Marx and Vigotski: perspectives of práxis in the
construction of a Psychology of Inclusion
Marx y Vigotski: perspectivas de la práxis en la construcción de una Psicología de la Inclusión
Resumo: Este
trabalho faz uma interlocução analítica entre os autores Marx e Vigotski na
perspectiva da práxis. A partir dessas análises procura fazer pontes com a
inclusão e a psicologia da práxis, apontando possíveis caminhos para a
construção de novas proposições, como pontes para a transformação das ideias e
consequentemente da história, sem desprezar as conquistas até aqui alcançadas.
O trabalho objetiva levantar questionamentos sobre as políticas de inclusão na
sociedade capitalista. Trata-se de um estudo teórico que se utilizou de
pesquisa bibliográfica para articular proposições em perspectiva compreensiva,
interpretativa e dialética. Para tanto utilizou pesquisas em livros, periódicos
e bancos de dados bibliográficos, com estabelecimento de plano organizacional
que tornasse fácil identificar os principais trabalhos sobre o tema, já que
existem muitas possibilidades entre as produções científicas já publicadas.
Conclui-se pelo não esgotamento do tema já que a inclusão é um debate sempre
existente na sociedade capitalista.
Palavras-chave: Vigotski; Marx; Práxis; Inclusão; Capitalismo.
Abstract: This work makes an analytical dialogue between the
authors Marx and Vigotski from the perspective of práxis. From these analyses
it seeks to bridge the inclusion and psychology of práxis, pointing out
possible paths for the construction of new propositions, as bridges for the
transformation of ideas and consequently of history, without neglecting the
achievements achieved so far. The work aims to raise questions about the
policies of inclusion in capitalist society. This is a theoretical study that
used bibliographic research to articulate propositions in a comprehensive,
interpretative and dialectical perspective. For this purpose, he used research
in books, periodicals and bibliographic databases, with the establishment of an
organizational plan that would make it easy to identify the main works on the
subject, since there are many possibilities among the scientific productions
already published. It is concluded by the non-exhaustion of the theme since
inclusion is a debate always existing in capitalist society.
Keywords: Vigotski; Marx; Práxis; Inclusion; Capitalism.
Resumen: Esta obra
hace un diálogo analítico entre los autores Marx y Vigotski desde la
perspectiva de la práxis. A partir de estos análisis se busca salvar la
inclusión y la psicología de la práxis, señalando posibles caminos para la
construcción de nuevas proposiciones, como puentes para la transformación de
ideas y en consecuencia de la historia, sin descuidar los logros alcanzados
hasta ahora. El trabajo tiene como objetivo plantear preguntas sobre las
políticas de inclusión en la sociedad capitalista. Se trata de un estudio
teórico que utilizó la investigación bibliográfica para articular propuestas en
una perspectiva integral, interpretativa y dialéctica. Para ello, utilizó la
investigación en libros, publicaciones periódicas y bases de datos
bibliográficas, con la creación de un plan organizativo que facilitaría la
identificación de las principales obras sobre la materia, ya que existen muchas
posibilidades entre las producciones científicas ya publicadas. Se concluye con
la falta de agotamiento del tema, ya que la inclusión es un debate siempre
existente en la sociedad capitalista.
Palabras clave:Vigotski; Marx; Práxis; Inclusión; Capitalismo.
1 Introdução
O
presente artigo realiza uma reflexão teórica sobre os olhares da “práxis” em
seu berço, cuja origem crítica se dá em Marx; e como ela se expressa na teoria
de Vigotski em termos práticos e teóricos, reforçando as condições mais
profundas de análise de caráter revolucionário. Não se trata de uma pesquisa
fatalista ou objetivista, mas qualitativa na medida em que trabalha numa
perspectiva da compreensão, interpretação e dialética do campo teórico, não
sendo somente uma leitura minimalista ou superficial (Minayo, 2009/2012, Netto,
2011).
Trata-se
de uma pesquisa bibliográfica cuja metodologia é argumentativa e de caráter
exploratório. Buscou levantar referências conceituais anteriormente já
investigadas, analisadas e divulgadas em livros, periódicos, artigos
científicos e meios eletrônicos, na tentativa de envolver o leitor numa
narrativa em perspectiva, cuja construção se dá pela análise de relações e
observações de teoria distintas, mas próximas (Minayo, 2009/2012; Netto, 2011;
Fonseca, 2002 apud Silveira & Córdova, 2009).
