quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Psicodiagnóstico (Cap. 1 TRINCA)

Autor(es):

Trinca, Walter e cools.

Organizador (es):

Trinca, Walter

Coordenador (es):

Clara Regina Rappaport

Editor (es):

Editora Pedagógica e Universitária Ltda

Tradutor:

Não consta

Título e subtítulo da obra:

Diagnóstico psicológico: prática clínica

Título e subtítulo do capítulo 1:

Contexto geral do diagnóstico psicológico

Autor (es) do capítulo:

Marilia Ancona-Lopes

Edição:

Local de publicação:

São Paulo

Editora:

E.P.U

Data da publicação:

1984

Coleção:

Temas Básicos de Psicologia

Páginas:

111 p.

Intervalo de páginas do capítulo:

1-13 pp.

Volume:

11

(para livros na internet) Acesso em:

Março 2019

(para livros na internet) Disponível em:

file:///C:/Users/Cliente/Downloads/[TRINCA,%20W.]%20Diagn%C3%B3stico%20Psicol%C3%B3gico%20-%20a%20pr%C3% A1tica %20cl%C3%ADnica.pdf

p. 1 (1.1 – o termo diagnóstico)

ü  Diagnosticar é uma forma de enxergar através de um fenômeno que se apresenta de diversas maneiras e possibilidades sendo, portanto, inevitável.

ü  Fazemos distinção entre o todo e a maneira que se apresenta no individual tendo assim através das particularidades o conhecimento do fenômeno em si.

ü  Para tanto se faz uso de processos como a observação, avaliação e interpretação partindo de nossas experiências, informações peculiares à consciência de.

ü  Por essa causa há confusão entre diagnosticar e compreender o fenômeno.

ü  Diagnosticar então é uma possibilidade para o conhecimento científico que está separado do senso comum.

ü  “[...] à possibilidade de significar a realidade que faz uso de conceitos, noções e teorias científicas.” (p.1)

p. 2 (1.1.2 – o diagnóstico psicológico)

ü  Parte das Ciências humanas e ocupa funções pré-estabelecidas não sendo aplicadas de qualquer maneira.

ü  Antes obedecem a uma ordem rigorosa que se preocupa com o estudo de fenômenos possíveis, e de conhecimentos que foram desenvolvidos a partir desses estudos.

ü  É um conhecimento sistematizado por uma teoria psicológica que envolve um objeto de estudo, uma epistemologia e um método.

ü  Nesse campo há muitas teorias e por isso divergem entre si, inclusive na maneira de como fazer ciência, ou qual procedimento é adotado nesse fazer.

ü  Por essa causa os estudos em psicologia são bastante criticados por aqueles que se dedicam a estudar o conhecimento.

ü  “0 diagnóstico psicológico busca uma forma de compreensão situada no âmbito da Psicologia” (p.2).

ü  Por ser uma profissão regulamentada – lei 4119/62 – possui respaldo para atuar e fazer ciência. Logo, ao realizar um psicodiagnóstico presume-se que esse profissional possua as competências necessárias para fazê-lo.

ü  Dentre elas estão: o saber teórico, domínio de procedimentos e técnicas psicológicas. A atuação do psicólogo dependerá dessas capacidades e de sua linha epistemológica.

ü  Vale lembrar que o termo diagnóstico psicológico varia de acordo com a concepção adotada. Então para alguns esse termo referir-se-á a “[...] “psicodiagnóstico”, “diagnóstico da personalidade”, “estudo de caso” ou “avaliação psicológica” (p. 3)”.

p. 3 (1.2. A Psicologia Clinica e as abordagens psicodiagnósticas)

ü  1896 – primeira vez que se usa o termo Psicologia Clínica. Inicia em conjunto com a clínica médica (psiquiatria) com crianças com deficiência física e mental.

ü  Há um afastamento das concepções religiosas que atribuíam às doenças um caráter excludente de estigma (castigo ou possessão).

ü  A psiquiatria surge para “combater a doença mental” e a Psicopatologia para “estudar o comportamento anormal, definindo-o, compreendendo seus aspectos subjacentes, sua etiologia, classificação e aspectos sociais.” (p. 3-4).

