Autor(es): |
Trinca, Walter e cools. |
Organizador (es): |
Trinca, Walter |
Coordenador (es): |
Clara Regina Rappaport |
Editor (es): |
Editora
Pedagógica e Universitária Ltda |
Tradutor: |
Não consta |
Título e
subtítulo da obra: |
Diagnóstico psicológico: prática clínica |
Título e subtítulo do capítulo 1: |
Contexto
geral do diagnóstico psicológico |
Autor (es) do capítulo: |
Marilia
Ancona-Lopes |
Edição: |
1ª |
Local de
publicação: |
São Paulo |
Editora: |
E.P.U |
Data da
publicação: |
1984 |
Coleção: |
Temas
Básicos de Psicologia |
Páginas: |
111 p. |
Intervalo
de páginas do capítulo: |
1-13 pp. |
Volume: |
11 |
(para
livros na internet) Acesso em: |
Março 2019 |
(para
livros na internet) Disponível em: |
p. 1 (1.1 – o termo diagnóstico) ü Diagnosticar
é uma forma de enxergar através de um fenômeno que se apresenta de diversas
maneiras e possibilidades sendo, portanto, inevitável. ü Fazemos
distinção entre o todo e a maneira que se apresenta no individual tendo assim
através das particularidades o conhecimento do fenômeno em si. ü Para tanto
se faz uso de processos como a observação, avaliação e interpretação partindo
de nossas experiências, informações peculiares à consciência de. ü Por essa
causa há confusão entre diagnosticar e compreender o fenômeno. ü Diagnosticar
então é uma possibilidade para o conhecimento científico que está separado do
senso comum. ü “[...] à possibilidade de significar a realidade
que faz uso de conceitos, noções e teorias científicas.” (p.1) p. 2 (1.1.2 – o diagnóstico psicológico) ü Parte das
Ciências humanas e ocupa funções pré-estabelecidas não sendo aplicadas de
qualquer maneira. ü Antes obedecem
a uma ordem rigorosa que se preocupa com o estudo de fenômenos possíveis, e
de conhecimentos que foram desenvolvidos a partir desses estudos. ü É um
conhecimento sistematizado por uma teoria psicológica que envolve um objeto
de estudo, uma epistemologia e um método. ü Nesse
campo há muitas teorias e por isso divergem entre si, inclusive na maneira de
como fazer ciência, ou qual procedimento é adotado nesse fazer. ü Por essa
causa os estudos em psicologia são bastante criticados por aqueles que se
dedicam a estudar o conhecimento. ü “0 diagnóstico psicológico busca uma forma de
compreensão situada no âmbito da Psicologia” (p.2). ü Por ser
uma profissão regulamentada – lei 4119/62 – possui respaldo para atuar e
fazer ciência. Logo, ao realizar um psicodiagnóstico presume-se que esse
profissional possua as competências necessárias para fazê-lo. ü Dentre
elas estão: o saber teórico, domínio de procedimentos e técnicas
psicológicas. A atuação do psicólogo dependerá dessas capacidades e de sua
linha epistemológica. ü Vale
lembrar que o termo diagnóstico psicológico varia de acordo com a concepção
adotada. Então para alguns esse termo referir-se-á a “[...] “psicodiagnóstico”, “diagnóstico da personalidade”, “estudo de
caso” ou “avaliação psicológica” (p. 3)”. p. 3 (1.2. A Psicologia Clinica e as abordagens
psicodiagnósticas) ü 1896 –
primeira vez que se usa o termo Psicologia Clínica. Inicia em conjunto com a
clínica médica (psiquiatria) com crianças com deficiência física e mental. ü Há um
afastamento das concepções religiosas que atribuíam às doenças um caráter
excludente de estigma (castigo ou possessão). ü A
psiquiatria surge para “combater a
doença mental” e a Psicopatologia para “estudar o comportamento anormal, definindo-o, compreendendo seus aspectos subjacentes, sua etiologia,
classificação e aspectos sociais.” (p. 3-4). ü Juntamente
com a Psiquiatria e a Psicopatologia a Psicologia Clínica surge “[...] como atividade voltada à prevenção
e ao alívio do sofrimento psíquico”. (p. 4). |
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p. 4 (1.2.1. A busca de um conhecimento objetivo) ü Existia
uma postura predominante à época, positivismo, ou seja, fundamentada na