Ao
mesmo tempo, este trabalho defende que existem aproximações importantes entre
Marx e Vigotski e que estas se manifestam como práxis na ação pedagógica de
Vigotski, no acolhimento de crianças com deficiência, à época; marginalizadas.
Acredita-se que seus estudos possibilitaram uma construção epistemológica
consistente que colocou a Psicologia no caminho da Inclusão, sendo sua
contribuição muito rica para o campo pedagógico; já que Vigotski era um
educador atuante no confronto das problemáticas instrucionais do sistema
educacional soviético (Ivic, 2010).
Inclusão
é um termo bem peculiar porque traz nele várias implicações de ordem cultural,
política e social. Este vernáculo ao ser evocado trás junto consigo vários
aspectos emergentes relativos ao processo histórico-social presentificado nos
significados que dele derivam. Estes aspectos estão relacionados à forma como a
sociedade ocidental se formou e como ela perpetua seus constructos, sejam eles
por estereótipos, estigmas, preconceitos ou ideologias (Amaral, 1994; Sawaia,
2001).
Pode-se
pensar que inclusão pode ser reversa de exclusão, numa dicotomia existente, que
tenta homogeneizar as diversidades separando-as em unidade “padronização” e
diferença “segregação”. Politicamente, incluir pode significar excluir, já que
a sociedade capitalista inclui os indivíduos para então excluí-los, pois separa
os indivíduos em classes sociais, dando para a inclusão uma natureza fantasiosa
que mascara a exclusão, já que esta ocorre em condições injustas num
gerenciamento que reproduz o sistema monetário capitalista. Isso aumenta as
distâncias existentes entre o acesso ao direito cidadão, a garantia da
alteridade e a condição financeira necessária para subsistência social (Gimeno Sacristan,
2001; Sawaia, 2001).
Embora
os movimentos atuais pela inclusão sejam recentes e tenham iniciado em 1948,
com a Declaração Universal dos Direitos Humanos que ampliou a visão sobre
humanidades e estabeleceu alguns princípios básicos como o direito à liberdade
e igualdade, bem como os direitos econômicos, sociais e culturais tendo sido reforçados
pela Declaração Mundial sobre Educação para Todos em 1990 e a Declaração de
Salamanca em 1994, na Espanha, pela decisão da integração e do acesso à escola
por todos os indivíduos, incluindo as pessoas com deficiência, estas
iniciativas não podem ser afirmadas como pioneiras no cuidado integral de
pessoas com deficiência (Carvalho, 1999; Vieira, 1999).
Vigotski
pode ser considerado um precursor do pensamento inclusivo, já que propunha um
trabalho que tivesse por base o potencial volitivo existente nas crianças com
deficiência. É importante refletir que ele inaugura um movimento importante que
objetivava transformar a forma como a deficiência era compreendida nas bases
sociais de sua época, início do século XX. Era sua intenção libertar o indivíduo
das visões limitantes que davam supremacia ao biológico em detrimento aos
aspectos interacionais próprios do ser humano na construção das funções
superiores. A organicidade da deficiência não era desconsiderada por ele, porém
a sua ênfase era argumentativa em relação a uma questão maior que envolvia a
forma como as bases culturais de seu contexto histórico lidavam com a
deficiência. Para Vigotski, a aprendizagem de uma criança com deficiência
intelectual estava diretamente relacionada aos estímulos oferecido pelo meio
social, no qual ela interagia (Valdés, 2002; Van der Veer & Valsiner, 1996;
Vigotski, 1983/2011).
É
importante pensar em Vigotski como aquele que preconiza movimentos de base
social. Embora estivesse imerso em contextos políticos repressores, este autor
construiu um rico material sobre a importância das interações sociais para o
desenvolvimento humano. Observa-se que a sua base aproxima-se dos pensamentos
marxistas, já que possui uma ênfase dada à coletividade. Assemelha-se a
materialidade das relações iniciais que se dão primeiramente pela necessidade
em Marx. Esta necessidade, propriamente humana, surge não da materialidade por
si só, ou pela ideia construída a partir destas bases, mas de situações
conflitivas que de alguma forma despertam o desejo volitivo produtivo para
perpetuação das espécies e da coletividade que ocorrem através dos estímulos
ambientais. Por produção, não se elenca apenas o trabalho, sendo este uma rica
ferramenta humana, mas também a produção cultural, social/coletiva e afetiva/emoções
das interações humanas (Duarte, 2000; Vigotski, 1997; Vigotski, 1983/2011).
