terça-feira, 19 de maio de 2020

Moneyball: O homem que mudou o jogo [Filme]



O filme apresenta a história de um ex-jogador de baseball Billy Beane que por não ter dado certo na carreira profissional atua como gerente geral de um time pequeno, o Oakland Athletics. Sem dinheiro ele tenta parcerias com o objetivo de levar seu time a vencer o campeonato de 2002 (Miller, 2011; Wikipédia, 2020). 

Ao visitar o Cleveland Indians para realizar negociações referentes à troca e perda de jogadores principais de seu time conhece Peter Brand, formado em economia, e o convida para fazer parte de sua equipe. Esta parceria rende uma experiência contrária à lógica existente das regras do baseball pautada em conceitos matemáticos de lógica aplicados à economia (Miller, 2011; Wikipédia, 2020). 

Este conceito é revolucionador, pois entende que matematicamente pessoas podem ser reaproveitadas em determinadas funções tendo probabilisticamente em percentual a mesma função resolutiva de jogo que determinado jogador. Billy aposta na ideia e começa a executá-la. Para tanto enfrenta resistência de olheiros experientes no mundo do baseball, de seu técnico contratado, da logística do jogo e da força existente do capital nas relações de trabalho (Miller, 2011; Wikipédia, 2020). 

Análise Crítica 

A relação principal evocada logo no início da narrativa do longa é a do capital. Observa-se nos diálogos entre o gerente geral Billy, seus olheiros e a chefia do time o poder econômico como centralidade na manutenção de times pequenos no mercado esportivo. Estes diálogos reforçam ao telespectador a importância de vencer e estar no topo. Percebe-se também na narrativa discursiva a manutenção do pensamento neoliberal na frase de Billy: “Preciso de dinheiro” e de seu chefe (dono do time): “Desde que não tenha que gastar o meu dinheiro”. 

O sistema capitalista procura o menor ônus, incluindo os indivíduos numa trincheira social para excluí-los. Não parece ser exclusão, pois aparentemente as políticas econômicas neoliberais fazem a inclusão dos indivíduos no processo econômico de produção, circulando bens e serviços baratos que sirvam aos interesses e necessidades do capitalista, ou seja; mantêm as classes dominadas para aquém de conflitos sociais e sob o domínio das políticas econômicas em favor da classe dominante (Martins, 1997 apud Sawaia, 2001). 

A lógica marxista que expõe como ocorre a composição social frente o antagonismo capitalista de produção fica evidente neste filme já que o mesmo propaga como o material humano é visto no mercado dos esportistas. A escolha do profissional é feita na deslealdade da quebra de acordos, na estereotipação da mercadoria humana que dispõe da vida humana frente às necessidades de cristalizações presentes na sociedade. 

Pode-se refletir sob a perspectiva crítica de Goffman (2004) que o jogador é visto no mercado dos esportes como parte de exigências que estão presentes no consciente coletivo e que a questão efetiva de preenchimento destas exigências é evidenciada na fala dos olheiros de Billy quando se põem a escolher novas mercadorias para comporem seu time: “Ele tem uma namorada feia [...] Ele é feio ou tem falta de confiança” ou “ele é velho”, ou “ele frequenta casa de stripper”, ou “Ele teve uma lesão na mão direita, não serve mais para o baseball”. 

Outra questão observada está na manutenção piramidal apontada por Marx & Engels (2009, 2011) que denuncia como a sociedade separa pelo antagonismo capitalista de produção os grupos que a compõem. Os autores apontam para a existência de dois grupos como resultado deste antagonismo: os que detêm o poder de produção e os que não detêm este poder. Billy evidencia esta lógica em seu discurso quando afirma existirem times ricos e times pobres que estão em um jogo injusto de desfalque e que para ele este é o problema principal: “Somos o último filhote da cria [...] o cão mais fraco morre”. 