observação e experimentação a fim de confirmar hipóteses e referenciar
teorias. ü Os modelos
vigentes eram: “[...] modelo médico de
psicodiagnóstico, o modelo psicométrico e o modelo behaviorista” (p. 4). p. 4 (a) O modelo médico) ü O
psicólogo atuava conjuntamente ao médico dando ênfase aos aspectos
patológicos fazendo uso de testes psicométricos e nosologias
psicopatológicas. A função do psicólogo estava transposta às funções médicas
avalisando seus métodos na descrição das doenças e classificações (DSM’s). ü A
psicopatologia objetivava: [...] estabelecer diferenças entre desordens orgânicas, endógenas, e
desordens funcionais, exógenas, procurando-se estabelecer relações entre as
mesmas e os distúrbios de comportamento. Estabeleceram-se, também, relações
de causalidade entre os distúrbios orgânicos e os distúrbios psicológicos
[...]. (p. 4). ü O uso dos
testes apenas reforçavam tendências patológicas e forneciam informações para
os sinais sintomáticos e orgânicos dos indivíduos. ü “a grande ênfase nos aspectos psicopatológicos
deixava em segundo plano características não-patológicas do comportamento das
pessoas, limitando o estudo e o conhecimento sobre o indivíduo”. (p. 5) p. 5 (b) O modelo psicométrico) ü Nesse modelo
o trabalho do psicólogo ficou resumido aos testes, já que somente esse
profissional poderia fazê-lo dando-lhe autonomia. ü As
crianças foram sua maior demanda e passaram a atuar junto à educação na
detecção de déficits de aprendizagem e possíveis motivos. ü Com o
tempo os resultados passaram a servir para orientação aos pais, educadores e
médicos. ü “[...] tornou-se menos importante detectar
distúrbios e classificá-los psicopatologicamente, mas sim estabelecer
diferenças individuais e orientações específicas” (p. 5). ü Esse
modelo priorizava a composição genética e imutável generalizando a
constituição humana (Psicologia do Traço) e o seu comportamento. Define um
ideal de homem e como diagnosticá-lo. ü Essa
prática foi utilizada, USA, para selecionar homens aptos ao exército, bem
como sua volta e os efeitos da 2ª guerra. p. 6 (c) O modelo behaviorista) ü Positivismo:
o homem estudado como qualquer outro ser natural. Objeto de estudo observável
e mensurável. Para esse modelo o comportamento humano é o único objeto capaz
de ser estudado. ü Comportamento
humano não decorre do inatismo e da imutabilidade, sendo aprendido e
modificável. ü Postulavam
leis de variação que influenciavam o comportamento e estudavam como
modificá-lo através da modelagem, e outros mecanismos. ü Para eles o
termo "psicodiagnóstico”, não tem valia, por essa razão fizeram uso de
termos como: “[...] “levantamentos de
repertório” ou “análises de comportamento” (p.6)”. |
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p. 6 e 7 (1.2.2. A importância da subjetividade) ü Surgem
teorias que vem de encontro à ideia de separar sujeito e objeto de estudo. O
homem estabelece o conhecimento e esse, portanto, é subjetivo. Para eles “psicologia positivista, objetiva e
experimental” não poderia ser validada. Esta forma de pensar foi marcante para a Psicopatologia e para a
Psicologia (p.7) [...] Todas essas correntes afirmam que a consciência, a
vida intencional, determina e é determinada pelo mundo, sendo fonte de
significação e valor. Salientam o caráter holístico do homem e sua capacidade
de escolha e autodeterminação (p.7). p. 7 (a) O Humanismo) ü Evitava as
posições reducionistas, mantendo uma visão global do homem e buscavam
compreender seu mundo e significado. Eram avessos ao diagnóstico
psi9cológico, pois esse classificava, por meio de testes. O homem é um ser em
desenvolvimento e, portanto livre. ü Para os
humanistas os testes eram formas excludentes de racionalizar e julgar o homem
sob o referencial teórico. Eles não faziam uso de testes e diagnósticos.
