De vez em quando eu paro para pensar sobre e, hoje, é um desses momentos, propícios à reflexão. Observo como nós "civilizados" estabelecemos a sociedade sob a marca do valor. Penso que enquanto seres humanos essa é uma questão material que perpassa as relações basais - primordiais à sobrevivência coletiva.
Desde cedo aprendemos a valorar as coisas. Nessas relações objetais enquanto sociedade criamos a pirâmide das valorações. Tal qual as pirâmides de Maslow, mas penso eu que essa questão é mais profunda porque implica no ato da vida coletiva e promove a estática da vida humana.
A equilibração da vida humana, portanto; não se movimenta de forma simétrica à necessidade, ela se contrabalança entre as relações de valores sociais, valores esses que são construídos em sociedade. Por isso, a pergunta.
Com a contrabalança da mercadoria observa-se a maximização do poder monetário, no qual perdem-se as expectativas de valor real para o valor ilusório. Comumente observa-se o reducionismo do valor das relações objetais, dentre elas as afetivas, a um valor numérico. Por exemplo,
- Você vale o número de aprovações,
- Você vale o número de amigos,
- Você vale o número de amores,
- Você vale o número de viagens,
Então, consuma monetariamente o que te fará ser àquele número.
Desta forma, a mercadoria tem dominado todas as nossas relações objetais. Como disse Marx acerca da alienação do trabalho, como produto final temos um organismo vivo que se movimenta descolado da sua relação produtiva e, por conseguinte, apartado de sua consciência de valor, condicionado ao consumo daquilo que ele mesmo produz, porém sem sentir-se parte dessa produção.
Qual é o preço desse processo? Ausência de pensamento autônomo. A maioria de nós é um consumidor, ou seja, recebemos verdades prontas e inquestionáveis, já valoradas por outros de nós. Na biologia, a natureza obedece uma cadeia de consumo, o ser humano dentre elas ocupa desde os níveis primários até mesmo terciários. Podemos afirmar que somos consumidores por natureza.
Consumir é uma verdade inquestionável, mas a nossa fome não é somente de comida, entende?
A música "Comida" da banda Titãs expressa na arte a nossa fome consumidora, cujo fim é contraditório à nossa expectativa de produção. Veja,
Bebida é água
Comida é pasto
Você tem sede de quê?
Você tem fome de quê?
A gente não quer só comida
A gente quer comida, diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída para qualquer parte
A gente não quer só comida
A gente quer bebida, diversão, balé
A gente não quer só comida
A gente quer a vida como a vida quer
A gente não quer só comer
A gente quer comer e quer fazer amor
A gente não quer só comer
A gente quer prazer pra aliviar a dor
A gente não quer só dinheiro
A gente quer dinheiro e felicidade
A gente não quer só dinheiro
A gente quer inteiro e não pela metade
Desejo, necessidade, vontade
Necessidade, desejo, é
Necessidade, vontade, é
Necessidade
Percebe como cada palavra revela a confusão de valor? A alienação dos sentidos, da vida coletiva, da necessidade real?
Cada um busca o sentido dentro de um esquema pré-desenhado, supostamente produtivo, mas questiono, que produção é essa que recai no consumo?
À luz da biologia, nós somos consumidores naturais que serão em algum ponto consumidos pela natureza, mas no nosso ato de "produção" criamos coisas que fatalmente serão consumidas por nós e por nossa prole, talvez na ânsia de não sermos consumidos pela natureza. Doce ilusão que nos consome.
O problema reside em que nossas criações (atos produtivos) não podem ser consumidas pela natureza. Automaticamente, travamos essa breve luta contra a finitude da vida que nunca se assegura nas nossas pífias produções.
Nesse ato filosófico, deixo a você leitor a pergunta inicial, que inutilmente eu tento responder.
Então, que a vida seja um brinde à morte e à vida que sempre renasce. Que o ódio seja derradeiro ao amor e vice-versa. Que a paz encontre em nós o sabor. Que a justiça seja a balança da estática humana. Que a verdade seja pura e simples como o sorriso do velho e da criança. Que os ciclos sejam renováveis em mim e em você. Que sejamos leais aos sentidos mais nobres escondidos nos rastros humanos que deixamos às futuras gerações. E que a breve vida seja um lugar de amar em conforto, junto dos que amam a vida e a morte, sem medo. Te espero.
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