As explicações dadas às lógicas mercadológicas do baseball por Peter Brand evidenciam novamente as exigências sociais apontadas por Goffman (2004) e de ordem econômica por Marx & Engels (2009, 2011) que reservam o humano para o descarte. Servindo assim a padronização da utilidade e da inutilidade. Nota-se que para a psicologia organizacional estas questões são primordiais dados o potencial reflexivo que elas propõem na questão da valorização humana. 

O filme leva o telespectador mais crítico a apreender como o mercado dos esportes atua assemelhando-se a máfia. Pessoas são objetos de negócio e há exploração dos talentos individuais. Obedecem a uma hierarquia que classifica os mais condicionados e menos condicionados. Aponta uma falha epidêmica na lógica mercantilista aonde os dirigentes julgam mal os jogadores e tomam péssimas decisões realizando uma administração ruim, porque pensam em termos de comprar jogadores, comprar vitórias, fazendo uso de um ostracismo leproso que se limita a uma visão unidirecional. 

Aparentemente a nova proposta de Peter insere os descartes no jogo, não ignorando suas habilidades e competências como propõe os novos modelos de gerenciamento (Magalhães e Bendassolli, 2013). Tanto que leva o telespectador a pensar nos sentimentos e emoções envolvidos no trabalho, nas relações sociais de chefias e gerenciamentos, nas demissões e no processo apático que as envolve; nas trocas de jogadores como mercadorias negociáveis entre times, na impessoalidade do descarte. 

O telespectador vê um prenúncio de humanização quando percebe a ênfase no reaproveitamento do potencial humano nas relações do trabalho, no entanto ao decorrer da narrativa vai percebendo como Sawaia (2001) torna-se coerente quando explica as artimanhas da exclusão presentes na relação mercadológica que inclui os sujeitos para excluí-los, dando-lhes condições mínimas de sobrevivência numa aparente inclusão que mais beneficia as hierarquias presentes no mundo capitalista. 

A lógica ainda é a mais valia (lucro) e está em voga, pois Billy precisa manter o status quo se utilizando da mão de obra trabalhadora para manter seu time em foco e atingir a meta que é vencer o campeonato a qualquer custo (Marx e Engels, 2011 e 2009). Ele faz o mesmo jogo ao descartar jogadores para obter lucro e poder comprar outros jogadores a fim de realizar sua ascensão no campeonato. 

Billy ainda mantém o distanciamento social, descarta pessoas e realiza trocas a seu bel prazer segundo a conveniência do mercado. O próprio Billy se vê pressionado pelas derrotas consecutivas tendo que apresentar novos resultados ou sua própria cabeça irá rolar. A premissa é ganhar e as ações exigem prática e objetividade. 

Observa-se que na liderança de Billy existe inovação como observa Shein (2009) já que o líder pode atuar como um gerenciador da cultura organizacional, sendo um criador, transformador ou destruidor de paradigmas, porém como também afirma o autor não se pode dizer que é fácil criar ou mudar a cultura, pois, é um dos elementos da organização com maior estabilidade e menor maleabilidade. Isto fica evidente no longa metragem quando as resistências a mudança se apresentam na pessoa dos próprios jogadores, técnico e equipe de aconselhadores. Além disto, Billy enfrenta as resistências a nível macro-organizacional. 

Outra questão a ser observada está relacionada à falta de envolvimento pessoal do chefe com seus contratados e isto se torna um problema, já que reflete nas questões humanas próprias das relações no trabalho que devem considerar o psicológico dos trabalhadores. Uma das mudanças comportamentais de Billy e que foram sinônimos de sucesso da equipe foi a percepção do clima organizacional e a motivação no trabalho. 

Os autores Puente-Palácios & Martins (2013) afirmam que a gestão do clima organizacional é importante porque influi sobre o comportamento e o desempenho da equipe refletindo na efetividade da organização. Os níveis organizacionais permitem possibilidades de uma compreensão voltada para a coletividade humana e são importantes pela influência que exercem sobre os integrantes da equipe. 