Preferiam relacionar-se com o indivíduo para alcançarem durante a
psicoterapia uma compreensão do mesmo. p. 7 e 8
(b) A Psicologia Fenomenológico-existencial) ü Reformularam
a visão do psicodiagnóstico. Os testes e o diagnóstico contribuem para a
compreensão do indivíduo e seu autoconhecimento. Essas informações podem ser
discutidas com o cliente podendo estabelecer possíveis conclusões. ü “Apesar de empregarem testes e informações
derivadas de diferentes correntes do conhecimento psicológico, utilizam-nas
apenas como recursos ou estratégias a serem trabalhadas com os clientes (p.
7-8)”. p. 8 (c) A Psicanálise) ü Revoluciona
a Psicologia com o conceito do inconsciente explicando os comportamentos
através de processos intrapsiquicos. ü Através da ótica psicanalítica, rediscutem-se a
determinação psíquica, a dinâmica da personalidade, reveem-se os
comportamentos psicopatológicos, sua origem e prognóstico (p. 8). ü Procurou
explicar a formação, estrutura e funcionamento da mente de forma completa.
Enfatizaram aspectos da personalidade e deram grande valor às entrevistas,
observações e técnicas projetivas, bem como a relação entre paciente e
psicoterapeuta sendo esse instrumentalizado para lidar com as relações de
transferência e contratransferência. ü Enfim, a Psicanálise desenvolveu instrumentos
diagnósticos sutis, que permitem verificar o que se passa com o indivíduo por
detrás de seu comportamento aparente (p. 8). p. 8, 9 e 10 (1.2.3. A procura de integração) ü Existem
alguns equivalentes atuais das ciências positivistas,
fenomenológico-existenciais, humanistas e psicanalíticas, porém não há
unanimidade e há diferenças fundamentais entre elas, por isso fica difícil
reconhecer as fronteiras. ü Em Psicologia
Clínica, existe uma gama de saberes e práticas. Alguns saberes podem ser
unidos em espaços organizacionais, porém outros ficam no campo empírico e sem
muito embasamento por serem estudos principiantes. |
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ü “Nenhuma teoria, até agora, mostrou-se suficiente
para responder a todas as questões colocadas pela Psicologia (p. 9)”. ü Ao se ter
postura crítica diante do saber de cunho psicológico, e ao buscar integrar as
muitas vitórias na área desses estudos incorre-se no abandono de fazer
prevalecer apenas uma posição teórica. “Este
processo de integração reflete-se também no trabalho de psicodiagnóstico”
(p.9). ü “[...] para se compreender o homem, é necessário
organizar conhecimentos que digam respeito à sua vida biológica,
intrapsíquica e social, não sendo possível excluir nenhum desses
horizontes (p. 9)”. ü Em
psicodiagnóstico faz-se necessário considerar todo o processo
desenvolvimental do indivíduo, ou seja, a maturação biológica, as funções
motoras, a organização neurológica, sendo que ao avaliar as mesmas não se
abandona a integralidade do paciente. ü Na área
educacional essa avaliação integral é muito importante, principalmente no psicodiagnóstico
infantil (ao lado da avaliação cognitiva) porque está diretamente ligada ao bom
êxito prático e a ideia de sucesso escolar. ü O que o psicólogo
deveria questionar é: Que causas orgânicas e possíveis estão implícitas à
queixa que se apresenta sobre determinado indivíduo? Quando detectado
alterações físicas, essas devem ser devolvidas ao paciente ao médico
responsável. Isso é importante para não psicologizar perturbações de
outra ordem, ou seja, dar explicações psicológicas a problemas que possuem
outra origem. ü Outra
problemática que merece atenção está diretamente ligada à relação
terapeuta-paciente, bem como os determinantes de ordem familiar e social. Os
valores e as expectativas do paciente precisam ser considerados, já que a
integração de todos esses dados preserva a visão integral do indivíduo e dos
porquês daquele fenômeno que ali se apresenta. ü “[...] um psicodiagnóstico, por mais completo que
seja, refere-se a um determinado momento de vida do indivíduo, e constitui
sempre uma hipótese diagnóstica (p. 10)”. p. 10 e 11 (1.3. Teoria e prática) ü “A relação entre a prática e a teoria em
diferentes ciências e, portanto, também em Psicologia, é uma das questões que
ocupa os estudiosos (p. 10)”. ü É um
problema quando a prática se dá sem lançar mão da criticidade em relação aos
sistemas teóricos e a própria atuação profissional, ou seja, quando essa
