quinta-feira, 10 de outubro de 2019

IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO EDUCACIONAL PARA ATUAÇÃO PROFISSIONAL EM CONTEXTO HOSPITALAR E ONCOLÓGICO


INTRODUÇÃO

            O conhecimento a despeito do câncer atualmente expõe relevância e popularidade pelos altos índices de seu aparecimento em meio à população mundial e especificamente, no Brasil. No entanto, esta doença não é nova e há registros de sua presença na pré-história – antiguidade. Existem evidências a partir dos estudos em fósseis de sítios pré-históricos, cuja presença de câncer no período grego antigo é reconhecida, sendo nomeado de “carangueijo”. Contudo, é somente no século XX, em 1950 que os estudos sobre o câncer têm início (ADAM, 2001).
            A primeira descrição feita desta doença ocorreu sob a ótica de Galeno que relacionou os estados emocionais de uma pessoa ao surgimento de tumores corporais, porém o pioneirismo do vernáculo karkínos (câncer) é referido a Hipócrates (460 a. C. - 377 a. C.), figura grega importante considerada “pai da medicina” (COELHO, 1998; ADAM, 2001; OLIVEIRA; PAZ, 2015).
            Neste período o câncer começa então a ocupar espaços na consciência coletiva sendo percebida como um flagelo semelhante ao das grandes epidemias como foi à tuberculose e a lepra sendo, portanto um medo semelhante ao do passado gerando uma obcessão por parte das populações, porque na representação coletiva está relacionado à iminente morte. Por essa razão e com motivos é considerado um modelo principal da doença do século moderno, também chamado de “flagelo moderno” (ADAM, 2001, p. 26).
Para entendermos como a hegemonia biomédica se consolidou, precisamos entender primeiro quais foram os processos históricos que possibilitaram essa consolidação. Afinal, o tempo presente nunca está isento de seu contexto político, econômico e sociocultural.
            Como vimos os homens sentiram-se impotentes diante da doença por um longo período. Na antiguidade estava relacionada ao destino, na Idade Média passa a ser vista como castigo divino. A prática médica ficava nas mães de curandeiros e benzedores, cujos remédios eram empíricos, e os rituais eram mágicos e místicos envolvendo poções de ervas, orações e penitências (ADAM, 2001).
            A medicina moderna rompe com as proximidades entre medicina, magia e religião estabelecendo orientação científica e o papel do médico ganha forma pela busca de saberes: racionalizados e lógicos. A medicina tradicional nasce baseada no empirismo e na dissecação de corpos, ou seja, as causas deveriam ser investigadas no campo biológico (ADAM, 2001).
O câncer é uma doença que embora não seja contagiosa, não possuindo a característica da epidemia coletiva é assustadora pela quantidade de incidências nas populações com evolução rápida em alguns casos e em outros sendo mais prolongado o que gera despesas e grande investimento, tanto financeiro quanto emocional e psicológico, tanto do paciente quanto da área médica (ADAM, 2001).
Atualmente o câncer está entre um dos principais males da sociedade e não depende de gênero, classe social ou idade. Os principais cânceres e mais frequentes em homens estão relacionados à próstata, pulmão, esôfago, estomago, cólon e reto.  Em mulheres os mais comuns são os de mama, útero, cólon, reto, pulmão e estômago (CHRISTO; TRAESEL, 2009).
Em crianças abaixo de cinco anos, a leucemia - 30% dos casos - é predominante, sendo 0,5% a 3 % leucemia, linfomas Hodgkin e não Hodgkin e tumores do Sistema Nervoso Central (SNC).  Em 2008, a estimativa de câncer pediátrico foi de 3%, permanecendo a mesma para 2018-2019, conforme dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), em relação a todos os outros tipos de cânceres aparentes na população brasileira. Para o biênio 2018-2019 a estimativa é de 12.500 novos casos de câncer entre crianças e adolescentes (até os 19 anos), destes 2.704 resultarão em morte (COHEN; MELO, 2010; ARAÚJO; OLIVEIRA; SILVA, 2012; OLIVEIRA; PAZ, 2015; JOAQUIM ET AL., 2017, BRASIL, 2018; BRASIL, 2019).
Embora no imaginário popular o câncer seja entendido como uma sentença de morte, isso não é verdade, pois atualmente a medicina oncológica é detentora de muitos recursos e tratamentos que minimizam a ocorrência de morte relacionada ao câncer e, em especial, às crianças; sabe-se que 70% delas se diagnosticadas precocemente possuem a chance de cura e tratamento. O câncer em crianças possuem características particulares e específicas, pois são rápidos em desenvolvimento, porém respondem de forma mais positiva aos tratamentos utilizados em seu combate com um bom prognóstico (COHEN; MELO, 2010; JOAQUIM ET AL., 2017; GUIMARÃES; PEREIRA, 2018).
Pode-se afirmar que o câncer está na origem do hospital moderno, pois os centros de tratamento do câncer estão entre os serviços que encabeçam pesquisas e tratamentos, caracterizando a sociedade contemporânea (ADAM, 2001). No entanto, para entendermos como o processo saúde e doença são entendidos atualmente faz-se necessário revisarmos as diferentes visões que marcaram a história do adoecimento. Nesta linha de pensamento pensar como a medicina enxerga as causas e manifestações da doença ajuda a compreender as concepções biomédicas a respeito da doença, incluindo o câncer.
Muitos foram os modelos e teorias criados para definir saúde. Sempre foi uma preocupação do ser humano conhecer, explicar o adoecimento, bem como curar, prevenir e prolongar a existência. Como já observamos a produção de saberes e esclarecimentos sobre a doença evoluiu do misticismo, da divindade para o conhecimento científico, médico ou sanitário (REZENDE, 1986; ADAM, 2001).
Alguns foram os modelos explicativos de saúde e doença, sendo os principais: 1) Teoria unicausal da doença: No século XIX, com a descoberta do micróbio e o surgimento do conceito de “agentes biológicos” passou-se a compreender a doença como tendo uma única causa, ignorando-se as causas socioambientais; 2) Teoria da multicausalidade da doença ou Teoria ecológica de Leavell-Clark das doenças infecciosas: neste modelo, já no século XX, passou-se a entender a doença como múltiplas causas, ou seja, causas coexistem e não podem ser explicadas. Buscou-se identificar as causas possíveis e tratá-las. A ciência adota a postura positivista designada por termos como normalidade e anormalidade. 3) Epidemiologia Social: a saúde e doença passa a ser entendida como um processo biológico e social que possui uma história própria. Não há prevalência da ideia de causa e efeito, mas de uma estrutura que envolve tanto a filogênese, quanto a ontogêne e a sociogênese, tendo influências do materialismo histórico (REZENDE, 1986).
Na década de 70 abriu-se, dessa forma espaço para os fatores de ordem social e econômica e verificou-se a necessidade de saneamento básico. Os movimentos higienistas influenciaram a relação entre saúde e doença e influências de fatores sociais, ambientais sobre o processo de adoecimento. É na década de 30 que surge o estudo dos fatores psicológicos, psicossociais e sociais, no entanto o reconhecimento destes fatores não significava que se deveria substituir o biológico pelo social, mas identificar como eles interagem mutuamente no processo (REZENDE, 1986).
A partir de estudos feitos com doenças crônicas, principalmente coronarianas, do coração, vários tipos de câncer e doenças mentais, ainda na década de 70, surgem uma nova corrente de pesquisas que vão priorizar a compreensão dos caminhos de interação social e biológica na produção da doença. Fica evidente a preocupação com as variáveis individuais e singulares como, capacidades de enfrentar situações difíceis, estresse, características subjetivas de personalidade e importância do apoio e do suporte social (ADAM, 2001).
É neste momento histórico que aparece a psicologia como uma ciência que se insere no campo de estudos sobre a saúde. As explicações do processo saúde e doença vão englobar uma perspectiva psicológica e a atuação do psicólogo torna-se importante nesta área. Três serão as vertentes de estudos no campo da psicologia em contexto de saúde: 1) Intra-individual: forte influência da psicanálise e de teorias da personalidade. A ideia de que reprimir as emoções geraria câncer vem deste período na década de 30. 2) Psicossocial: eventos estressantes estariam correlacionados à doença e o estilo de vida passa a ser uma responsabilidade individual, daí a importância da educação para prevenção, isto já na década de 50 e 60. 3) Construtivista ou Construcionista: nos anos 70 “ [...] não tem por objetivo formular leis causais; a doença é vista como um fenômeno psicossocial, historicamente construído, e, como tal - é, sobretudo, um indicador da ideologia vigente sobre o adoecer e os doentes em uma determinada sociedade.” (SPINK, 1992, p. 134).
A psicologia da saúde e a hospitalar diferem-se pela condição histórica e cultural de cada país. De forma geral, no mundo, a atuação do psicólogo em contexto hospitalar está inserida na psicologia da saúde, sendo inexistente uma psicologia hospitalar, mas no Brasil a psicologia hospitalar se estabelece, sendo possível especializar-se neste contexto (CASTRO; BORNHOLDT, 2004).
No entanto, elas não são iguais, pois enquanto a psicologia da saúde estuda conceitos complexos que envolvem a organicidade humana e seu funcionamento englobando tanto a atenção primária, secundária e terciária, a psicologia hospitalar volta-se para a instituição real cuja função está no tratamento de enfermidades que necessitam de internação ou não, ou seja, a doença já está instalada, sendo possível, apenas intervenções secundárias e terciárias para prevenir reações adversas de ordem física, emocional ou social (CASTRO; BORNHOLDT, 2004).
Enquanto o psicólogo da saúde trabalha com equipe multiprofissional sanitário, atuando no campo das pesquisas e na promoção de intervenção clínica e educativa, o psicólogo hospitalar atua centralmente no contexto secundário e terciário da atenção básica à saúde, em instituições de saúde. As suas atividades estão relacionadas a atendimentos psicoterápicos em grupos psicoterapêuticos, psicoprofiláticos, ambulatoriais, UTI’s (Unidades de Terapia Intensiva), pronto-socorro, enfermarias, psicomotricidade no hospital, psicodiagnósticos e avaliação, consultorias e interconsultorias (CASTRO; BORNHOLDT, 2004).