O clima organizacional difere de uma organização para outra e quando favoráveis estimulam a autonomia no desempenho pessoal. “Assim, não são as pessoas que “possuem” o clima. Elas percebem o clima da organização e constroem o significado a partir das interações mantidas com outras pessoas da organização, as quais estão enraizadas na cultura que a caracteriza.” (Puente-Palácios & Martins, 2013, p. 270). 

Como líder Billy reconhece que o clima da sua equipe não está bom e resolve interagir de forma a promover autonomia aos seus jogadores estimulando o espírito de equipe. Apenas quando o comportamento resultante dessa intervenção alcançou sucesso, ou seja, quando a equipe realizou sua tarefa e se sentiu satisfeita sobre os relacionamentos mútuos, é que as crenças e valores do líder foram reconhecidos e compartilhados (Shein, 2009). 

Finalmente, o telespectador tem acesso ao enredo derradeiro e pode degustar o sabor amargo da vitória do Capital e de suas ideologias mantenedoras das engrenagens sociais. O diálogo final é instigante: “Batemos o recorde? O que importa isto? Eu estou neste jogo há muito tempo. Não é pelo recorde, é pelo título. Se não ganharmos o último jogo nos eliminam. Se qualquer outro time vencer seremos esquecidos e nada do que fizemos até aqui terá valor”. 

Ao expressar estes constructos Billy expõe a carnificina ideológica que não permite a mudança das regras, pois admiti-lo seria ameaçador a forma, ao lucro, ao emprego de muitos que trabalham com baseball. Ninguém reinventa este jogo e não se pode ameaçar o controle e a manipulação das regras. 

Marx (2011) explica seu conceito de mais-valor relativo afirmando que tornar a produção das organizações e do campo mecanizadas culmina no aumento da produtividade, ou seja; a intensificação da mecanização objetiva uma produção máxima de mercadorias a preços mais baixos com a única finalidade de obter um máximo lucro pela exploração da força de trabalho. 

Esta lógica do Capital não é quebrada no enredo final, apenas manipulada para servir os grandes times. Todo o método chamado ‘Moneyball’ é descartado até que possa ser manipulado para bem servir aos mecanismos de produção. Billy rejeita o cargo de gerente geral do Boston Red Sox para manter-se apegado a suas convicções românticas. Mais tarde este mesmo time consegue chegar à vitória utilizando as teorias usadas por Billy e Peter. Fim de Jogo ou Game Over como preferir. 

Referências  

Goffman, E. (2004). Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4 ed. Rio de Janeiro: LTC. 

Magalhães, M. O. & Bendassolli, P. F. (2013). Desenvolvimento de Carreiras na Organização. (In) Borges, L. O. & Mourão, L.. O Trabalho e as Organizações: atuações a partir da Psicologia. São Paulo: Artmed. 

Marx, K. & Engels, F. (1999). Manifesto Comunista. Ridendo Castigat Mores (Fonte Digital). 

Marx, K. & Engels, F. (2011). O Capital. 2 ed. Volume I. Boi Tempo Editorial. 

Miller, B.. (Dir.) & De Luca, M.; Horovitz, R.; Pitt, B. (Prods). (2006). Moneyball: O homem que virou o jogo [Filme]. Estados Unidos: Columbia Pictures.

Puente-Palácios, K. & Martins, M. C. F. (2013). Gestão do Clima Organizacional. (In) Borges, L. O. & Mourão, L.. O Trabalho e as Organizações: atuações a partir da Psicologia. São Paulo: Artmed. 

Sawaia, B. (2001). As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. 2. Ed. Petrópolis: Ed. Vozes. 

Schein, E. H. (2009). Cultura Organizacional e liderança. São Paulo, SP: Atlas. 

Wikipédia. Sinopse. Recuperado de https://pt.wikipedia.org/wiki/Moneyball. Acesso 19 de maio de 2020.

