos comuns. Era vergonhoso.

O período renascentista trouxe com ele questionamentos interessantes sobre a intelectualidade, desbravou a filosofia até então existente, rompeu com padrões estéticos, promoveu novas estéticas, adentrou ao mundo da presunção do domínio, herança feudal, supervalorizou a moeda, fetichizou e tornou a acumulação de bens um ideal. Surgem agora os ideias do capital e a práxis fundante da economia capitalista ditou novos rumos a práxis, agora não mais de cunho filosófico contemplativo, mas separatista e classificatório, como de pertencer; e despertencer, ou seja; somente pertence quem domina. E quem domina possui o conhecimento e a produção do mesmo. Aos dominados resta-lhes ser expropriado de si para acatar passivamente os ideais de predomínio agora estatal. Se antes o incentivo a contemplação e a elevação humana era prioridade, agora é de pertença de apenas alguns. 

Marx em seus estudos inicia um movimento de base que dá a práxis uma nova dinâmica. Em sua filosofia da práxis ele concebe uma práxis que é constante e sempre existente nas atividades humanas. Ele reitera a práxis não separada dos movimentos de historicidade humana, sendo fundante de toda ação social existente e de construções coletivas. A práxis não pode ser negada e é o que é dada a realidade ideológica que a guia ou direciona. Em Marx a práxis desvela-se para além de sua existência, já que ele dá a ela um caráter de criticidade.  

Ele reconhece a existência da práxis enquanto movimento que é continuo ao longo da história das civilizações humanas. É dinâmica e se altera conforme as estruturas sociais e políticas também se alteram. Então, para entender práxis, em Marx, não se deve separá-la da unidade, como se em algum momento houvesse duas coisas a se juntarem: a prática e a teoria. Para este autor as políticas do capital o fazem, pois separam, em suas divisões de classe, a teoria da prática, já que o homem letrado possui a teoria a favor de si e do estado e o proletário a prática do exercício laboral.

Desta forma para Marx, o capital sequestra a unidade para si, desmembrando a práxis em condição reiterativa e espontânea. Desta forma a práxis torna-se apenas a assunção de valores e ideais pela imitação daquilo que é dado, imposto e desprovido de sentido. A consciência acaba prisioneira de estados alienantes; sem expressividade.

É esta condição que o autor denuncia em seus estudos teóricos: a alienação da consciência. A práxis, em Marx, ganha conotações de denúncia que toma por base a reflexão e a produção criadora, pois surge de uma necessidade e busca por soluções, sendo um processo que não se repete. Ao mesmo tempo um estado de retomada da consciência de mundo ou consciência da práxis para refletir a prática, tendo em si mesmo um caráter revolucionário.

O autor propõe a retomada da consciência da práxis, propõe o resgate do valor produtivo humano em sua integralidade, sem dicotomizar, separando ou classificando em mais valia, ou seja; em contrabalanço da atividade laboral nas balanças injustas que ora exigem maior produtividade do trabalhador, ora impõem maior produtividade via tecnologias. Propõe a retomada, nem que seja a força, do direito de usufruir da integralidade do trabalho que é o resultado de toda produção humana. Não há distinção entre atividade, já que toda atividade é valor em si. 

Para Marx o conhecimento é a bússola da prática, é norteadora do caminho de produção e é direito de todos. A globalização do caminho conhecido é que estas forças retroagem em si mesmas porque em algum momento por necessidade o homem pensou sua prática, idealizou uma ação que produziu algo, que registrou as gerações aquele novo saber que não se repetiu, mas evoluiu tendo como norte o que dantes conheceu, produzindo novas exigências e novas produções e novos saberes.

Portanto, práxis não é a junção e nem a separação entre teoria e prática, é mais; é movimento constante, como as rodas de um carro; pois ao mesmo tempo que produz conhecimento, também produz prática e ambos se geram no caminho da transformação daquela realidade. Em Marx a práxis ganha valor político, ético, revolucionário com potenciais de transformação social, e ela tem por base a crítica reflexiva.

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