ü  Juntamente com a Psiquiatria e a Psicopatologia a Psicologia Clínica surge “[...] como atividade voltada à prevenção e ao alívio do sofrimento psíquico”. (p. 4).

p. 4 (1.2.1. A busca de um conhecimento objetivo)

ü  Existia uma postura predominante à época, positivismo, ou seja, fundamentada na observação e experimentação a fim de confirmar hipóteses e referenciar teorias.

ü  Os modelos vigentes eram: “[...] modelo médico de psicodiagnóstico, o modelo psicométrico e o modelo behaviorista” (p. 4).

p. 4 (a) O modelo médico)

ü  O psicólogo atuava conjuntamente ao médico dando ênfase aos aspectos patológicos fazendo uso de testes psicométricos e nosologias psicopatológicas. A função do psicólogo estava transposta às funções médicas avalisando seus métodos na descrição das doenças e classificações (DSM’s).

ü  A psicopatologia objetivava:

[...] estabelecer diferenças entre desordens orgânicas, endógenas, e desordens funcionais, exógenas, procurando-se estabelecer relações entre as mesmas e os distúrbios de comportamento. Estabeleceram-se, também, relações de causalidade entre os distúrbios orgânicos e os distúrbios psicológicos [...]. (p. 4).

ü  O uso dos testes apenas reforçavam tendências patológicas e forneciam informações para os sinais sintomáticos e orgânicos dos indivíduos.

ü  “a grande ênfase nos aspectos psicopatológicos deixava em segundo plano características não-patológicas do comportamento das pessoas, limitando o estudo e o conhecimento sobre o indivíduo”. (p. 5)

p. 5 (b) O modelo psicométrico)

ü  Nesse modelo o trabalho do psicólogo ficou resumido aos testes, já que somente esse profissional poderia fazê-lo dando-lhe autonomia.

ü  As crianças foram sua maior demanda e passaram a atuar junto à educação na detecção de déficits de aprendizagem e possíveis motivos.

ü  Com o tempo os resultados passaram a servir para orientação aos pais, educadores e médicos.

ü  “[...] tornou-se menos importante detectar distúrbios e classificá-los psicopatologicamente, mas sim estabelecer diferenças individuais e orientações específicas” (p. 5).

ü  Esse modelo priorizava a composição genética e imutável generalizando a constituição humana (Psicologia do Traço) e o seu comportamento. Define um ideal de homem e como diagnosticá-lo.

ü  Essa prática foi utilizada, USA, para selecionar homens aptos ao exército, bem como sua volta e os efeitos da 2ª guerra.

p. 6 (c) O modelo behaviorista)

ü  Positivismo: o homem estudado como qualquer outro ser natural. Objeto de estudo observável e mensurável. Para esse modelo o comportamento humano é o único objeto capaz de ser estudado.

ü  Comportamento humano não decorre do inatismo e da imutabilidade, sendo aprendido e modificável.

ü  Postulavam leis de variação que influenciavam o comportamento e estudavam como modificá-lo através da modelagem, e outros mecanismos.

ü  Para eles o termo "psicodiagnóstico”, não tem valia, por essa razão fizeram uso de termos como: “[...] “levantamentos de repertório” ou “análises de comportamento” (p.6)”.

 

p. 6 e 7 (1.2.2. A importância da subjetividade)

ü  Surgem teorias que vem de encontro à ideia de separar sujeito e objeto de estudo. O homem estabelece o conhecimento e esse, portanto, é subjetivo. Para eles “psicologia positivista, objetiva e experimental” não poderia ser validada.

Esta forma de pensar foi marcante para a Psicopatologia e para a Psicologia (p.7) [...] Todas essas correntes afirmam que a consciência, a vida intencional, determina e é determinada pelo mundo, sendo fonte de significação e valor. Salientam o caráter holístico do homem e sua capacidade de escolha e autodeterminação (p.7).

p. 7 (a) O Humanismo)

ü  Evitava as posições reducionistas, mantendo uma visão global do homem e buscavam compreender seu mundo e significado. Eram avessos ao diagnóstico psi9cológico, pois esse classificava, por meio de testes. O homem é um ser em desenvolvimento e, portanto livre.