Para
Vigotski as crianças nascem com mecanismos biológicos, sem conhecimento do que
é perigo, sem saber andar e falar, comunicando-se como conseguem, através do
choro. Para o autor apesar das diferenças culturais e estilos de vida de cada
comunidade algumas premissas básicas e humanas se mantêm. Premissas que são do
ponto biológico similares em todo o mundo. Nota-se que apesar da diversidade
cultural o ser humano constituído enquanto instância psíquica superior
necessita dos instrumentos elementares como os primeiros cuidados extrínsecos.
Elkonin (1987) propõe estágios do desenvolvimento que institui um caráter
periódico e postula que na Primeira Infância a comunicação verbal dos bebês e
as atividades de manipulação dos objetos se dão através dos processos de
assimilação, conceito vigostikiniano (Facci, 2004, Ivic, 2010, Pletsch &
Braun, 2008; Silva, Menezes & Oliveira, 2013; Vigotski, 1997; Vigotski,
1983/2011).
Os
mediadores estão constituídos na materialidade que se apresenta das relações
pessoais e ideologias culturais, ou seja, na forma de se relacionar dos adultos
e da composição da sociedade, urbana ou rural. Pode-se inferir que essa
constituição psíquica a princípio é na verdade uma reprodução da cultura adulta
e que a criança não possui ainda a capacidade intrínseca de produzir uma
cultura própria (Facci, 2004; Ivic, 2010; Vigotski, 1997; Vigotski, 1983/2011).
Vigotski
se propõe a estudar a formação dos processos da construção do psiquismo humano,
não fazendo distinção entre pares apostando na capacidade de aprendizagem que
se dá pelas interações coletivas, considerando a cultura social. E é justamente
esta forma de pensar de Vigotski que é potencializada em sua práxis, aliando
ação comunicativa e produção criativa. O autor realiza visitas a Marx quando
retoma a práxis marxista que coloca em primeiro plano o potencial da atividade
humana para a transformação da natureza e da sociedade. Sendo esta relação,
práxis e teoria, ação prática e teórica, pois é prática quando toma a teoria
por diretividade que modela a atividade humana capaz de revolucionar as bases
da sociedade e teórica quando ocorre de forma consciente (Bottomore, 1997;
Konder, 1992; Lima, Araújo & Moraes, 2010; Netto, 2011; Silva, 2017;
Vázquez, 2011; Vigotski, 1997; Vigotski,
1983/2011).
Vigotski,
de acordo com Vigodskaia e Lifanova, teve pouca atuação nas questões políticas
de sua realidade histórica, embora tenha sido eleito deputado por duas vezes,
não podendo concluir o segundo mandato por ocasião de sua morte precoce.
Denota-se que ele se ocupou mais da construção de sua epistemologia, 124
títulos, no entanto; se pode inferir de seu discurso e de sua práxis as
manifestações visíveis de sua consciência sobre as condições injustas e
preconceituosas existentes a sua época, no tocante a luta de classes, já que o
mesmo propõe uma ação prática que tem como condutor a sua própria teoria, ou
seja; Vigotski não fica apenas no campo teórico, mas se lança no trabalho
prático coletivo para transformar e revolucionar as bases sociais de sua época
assumindo uma nova postura diante da deficiência. (Ivic, 2010; Pedrosa, 2013; Prestes,
2014 apud Roldão, Camargo & Dias, 2019). “Ele não estava alheio ao processo
político revolucionário da Rússia; acompanhava atentamente o desenvolvimento
dos acontecimentos políticos e percebia os reflexos deles em seu país . . .”
(Prestes & Tunes, 2017 apud Roldão, Camargo & Dias, 2019, p. 28).
O
trabalho retoma a perspectiva de uma gênese sócio-histórica que apresenta
Vigotski como alguém que estava submetido a condições e transformações
históricas. Um exemplo a ser citado é a sua participação no II Congresso
Nacional de Psiconeurologia em 1924 quando expõe uma comunicação que versava
sobre métodos, investigação, reflexologia e psicologia. Este estudo marca sua
entrada no espaço da metodologia e aponta para a introspecção subjetiva em
oposição ao positivismo, já que ele se posicionava a favor de uma psicologia da
revolução que deveria utilizar-se desta ferramenta para reconstruir uma
sociedade, fazendo uso da luta revolucionária e contra revolucionária.