A dinâmica Hospitalar evoca urgência fisiológica e a marcação do tempo dá ênfase ao atendimento pontual focado na necessidade aparente, cujo diagnóstico é objetivo e o tratamento objetiva a cura. Pode-se afirmar que o mesmo ocorre com a abordagem psicológica que deseja eliminar o mal estar emocional e psíquico, reforçando a ideia equivocada de “mestre”, aquele que tudo sabe e pode resolver. Neste contexto a lógica biomédica é objetivada na cura, pois o que foge disso é revelador do limite de cada um, já que a morte é desafiadora para todos os envolvidos no contexto hospitalar, inclusive o psicólogo (GUIMARÃES; PEREIRA, 2018).
Como estamos dissertando sobre o câncer, em específico o infantil, e por ser este uma doença geralmente já instalada e cuja descoberta pode ter ocorrido no início ou já em fase avançada, faz-se necessário entender o contexto hospitalar, já que em sua maior parte será lá que crianças acometidas por esta enfermidade serão atendidas e tratadas. Logo, compreender a atuação do psicólogo neste contexto, bem como a psico-oncologia é fundamental para apreensão das dinâmicas hospitalares que envolvem o paciente, sua família, profissionais de saúde, incluso o psicólogo.
A Psico-Oncologia está em comunicação com a psicologia e a oncologia. Ela aborda assuntos de natureza psicossocial envolvidos no processo de adoecimento que o câncer impõe. Desta forma as estratégias utilizadas na psico-oncologia buscam intervir para auxiliar o paciente e a família na aceitação e enfrentamento da doença mediante novas realidades objetivando melhores condições na qualidade de vida de todos os envolvidos (VIANNA ET AL., 2011 APUD SCANNAVINO ET AL., 2013; OLIVEIRA; PAZ, 2015).
A psico-oncologia, portanto, vai estudar os sentimentos e os comportamentos individuais humanos, a fim de produzir saberes para auxiliar os profissionais psicólogos no atendimento de seus pacientes com câncer. Vai estudar as variáveis existentes no processo de adoecimento, tanto as psicológicas como as comportamentais. Irá utilizar técnicas para dar dinâmica aos efeitos do tratamento, bem como auxiliar no estabelecimento dos recursos psicológicos do paciente, focando no processo do adoecimento, na cura e nas intervenções que melhorem as relações de enfrentamento desta nova realidade (OLIVEIRA; PAZ, 2015).
A portaria 3535 definiu em 1998 que é obrigatório a presença de um profissional psicólogo em todos os centros de tratamento oncológico, inserindo-o em equipes profissionais de saúde a fim de acompanhar estes pacientes, já que pacientes com câncer e familiares se encontram em condições de vulnerabilidade e insegurança (OLIVEIRA; PAZ, 2015).
A vulnerabilidade implica num agravamento de quadros adoecidos pela suscetibilidade a condições físicas, emocionais, psicológicas e sociais e, portanto a garantia de proteção e cuidado a essas pessoas é indispensável. Não é apenas uma medida probabilística de risco, mas um acontecimento concreto, uma identidade social que se estabelece como “grupos de risco”, e o câncer faz parte desta concretude (PAIVA; AYRES; BUCHALLA, 2012).
Muitas são as experiências experimentadas pelo paciente oncológico infantil e seus familiares. Dentre eles o medo da morte, a perda, a aniquilação física e psíquica, a separação física e psicológica. O câncer infantil expõe a criança e a família ao estresse por diversas razões, entre elas estarem privadas convívio familiar e de amigos e colegas do âmbito escolar e social, terem que adaptar-se a uma nova rotina de horários, aos cuidados paliativos, sendo privados de brincarem com seus pares em contextos naturais de sua idade, cuidados com alimentação e dieta nutricional às vezes restrita pelos efeitos de tratamentos quimioterápicos, febre, dor, fraqueza, sonolência, quedas de cabelo, uso de máscaras protetivas, desequilibração da estrutura familiar, gerando crises complexas (COHEN; MELO, 2010; OLIVEIRA; PAZ, 2015).
Essas crises mediante o diagnóstico inesperado evocam o surgimento de grandes problemas como dificuldade de aproximação, crises financeiras, sacrifícios, angústias, sentimentos de impotência diante do inevitável, luta pela superação da doença que ocorre de forma dicotômica, já que a presença de sentimentos como amor e ódio, esperança e descrença vão aparecendo durante as diversas fases do tratamento (OLIVEIRA; PAZ, 2015).
Além disso, o câncer tem como consequências o surgimento da dor e desconforto. A estima acaba por ficar em baixa mediante as incertezas que o futuro lhe reserva. Ideias suicidas aparecem junto ao medo, ao pânico alterando comportamentos, gerando transtornos de ordem geral, dificultando relacionamentos no âmbito familiar e social, gerando quadros depressivos e ansiógenos, entre outras coisas (COHEN; MELO, 2010; ARAÚJO; OLIVEIRA; SILVA, 2012; SCANNAVINO ET AL., 2013; OLIVEIRA; PAZ, 2015; GUIMARÃES; PEREIRA, 2018).
Crianças com câncer enfrentam uma das piores condições humanas, a dor, sendo esta, um dos sintomas mais comuns e angustiantes que elas podem experimentar. Os protocolos de tratamento, inseridos em sua vida objetivando diagnosticar e tratar são potencialmente dolorosos. Isto se agrava, porque a dor muitas vezes não pode ser mensurada, principalmente em crianças abaixo dos três anos de idade (ARAÚJO; OLIVEIRA; SILVA, 2012).
Importante lembrar a similaridade da dor infantil com a adulta, incluindo transdução, transmissão, modulação ou percepção, sendo que a diferença está na interação entre estes mecanismos, já que vários fatores podem influenciar a expressão da dor em crianças, entre eles a hereditariedade, o gênero, a maturação do SNC, a cognição, a personalidade, as experiências anteriores, a gravidade e o autocontrole (ARAÚJO; OLIVEIRA; SILVA, 2012).
 Mediante todo esse processo de vulnerabilidade a atuação do profissional psicólogo é essencial na articulação entre o que é sentido, vivido, experenciado pelo paciente, seus familiares e amigos, bem como por todos os profissionais envolvidos na tarefa de possibilitar melhores condições de vida mediante a humanização do sofrimento, pois se o sofrimento psicológico e emocional destas pessoas for ignorado haverá implicações significativas na qualidade de vida de todos os envolvidos afetando-os negativamente e prejudicando a adesão aos tratamentos que podem reabilitar o indivíduo adoecido. Há segundo Linden et al. (2009) apud Scannavino et al. (2013) grandes possibilidades do aparecimento da depressão entre pacientes com câncer em relação a população saudável, sendo necessário intervenção profissional precoce reforçando a importância do atendimento psicológico (COHEN; MELO, 2010; ARAÚJO; OLIVEIRA; SILVA, 2012;  SCANNAVINO ET AL., 2013; OLIVEIRA; PAZ, 2015; GUIMARÃES; PEREIRA, 2018).
O psicólogo é aquele que pode proporcionar ao paciente, e junto a ele, suporte para lidar com a vida e a morte. Não somente a criança precisa de auxílio, mas seus familiares e cuidadores, já que enfrentam a impotência e a culpa por não darem conta da possível morte, já que estar diante a morte traz à luz a consciência da mortalidade: sou mortal, sou finito (GUIMARÃES; PEREIRA, 2018).
A ajuda profissional muitas vezes é evocada para estancar problemas psíquicos do paciente e da família, porém ao se depararem com a realidade apresentada nas queixas percebem que a demanda está em suas limitações de enfrentamento do que propriamente no que está diante deles inevitavelmente (GUIMARÃES; PEREIRA, 2018).
Por ser o psicólogo oncológico pediátrico aquele que cuida dos fatores psíquicos da criança cabe a ele “[...] desenvolver recursos de apoio aos cuidadores, profissionais ou não, para que atuem como coparticipantes de todo o tratamento [...] estratégias de autocuidado e fortalecimento, visando a manutenção de sua própria saúde física e mental” (OLIVEIRA; PAZ, 2015, p. 181). Desta forma a intervenção realizada pelo psicólogo faz uma enorme diferença no contexto hospitalar porque trabalha a subjetividade da dor diante das emoções experimentadas pelo paciente pediátrico e familiares, bem como auxilia o cuidador do mesmo a assegurá-lo e apoiá-lo (OLIVEIRA; PAZ, 2015).
O objetivo deste profissional é trabalhar para a prevenção, minimização dos sofrimentos humanos oriundos da doença, compreensão dos símbolos que auxiliam na ressignificação do processo, levando em consideração que geralmente é a mãe a cuidadora principal, por isso faz-se necessário potencializá-la em todas as escalas da doença. Essa mãe deve ser vista pelo profissional psicólogo com imenso carinho, porque é ela que muitas vezes participa de todo o processo terapêutico e ajudá-la é ajudar o paciente, culminando na melhora da qualidade de vida reafirmando, desta forma, a integralidade de seu trabalho profissional (OLIVEIRA; PAZ, 2015).
Os grupos de apoio são importantes para o fortalecimento dos vínculos de afeto entre os pares e é o profissional que reforça esses vínculos nesses grupos. Conhecer, portanto a teoria da doença oncológica ajuda também na atuação do psicólogo junto à equipe multiprofissional. No âmbito hospitalar, em específico em relação aos pacientes oncológicos, é de suma importância que a psicologia e a medicina trabalhem juntas e integradas e as equipes interdisciplinares merecem destaque, pois o paciente com câncer carece ser atendido numa totalidade que envolve aspectos físicos, psicológicos e sociais (CHRISTO, TRAESEL, 2009; OLIVEIRA; PAZ, 2015).
Muitos são os trabalhos efetuados com crianças em processo de adoecimento relacionado ao câncer, tanto em cuidados paliativos, como em ações sociais que buscam salvaguardar a infância e as singularidades deste período. Em relação aos cuidados paliativos que priorizam uma sobrevida não sofrida, restabelecendo a lógica do cuidado com o corpo infantil como sinal de sensibilização para com o outro, pode-se afirmar que esses escamoteiam o “ser” doente em função de procedimentos e ações emergentes, negando a ela a integralidade que envolve a escuta real de suas necessidades que está mais no âmbito biopsicossocial da criança adoecida (GUIMARÃES; PEREIRA, 2018).
Os tratamentos medicamentosos ainda são os que apresentam melhor eficácia, embora possuam efeitos colaterais incômodos como a quimioterapia – causa de dores neuropáticas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconizou em 1986 uma escada analgésica para o tratamento da dor no corpo (ARAÚJO; OLIVEIRA; SILVA, 2012). Esta escada analgésica pode ser assim entendida, conforme quadro abaixo:

Quadro 1. Dados obtidos e organizados a partir de informações de Araújo, Oliveira e Silva (2012, p. 27) sobre a escada analgésica, conforme determinação da Organização Mundial da Saúde - OMS.

1. DOR FRACA



Analgésicos comuns: dipirona, paracetamol e anti-inflamatório não esteroide (AINES).
2. DOR PERSISTENTE


Opióide fraco mais os anteriores.
3. DOR INTENSA

Opióide de alta potência – morfina mais os anteriores. Anestesia tópica local: EMLA mistura eutética de lidocaína 2,5% e prilocaína 2,5%. A dose em crianças é de 1 a 2 gramas aplicadas em intervalos de 40 a 60 minutos.
4. PROCEDIMENTOS INVASIVOS
Neurocirurgias, bloqueios nervosos e neurólises.

A utilização de medicina alternativa complementar (MAC) é uma das formas de minimizar o sofrimento, em cuidados paliativos, durante o processo saúde e doença e está em crescimento sendo estimada em 31% e 84%. A hipnose e a acupuntura são as que apresentam melhores resultados e maior eficácia nos tratamentos de câncer (ARAÚJO; OLIVEIRA; SILVA, 2012). 
A terapia com massagens minimizam efeitos psicológicos e colaterais. A hipnose pode ser um tratamento coadjuvante da dor e da ansiedade. A acupuntura pode liberar encefalinas, serotonina, endorfinas, além de regularem o Sistema Nervoso Autônomo (SNA), bem como auxiliam nos vômitos e náuseas. A musicoterapia ajuda no alívio da dor e ansiedade, redução de cortisol, aumento de ocitocina e bem estar pessoal. Todas essas alternativas melhoram as condições de vida de pacientes oncológicos, mas necessitam ainda de pesquisas que reafirmem a sua eficácia (ARAÚJO; OLIVEIRA; SILVA, 2012).
Outros recursos utilizados são de ordem social e priorizam a não exclusão da criança de seu mundo particular. Geralmente as crianças acometidas pelo câncer estão em idade escolar e muitas vezes são retiradas de seu ambiente educacional por todas as implicações relativas à doença. A utilização de projetos dentro dos hospitais possibilita amenização dos impactos da doença nos relacionamentos interpessoais. A utilização do lúdico ajuda a criança a lidar com as sensações ruins que permeiam o ambiente hospitalar que muitas vezes é inóspito e a coloca no protagonismo através do diálogo e da brincadeira obtendo mudanças diárias de rotina (PEDROSA ET AL., 2007; COHEN; MELO, 2010; AZEVEDO, 2011; INSTITUTO DESIDERATA, 2015; ABRALE, 2019; SANTOS ET AL., 2013).
 A classe hospitalar ao trazer os conteúdos pragmáticos para o hospital ajuda a diminuir as consequências desse afastamento da rotina escolar e ajuda de forma significativa à criança no acesso a educação e a experimentar a possibilidade de não ter sua vida escolar fracassada. As diretrizes da Educação Especial garantem o atendimento pedagógico-educacional das crianças hospitalizadas, com organização de classes escolares, e em caso de internações o professor deve propiciar adequação do programa vigente na rede regular de ensino à classe especial hospitalar. Desta forma a criança se sente parte da escola, pertencimento social – amenizando os prejuízos acadêmicos (COHEN; MELO, 2010).
O projeto “Dodói” foi criado em parceria com a Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia – ABRALE - fundada em 2002 e o Instituto Mauricio de Sousa e tem como objetivo trazer de volta a infância de crianças com câncer através do sonho, da brincadeira, da criatividade e da humanização do atendimento, a fim de que haja um restabelecimento mais rápido e feliz de sua saúde. Esse projeto está há mais de dez anos atuando pela humanização do câncer infantil e até 2017 já atendeu 4560 crianças gratuitamente, capacitou 194 profissionais em 40 instituições hospitalares de 14 estados brasileiros, entre elas o Hospital Regional de Passos/MG - 60 crianças atendidas; o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto/SP - 60 crianças atendidas e o Hospital de Câncer de Barretos/SP - 200 crianças atendidas (ABRALE, 2019).
O Kit Dodói é composto por bonecos: Mônica e Cebolinha Dodói, manual de orientação da equipe de saúde, um gibi contendo três histórias, uma revista de atividades, cinco cartazes, jogos e avisos de porta, escala de dor, cartões de diagnóstico, livro ilustrado - o câncer infantil, arte adesivo, arte para máscara hospitalar, cartilha dos pais, caixa de histórias, aplicativo Dodói e botton. Todos esses recursos auxiliam nas atividades escolares e lúdicas que enriquecem o dia-a-dia das crianças com câncer (ABRALE, 2019).
Outro projeto inaugurado em 2007, no Rio de janeiro é o “Aquário Carioca”, cujo objetivo é “[...] contribuir para o fortalecimento de políticas públicas que garantam diagnóstico precoce, acesso rápido e tratamento de qualidade para crianças e adolescentes com câncer [...] humanizar o tratamento nos hospitais públicos.” O “Aquário Carioca” aposta que a prevalência de um ambiente cheio de alegria, percepções sensoriais e ludicidade podem ser benéficas ao clima hospitalar influenciando-o de forma positiva. (INSTITUTO DESIDERATA, 2015, p. 05).
 São oferecidos aos que esperam brinquedos, livros e computadores e poltronas coloridas e confortáveis. Na sala de quimioterapia optou-se por cores pastéis a fim de proporcionar tranquilidade na realização do tratamento. “As salas de quimioterapia abraçadas pelo Aquário Carioca são ambientadas com uma cenografia de fundo do mar, símbolo de aconchego e recolhimento”. O tomógrafo ganha um design de brinquedo – Submarino Carioca e realiza cerca de 925 exames por ano. A hospedaria infantil abriga meninas e meninos entre 12 e 16 anos disponibilizando tecnologias e jogos, beneficiando cerca de 60 adolescentes por ano (INSTITUTO DESIDERATA, 2015, p. 13).
Projetos esporádicos também ocorrem como iniciativas particulares como o do Instituto Materno Infantil Professor Fernando Figueira (IMIP), com 60 crianças portadoras de neoplasias malignas. Durante o projeto que durou um ano (2004-2005) as crianças tiveram acesso a recursos lúdicos em um carrinho itinerante com livros e brinquedos doados que a cada 15 dias eram reciclados e desinfectados. Esse projeto “[...] atingiu o objetivo, na medida em que tornou o ambiente hospitalar mais agradável à criança e permitiu, de forma favorável, a continuidade do desenvolvimento humano, através do prazer de ler e de brincar” (PEDROSA, 2007, p. 105).
No Hospital Infantil Varela Santiago Natal (RN), o projeto “Lazer e tratamento” busca ajudar crianças em tratamento oncológico disponibilizando atividades de lazer e cultura e momentos lúdicos. “A brinquedoteca é um bom espaço para a realização e a excitação do lazer para/com essas crianças, pois nela, elas exercem o seu importante e grande direito que é o brincar. Este momento de lazer torna-se um aliado combatendo o processo de depressão infantil [...]” (SANTOS ET AL., 2013, p. 03).
Esses são alguns exemplos de trabalho hospitalar em projetos que visam à melhora da qualidade de vida de pacientes oncológicos infantil e seus familiares. Verifica-se que o lazer, a brincadeira, o lúdico, a ambientação são ferramentas importantes no auxílio do cuidado das crianças com câncer, podendo ser realizados por todos os envolvidos no contexto hospitalar, incluindo o psicólogo. Essas ações mobilizam a socialização, a melhora de sintomas, distraem a criança mudando o foco da dor e do medo, une as famílias e equipes multiprofissionais, proporcionam conforto, apoio, servem de incentivo ao tratamento e ajudam na mudança de quadros clínicos (PEDROSA, 2007; INSTITUTO DESIDERATA, 2015; ABRALE, 2019; SANTOS ET AL., 2013).
A inserção do graduando em psicologia “in lócus” é imprescindível para a formação profissional, visto que é na realidade investigativa e radical que o profissional internaliza as teorias e pode assim relacioná-las a prática. Dessa forma a aprendizagem não se resume a teoria e a técnica, mas também se apropria do mundo e da realidade social em que determinada profissão está inserida (CHRISTO, TRAESEL, 2009). Castro e Bornholdt afirmam:

Para que o psicólogo esteja capacitado a trabalhar em saúde, é imprescindível refletir se sua formação lhe dá as bases necessárias para essa prática. A aprendizagem não deve ser só teórica e técnica, pois o psicólogo tem que ser comprometido socialmente, estar preparado para lidar com os problemas de saúde de sua região e ter condições de atuar em equipe com outros profissionais. (CASTRO e BORNHOLDT, 2004, p. 51).


O atendimento deve se voltar para a pessoa com câncer a fim de trazer a luz, diariamente, sua perspectiva de vida, enquanto ser presente no mundo, independentemente de todos os procedimentos técnicos que envolvem o paciente e o tratamento da doença.  É importante a continuação dos estudos referentes à temática explorada em estudos mais aprofundados como pós-graduação. É preciso que dar ênfase a importância da pesquisa-ação e da formação reflexiva e prática, enquanto base para uma práxis que seja de fato investigativa e transformadora, além de produtora de novas culturas (SPINK, 1996; CASTRO E BORNHOLDT, 2004; CHRISTO, TRAESEL, 2009).

REFERÊNCIAS

ABRALE. Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia: Projeto Dodói. Disponível em: <https://projetododoi.com.br/>. Acesso em: 08 mai. 2019.

ABRALE. Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia: Projeto Dodói na integração entre crianças com câncer e equipe multiprofissional. Disponível em: <https://projetododoi.com.br/ downloads/resultados.pdf>. Acesso em: 08 mai. 2019.

ADAM, P.; H, C. Sociologia da doença e da medicina. Bauru: EDUSC, 2001 (15-65 pp.).

ARAÚJO, C. M.; OLIVEIRA, B. M.; SILVA, Y. P. Avaliação e tratamento da dor em oncologia pediátrica. Revista Médica de Minas Gerais, MG, v. 22, nº 07, 22-31 p.; 2012.

BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Estimativa 2018: Incidência de Câncer no Brasil. <http://www1.inca.gov.br/estimativa/2018/sintese-de-resultados-comentarios.asp>. Acesso em: 08 mai. 2019.

BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Ministério da Saúde alerta responsáveis e profissionais de saúde para o câncer em crianças. Publicado em 15/02/2019. Disponível em: <https://www.inca.gov.br/noticias/ministerio-da-saude-alerta-responsaveis-e-profi ssionais-de-saude-para-o-cancer-em-criancas>. Acesso em: 08 mai. 2019.

CASTRO, E. K.; BORNHOLDT, E. Psicologia da Saúde x Psicologia Hospitalar: Definições e Possibilidades de Inserção Profissional. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 24, nº 03, 48-57 p., 2004.

CHRISTO, Z. M. de; TRAESEL, E. S.. Aspectos Psicológicos do Paciente Oncológico e a atuação da Psico-Oncologia no Hospital. Disc. Scientia. Série: Ciências Humanas, S. Maria, v. 10, n. 1, 75-87 p., 2009.

COELHO, F. R. G. Controle do câncer (In) BRENTANI, M. M.; COELHO, F. R. G.; IYEYASU, H. & KOWALSKI, L. P. (Eds.). Bases da Oncologia. São Paulo: Ed. Marina, 1998 (pp. 1-21).

COHEN, R. H. P; MELO, A. G. S. Entre o hospital e a escola: o câncer em crianças. Estilos da Clínica, São Paulo: USP, v. 15, nº 02, 306-325 p., dez., 2010.

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quinta-feira, 6 de junho de 2019

A PERDA DA REALIDADE NA NEUROSE E NA PSICOSE

INTRODUÇÃO 
#Dâmaris Alcídia da Costa Melgaço

Uma fórmula simples, que trata da diferença genética mais importante, talvez, que há entre neurose e psicose: “A neurose é o resultado de um conflito entre o eu e seu id, enquanto que a psicose é o desenlace análogo de uma similar perturbação nos vínculos entre o eu e o mundo exterior” (FREUD, 1924/1988a, p. 125). 

1. NEUROSES DE TRANSFERÊNCIA 

Surgem pelo fato de o Eu não querer aceitar e promover a efetivação motora de um impulso instintual poderoso no Id, ou de contestar o objeto a que ele visa. O Eu, então, defende-se dele através do mecanismo da repressão; o que é reprimido se revolta contra esse destino, criando, por vias sobre as quais o Eu não tem poder, um substituto que o representa, que se impõe ao Eu pela via do compromisso, o sintoma; o Eu vê ameaçada e prejudicada por esse intruso a sua unidade, dá prosseguimento à luta contra o sintoma, tal como se defendia originalmente do impulso instintual, e tudo isso resulta no quadro da neurose (FREUD, 2010; 2011; 1976). 

O Eu, ao efetuar a repressão, segue as ordens do seu Super-Eu (que se originam das influencias do mundo real). Este conjunto tem mais força do que as reivindicações instintuais do Id. Assim o Eu “ [...] coloca em andamento a repressão a essa parte do Id e fortalece a repressão mediante o contra-investimento da resistência. A serviço do Super-eu e da realidade, o Eu entrou em conflito com o Id, e assim ocorre em todas as neuroses de transferência” (FREUD, 2011). 

1.1. Mecanismos das psicoses 

Distúrbio na relação entre o Eu e o mundo exterior. “amência” — uma confusão alucinatória aguda, talvez a mais extrema e impressionante forma de psicose —, o mundo exterior não é percebido de modo algum ou sua percepção não tem nenhum efeito (FREUD, 2010; 2011; 1976). 

Normalmente o mundo exterior domina o Eu por duas vias: primeiro, pelas percepções atuais que sempre podem se renovar; depois, pelo acervo mnemônico de percepções anteriores, que, como “mundo interior”, constituem patrimônio e elemento do Eu. Na amência, não só é excluído o acolhimento de novas percepções, mas também é retirado o significado do mundo interior, que até então representava o mundo exterior, como sua cópia; autonomamente o Eu cria um novo mundo exterior e interior, que é edificado conforme os impulsos de desejo do Id (FREUD, 2010; 2011; 1976). 

Destaque para o íntimo parentesco entre essa psicose e o sonho normal. Na esquizofrenia sabe-se que tendem a resultar no embotamento afetivo, isto é, na perda de todo interesse no mundo exterior. Sobre a gênese das formações delirantes, algumas análises nos ensinaram que o delírio é como um remendo colocado onde originalmente surgira uma fissura na relação do Eu com o mundo exterior (FREUD, 2010; 2011; 1976). 

A etiologia comum à irrupção de uma psiconeurose ou psicose é sempre a frustração, a não realização de um daqueles desejos infantis nunca sujeitados, tão profundamente enraizados em nossa organização filogeneticamente determinada. O Eu, nessa tensão conflituosa, continua fiel à sua dependência do mundo externo e procura amordaçar o Id, ou se deixe sobrepujar pelo Id e separar da realidade. O Super-eu reúne influências que vêm tanto do Id como do mundo externo. Sendo um modelo ideal do o esforço do Eu, a conciliação de suas múltiplas dependências (FREUD, 2010; 2011; 1976). 

A neurose de transferência corresponde ao conflito entre Eu e Id, a neurose narcísica ao conflito entre Eu e Super-eu, a psicose àquele entre Eu e mundo exterior. 

2. A PERDA DA REALIDADE NA NEUROSE E NA PSICOSE 

Um dos traços que distinguem a neurose da psicose: Na primeira o Eu, em sua dependência da realidade, reprime uma parte do Id (da vida instintual), enquanto na psicose o mesmo Eu, a serviço do Id, retira-se de uma parte da realidade (FREUD, 2010; 2011; 1976). 

Para a neurose, o fator decisivo seria a influência preponderante da realidade, para a psicose, a influência do Id. A perda da realidade já estaria na psicose desde o início; na neurose ela seria evitada (FREUD, 2010; 2011; 1976). 

