Há tempos reflito sobre questões como nota e meritocracia. Não somente eu, claro; já que muitos outros estudiosos também o fizeram antes de mim. Esta reflexão perpassa um campo histórico-social vasto que abarca a instituição de um sistema de ensino escolar meritocrático, instalado a partir dos interesses capitalistas e que reverberaram nas ciências estatísticas e matemáticas até a psicometria, de bom grado, aplicada aos interesses educacionais mercadológicos.
Diante disso, muitas confusões pedagógicas se instalaram nas matrizes pedagógicas e geraram contradições referentes a práxis escolar que envolve ensino-aprendizagem e avaliação. Questões primárias são evocadas para a sustentação de um ensino convencional conteudista com regras e metas matriciais curriculares, aplicados desde sempre na concepção tradicionalista - estruturas de ideólogos alemães - e tradicional de ensino - própria de uma adaptação tradicionalista aditiva do capital.
Correntes progressistas realizaram então tentativas de resoluções pedagógicas para compreensão de responder o fracasso escolar residente nos países capitalistas dependentes. Toda culpa foi depositada nos métodos, nas didáticas e conteúdos escolares e trouxeram inovações que pretendiam fugir da lógica meritocrática: avaliação e nota.
Observa-se que há os que defendem um realocamento dos conteúdos como a centralidade objetiva da aprendizagem e outros que defendem a experiência educativa como a centralidade da volição necessária para a propulsão da aprendizagem. Os primeiros acreditam que não pode haver adaptações, concessões ou qualquer tipo de caminho da experiência humana como variável interveniente da aprendizagem, para tanto exigem o cumprimento de uma educação rigorosa e meritocrática que culmina na nota. Os segundos compreendem o caminho da volição humana, entendendo que variáveis intervenientes cumprem papel primordial na aprendizagem humana. Desta forma buscam alternativas que fogem aos padrões tradicionalistas e tradicionais.
Essa guerra expõe o caráter complexo dessas formas de se pensar educação. Qual seria, então o caminho da aprendizagem humana? A resposta reside em conceitos simples: ação e reação como resultado da vivência humana geradora de volição. A ação de escolher ou decidir estudar é sempre a chave da reação que é aprender.
Por isso o aprendiz demarca o território de seu aprendizado. É inútil acreditar que somente por forças extrínsecas, regras, modelos, conteúdos, nota, punição, etc. haverá aprendizagem. Talvez por medo da reprovação punitiva, seres humanos se submetam as decorebas e cataloguem-se numa nota. No entanto, isso não garante aprendizagem.
Tal fato é notável, já que a maioria dos adultos brasileiros, até se lembram da fórmula de Bhaskara, mas não sabem pra que a decoraram e muito menos pra que ela serve. Aprendizagem implica em processos intrínsecos fundamentais que perpassam o significado e o significante das coisas.
Aprender para que? Esta questão filosófica é uma insistente nos processos humanos. É um princípio que jamais deve ser abandonado. Portanto, a filosofia é uma insigne importante dos processos evolutivos humanos traduzidos em aprendizagem. O homem que aprende não esquece o que aprendeu e passa a sua descendência o seu aprendizado.
Todo aprendizado humano perpassa a experiência humana em processos concretos e basais da aprendizagem. Sem as bases concretas do aprendizado não há ensino. Porque se não faz sentido, se é alheio ao homem, se não lhe toca, este não pode significar e nem aprender. O máximo que ele fará é decorar o que lhe ensinam, é repetir o que lhe contam, é reproduzir o que lhe dizem ser.
Para entender melhor, tomemos uma criança como exemplo: enquanto o adulto lhe diz - "Não sobe aí, você vai cair, vai se machucar" esta não cumpre a ordem. Geralmente ela insiste em subir. O adulto lhe agarra, lhe prende, lhe poda, repete e repete e no primeiro descuido a mesma criança sobe naquele lugar de aviso proibido. Num primeiro momento não cai e o adulto de posse de seu aprendizado insiste na ordem. No entanto, a criança só aprende quando cai e se machuca e dói. É ali que se dá o seu verdadeiro aprendizado. Então ela agora pela própria experiência sabe o risco de subir. Isto não garante que ela não subirá novamente, não é mesmo? O diferencial é que ela agora sabe o que pode acontecer, então novos aprendizados surgem. Ela aprende a se cuidar, a não arriscar tanto. Faz sentido.
Apreende-se que a educação é preceptora do aprendizado, mas é o aprendiz que significa na sua experiência o que quer aprender. É um processo coletivo que não extingue a volição. Portanto, o ditame adulto não garante aprendizado, embora muitos possam corresponder as cabulações meritocráticas. O fazem porque lhes interessa o resultado, e o resultado não passa da reprodução do capital.
A educação que se pauta na meritocracia não tem nada de autêntica. Trata-se de reprodução, de educação de papagaios. A educação que soma é aquela que respeita o aprendiz, que intencionalmente o busca tocar, que lhe faz sentido, que lhe impressiona, que lhe desperta a volição catártica do conhecer. É o ressuscitar filosófico de velha tradição, que impulsiona o questionamento das coisas, dos fatos, da vida.
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