Portanto, Vigotski propõe uma nova ciência que incorpora nuances políticas e
ideológicas e se abre para a práxis saindo dos laboratórios experimentais
(Dias, 2019; Ivic, 2010; Toassa, 2006 apud Pedrosa, 2013).
A
saber, nesta época os constructos sobre a deficiência estavam sob a égide da
limitação orgânica, de estudos mantenedores de viés religioso e fatalista,
embora já estivessem no início de saltos evolutivos de caráter histórico
iniciado na Europa pós-iluminismo, Sec. XIX, das primeiras iniciativas que
propunham ações educacionais voltadas às pessoas com deficiência. No entanto, diversas eram as expressões
ideológicas liberais utilizadas para referir-se ao tratamento dessas pessoas:
“Pedagogia de Anormais, Pedagogia Teratológica, Pedagogia Curativa ou
Terapêutica, Pedagogia da Assistência Social, Pedagogia Emendativa” (Mazzotta,
2001, p.17), inclusive os termos usados por Vigotski como defectologia ou
defeito, vinham implicitamente acompanhados do viés preconceituoso (Vigotski,
1997).
Vigotski,
no entanto; estudou a Defectologia não sob os moldes dos ideários vigentes, mas
à contramão dos mesmos. Seus escritos foram contra as concepções enviesadas
sejam pelas questões mitológicas, sejam pelas questões biológicas. Seus estudos
romperam com ideias normalizantes e excludentes que viam o “defeito” como uma
condição ou um adjetivo de inferiorização. Ele contrasta com os diagnósticos da
época, realizados por especialistas de diversas áreas que classificavam as
pessoas em desemburráveis, ou seja; que não poderiam ser educadas e
deficientes. Em Vigotski a defectologia é definida como um espaço de saberes
teóricos e de atividade da ciência prática junto aos indivíduos que por conta
da deficiência tem tido seu desenvolvimento comprometido e dificultado (Silva,
Menezes & Oliveira, 2013; Vigotski, 1987; Vigotski, 1997; Vigotski, 1983/2011).
2. Metodologia
Este
estudo teórico parte do pressuposto da práxis em Marx que compreende a ação
fundante de toda a dinâmica estrutural da sociedade, cuja movimentação ocorre
pelo conhecimento concatenado à prática que dão as bases para as principais
ideologias de uma sociedade. Para escrevê-lo foi necessário um aprofundamento
teórico buscado em livros, artigos, periódicos, teses e dissertações impressas
e disponibilizadas em bancos de dados eletrônicos, portanto trata-se de um
estudo bibliográfico (Netto, 2011; Silveira & Córdova, 2009).
Entendendo
que a pesquisa bibliográfica é uma ferramenta que se complica pela abundância
de artigos científicos disponibilizados, optou-se por um plano organizacional
que possibilitasse garimpo dos textos mais condizentes com a temática
utilizada. O estudo ao mesmo tempo em que é qualitativo pela abordagem em perspectiva
da compreensão, interpretação e dialética do campo teórico, é; também
quantitativo, pois buscou organizar as bibliografias optando pela eliminação do
que não cabia dentro da temática principal e pela escolha de bibliografias mais
oportunas para a construção do argumento teórico que fundamentou a pesquisa
(Minayo, 2009/2012; Treinta, Farias Filho, Sant’Anna & Rabelo, 2014).
Para
tanto, foi estabelecido palavras-chaves de pesquisa, lógica booleana, dentro da
temática do estudo, Marx e/ou Vigotski e/ou práxis e/ou capitalismo e/ou
inclusão e/ou história da inclusão. Utilizaram-se motores de busca em
plataformas digitais mais usuais da área psicológica (Scielo, Pepsic, Web of
Science, Scopus, PsycInfo, etc). Além destas ferramentas digitais foram
utilizados livros e cadernos impressos sobre o assunto abordado, objetivando a
formação do banco de dados inicial, catalogados em planilha Excel por título,
assunto, objetivos e conteúdo principal. A partir desta primeira amostra foram
eliminados artigos duplicados e feita refiltragem ou revisão de literatura de
acordo com os objetivos da pesquisa para, então; definir o portfólio de
literaturas finais. Como resultado final da seleção, foram utilizados, ao todo,
40 títulos para a construção do corpo teórico deste artigo (Treinta, Farias
Filho, Sant’Anna & Rabelo, 2014).
