terça-feira, 24 de setembro de 2024

Quando a lua não trai

 Hoje, eu queria fazer um poema que falasse por mim, que extravasasse o sentido.

A frase talvez fosse "Entre nós dois tinha que haver mais sentimento".

 É irônico a vida a dois que acontece na solidão.

Todos os sinais estão ali ... O que dói não é percebê-los ...

O que dói é inteiro, dentro-fora, extrínseco ao tempo.

Todos os sinais já estavam ali ... desde a primeira vez percebido-ignorado.

Quando a gente se apaixona, a razão perde o sentido, quer ver-se noutro.

Um outro inexistente, inventado, criado pela ânsia do que lhe é negado.

São as buscas da falta, cuja ânsia - por um instante - parece completado. 

Uma completude destoante, quando a ânsia aceita o inaceitável.

Dia desses, assisti um reel de um conhecido em que ele, sem saber, retomou os versos de uma de minhas tentativas poéticas, cujo texto aludia ao sentido factual de uma lua traidora, bem no estilo Joelma. 

Acredito que ele descreveu o sentido oposto deste sentido lunar quando afirmou - "afinal, quem se traiu foi você e não a lua". 

Concordo com ele, nós nos traímos todas as vezes que aceitamos o inegociável em nome do amor.


Tenho descoberto que o amor não pode e nem deve ser dor, embora a dor seja um percurso inevitável.

No entanto, na maioria das vezes, vamos permitindo os açoites emocionais - estou sendo generalista - como se eles fossem necessários à manutenção do amor.

É que o amor não quer acreditar que ele está sozinho. E por medo da solidão fecha os olhos do coração.

Finge não notar o descaso e a ausência do sentimento.

Ignora a curva decrescente na história de dois, que na verdade sempre foi um.

E assim, como afirmou meu amigo do reel, a gente se perde de si mesmo.

O tempo passa entre meios e fins que nunca se encontram em harmonia.

E quando você se apercebe foram-se os anos ... 

"Canteiros".

Eu só queria ter do mato
Um gosto de framboesa
Pra correr entre os canteiros
E esconder minha tristeza
E eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza
E deixemos de coisa, cuidemos da vida
Pois se não chega a morte
Ou coisa parecida
E nos arrasta moço
Sem ter visto a vida
(Cecilia Meirelles / Raimundo Lopes)


Pequena Nota: 

Em autoanálise, retomo o sublinhado. Quando tudo que recebemos foram açoites emocionais, crescemos acreditando que a manutenção do amor perpassa o castigo. Então amar se resume em suportar.

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