ü  Para os humanistas os testes eram formas excludentes de racionalizar e julgar o homem sob o referencial teórico. Eles não faziam uso de testes e diagnósticos. Preferiam relacionar-se com o indivíduo para alcançarem durante a psicoterapia uma compreensão do mesmo.

 p. 7 e 8 (b) A Psicologia Fenomenológico-existencial)

ü  Reformularam a visão do psicodiagnóstico. Os testes e o diagnóstico contribuem para a compreensão do indivíduo e seu autoconhecimento. Essas informações podem ser discutidas com o cliente podendo estabelecer possíveis conclusões.

ü  “Apesar de empregarem testes e informações derivadas de diferentes correntes do conhecimento psicológico, utilizam-nas apenas como recursos ou estratégias a serem trabalhadas com os clientes (p. 7-8)”.

p. 8 (c) A Psicanálise)

ü  Revoluciona a Psicologia com o conceito do inconsciente explicando os comportamentos através de processos intrapsiquicos.

ü  Através da ótica psicanalítica, rediscutem-se a determinação psíquica, a dinâmica da personalidade, reveem-se os comportamentos psicopatológicos, sua origem e prognóstico (p. 8).

ü  Procurou explicar a formação, estrutura e funcionamento da mente de forma completa. Enfatizaram aspectos da personalidade e deram grande valor às entrevistas, observações e técnicas projetivas, bem como a relação entre paciente e psicoterapeuta sendo esse instrumentalizado para lidar com as relações de transferência e contratransferência.

ü  Enfim, a Psicanálise desenvolveu instrumentos diagnósticos sutis, que permitem verificar o que se passa com o indivíduo por detrás de seu comportamento aparente (p. 8).

p. 8, 9 e 10 (1.2.3. A procura de integração)

ü  Existem alguns equivalentes atuais das ciências positivistas, fenomenológico-existenciais, humanistas e psicanalíticas, porém não há unanimidade e há diferenças fundamentais entre elas, por isso fica difícil reconhecer as fronteiras.

ü  Em Psicologia Clínica, existe uma gama de saberes e práticas. Alguns saberes podem ser unidos em espaços organizacionais, porém outros ficam no campo empírico e sem muito embasamento por serem estudos principiantes.

ü  “Nenhuma teoria, até agora, mostrou-se suficiente para responder a todas as questões colocadas pela Psicologia (p. 9)”.

ü  Ao se ter postura crítica diante do saber de cunho psicológico, e ao buscar integrar as muitas vitórias na área desses estudos incorre-se no abandono de fazer prevalecer apenas uma posição teórica. “Este processo de integração reflete-se também no trabalho de psicodiagnóstico” (p.9).

ü  “[...] para se compreender o homem, é necessário organizar conhecimentos que digam respeito à sua vida biológica, intrapsíquica e social, não sendo possível excluir nenhum desses horizontes (p. 9)”.

ü  Em psicodiagnóstico faz-se necessário considerar todo o processo desenvolvimental do indivíduo, ou seja, a maturação biológica, as funções motoras, a organização neurológica, sendo que ao avaliar as mesmas não se abandona a integralidade do paciente.

ü  Na área educacional essa avaliação integral é muito importante, principalmente no psicodiagnóstico infantil (ao lado da avaliação cognitiva) porque está diretamente ligada ao bom êxito prático e a ideia de sucesso escolar.

ü  O que o psicólogo deveria questionar é: Que causas orgânicas e possíveis estão implícitas à queixa que se apresenta sobre determinado indivíduo? Quando detectado alterações físicas, essas devem ser devolvidas ao paciente ao médico responsável. Isso é importante para não psicologizar perturbações de outra ordem, ou seja, dar explicações psicológicas a problemas que possuem outra origem.

ü  Outra problemática que merece atenção está diretamente ligada à relação terapeuta-paciente, bem como os determinantes de ordem familiar e social. Os valores e as expectativas do paciente precisam ser considerados, já que a integração de todos esses dados preserva a visão integral do indivíduo e dos porquês daquele fenômeno que ali se apresenta.

ü  “[...] um psicodiagnóstico, por mais completo que seja, refere-se a um determinado momento de vida do indivíduo, e constitui sempre uma hipótese diagnóstica (p. 10)”.

p. 10 e 11 (1.3. Teoria e prática)

ü  “A relação entre a prática e a teoria em diferentes ciências e, portanto, também em Psicologia, é uma das questões que ocupa os estudiosos (p. 10)”.