A contradição existe apenas enquanto temos em vista a situação do início da neurose, na qual o Eu, a serviço da realidade, efetua a repressão de um impulso instintual. Mas isto não é ainda a neurose mesma. Ela consiste antes nos processos que trazem compensação para a parte prejudicada do Id, ou seja, na reação à repressão e no malogro desta. O afrouxamento da relação com a realidade é consequência deste segundo estágio na formação da neurose, e não nos surpreenderia se um exame detalhado mostrasse que a perda da realidade afeta justamente a porção da realidade por cujas exigências produziu-se a repressão instintual (FREUD, 2010; 2011; 1976). 

Caso de estudos sobre a histeria: “(...) uma garota apaixonada pelo cunhado, estando junto ao leito de morte da irmã, é abalada pela seguinte ideia: “Agora ele está livre, pode se casar comigo”. Esta cena é imediatamente esquecida e tem início o processo de regressão que conduz às dores histéricas. É justamente instrutivo, nessa história, ver por qual caminho a neurose busca resolver o conflito. Ela tira valor à mudança real, ao reprimir a exigência instintual em questão, ou seja, o amor ao cunhado. A reação psicótica seria recusar o fato da morte da irmã” (FREUD, 2010; 2011; 1976; NASIO, 2001, p. 63-64). 

No surgimento da psicose ocorre alguma coisa análoga ao processo que se verifica na neurose, naturalmente entre outras instâncias. Também são visíveis dois estágios, o primeiro arrancaria o Eu da realidade, o segundo tenderia a corrigir o dano e restabeleceria a relação com a realidade à custa do Eu (FREUD, 2010; 2011; 1976). 

O segundo estágio da psicose visa também compensar a perda da realidade, mas não à custa de uma restrição do Id — como, na neurose, à custa da relação com o real —, e sim por uma via mais autônoma, pela criação de uma nova realidade, que não desperte a mesma objeção que aquela abandonada (FREUD, 2010; 2011; 1976). 

Tanto na neurose como na psicose o segundo estágio é conduzido pelas mesmas tendências. Nos dois casos ele serve às aspirações de poder do Id, que não se deixa coagir pela realidade (FREUD, 2010; 2011; 1976). 

Tanto a neurose como a psicose são expressão da rebeldia do Id contra o mundo externo, de seu desprazer ou, se quiserem, de sua incapacidade de adequar-se à necessidade real. Neurose e psicose diferenciam-se muito mais na primeira reação, que as introduz, do que na tentativa de reparação que lhe segue (FREUD, 2010; 2011; 1976). 

A diferença inicial se exprime então no resultado final: na neurose uma porção da realidade é evitada mediante a fuga, enquanto na psicose é remodelada. Ou podemos dizer que na psicose a fuga inicial é seguida de uma ativa fase de remodelação, e na neurose a obediência inicial é seguida de uma posterior tentativa de fuga (FREUD, 2010; 2011; 1976). 

A neurose se contenta em evitar a porção da realidade em questão e proteger-se do encontro com ela. A diferença aguda entre neurose e psicose, no entanto, é diminuída pelo fato de também na neurose haver tentativas de substituir a realidade indesejada por outra mais conforme aos desejos (FREUD, 2010; 2011; 1976). 

O novo mundo exterior fantástico da psicose pretende se pôr no lugar da realidade externa, enquanto o da neurose, tal como o jogo das crianças, apoia-se de bom grado numa porção da realidade (FREUD, 2010; 2011; 1976). 

REFERÊNCIAS 

FREUD, S. Ensaios de metapsicologia e outros textos. Obras Completas. v. 12. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. 

FREUD, S. O Eu e o Id, Autobiografia e outros textos. Obras Completas. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. 

FREUD, S. Sobre o início do tratamento [1913]. In: ______. O caso de Schreber, artigos sobre a técnica e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1976 (Obras completas: Edição Standard Brasileira). 

NASIO, J. D. (Cols). Os grandes casos de psicose. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001, pp. 33-64.

A DIVERSIDADE EM PSICOLOGIA

INTRODUÇÃO
#Dâmaris Alcídia da Costa Melgaço

A psicologia tem sua história marcada pela filosofia, sociologia, antropologia até pretender ser uma ciência descolando-se das outras ciências. Inicia-se em Wundt, o primeiro teórico a instituí-la como investigação de laboratório com seu método introspectivo. Com o advento das ciências naturais, oriundas de Charles Darwin, a visão sobre a natureza passa a ser mais biológica descolando-se por completo das explicações míticas. O homem como qualquer outro animal pode ser estudado em sua origem filogenética. As ciências experimentais surgem com os estudos de Pavlov, Watson culminando em Skinner. Essas ciências postulam um caminho experimental, sob a égide do controle dos comportamentos humanos, dando-lhes explicações lógicas indutivas e metodológicas. 

Por conseguinte Freud, em Viena, inicia seus estudos com histéricas, criando assim sua teoria da consciência e inconsciência. Passa a estudar as relações naturais e a tríade familiar, mãe, pai, criança, dando as atividades do prazer conotações voltadas a sexualidade desenvolvimental. A fenomenologia inaugura uma contestação às psicologias experimentais, empíricas, e aos psicologismos inaugurados em Freud, subsequenciando outros como a Gestalt, etc. Sendo, portanto Husserl um matemático cria o método fenomenológico retomando a filosofia antes rechaçada e tornando-a uma ciência de rigor. A partir de Husserl surgem as teorias compreensivas que restabelecem ao homem um lugar privilegiado, no sentido de que esse é único e fenomenologicamente um entre tantos outros seres, podendo assim ser comparado a si mesmo. Diante deste quadro sendo a psicologia uma ciência recente, não forma um único corpo teórico sendo dividida entre muitas psicologias, pois possuem matrizes diferentes, com teorias e métodos distintos. Não que elas não conversem entre si, mas cada uma com suas linhas de pensamento teórico que não são isentos de sua origem cultural, momento histórico, organização social e sistemas políticos. 


1. MATRIZES SOCIAIS DO PENSAMENTO PSICOLÓGICO 

Os constructos da Psicologia não terminaram no séc. XIX, ao contrário existem muitas pesquisas auxiliando em novos constructos teóricos. O conhecimento da psicologia não é um corpo sólido, único, indivisível e totalmente integrado, justamente pela diversidade de epistemologias (FIGUEIREDO, 1992).

Existem em Psicologia diferentes pontos de vista, diferentes afirmações e diferentes explicações teóricas sobre um mesmo assunto. É possível falar em várias psicologias. Pode-se inclusive falar de Psicologias, na medida em que nesta ciência lidamos com a convivência de diversas definições diferentes, que destacam objetos de estudo e métodos próprios (FIGUEIREDO, 1992). 

As matrizes das psicologias são geradoras, são fontes de saberes e instauram o campo da teorização, bem como de diversas possibilidades de ação e inauguram as histórias das psicologias. A psicologia não apresenta um corpo de conhecimentos organizado e coeso, já que suas matrizes são diferentes, algumas teorias coexistem, outras não por serem incompatíveis. Não é um corpo unânime, havendo muitas diferenças (FIGUEIREDO, 1992). 

As matrizes podem ser divididas em três dimensões específicas: as “cientificistas” que surgem a partir dos estudos realizados nas ciencias naturais no séc. XIX, postulando que todas as coisas possuem uma ordem natural e biológica, cujo estudo prevê o controle de eventos psícológicos e comportamentais (FIGUEIREDO, 1992). 

As “românticas que aparecem como oposição ao racionalismo, defendendo que o objeto da psicologia não são eventos naturais, já que a expressão de eventos primitivos ocupam um lugar de valorização das expressões humanas (expressionismo). Dão lugar a subjetividade humana cuja meta é compreender, gerar conhecimentos aptos a apreensão das formas expressivas e singulares dos indivíduos, ampliando a comunicação de cada um consigo mesmo (FIGUEIREDO, 1992). 

As “pós-românticas” ou “compreensivas” que resgatam a compreensão humana, renunciando à esperança de uma apreensão fácil e imediata do sentido das coisas, pois o sentido não coincide com a vivência, já que por detrás dos sentidos existem outros sentidos (FIGUEIREDO, 1992). 

O propósito não é descobrir qual é a melhor psicologia e ou abordagem psicológica? A reflexão está além da atividade comparativa. A psicologia não possui uma única matriz, embora a cientificidade seja exigida em todas elas, porém alguns conhecimentos vem de uma matriz romântica com maior ênfase aos sentimentos do que a razão, outras compreensíveis, abertas para perceber o que não está pronto ou acabado e as cientificistas, herança positivista que prioriza a razão e o observável para comprovação, sendo reducionistas e de base empirista (FIGUEIREDO, 1992). 

No entanto, a diversidade de matrizes não produz um estado de dezorganização, caos e não dialogicidade, ao contrário ela amplia a capacidade de pensarmos sobre o que acreditamos, o que fazemos e quem somos. Não é, portanto, adoção de um número “x” de teorias, mas de como são essas teorias e abordagens e quais ideologias estão nelas implicadas: românticas, liberais ou disciplinadoras? Logo, é ilusório crer que se é isento na escolha de uma teoria ou abordagem, método e técnica, já que está numa dimensão ética, mas também política da Psicologia (FIGUEIREDO, 1992). 