Happy Feet (Filme)



O filme conta a história de um pinguim Mano (Imperador) que mora na Antártica e que destoa de toda a sua família e comunidade de cantores, pois possui o talento de dançar (sapatear) e não de cantar. Isto é motivo de espanto de todos, inclusive de seu pai, Memphis, que diz que "isso não é coisa de pinguim”. Mano é apaixonado por Glória, mas sem ter como conquistá-la, já que os pinguins fazem isso através da música, ele se afasta de seu bando e conhece outra espécie de pinguins, os Adelie. Através de seus passos de dança ele acaba formando amizade com esse grupo de pinguins (Ramon, Nestor, Raul, Rinaldo e Lombardo). Mas Mano não desiste de viver entre sua espécie, e tentará mostrar que a dança pode mover montanhas. Nisso, ele sai para uma busca para descobrir o que acontecia com os peixes que estavam sumindo (Wikipédia, 2020). 

Análise Crítica 

O filme de forma geral aponta para questões sociais que esbarram na vida laboral e podem ser entendidas e compreendidas a partir de uma visão crítica-social da dinâmica grupal ou humana versus a reafirmação de que uma sociedade capitalista liberal ou neoliberal é asseguradora de direitos que são justificados por uma pseudo liberdade compreendida na livre competição comercial. 

Amaral (1995) expõe em seus estudos sociais que retomam análises mais profundas das relações humanas em sociedade que se cristalizam na cultura vigente como, por exemplo, a intolerância à diversidade ou àquilo que é visto como corpo desviante ou atípico. Observa-se que no filme a sociedade de pinguins imperador não via com bons olhos a condição de Mano, considerando-o um ser existente desviante. 

Diante desta diferença social Mano sofre com a estigmatização geradora de preconceito mediante o contraste estereotipado. Diante da diferença a comunidade local tende a sentir-se perplexa, estranha a condição de Mano. Os movimentos são de repulsa, terror, rejeição e negação desta existência incomum (Amaral, 1995). Portanto, amar, constituir família, estar aceito no meio social torna-se uma impossibilidade tolhedora do direito de exercício cidadão e coloca Mano numa condição de estigmatizado ou excluído social. 

Mano não se adapta ao que por hora, culturalmente, é considerado normal. Tanto Amaral (1995) quanto Goffman (2004) expõem uma dimensão sócio-histórica que evoca como a sociedade se comporta diante da anomalia. 

As rotinas de relação social em ambientes estabelecidos nos permitem um relacionamento com "outras pessoas" previstas sem atenção ou reflexão particular. Então, quando um estranho nos é apresentado, os primeiros aspectos nos permitem prever a sua categoria e os seus atributos, a sua "identidade social" - para usar um termo melhor do que "status social", já que nele se incluem atributos como "honestidade", da mesma forma que atributos estruturais, como "ocupação". (Goffman, 2004, p. 05). 

Isto não é diferente nas organizações, embora de acordo com Magalhães & Bendassolli (2013) atualmente a promessa neoliberal em relação à gestão de carreiras proponha novos modelos, mais voltados à importância de os indivíduos assumirem o controle sobre suas carreiras e as mudanças que venham ocorrer nos contratos psicológicos. Nestes novos modelos há proposição de que haja respeito à pluralidade nos contextos de trabalho, variedade de experiências, autonomia, criatividade, invenção e reinvenção do próprio trabalho, flexibilização das identidades pessoais, etc. 

Estes novos modelos comunam de dois pensamentos principais, um refere-se à individuação e o outro ao significado laboral. O emprego ganha notas de existencialidade à medida que é visto como atividade transformadora de si e dos outros, ou seja; a carreira agora faz mediação ao indivíduo, ao labor e a comunidade social ou grupo (Magalhães & Bendassolli, 2013). 

