terça-feira, 19 de maio de 2020

Filme: [A procura da Felicidade]



O filme fala de um pai de família Chris Gardner que enfrenta problemas financeiros e sua mulher, Linda, decide partir, deixando com ele o filho Christopher, de cinco anos. Chris consegue uma vaga de estagiário numa importante corretora de ações, mas não recebe salário pelos serviços prestados. Sua esperança é que, ao fim do programa de estágio, ele seja contratado e assim tenha um futuro promissor na empresa. Porém seus problemas financeiros não podem esperar que isto aconteça, o que faz com que sejam despejados. Chris e Christopher passam a dormir em abrigos, estações de trem, banheiros e onde quer que consigam um refúgio à noite, mantendo a esperança de que dias melhores virão (Brasil, 2020). 

Em 2020 o empresário Chris Gardner participou de um programa de televisão estadudinense e percebeu o potencial de sua historiobiografia e em 23/05/2006 publicou um livro autobiográfico, tornando-se mais tarde produtor associado do filme. O longa tomou algumas liberdades de roteiro com a verdadeira história de vida de Gardner; certos detalhes e eventos que ocorreram ao longo de vários anos foram compactados em um tempo relativamente curto (Gandossy, 2006; . Zwecker, 2003). 

Há relatos de que sua história de vida pessoal foi usada para inspirar cidadãos americanos oprimidos a alcançarem a independência financeira a fim de assumirem responsabilidade emocional e social relativos ao bem-estar. O filme foi transmitido para sem-teto de Tennessee (Zwecker, 2003). 

O próprio Gardner achou que era imperativo compartilhar sua história em prol de questões sociais generalizadas: "Quando falo sobre alcoolismo em casa, violência doméstica, abuso infantil, analfabetismo e todas essas questões universais; elas não se limitam apenas aos temas dos selos nos códigos postais", disse ele (Wikipedia, 2020). 

Análise Crítica 

O filme apresenta muitos aspectos interessantes que devem e podem ser analisados criticamente mediante a realidade existente no mundo do trabalho e das necessidades essenciais humanas dadas a priori na sobrevivência. 

Embora a discursiva seja a ideia neoliberal de superação como meta igualitária das disputas na ascensão social e ao sucesso laboral, ele apresenta a distorção e a ilusão de que para dar-se bem na vida tem-se que ralar sobre o sofrimento e que, democraticamente, todos; com algum esforço e garra, podem chegar ao lugar assim afirmado ‘sucesso’. 

Maslow faz uso de um constructo epistemológico que categoriza as necessidades em uma pirâmide hierárquica que geralmente é associada às motivações e desejos individuais. Então, objetivamente Maslow propõe que os indivíduos estão sempre em busca de satisfação de necessidades e que estas são motivacionais às ações humanas (Hesketh & Costa, 1980). 

Ao refletir-se esta ótica, pode-se afirmar que sim, elas tem um fundamento, embora nem todo ser humano individual ou coletivo elenca para si as mesmas necessidades básicas e a generalização parece mais estar a serviço das ideias normalizadoras do “capital” do que propriamente dito à necessidade de base material. 

Pode-se observar em Maslow que existem cinco níveis das necessidades: fisiológica, protetiva, emocional/afetiva/relacional, estima e realização pessoal (Hesketh & Costa, 1980). Refletindo a premissa que expõe a saciação da necessidade que garanta o corpo saudável e a sobrevivência infere-se que de alguma forma o sistema monetário que impinge ao sistema cultural dividido em classes a manutenção do status quo pela mais valia (lucro) que se utiliza da mão de obra trabalhadora para se manter está falho e é falho, já que a personagem principal tem em sua história de vida estas duas premissas negadas, porém legitimadas pelo seu esforço irracional em manter-se vivo (Marx e Engels, 2011 e 2009). 

Marx entende que a composição social está identificada pelo antagonismo capitalista de produção que é o resultado da existência de dois grupos, os que detêm o poder de produção e os que não possuem este poder. Os meios de produção, dinheiro ou capital e a propriedade física ou máquina estão a serviço dos que detém o poder, por isto o proletariado acaba por vender a sua força de trabalho para sobreviver. Logo, a mão de obra vira uma mera mercadoria ou troca salarial (Marx e Engels, 2011 e 2009). 

O filme não toma a teoria marxista por base e reforça a ideia liberal de que o lucro é uma recompensa pelos riscos que o detentor do poder assume, ou seja, ele enfatiza que o trabalhador tem como recompensa ao final do esforço um salário garantido, visto que isto não depende do sucesso da empresa ou de seu fracasso. Reitera que o risco está na mão do capitalista e que o lucro é uma justa recompensa por todo o investimento na empresa e por todo o seu trabalho gerencial. 

O filme reitera o valor de arriscar tudo pelo sucesso e não leva em consideração as necessidades mais básicas humanas que ocupam as primeiras fileiras da humanização. O que o estado proporciona ao trabalhador é irrisório diante as necessidades de resguardo da saúde corporal que incluem as psicológicas e da sobrevivência que exige condições dignas e protetivas familiar, alimentar e de vestuário. 

Em contrastes, as duas proposições socialistas e capitalistas, escancaram condições deploráveis oferecidas pelo regime social que opera na vida das pessoas e que despreza a satisfação de necessidades primeiras. No caso do liberalismo expõe a naturalização da competitividade e de que esta é justa porque dá a todos os indivíduos o direito de livre comércio e ascensão. No caso do socialismo revela as mentiras destas afirmações, pois eclodem a impureza da indústria capitalista e como esta aliena os cidadãos que produzem, mas não usufruem de sua produção de forma justa. 

Referências Bibliográficas 

Brasil. AdoroCinema. À Procura da Felicidade. Consultado em 14 de maio de 2020. Recuperado de http://www.adorocinema.com/filmes/filme-54098/

Gandossy, Taylor (17 de dezembro de 2006). From sleeping on the streets to Wall Street. CNN. Consultado em 14 de maio de 2020. Recuperado de http://edition.cnn.com/2006/US/12/15/paycheckaway.gardner/index.html

Hesketh, J. L. & Costa, M. T. P. M. (Jul./Set. 1980). Construção de um instrumento para medida de satisfação no trabalho. Revista Administração Empresarial. 20 (3), 59-68. Recuperado de https://www.scielo.br/pdf/rae/v20n3/v20n3a05

Marx, K. & Engels, F. (2011). O Capital. 2 ed. Volume I. Boi Tempo Editorial. 

Marx, K. & Engels, F. (1999). Manifesto Comunista. Ridendo Castigat Mores (Fonte Digital). 

Smith,W.; Black, T.; Blumenthal, J.; Lassiter, J.; Tisch, S.. (Prods), & Muccino, G. (Dir.). (2006). À procura da Felicidade [Filme]. Estados Unidos: 

The Associated Press State & Local Wire (15 de dezembro de 2006). News briefs from around Tennessee. AP Newswire. pp. 788 words. 

Wikipédia. Sinopse. Recuperado de https://pt.wikipedia.org/wiki/The_Pursuit_of_ Happyness#cite_note-adorocin-3. Acesso 14 de maio de 2020. 

Zwecker, Bill (17 de julho de 2003). «There's a Way—and Maybe a Will—for Gardner Story». Chicago Sun-Times. p. 36.

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