3. A práxis como critério fundante
da transformação social
A
práxis pode ser considerada um critério que participa literalmente da fundação
de uma nova sociedade. Quando se minimiza toda a radicalidade que envolve este
conceito marxista a uma simplista atuação ativista ou espontânea com vistas a
uma transformação social e política, tem-se equivocado todo o propósito de
interpretação filosófica envolvidos na essência da práxis, já que Marx propõe
algo mais profundo e radical do que o simples desencantamento da interpretação
do mundo. Ele propõe que o mundo só pode ser transformado a partir de uma
interpretação certeira e objetiva da realidade e que esta interpretação já é em
si mesma uma transformação que possui um sentido amplo, porém preciso, sendo
ato político e não somente teórico (Grüner, 1997).
Vigotski
é revolucionário à medida que atua no campo da práxis e teoria, trazendo
inovações no espaço da defectologia com contribuições muito importantes para a
Educação Especial atual. O autor entendia que o conhecimento neurobiológico
transforma-se qualitativamente pela e na própria cultura e, portanto; não pode
ser considerado como uma incapacidade evolutiva, contudo devem ser consideradas
como formas diferenciadas de armazenamento do psiquismo (Padilha, 2001).
Torna-se
importante saber que a práxis não pode ser compreendida como uma simples
unidade, que em determinado momento apropriou-se de dois objetos distintos,
teoria e prática, e as juntou com uma finalidade. Esta forma de pensar práxis é
simplista, já que para Marx a práxis sempre existe e não dicotomiza
conhecimento puro e prática pura, mas entende que a mesma é o movimento da
própria realidade que flui na medida em que é um mesmo movimento. Práxis,
portanto; em Marx possui a ação como condição para o conhecimento, ao mesmo
tempo em que possui o conhecimento para a ação (Grüner, 1997).
A
partir desta premissa marxista podem-se analisar as ações de Vigotski e o
movimento existente em sua práxis, já que ele era consciente de seus espaços
político, histórico-cultural e social, posicionando-se de forma radical contra
os constructos teórico ideológicos de sua época, apontando novos horizontes e
propondo novas formas de ver a deficiência numa ação que foi condição para seus
constructos teóricos, bem como para que esse conhecimento fosse condição para
ações práticas, tanto psicológicas como educacionais, sendo por si só
transformação objetiva e certeira da realidade, ato político e não somente
teórico (Grüner, 1997; Ivic, 2010; Prestes & Tunes, 2017 apud Roldão,
Camargo & Dias, 2019).
Marx
em seus constructos teóricos aborda a questão dos espaços e como o indivíduo se
apropria dos mesmos. Em sua obra expõe como o homem se desenvolve dentro de seu
meio social que é assinado por construções de produção histórica, tendo como
impulso o trabalho nos processos societários, grupais. Os resultados da
atividade de produção humana, trabalho, é a capacidade de atribuir a “coisa”,
objeto material ou inanimado, um sentido; dando vida e transformando o
subjetivo em materialização na exterioridade. As marcas objetivas no mundo são
deixadas pelas gerações que antecedem a atual, ou seja; elas deixam como legado
os seus produtos, resultados do seu trabalho. Por sua vez a atual geração se
apropria deste legado fazendo uso de suas aptidões para pô-los em prática,
realizando o desenvolvimento dos potenciais humanos. Portanto, existe um
sentido social nesta apropriação, o da dominação (Graumann, 1976 apud Pinheiro
& Silva, 2018; Marx, 1844/2009).
Pode-se
afirmar que em Marx a apropriação individual decorre da coletividade, do que
antes dele, historicamente, foi produzido, apropriado e transferido como
herança cultural. Sendo, portanto a consciência humana um produto de vários
processos histórico-sociais. Os indivíduos exploram o produto material,
capital; de força produtiva, herdado de seus antecessores para perpetuar a
forma de organizar e atuar em sociedade, no entanto isto ocorre em momento
histórico diferenciado, pois o tempo decorrido ao longo da história altera as
atividades humanas (Marx, & Engels, 1845-46/2001 apud Pinheiro & Silva,
2018).
