quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Análises da Consciência

O campo aparente das lutas não pode estar descolado da vida humana. A realidade é que ninguém pode ser a expressão da luta, se não for a própria revolução. Talvez uma das maiores vicissitudes da luta sejam esta falta de conexão entre a prática e a teoria. Vemos por aí tantas pessoas de bandeira em punho, mas totalmente desconexas da vida humana cotidiana. Obviamente que as bandeiras são essenciais na luta de classes e sem estes movimentos organizados há um maior decréscimo da luta em "si". A questão não são as bandeiras, mas sob que aspectos e motivações elas são erguidas. Fazer parte de um movimento de luta não significa estar integrado (termo freiriano) ou desperto do senso comum (Saviani). Muitas vezes também se constituem em campo de aparências, basta observarmos a política de esquerda hoje no país.

Quando sabemos que algo é real? Esta é uma boa pergunta. Arrisco-me a responder que é quando a prática social não se descola da teoria, mas é uma em "si". Isto não é nenhuma novidade, mas parece-me que temos que ficar lembrando isso a todo momento, porque o básico parece se esvaziar nas interveniências vitais. 

Se queremos revolução, devemos ser coerentes com ela. As ações revolucionárias precisam ser a todo tempo o concreto das relações sociais. Não há como ser coerente a partir de movimentos aleatórios aqui e acolá. A vida acontece na concretude diária e; é neste caminho real, que as revoluções devem acontecer, junto aos demais, com e pelos demais. Quando incorporado um conceito, uma nova prática nasce. 

Questiono - quem somos nós? Revolucionários ou apenas revolucionadores de uma ordem? Daquilo que está ali, qualificando o habitual, o comum e o corriqueiro. Não basta questionar o ordinário das coisas, é preciso mais. Se não queremos reproduzir o habitual, instituído na ordem natural das coisas, por que o fazemos? Que teoria é essa que movimenta a ação para longe dos processos coletivos, mas com aparência de coletividade? 

Sei lá, eu sempre me deparei com as contradições da vida e a falta de coerência entre a fala e a ação e isto sempre foi uma dor pra mim, porque muitas vezes a gente teoriza muito, mas não é coerente ao discurso. Neste caminho ganhei desafetos, desde a minha adolescência até a vida adulta. Recebi a alcunha de ser do contra (risos). Durante muito tempo essa rejeição me fez pensar que eu era mesmo destoante. Sempre me senti um peixe fora d'água, uma "atrevida" subindo a correnteza pra desovar em outros lugares que não o ordinário. 

Perceber que todos seguiam as leis ordinárias da vida me fez achar que eu estava realmente errada, mas mesmo assim eu nunca consegui dizer que a Dâmaris ia perder. No entanto, eu também procurei viver de forma ordinária, aquiescendo ao desejo para ser coerente. Eis a minha própria contradição. E nessa contradição, buscando o coerente me perdi na incoerência, pois se queremos coerência precisamos agir de forma coerente e impedir as incoerências. 

Então quando a gente descobre a incoerência em nós, há uma maior coerência, entende? É sobre buscar ser coerente, ser real, ser concreto, ser coletivo, ser revolucionário, mas não sem antes revolucionar-se. Porque revolucionar-se envolve movimento filosófico sobre si e as coisas em si. Diante dos fatos é necessário mudar a prática, pois a prática é o que sai da consciência individual para a coletiva e da coletiva para a individual. Neste processo dual - toma lá, dá cá - a gente redescobre a vida e assim há a real chance de revolução.

Que possamos ter a capacidade de revolucionar o essencial no ordinário e não apenas o ordinário pelo ordinário. 

Somente algumas confabulações dessa mente que às vezes mente para si, porém, imploro, quem nunca mentiu para si mesmo que atire a primeira pedra!





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