1.1. A prática psicológica 

A psicologia constitui-se uma diversidade representada por diferentes formas de refletir-se sobre o fenômeno psicológico. A profissão psicólogo não se fundamenta em uma única proposta, há diversidade de abordagens. O conhecimento tácito do psicólogo deve incorporar a teoria na prática e vai além da aplicação, pois é uma autêntica elaboração de conhecimentos mesmo não traduzidos em textos. É o saber do ofício que tem conservados os lugares da experiência, alteridade, negatividade e transformação (FIGUEIREDO, 1992). 

Existem duas reações distintas na prática psicológica que dificultam o entendimento da profissão e da atuação profissional e que poderia gerar um certo mal-estar e possível angústia devido a "[...] ausência de uma compreensão mais abrangente e profunda do nosso espaço de dispersão". Essas práticas seriam perniciosas porque impedem que o indivíduo sinta esse sutil mal-estar e angústia (FIGUEIREDO, 1992). 

A primeira delas é o dogmatismo - "[...] psicólogo em formação ou já formado tranca-se dentro de suas crenças e ensurdece para tudo que possa contestá-las" e a segunda o ecletismo, porque ele "adota indiscriminadamente todas as crenças, métodos, técnicas e instrumentos disponíveis de acordo com sua compreensão do que lhe parece necessário para enfrentar unificadamente os desafios da prática.” (FIGUEIREDO, 1992).

A ideologia que envolve a profissão do psicólogo pode ser identificada quando perguntamos a quais interesses servimos com nossa atuação e a quem beneficiamos com nosso trabalho. Quando acreditamos que o homem nasce dotado de aptidões e características de personalidade, estamos desconsiderando as possíveis influências socioculturais sobre seu comportamento. No campo profissional as discussões históricas, sociológicas e filosóficas sobre o mundo e as formas dominantes dimensionam a ética das psicologias (FIGUEIREDO, 1992). 

Perguntar sobre o que acreditamos, o que fazemos e quem somos dimensiona a que interesses servimos com nossa atuação e a quem estamos beneficiando com o nosso trabalho, também nesse espaço reflexivo quando temos a crença de que a personalidade é inata ao homem, desprezamos a capacidade sociocultural que tem influencia na atuação humana cotidiana, bem como quando conscientes dessa premissa ética indagadora haverá transformação da prática ou no movimento contrário a manutenção da mesma (FIGUEIREDO, 1992). 

A prática psicológica, muitas vezes, tem sido utilizada como instrumento de adaptação às desigualdades produzidas pela divisão de classes. A ideologia liberal não trabalha para a emancipação dos indivíduos, ao contrário surge da necessidade de manutenção de ordem normativa, disciplinadora e adaptadora. Acredita que todos são iguais perante a lei, mas é incoerente pelo sistema de produção que prioriza os interesses próprios, desconsiderando as trocas sociais e o meio social dos indivíduos, demarcando um indivíduo idealizado e utópico. A função social da atuação do psicólogo não se limita a prática do psicólogo, é mais ampla e envolve pesquisa, engajamento político-social e luta de classes (BASTOS; GONDIM, 2010). 

A clínica durante muito tempo foi a principal atividade dos psicólogos aliados à estudos médicos e educacionais. Atualmente não ocupa mais esse lugar privilegiado por não ser próprio para determinados contextos. A psicoterapia pode ser utilizada não apenas para ajudar na resolução de problemas, mas também para fins de autoconhecimento. A psicoterapia é uma atividade que pode ter uma maior duração, enquanto que a orientação e aconselhamento objetivam tarefas mais objetivas e, portanto, menos demoradas (BASTOS; GONDIM, 2010). 

O aconselhamento e a orientação aparecem em diferentes contextos de atuação psicológica e não somente na clínica. O aconselhamento/orientação possui características próprias de uma abordagem centrada no indivíduo e nos seus sentimentos, conflitos e percepções dando voz as potencialidades de decisão e capacidades de crescimento e ressignificação da própria vida. Propõe uma abordagem mais humanista como a de Rogers (BASTOS; GONDIM, 2010). 

A observação é um instrumento utilizado já nos primeiros contatos com o paciente, triagem, psicodiagnóstico e psicoterapia. O psicodiagnóstico é um processo que abre possibilidades para compreensão do indivíduo em sua integralidade e portanto antecede a psicoterapia e tratamentos. Os testes são instrumentos do profissional e podem ser utilizados em diversos contextos por ele. É importante ter-se em mente que os testes são instrumentos de auxílio e não de “tratamento” (BASTOS; GONDIM, 2010). 

O trabalho do psicólogo deve ser em equipes multiprofissionais ou multidisciplinares como garantia de prática voltada para a prevenção, promoção da saúde, bem estar e humanização. O trabalho em equipe é fundamental em todas as instancias e contextos porque viabiliza a troca de experiências e objetiva o paciente e seu bem-estar (BASTOS; GONDIM, 2010). 


CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Conclui-se que a psicologia é uma ciência recente precedida por outras ciências. Ela não é um corpo sólido e único, pois possui diferentes matrizes teóricas. Possuem em comum o objeto de estudo, sendo este a subjetividade humana. Pode-se afirmar que existem psicologias e cada uma delas trilha um método e um constructo teórico e que esse não está descolado de seu tempo histórico, político, social e cultural. Alguns servem a ideologias liberais, outros as ideologias críticas e sociais. A escolha por uma delas implica em assumir uma postura ideológica e não há como descolar a práxis de nossas concepções de mundo. Logo, cada profissional optará por uma abordagem conforme suas próprias crenças e valores.

Isso não tira da ciência seu lugar de idoneidade e aplicabilidade, pois todas as teorias possuem constructos científicos diferenciando-se apenas na forma de direcionar o olhar ao estudo das subjetividades humanas. Muitos são os contextos para o exercício da prática psicológica, desde a clínica às instituições, organizações, etc. O psicólogo pode atuar em ambiente escolar, jurídico, hospitalar, empresarial, etc. Cada lugar diferencia-se pela demanda e portanto, cada espaço necessitará de intervenções diferenciadas. O importante é prezar pela qualidade de vida dos indivíduos num trabalho transpassado pela coletividade, alteridade e ética, entendendo que cada indivíduo é responsável por si mesmo e capaz de tomar decisões acerca de sua própria vida. A integralidade do sujeito é a premissa básica deste trabalho. 

Não estamos lá para decidir por ele e nem mudá-lo, mas auxiliá-lo a decidir pelo melhor para si. O trabalho multiprofissional envolve atividades interdisciplinares e colaboram por uma melhor compreensão da realidade biopsicossocial e de religiosidade do paciente, bem como melhores formas de intervir sem roubar-lhe o direito de ser no mundo da forma como deseja ser. O mais importante é ter-se em mente que cada indivíduo é responsável por si mesmo, cabendo a ele e somente a ele decidir sobre como deseja ser ajudado e se deseja ser. 


REFERÊNCIAS 


FIGUEIREDO, L. C. Convergências e divergências: a questão das correntes de pensamento em psicologia Transinformação, 4 (1-2-3): 15-26, jan/dez, 1992. 

BASTOS, A. V. B. & GONDIM, S. M. G. (orgs.). O trabalho do psicólogo no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2010. 


AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA E INTELIGÊNCIA

INTRODUÇÃO
#Dâmaris Alcídia da Costa Melgaço

Para falar de Neuropsicologia faz-se necessário entender o processo histórico que a diferencia de uma avaliação psicológica comum, já que se constitui num método que investiga funções cognitivas e comportamentais e que verifica como está o funcionamento do Sistema Nervoso Central (SNC) enquadrando-o num funcionamento dito normal ou patológico, ou seja, ela investiga o funcionamento cérebro-comportamento e suas relações, as alterações cognitivas e comportamentais relacionadas a possíveis lesões existentes no cérebro. A avaliação neuropsicológica é uma área da psicologia e uma especialidade dentro do campo mais amplo da psicologia clínica que utiliza interdisciplinaridade com outras áreas das neurociências e diferentes contextos de atuação profissional (MÄDER, 1996; MIOTTO, 2012; TISSER, 2017). 

O termo “Neuropsicologia” surgiu no séc. XX com Osler, porém seu registro é mais antigo datado no Antigo Egito, via relatos em papiros, de preocupações existentes relativos ao funcionamento e relações do cérebro e da mente. Na Grécia Antiga em Hipócrates aparecem registros de correlações da linguagem alterada e o mau funcionamento do lado direito do corpo e associação do cérebro ao pensamento e a sensação. Ainda no terceiro século A.C. Herófilo faz descrições anatômicas do cérebro cujos ventrículos eram responsáveis pela cognição. No segundo séc. A. C. Galeno propõe que a mente tinha como responsável a massa cerebral (MÄDER, 1996; MIOTTO, 2012).

Na Idade Média admitiam-se relações entre cérebro e comportamento. Versalius, séc. XVI avança na pesquisa descritiva observando animais concluindo que a diferença entre eles e humanos estava apenas nas proporções cerebrais. É em Descartes que se dá o estabelecimento de que a “glândula pineal” era a sede da mente. A partir daí teorias surgem cada vez mais intensificadas a respeito do cérebro e seu funcionamento. Gall e Spurhein estabelecem a Frenologia, cujos estudos sobre as formas cerebrais – caroços ou protuberâncias - indicavam anomalias, caráter, personalidade, grau de criminalidade, etc., pois para eles as faculdades mentais estavam localizadas no cérebro (MÄDER, 1996; MIOTTO, 2012). 