No entanto, os autores afirmam que os mecanismos do mercado capitalista levam ao enfraquecimento dos vínculos entre os indivíduos e a instituição organizacional, pois a pseudoideia de sucesso gerado pelo alto comprometimento não é validada na lógica mercantilista por vários fatores, entre eles; trabalho temporário contingente as necessidades da empresa, tipos de contratos de trabalho, incertezas, adaptações e mudanças repentinas, desconfianças, ressentimentos, sobrecarga laboral, etc.. Logo, outras preocupações passam a decorrer disto como o contrato psicológico. (Magalhães & Bendassolli, 2013). 

Diante destes fatos retomamos a fala de Sawaia (2001) que diz que a sociedade capitalista inclui para excluir. Parece ser inclusiva, mas é excludente. Os reflexos da cultura organizacional mediante os novos modelos ainda perpetuam estereótipos de força, agilidade, esperteza, competitividade, presentes nos processos do trabalho que tomam a mão de obra trabalhista como mercadoria de troca, conceito de Marx & Engels (2011). 

Goffman (2004) afirma que é próprio dos indivíduos sociais esquecerem-se que fazem determinadas exigências que possuem um significado no consciente coletivo e que podem se dar conta disto a medida que esta característica se torna um questão efetiva, por exemplo saber se as exigências estão sendo preenchidas. A partir desta reflexão é possível perceber que a todo o momento está-se a fazer afirmativas em relação às coisas, atitudes e comportamentos que os indivíduos deveriam apresentar ou ser. 

No filme, Mano corresponde de alguma forma a esta adaptação do existir, pois não sendo aceito na comunidade local por seus atributos, de qualquer maneira; é aceito em outra, justamente por seus atributos. Amaral (1994) fala dos pressupostos excludentes das sociedades na propagação midiática de massa quando aponta para a ideia representada nos clássicos infantis que reafirmam o pensamento de que para ser aceito na diferença é preciso tornar esta diferença ‘útil’ (grifo meu), sendo este o princípio da utilidade. 

Observa-se que este processo é próprio do sistema capitalista que impinge à sociedade políticas econômicas neoliberais, cujo objetivo é incluir indivíduos na precariedade e na marginalidade, ou seja; incluir indivíduos num processo econômico de produção que circula bens e serviços obedecendo à conveniência e necessidade da reprodução capitalista de menor ônus. Objetivam, assim, manter as classes dominadas longe dos conflitos sociais e mantê-las adequadas ao funcionamento político que sempre está a favor da classe dominante. (Martins, 1997 apud Sawaia, 2001). 

Referências Bibliográficas 

Amaral, L. A.. Conhecendo a Deficiência (em companhia de Hércules). São Paulo: Robe Editorial, 1995. 

Amaral, L. A.. Pensar a Diferença/Deficiência. Brasília: CORDE, 1994. 91 p. 

Goffman, E. (2004). Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4 ed. Rio de Janeiro: LTC. 

Magalhães, M. O. & Bendassolli, P. F. (2013). Desenvolvimento de Carreiras na Organização. (In) Borges, L. O. & Mourão, L.. O Trabalho e as Organizações: atuações a partir da Psicologia. São Paulo: Artmed. 

Marx, K. & Engels, F. (2011). O Capital. 2 ed. Volume I. Boi Tempo Editorial. 

Miller, B. ; Miller, G. ; Mitchell, D. (Prods), & Miller, G. ; Coleman, W.; Morris, J. (Dirs.). (2006). Happy Feet: O Pinguim [Filme]. Estados Unidos: Warner Bros. Pictures.

Sawaia, B. (2001). As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. 2. Ed. Petrópolis: Ed. Vozes. 

Wikipédia. Sinopse. Recuperado de https://pt.wikipedia.org/wiki/Happy_Feet. Acesso 18 de maio de 2020.