prática está alienada a sistemas de cunho teórico implícito e naturalizado na
cultura daquela sociedade. ü Outro
problema está na compreensão de que apesar das contrariedades teóricas
podemos elaborar formas diversas de atuação junto aos pacientes, já que identificamos
como essas contrariedades se refletem na prática. Essa consciência
proporcionaria uma atuação mais segura e tranquila. ü Para alguns a prática está exclusivamente
assegurada na utilização de uma atitude relacionada a um método teórico. Para
outros a relevância da prática está na investigação que tornaria evidente os
conceitos e rudimentos que suportam o indivíduo e não há uma obrigação de que
essa gama de conhecimentos esteja comportada em uma teoria. ü A questão
primordial é que ambas, prática e teoria, não se separam e, portanto
não se desenvolvem sem a outra, ou seja, não há como separá-las e nem como estabelecer
uma ordem de relação entre elas, onde uma passe a ser inferior, e a outra,
superior. |
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p. 11 (1 3 1. A prática do psicodiagnóstico) ü Psicologia
Clínica: “[...] o objetivo é organizar
os elementos presentes no estudo psicológico de forma a obter uma compreensão
do cliente a fim de ajudá-lo (p. 11)”. ü Quando o
psicólogo atua em psicodiagnóstico ele corresponde a objetivos
pré-determinados pela teoria – conhecimento teórico - ele está aplicando a
teoria na prática, validando, e modificando os saberes. ü Através
dessa atuação o mesmo recolhe informações proveitosas para reavaliar e
reformular as teorias. Nisso, ajuda o paciente, reafirma o seu papel,
preserva o seu espaço profissional e à sua necessidade. ü Além disso, o profissional psicólogo também
serve a outros interesses como os que sucedem da realidade social e
institucional onde atua, e esse contexto vai determinar a sua atuação.
p. 11, 12 e 13 (1.3.2. O contexto da atuação) ü Os modelos
de psicodiagnóstico se deram em contextos de clínica particular, com demanda
social elevada, atuação profissional autônoma e ênfase na valorização do
profissional liberal. A transposição desse modelo liberal de psicodiagnóstico
para instituições públicas não deu muito certo. ü As questões éticas em relação ao
profissional ditam autoconhecimento em relação as suas próprias necessidades
e anseios para que não exista prejuízo profissional. ü O
surgimento desse terceiro elemento, a instituição, trouxe
modificações na forma de se trabalhar, pois precisava levar em conta os
anseios da clientela. O profissional muitas vezes entra em angústia ao ter
que servir interesses opostos ao seu fazer, tendo desrespeitada a
regulamentação de sua profissão, além de ser obrigado a ver os resultados de
sua atuação junto ao cliente sendo utilizados de forma contrária ao interesse
de ambos. ü Além de
terem restringida a autonomia profissional, outros fatores influenciam na
atuação profissional, entre eles, a demanda influenciada pelas condições
sociais, número de pessoas a serem atendidas, características regionais e
segmentos populacionais. ü Geralmente
o público atendido pertence a grupos sociais desvalorizados socialmente,
principalmente porque não fazem parte da força produtiva valorizada pelo
sistema produtivo do modo capitalista. Esses determinantes sociais influem no
encaminhamento ao profissional que geralmente ocorre por indicação de
terceiros. A busca por ajuda profissional dificilmente é espontânea. ü Outro
fator é que muitas vezes as melhores técnicas não estão disponibilizadas ao
profissional. Geralmente as técnicas são produzidas fora do país e
descontextualizadas ou o acesso a elas depende de como estão sendo divulgadas
e comercializadas, além de terem um alto custo. O que resta são poucas opções
instrumentais, por isso “[...] o
psicodiagnóstico pode transformar-se na repetição estereotipada de uma
sequência fixa de testes, que nem sempre seriam os escolhidos pelo
profissional, ou os que melhor serviriam ao cliente (p. 12)”. O reconhecimento das influências organizacionais e sociais às quais o
psicólogo está submetido é importante, na medida em que lhe permite
compreender melhor a função social que a profissão está desempenhando e com a
qual o profissional está sendo conivente (p. 12). |
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