O que sucedeu estas descobertas foi uma história permeada pelos testes psicológicos estudados pela psicometria. Os registros dos primeiros trabalhos de mensuração comportamental datam no sec. XIX. Da história dos testes interessa-nos o início do sec. XX. Binet, Henri e Simon estabeleceram os princípios básicos para que a avaliação psicométrica pudesse ser feita. Em 1905 tornaram público a Escala de inteligência Binet-Simon, mais tarde  Goddard levou esta escala para EUA e Terman fez uma revisão na escala Stanford-Binet, adotando o termo “Quociente Intelectual” relacionando idade mental e cronológica. É somente em 1936 que Wechsler cria a Escala de Wechsler Bellevue (WBS) dando início a uma série de baterias de avaliação de inteligência que se perpetuam até hoje e que contemplam atualmente todas as baterias de avaliação neuropsicológica (MÄDER, 1996).

Suas escalas estão estruturadas em dois grandes grupos – verbais e não verbais – e esta estrutura é permanente para todos os testes e idades. Suas escalas permitem análise fatorial de subtestes em quatro índices: 1) Escala de Inteligência Adulta Wechsler (WAIS; 16-74 anos), revisadas em 1981; 2) Escala de Inteligência Wechsler para Crianças (WISC; 6-16 anos), revisadas em 1979, 1991 e 2003. O WISC IV é a quarta revisão e trouxe mudanças expressivas em relação ao conteúdo deste instrumento. Houve uma simplificação da estrutura fatorial que reformou os subtestes, com melhoras da qualidade psicométrica por aproximá-la das teorias modernas, unificando o modelo fatorial das escalas Wechsler. 3) Escala Wechsler Primária e Inteligência para crianças (WPPSI-R; 3-7 anos), revisada em 1989 e 4) Escala de Memória Wechsler (WMS-R), revisada em 1987. Esta escala avalia memória verbal e visual. (MÄDER, 1996; VIDAL, FIGUEIREDO, NASCIMENTO; 2011). 

Mais especificamente sobre a Neuropsicologia do século XX algumas teorias surgiram e embasam esta área de estudo que intersecciona conhecimento de outras subáreas como neurofisiologia, neuroanatomia, neurofarmacologia e neuroquímica, bem como campos de atuação psicológica como psicologia clínica, psicopatologia, psicologia experimental, psicometria e psicologia cognitiva. Em 1938 Lashley propôs a “teoria equipotência”, influenciando a Gestalt, pois condicionava o comportamento à quantia de massa encefálica e não a localização. MacLean introduziu o sistema límbico. Teuber, Weiskrantz e Shallice (1955-1979) mostraram que os processos de informação são independentes e estão separados de funções. Em 1947 Halstead fez a seleção de dez testes sensoriomotores sensíveis ao substrato biológico da inteligência e Reitan selecionou sete destes dez testes (MÄDER, 1996; TISSER, 2017). 

Luria e Vygotsky (1966) criaram a teoria dos Sistemas Funcionais: “[...] 1) Unidade de Atenção (sistema reticular) 2) Unidade Sensorial (áreas primárias, secundárias e terciárias) 3) Unidade de Planejamento (áreas primárias, secundárias e terciárias)”. Seu método trouxe importante contribuição para a maneira de olhar as dinâmicas do funcionamento do cérebro, bem como para a compreensão de como a parte frontal do cérebro funciona. Warrington analisou funções cognitivas em relação à disfunção cerebral. Sintetizou métodos intuitivo e empírico, analisou as habilidades complexas criando sua bateria de testes neuropsicológicos, incluso os de inteligência. Benton contribuiu com métodos, desenvolvendo testes de memória, práxis construtivas, etc. Kaplan e o grupo Boston desenvolveram a avaliação dos processos da informação quantitativamente e contribuíram para a compreensão de como pacientes que não conseguem responder dentro de regras funcionam. Milner estudou e testou o funcionamento de pacientes epiléticos cirúrgicos e através destes testes contribuiu com o desenvolvimento de testes de avaliação de funções da memória e funções de comando (MÄDER, 1996, p. 15; MIOTTO, 2012). 

A década de 90 foi revolucionária no campo neuropsicológico e ficou conhecida como a “Década do Cérebro”. Houve avanços nas imagens computadorizadas, ressonâncias e tomografias que possibilitaram melhor detectar lesões cerebrais. A pesquisa avançou e as questões relativas ao envelhecimento e as diversas patologias do SNC desenvolveram-se amplamente através de trabalhos nos centros de pesquisas. Atualmente o interesse é crescente na área das neurociências e as iniciativas para elaborar melhor o conhecimento da área são emergentes. Em 1989 aconteceu a fundação da Sociedade Latino Americana de Neuropsicologia em Buenos Aires. Os Congressos de Neuropsicologia (1991) realizados nos USA e no Brasil impulsionaram a organização da Sociedade Brasileira de Neuropsicologia, órgão que divulga e forma profissionais interessados nesta área no país (MÄDER, 1996). 

A Neuropsicologia abrange e estuda as etapas seguintes: alterações de humor e comportamento e como isto impacta cotidianamente suas vidas, investigação avaliativa por anamnese, entrevista e escalas específicas. Os objetivos desta ciência são o diagnóstico, identificação da natureza dos sintomas, a gravidade das possíveis sequelas, o prognóstico, acompanhamento da evolução dos casos e a reabilitação. Atualmente a Neuropsicologia corresponde a demandas oriundas de vários contextos como contexto educacional, clinica e forense, encaminhada por médicos, neurologistas e pediatras. Nesta área as medidas podem ser quantitativas e qualitativas já que tem por parâmetro o indivíduo medido por ele mesmo em relação à média geral dos seres humanos. A avaliação neuropsicológica possui um roteiro a ser seguido, pois todas as medidas tomadas em relação ao paciente devem ser adequadas as suas necessidades, competências e limitações (MIOTTO, 2012; TISSER, 2017). 

A avaliação neuropsicológica geralmente é feita quando há detecção real de uma disfunção cerebral, que deverá ser investigada a fim de se entender o déficit comportamental e cognitivo apresentado pelo paciente e consistem em exame receptivo a avaliação do funcionamento cerebral e sua inteireza, deixando claras as complicações psicológicas e neurológicas. É, portanto uma investigação laboral útil nos serviços de diagnóstico ou detecção precoce de sintomas de transtornos do neuro-desenvolvimento, elaboração de programas de reabilitação neuro-cognitiva; acompanhamento de procedimentos cirúrgicos que possam resultar em sequelas no SNC, procedimentos legais que envolvam documentar incapacidades mentais de pessoas com lesões ou doenças que afetam o SNC (MIOTTO, 2012; TISSER, 2017). 

A atuação profissional desta área pode ser realizada por profissionais graduados em psicologia, fonoaudiologia, pedagogia, etc., com especializações em estrutura e funcionamento do SNC, incluindo avaliação de exames de neuroimagens. Portanto, por agregar fatores etiológicos de desempenho e questões de ordem emocional e comportamental exige dos profissionais um bom compreendimento do saber científico que abrange o desenvolvimento e o funcionamento cerebrais comuns e não comuns, bem como o costumeiro desempenho mental encontrado nas desorganizações cerebrais. Este saber científico abarca: 1) disfunções do desenvolvimento como discalculia, dislexia, etc.; 2) disfunções não verbais associadas à etiologia neurológica; 3) síndromes genéticas, defeitos na estrutura do SNC, exposição a elementos tóxicos como o chumbo; lesões cerebrais decorrentes na gestação e pós-parto e o funcionamento emocional e comportamental. (MIOTTO, 2012; TISSER, 2017). 

Para que as avaliações sejam feitas existe a necessidade de utilização de instrumentos que avaliem as funções cognitivas (comprovadas cientificamente), mas somente poderão aplicar testes os profissionais formados em psicologia. Os testes de Hipóteses são realizados em função do modelo neuro-cognitivo de correlação entre as funções cognitivas e executivas e os comportamentos com a topografia e funcionamento do SNC. Os testes mais receptivos ao diagnóstico de alterações precoces são: “Aprendizagem de Listas de Palavras, Figura de Rey (cópia e memória), Trail Making, Weigl Color Form Sorting Test, Fluência Verbal (Semântica e Categorias), e Semelhanças do WAIS R.”, atualmente WAIS IV. Infelizmente, no Brasil, ainda contamos com poucos testes traduzidos e publicados. Seria excelente que contássemos com testes adaptados a realidade e problemas encontrados na população brasileira, o WAIS IV é um dos que parece ter sido padronizado recentemente para uma condição mais real, mas é bom lembrar que pode dificultar a análise dos resultados já que estes tem sua base na literatura internacional (MÄDER, 1996, p. 17; VIDAL; FIGUEIREDO; NASCIMENTO, 2011; MIOTTO, 2012). 