Filme: [A procura da Felicidade]



O filme fala de um pai de família Chris Gardner que enfrenta problemas financeiros e sua mulher, Linda, decide partir, deixando com ele o filho Christopher, de cinco anos. Chris consegue uma vaga de estagiário numa importante corretora de ações, mas não recebe salário pelos serviços prestados. Sua esperança é que, ao fim do programa de estágio, ele seja contratado e assim tenha um futuro promissor na empresa. Porém seus problemas financeiros não podem esperar que isto aconteça, o que faz com que sejam despejados. Chris e Christopher passam a dormir em abrigos, estações de trem, banheiros e onde quer que consigam um refúgio à noite, mantendo a esperança de que dias melhores virão (Brasil, 2020). 

Em 2020 o empresário Chris Gardner participou de um programa de televisão estadudinense e percebeu o potencial de sua historiobiografia e em 23/05/2006 publicou um livro autobiográfico, tornando-se mais tarde produtor associado do filme. O longa tomou algumas liberdades de roteiro com a verdadeira história de vida de Gardner; certos detalhes e eventos que ocorreram ao longo de vários anos foram compactados em um tempo relativamente curto (Gandossy, 2006; . Zwecker, 2003). 

Há relatos de que sua história de vida pessoal foi usada para inspirar cidadãos americanos oprimidos a alcançarem a independência financeira a fim de assumirem responsabilidade emocional e social relativos ao bem-estar. O filme foi transmitido para sem-teto de Tennessee (Zwecker, 2003). 

O próprio Gardner achou que era imperativo compartilhar sua história em prol de questões sociais generalizadas: "Quando falo sobre alcoolismo em casa, violência doméstica, abuso infantil, analfabetismo e todas essas questões universais; elas não se limitam apenas aos temas dos selos nos códigos postais", disse ele (Wikipedia, 2020). 

Análise Crítica 

O filme apresenta muitos aspectos interessantes que devem e podem ser analisados criticamente mediante a realidade existente no mundo do trabalho e das necessidades essenciais humanas dadas a priori na sobrevivência. 

Embora a discursiva seja a ideia neoliberal de superação como meta igualitária das disputas na ascensão social e ao sucesso laboral, ele apresenta a distorção e a ilusão de que para dar-se bem na vida tem-se que ralar sobre o sofrimento e que, democraticamente, todos; com algum esforço e garra, podem chegar ao lugar assim afirmado ‘sucesso’. 

Maslow faz uso de um constructo epistemológico que categoriza as necessidades em uma pirâmide hierárquica que geralmente é associada às motivações e desejos individuais. Então, objetivamente Maslow propõe que os indivíduos estão sempre em busca de satisfação de necessidades e que estas são motivacionais às ações humanas (Hesketh & Costa, 1980). 

Ao refletir-se esta ótica, pode-se afirmar que sim, elas tem um fundamento, embora nem todo ser humano individual ou coletivo elenca para si as mesmas necessidades básicas e a generalização parece mais estar a serviço das ideias normalizadoras do “capital” do que propriamente dito à necessidade de base material. 

Pode-se observar em Maslow que existem cinco níveis das necessidades: fisiológica, protetiva, emocional/afetiva/relacional, estima e realização pessoal (Hesketh & Costa, 1980). Refletindo a premissa que expõe a saciação da necessidade que garanta o corpo saudável e a sobrevivência infere-se que de alguma forma o sistema monetário que impinge ao sistema cultural dividido em classes a manutenção do status quo pela mais valia (lucro) que se utiliza da mão de obra trabalhadora para se manter está falho e é falho, já que a personagem principal tem em sua história de vida estas duas premissas negadas, porém legitimadas pelo seu esforço irracional em manter-se vivo (Marx e Engels, 2011 e 2009). 

Marx entende que a composição social está identificada pelo antagonismo capitalista de produção que é o resultado da existência de dois grupos, os que detêm o poder de produção e os que não possuem este poder. Os meios de produção, dinheiro ou capital e a propriedade física ou máquina estão a serviço dos que detém o poder, por isto o proletariado acaba por vender a sua força de trabalho para sobreviver. Logo, a mão de obra vira uma mera mercadoria ou troca salarial (Marx e Engels, 2011 e 2009). 