ü  É um problema quando a prática se dá sem lançar mão da criticidade em relação aos sistemas teóricos e a própria atuação profissional, ou seja, quando essa prática está alienada a sistemas de cunho teórico implícito e naturalizado na cultura daquela sociedade.

ü  Outro problema está na compreensão de que apesar das contrariedades teóricas podemos elaborar formas diversas de atuação junto aos pacientes, já que identificamos como essas contrariedades se refletem na prática. Essa consciência proporcionaria uma atuação mais segura e tranquila.

ü   Para alguns a prática está exclusivamente assegurada na utilização de uma atitude relacionada a um método teórico. Para outros a relevância da prática está na investigação que tornaria evidente os conceitos e rudimentos que suportam o indivíduo e não há uma obrigação de que essa gama de conhecimentos esteja comportada em uma teoria.

ü  A questão primordial é que ambas, prática e teoria, não se separam e, portanto não se desenvolvem sem a outra, ou seja, não há como separá-las e nem como estabelecer uma ordem de relação entre elas, onde uma passe a ser inferior, e a outra, superior.

p. 11 (1 3 1. A prática do psicodiagnóstico)

ü  Psicologia Clínica: “[...] o objetivo é organizar os elementos presentes no estudo psicológico de forma a obter uma compreensão do cliente a fim de ajudá-lo (p. 11)”.

ü  Quando o psicólogo atua em psicodiagnóstico ele corresponde a objetivos pré-determinados pela teoria – conhecimento teórico - ele está aplicando a teoria na prática, validando, e modificando os saberes.

ü  Através dessa atuação o mesmo recolhe informações proveitosas para reavaliar e reformular as teorias. Nisso, ajuda o paciente, reafirma o seu papel, preserva o seu espaço profissional e à sua necessidade. 

ü   Além disso, o profissional psicólogo também serve a outros interesses como os que sucedem da realidade social e institucional onde atua, e esse contexto vai determinar a sua atuação.

p. 11, 12 e 13 (1.3.2. O contexto da atuação)

ü  Os modelos de psicodiagnóstico se deram em contextos de clínica particular, com demanda social elevada, atuação profissional autônoma e ênfase na valorização do profissional liberal. A transposição desse modelo liberal de psicodiagnóstico para instituições públicas não deu muito certo.

ü   As questões éticas em relação ao profissional ditam autoconhecimento em relação as suas próprias necessidades e anseios para que não exista prejuízo profissional.

ü  O surgimento desse terceiro elemento, a instituição, trouxe modificações na forma de se trabalhar, pois precisava levar em conta os anseios da clientela. O profissional muitas vezes entra em angústia ao ter que servir interesses opostos ao seu fazer, tendo desrespeitada a regulamentação de sua profissão, além de ser obrigado a ver os resultados de sua atuação junto ao cliente sendo utilizados de forma contrária ao interesse de ambos.

ü  Além de terem restringida a autonomia profissional, outros fatores influenciam na atuação profissional, entre eles, a demanda influenciada pelas condições sociais, número de pessoas a serem atendidas, características regionais e segmentos populacionais.

ü  Geralmente o público atendido pertence a grupos sociais desvalorizados socialmente, principalmente porque não fazem parte da força produtiva valorizada pelo sistema produtivo do modo capitalista. Esses determinantes sociais influem no encaminhamento ao profissional que geralmente ocorre por indicação de terceiros. A busca por ajuda profissional dificilmente é espontânea.

ü  Outro fator é que muitas vezes as melhores técnicas não estão disponibilizadas ao profissional. Geralmente as técnicas são produzidas fora do país e descontextualizadas ou o acesso a elas depende de como estão sendo divulgadas e comercializadas, além de terem um alto custo. O que resta são poucas opções instrumentais, por isso “[...] o psicodiagnóstico pode transformar-se na repetição estereotipada de uma sequência fixa de testes, que nem sempre seriam os escolhidos pelo profissional, ou os que melhor serviriam ao cliente (p. 12)”.

O reconhecimento das influências organizacionais e sociais às quais o psicólogo está submetido é importante, na medida em que lhe permite compreender melhor a função social que a profissão está desempenhando e com a qual o profissional está sendo conivente (p. 12).

 

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