domingo, 2 de julho de 2023

Sinto muito ...

A roseira de Monet [1910]

Eu sinto muito se não posso acreditar na violência como um caminho para a paz.

Eu sinto muito se não posso acreditar nos jogos políticos como um caminho para a conciliação. 

Eu sinto muito se não posso olhar o mundo com as janelas do justificável. 

Eu sinto muito se minhas lentes são de aumento, se eu vejo por cima dos muros.

Eu sinto muito se não me amparo nas ideologias, se não confio nelas.

Eu sinto muito por duvidar da humanidade. Por não acreditar em suas vãs promessas.

Eu sinto muito por ser inquieta e revolta, por contestar, por emitir provocações que rompem a ordem das coisas.

Eu sinto muito por ser quem sou. Sinto muito, muito ... Por não acreditar nas mentiras do meu coração. 

Eu sinto muito por me esgotar diante das injustiças,  por morrer a cada segundo, quando em contato com os aplausos desta sociedade perdida.

Eu sinto muito por não poder ser liberdade, quando tudo é prisão. 

Sinto por mim, por nós, todas as vezes que canto, que choro, que guerreio com a inquietude diante dos fatos.

Sinto muito pela hipocrisia habitante dos seres, que preferem viver ausentes de si e presentes aqui e agora, à luz das propagandas enganosas.

Eu sinto muito por nós, que convivemos com as sombras que nos habitam e que em nós foram introjetadas à força. 

Eu sinto muito e me lastimo por esta sorte de habitar entre os homens. 

Olhando a carcaça social,  sem nada poder fazer. Eu sinto muito!


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