O filme não toma a teoria marxista por base e reforça a ideia liberal de que o lucro é uma recompensa pelos riscos que o detentor do poder assume, ou seja, ele enfatiza que o trabalhador tem como recompensa ao final do esforço um salário garantido, visto que isto não depende do sucesso da empresa ou de seu fracasso. Reitera que o risco está na mão do capitalista e que o lucro é uma justa recompensa por todo o investimento na empresa e por todo o seu trabalho gerencial. 

O filme reitera o valor de arriscar tudo pelo sucesso e não leva em consideração as necessidades mais básicas humanas que ocupam as primeiras fileiras da humanização. O que o estado proporciona ao trabalhador é irrisório diante as necessidades de resguardo da saúde corporal que incluem as psicológicas e da sobrevivência que exige condições dignas e protetivas familiar, alimentar e de vestuário. 

Em contrastes, as duas proposições socialistas e capitalistas, escancaram condições deploráveis oferecidas pelo regime social que opera na vida das pessoas e que despreza a satisfação de necessidades primeiras. No caso do liberalismo expõe a naturalização da competitividade e de que esta é justa porque dá a todos os indivíduos o direito de livre comércio e ascensão. No caso do socialismo revela as mentiras destas afirmações, pois eclodem a impureza da indústria capitalista e como esta aliena os cidadãos que produzem, mas não usufruem de sua produção de forma justa. 

Referências Bibliográficas 

Brasil. AdoroCinema. À Procura da Felicidade. Consultado em 14 de maio de 2020. Recuperado de http://www.adorocinema.com/filmes/filme-54098/

Gandossy, Taylor (17 de dezembro de 2006). From sleeping on the streets to Wall Street. CNN. Consultado em 14 de maio de 2020. Recuperado de http://edition.cnn.com/2006/US/12/15/paycheckaway.gardner/index.html

Hesketh, J. L. & Costa, M. T. P. M. (Jul./Set. 1980). Construção de um instrumento para medida de satisfação no trabalho. Revista Administração Empresarial. 20 (3), 59-68. Recuperado de https://www.scielo.br/pdf/rae/v20n3/v20n3a05

Marx, K. & Engels, F. (2011). O Capital. 2 ed. Volume I. Boi Tempo Editorial. 

Marx, K. & Engels, F. (1999). Manifesto Comunista. Ridendo Castigat Mores (Fonte Digital). 

Smith,W.; Black, T.; Blumenthal, J.; Lassiter, J.; Tisch, S.. (Prods), & Muccino, G. (Dir.). (2006). À procura da Felicidade [Filme]. Estados Unidos: 

The Associated Press State & Local Wire (15 de dezembro de 2006). News briefs from around Tennessee. AP Newswire. pp. 788 words. 

Wikipédia. Sinopse. Recuperado de https://pt.wikipedia.org/wiki/The_Pursuit_of_ Happyness#cite_note-adorocin-3. Acesso 14 de maio de 2020. 

Zwecker, Bill (17 de julho de 2003). «There's a Way—and Maybe a Will—for Gardner Story». Chicago Sun-Times. p. 36.

Os Estagiários [Filme].



O filme fala de dois vendedores quarentões, Billy e Nick, que se veem desempregados de uma hora para outra. Eles conseguem uma entrevista na Google Inc. e entram como estagiários apesar de não saberem nada sobre as mídias digitais. 

Os candidatos estagiários são divididos em vários grupos para serem avaliados em diversos aspectos. O melhor desempenho em equipe garante a vaga. 

Billy e Nick ficam no grupo "dos que sobraram": Stuart (Dylan O'Brien), que está sempre com seu smartphone; Yo-Yo (Tobit Raphael), um descendente asiático que sofre com a rígida educação dada por sua mãe; Neha (Tiya Sircar), uma descendente indiana que externa sua hipersexualidade. Outro estagiário, Graham (Max Minghella), se torna o antagonista, liderando a melhor equipe e praticando bullying com a equipe dos protagonistas. 