Observa-se
que as aproximações entre Vigotski e Marx se evidenciam quando ele enfatiza em
seus primeiros constructos a educação social de produção coletiva, de base
marxista, que não é somente coletiva, mas individual também e a possibilidade
do potencial desenvolvimental aprioristicamente de estímulo ambiental gerador
de uma necessidade. Logo, não fazia a distinção entre normal e anormal, mas
acreditava que a deficiência, por sua condição social/coletiva, implicava
primeiramente nas interações sociais do indivíduo com o meio ambiente e não
necessariamente em sua reação direta com o mesmo. O defeito biológico, segundo
o autor, levava os mediadores sociais a tratarem-no de forma diferenciada,
tanto positivamente, como negativamente. Neste caso, o lugar do indivíduo era
determinado não por ele, mas pelo entorno social de dada coletividade ou
sociedade (Van Der Veer & Valsiner, 1996; Vigotski, 1997; Vigotski, 1983/2011).
Marx
denuncia em seus estudos através da existência da práxis a diferenciação feita
pela classe dominante dos momentos que para ele são lógicos e não de sequencia
natural ou de análise das coisas, do ser ou da realidade. Para o autor, os
momentos lógicos possuem características próprias e certa autonomia dentro do
movimento, assim chamado práxis. Desta maneira Marx escancara a existência de
um pensamento hegemônico de ideologia dominante que se apossa desta unidade
ocultada ao fazer a manutenção da separação dos momentos pela divisão social do
trabalho, ou seja; há uma dicotomização entre a produção intelectual e produção
braçal. A lógica do dominador é mantida nas mãos do senhor e do dominado nas mãos
do escravo, dessa forma garante-se a produção intelectual a favor do dominador,
pois a classe dominante sabe que a prática por si só ou a produção intelectual
não são geradoras de transformação radical, mas apenas mantenedoras de falsos
ideais nunca atingíveis às bases de sua condição hegemônica (Grüner, 1997).
4. A inclusão atual na perspectiva
da práxis
Sabe-se
que não se pode negar a gênese sócio-histórica e cultural quando se está
estudando temas relevantes para a sociedade, já que para compreender como as
ideias se perpetuaram por gerações é necessário analisar como estes valores
foram construídos e como eles foram implantados de forma extrínseca e
intrínseca no pensamento e nas atitudes das pessoas. Logo, quando se pretende
trabalhar com a história é necessário ter o pressuposto de que toda história
escrita possui uma filosofia de história, ou seja; existe uma ideologia que
pauta a mesma ou uma forma de pensar história (Carvalho, 2014).
Não
se pode excluir a história porque “A História é um nexo significativo entre
passado. presente e futuro, não apenas uma perspectiva do que aconteceu, não o
levantamento do que "realmente aconteceu". (p. 1/3). Existe na
história um valor educativo que é a formação da competência narrativa e que se
subdivide em: 1) ter competência de vivência para olhar o passado e constatar
os resultados anteriores tanto no agora como em projeções futuras. Isso é
possível quando se tem desenvolvida a consciência do tempo, ou seja; essa
capacidade é o cerne da questão, já que sem ela a tendência é a continuidade
infinita do agora sem o conhecimento mínimo ou consciência do que é
propriamente histórico e temporal. 2)
ter competência interpretativa para significar o complexo abrangente e
integral da realidade que existe na passagem do tempo, como habilidade de
aperfeiçoar a todo tempo uma filosofia de história e 3) ter competência de
localizar-se espacialmente na história a fim de fazer uso dos dados históricos
para a ação pessoal e para o envolvimento atuante em projetos que envolvam a coletividade,
pois de nada serve o conhecimento da história sem que haja reflexão sobre a
historicidade de temáticas cruciais como desemprego estrutural, estigmatização,
preconceito, drogadição, etc. (Rusen,
1992 apud Cerri, 2004).
Historicamente,
a deficiência passou por vários estágios e evoluções do pensamento. Nos
primórdios a ideia era do descartável pela inutilidade ou incapacidade de
sobrevivência. Até o século XVIII deu-se a deficiência um caráter mítico,
demoníaco ou de iluminação, ora vistos como maldição, ora como dotados de
alguma mediunidade. Estas ideias perpetuaram-se através das mídias, literatura,
arte, e toda produção humana, incluso as de cultura de massa (Amaral, 1994/1995;
Silva, 1986).