Em relação ao Protocolo Básico para Avaliação Neuropsicológica Clínica seria interessante à adoção de uma bateria de testes que contemplem todos os domínios cerebrais, incluídos: “[...] capacidade cognitiva, atenção, aprendizagem, memória, linguagem, capacidade visuoespacial, capacidade sensório-motora, funções executivas e processos sociais e emocionais”. Uma das funções principais de um protocolo básico é desenhar um panorama global de como está funcionando as funções cognitivas do indivíduo atendido, para depois aprofundar esta avaliação com outros testes complementares. Como produto final obter-se-á um perfil neuropsicológico do paciente. Este perfil em harmonia com as questões sociais contribuirá para uma melhor orientação individual e coletiva sobre a lida relacionada aos déficits e aos potenciais do paciente. O mais importante não são as técnicas ou as aplicações de testes, mas como os resultados serão interpretados, já que não existem testes propriamente neuropsicológicos, apenas métodos de inferência que possibilitam análise de situações reais e contextos em concordância aos aspectos físicos diagnosticados. O respeito e a inclusão de dinâmicas compreensivas é o caminho para que não haja fuga da dimensão biopsicossocial e da religiosidade humana que tem como contraponto o viés medicalizante, adaptativo, remediativo e às vezes fatalista do modelo biomédico (MÄDER, 1996; BRITO, 2010; TISSER, 2017, p. 23). 

As Teorias clássicas da inteligência definiram a inteligência como uma disposição inata ou adquirida que possui interconectividade com a realização de tarefas simples ou complexas a nível intelectual e que é determinante para o desempenho de atividades cotidianas que envolvem a aprendizagem e a resolução de problemas. As linhas mais evidentes no estudo da inteligência são: diferencial ou psicométrica; desenvolvimentista; cognitivista e neurobiológica (CANDEIAS; ALMEIDA; ROAZZI; PRIMI, 2008). 

Alguns teóricos importantes desenvolveram estudos que definiram e avaliaram a inteligência em momentos históricos específicos em contexto cultural e desenvolvimento intelectual, de ferramentas e instrumentalizações relativo à época histórica. Alguns constructos teóricos foram refutados e outros permanecem até hoje como conhecimento acumulado historicamente e cientificamente podendo ser aproveitados e ampliados conforme as tecnologias vigentes (CANDEIAS; ALMEIDA; ROAZZI; PRIMI, 2008). 

Francis Galton afirmou que pessoas mais inteligentes eram equipadas com as melhores capacidades sensoriais abordando herança hereditária e antecipando estudos sobre velocidade da condutividade neural e velocidade do processamento da informação. Seus testes foram formados por avaliação de traços físicos; acuidade sensorial; força muscular; tempos de reação entre outras características sensório-motoras simples. Binet e Simon reprovaram a excessiva centralização nos processos sensórios-motores e nas habilidades perceptuais simples de Galton. Como vimos anteriormente criaram o 1º teste psicológico descrevendo os componentes da inteligência: raciocínio, julgamento, memória, abstração e compreensão (CANDEIAS; ALMEIDA; ROAZZI; PRIMI, 2008). 

Spearman em sua análise fatorial desenvolveu a Teoria bifatorial de Inteligência definindo inteligência como sendo a capacidade de aprender relações, constituída por 2 tipos de fatores: 1) geral e 2) diversos específicos sendo eles o Fator Geral (g): comum a todas as capacidades cognitivas e o Fator Específico (s): Capacidade particular a cada capacidade cognitiva. Estes fatores g e s estão presentes nas várias capacidades intelectuais, embora não desempenhem o mesmo papel em todas elas, pois o fator g pode ser o principal em algumas e o s ser predominante em outras. O fator g permanece inalterado em um mesmo indivíduo em relação a todas as capacidades correlacionadas. O fator g é um constructo psicométrico e psicológico que descreve um conjunto de fenômenos associados com os resultados do funcionamento mental humano. É uma ideia abstrata, latente, e os fenômenos atribuídos a ele podem ser observados e medidos. A inteligência medida por meio do fator g é um componente herdável, onde o grau apresentado influencia a resposta do individuo no ambiente (CANDEIAS; ALMEIDA; ROAZZI; PRIMI, 2008). 

Thurstone apresentou a inteligência numa perspectiva pluralista. Entendeu o fator g como um artefato estatístico que descreve de forma muito pobre a estrutura da inteligência. Por esta razão propôs a existência de várias aptidões diversas na sua natureza e relativamente independentes entre si, cada uma das quais podendo entrar com pesos diferentes nos testes de Compreensão verbal (V), Fluência verbal (W), Aptidão numérica (N), Aptidão espacial (S), Memória (M), Velocidade perceptiva (P), Raciocínio (R) (CANDEIAS; ALMEIDA; ROAZZI; PRIMI, 2008). 

As Teorias Hierárquicas da Inteligência compreenderam a existência de vários fatores ou aptidões que se organizam de forma escalonada dependendo do seu nível de generalidade. Podendo ser de impacto mais geral até mais específico. Esses modelos apresentam maior importância a um ou mais fatores gerais, muito próximos da definição do fator g de Spearman. Raymond Cattel propôs a Teoria das inteligências Fluída (Gf) e Cristalizada (Gc): a Inteligência Fluida (Gf) era definida como componentes não verbais pouco dependentes de conhecimentos prévios e da influência dos aspectos culturais, estando mais relacionada aos aspectos genéticos. Sendo utilizada em tarefas relativamente novas, que não podem ser executadas automaticamente (SCHELINI, 2006). 

A Inteligência Cristalizada (Gc) foi definida com o capacidades exigidas na resolução dos problemas cotidianos, sendo conhecida como inteligência “social” ou “senso comum”. Desenvolve-se a partir das experiências culturais e educacionais. Identificou 19 fatores mais específicos, como: Compreensão verbal, Aptidão numérica, Aptidão espacial, Amplitude de memória, Ortografia, Originalidade. E mais cinco mais gerais: Aptidão fluida, Aptidão cristalizada, Capacidade de visualização, Velocidade de realização, Capacidade de evocação e de fluência (SCHELINI, 2006). 

A Inteligência Emocional está em um campo de investigação novo e nela propõe-se o ampliamento do conceito já aceito de inteligência, incluem-se aspectos relacionados ao mundo das emoções e sentimentos. São definidas por duas principais correntes teóricas básicas: 1) Define como uma capacidade geral de compreensão e raciocínio; 2) Define como uma capacidade que envolve diversas habilidades mentais relativamente independentes entre si. Tem como teórico Thurstone (1938) e Thorndike (1936). Postula que a inteligência seria composta por várias capacidades básicas e que pouco se influenciam entre si. Thorndike propôs estudos sobre a inteligência social (IS), que é a capacidade de perceber os estados emocionais próprios e alheios, motivos e comportamentos, além de agir com base nestas informações de forma adequada (CANDEIAS; ALMEIDA; ROAZZI; PRIMI, 2008).

Howard Gardner - teoria das inteligências múltiplas: inteligências lógico-matemático, linguística, musical, espacial, corporal-cenestésica, intrapessoal e interpessoal. Essas capacidades seriam independentes entre si, além de operarem em blocos separados no cérebro, obedecendo a regras próprias. Inteligência Emocional: a interação cognição-emoção. Essa é menos conhecida pelo público, pois está sendo divulgada principalmente em periódicos científicos. A definição de inteligência emocional depende da definição de inteligência, emoção e sobre sua interação. Uma definição bastante ampla diz que a inteligência é a capacidade de se adaptar ao meio. As visões mais amplas encaram as emoções como fatores desorganizadores da atividade cognitiva, trazendo falta de clareza ao raciocínio (CANDEIAS; ALMEIDA; ROAZZI; PRIMI, 2008). 


REFERENCIAS 

BRITO, M. A. Ética e medicalização da vida. In: Caponi, S., Verdi, M., Brzozowski, F. S., Hellmann F., (Orgs). Medicalização da Vida: Ética, Saúde Pública e Indústria Farmacêutica. Palhoça: Editora Unisul; 2010. p. 2554-2556. 

CANDEIAS, A.; ALMEIDA, L.; ROAZZI, A.; PRIMI, R. (orgs). Inteligência: definição e medida na confluência de múltiplas concepções. São Paulo: Casa do Psicólogo, 427p, 2008. 

MIOTTO E. C. Avaliação neuropsicológica e funções cognitivas. In: Miotto E. C, Lucia, M. C. S, Scaff, M. Neuropsicologia Clínica. São Paulo: Rocca; 2012. p. 31-32. 

MÄDER, M. J. Avaliação Neurológica: aspectos históricos e situação atual. Psicologia Ciência e Profissão. Brasília, v.16, nº 03, pp. 12-18, 1996. 

TISSER, L. (Org.). Avaliação neuropsicológica infantil. Novo Hamburgo: Editora Sinopsys, 2017 (320p.). 

SCHELINI, P. W. Teoria das inteligências fluida e cristalizada: início e evolução. Estudos de Psicologia, v. 11, nº 03, p. 323-332, 2006. 

VIDAL, F. A. S.; FIGUEIREDO, V. L. M.; NASCIMENTO, E. A quarta edição do WISC americano. Avaliação Psicológica, v. 10, nº 02, pp. 205-207 p., 2011. 

Das introspecções de o ovo e a galinha em Clarice Lispector.

Ilustração da obra Tacuinum Sanitatis Quem sou eu para desvendar tal mistério se nem mesmo Clarice desvendou, embora intuitivamente eu o sai...