Apesar da tensão inicial, o grupo, durante uma partida de quadribol trouxa, uma das tarefas, consegue desenvolver um senso de equipe e conseguem superar as diferenças, e usando o que cada um tem de melhor, tentarão realizar o sonho de trabalhar no Google. 

Análise Crítica 

Algumas questões podem ser observadas no processo que envolve as relações de trabalho, as políticas organizacionais e de recrutamento e seleção. Uma primeira compreensão pode ser refletida é que as ações competitivas do mercado de trabalho podem massacrar pessoas desatualizadas. Neste caso a resiliência e disposição para novos aprendizados são importantes, principalmente quando aliançados pelo espírito de equipe. 

Consequentemente apreende-se que para que uma proposta de trabalho se realize satisfatoriamente é necessário união e foco nos objetivos a serem alcançados. Nem sempre os insights ocorrem no ambiente burocrático o que se observa no enredo do filme, já que eles cansados da não produtividade saem para se distraírem e durante o passeio envolvem-se em uma briga e ganham forças e união no enfrentamento. Param para conversar e é deste momento que surge a ideia que os levará a vitória. 

É importante refletir em como atividades maçantes e aprisionantes impedem a criatividade. O filme propõe uma maior interatividade com a vida real e seus prazeres que abrem os olhos criativos. Nem sempre as melhores ideias estão num ambiente restritivo e sob pressão, o que se observa num episódio de competição cujo participante tem um ato falho, fez tudo correto, mas esquece de gravar o feito perdendo e prejudicando a equipe. Isto não impede que os colegas o procurem depois de sua desistência para reavaliarem as ações ganhando assim mais força e obtendo a vitória. 

Percebe-se que problemas e falhas na corporação sempre ocorrerão, mas jamais se deve desistir ou abandonar um objetivo. O movimento deve ser sempre o da volta reflexiva sobre pontos fracos e fortes o que direciona um melhoramento das relações no trabalho. 

Outro fator importante é a competição existente no mundo do trabalho. O filme retrata a violência existente nas políticas organizacionais que descartam pessoas velhas e improdutivas. Outro fator a ser observado é a exaltação da superação e da reinvenção laboral. Isto reforça a máxima do Capital que mantém a priori de que para funcionar neste mundo da produtividade é preciso ser produtivo. A inutilidade é descartada com muita facilidade. O mercado de trabalho é uma selva. 

Desta forma o assedio moral existente na relação de trabalho é violenta. Muitos jovens estagiários com ganância pela vaga conservavam a matriz discursiva da inutilidade, menosprezando a capacidade de reinvenção tão inerente ao ser humano. Em nome da manutenção do status quo a violência psicológica e verbal é aparentemente aprovada e minimizada. O fim maior é o lucro e a rapidez exigente do mercado virtual. 

Enfim, o filme é um chamado a reflexão sobre a importância do humano e da realização laboral que vai além do mercado de trabalho, que está voltada para o bem estar social dos indivíduos. A selva propõe a máxima: ou você mata ou você morre. Não acredito que deva ser assim quando todos trabalham unidos para uma sociedade mais justa, o que infelizmente é quase impossível alcançar no mundo do trabalho. 

Referências Bibliográficas 

Wikipédia. Sinopse. Recuperado de https://pt.wikipedia.org/wiki/The_Internship#Sinopse

Vaughn, V. (Produtor), & Levy, S.. (Diretor). (2013). Os Estagiários [Filme]. Estados Unidos: Twentieth Century Fox.

Das introspecções de o ovo e a galinha em Clarice Lispector.

Ilustração da obra Tacuinum Sanitatis Quem sou eu para desvendar tal mistério se nem mesmo Clarice desvendou, embora intuitivamente eu o sai...