Toda
esta gama de construções ideológicas, de base não científica, ocupou o
pensamento humano por longas décadas e condicionou o deficiente à exclusão e
apatia social por estigmas, estereótipos e preconceitos, sendo reforçada pelo
capital. À época de Vigotski e a atual proposição de políticas inclusivas ainda
esbarram na massificação das ideias já estabelecidas no meio social pela
cultura dominante que dita a priori do pensamento (Amaral, 1994/1995, Habermas,
2002; Vigotski, 1997; Vigotski, 1983/2011).
Por esta razão quando se fala de uma práxis
atual, deve-se também falar de uma consciência histórica de mundo que envolve a
base com que se constituiu toda a política de inclusão, já que estas foram
construídas sob a dinâmica do capital. São várias as barreiras encontradas no
meio social e que permeiam o pleno desenvolvimento e a efetivação dessa
possibilidade adquirida por direito. Pode-se refletir que por ser intimamente
ligada a concepção histórica e, portanto; sociocultural, a inclusão social tem
enfrentado barreiras e mudanças de direção que bloqueiam a participação de
todos numa inclusão efetiva (Mantoan, 2003).
É
possível subsistir sendo minoria na sociedade capitalista? “. . . apesar dos
esforços de pessoas dedicadas das secretarias municipais, estaduais e federais,
que buscam melhorar as condições das crianças deficientes, a tão desejada
inclusão não acontece (p.81).” Esta justificativa se dá pela observação da
existência de um descompasso entre a teoria e a prática, porém uma das maiores
dificuldades é a abordagem instrucionista, onde todos devem saber tudo,
obedecendo a um mesmo tempo, ritmo e caminhos (Schlünzen, 2005).
Acredita-se
que esta triste realidade, dicotomia inclusão/exclusão, seja consequência de
características excludentes e separatistas que são marcantes em nossa
sociedade. Frente a um novo paradigma educativo, a escola deve ser definida
como uma instituição social que têm por obrigação atender a todas as crianças,
sem exceção. A escola deve ser aberta, pluralista, democrática e de qualidade,
pois a educação em uma democracia é o principal meio de instrumentalização do
indivíduo para o exercício de suas funções na sociedade (Goffredo, 1999).
Atenta-se
desta maneira, nesta fala de Goffredo, para o problema existente na sociedade
democrática, que mascara o problema das minorias “inatas”, pois existe um
problema que está intimamente ligado ao impingimento de uma cultura majoritária
por meio do poder político, que obriga a aceitação de sua forma de vida às
minorias e por isso nega aos cidadãos de origem cultural diversa uma efetiva
igualdade de direitos. Isto, também, no que tange o autoentendimento ético, ou
seja; a identidade dos cidadãos (Habermas, 2002).
Ao
retomar a práxis em Marx e o sentido radical implicado neste conceito, é
possível afirmar que tudo o que já se propôs em termos de políticas de inclusão
ainda serve aos efeitos discutidos por Sawaia da regência matricial do estado
capitalista, de política neoliberal, que promove proposições de inclusão
mascarados pelos ideais da classe dominante, que dá ao proletário; água lodosa,
ou seja; finge dar subsistência, sem garantir alteridade e igualdade financeira
para o acesso ao direito cidadão (Amaral, 1995; Sawaia, 2001).
A
reflexão sobre os direitos humanos têm provocado inúmeros debates, teóricos por
excelência. Segundo Bobbio “. . . os direitos humanos são direitos históricos
que emergem gradualmente das lutas que o homem trava por sua própria
emancipação e das transformações das condições de vida que essas lutas produzem.”
(Bobbio, 1992 apud Carvalho, 1999, p. 17). A questão que se levanta não é se há
políticas públicas, leis que garantem o acesso e permanência de pessoas com
deficiência na sociedade capitalista, fruto ou não de lutas sociais; mas se
estas pessoas realmente possuem todas as condições estruturais para
sobreviverem na selva do capital.
O
olhar de Vigotski em relação à forma como a psicologia de Marx foi construída
não era generalista, mas colocava esta psicologia no status de ciência
verdadeira. No entanto, não seria possível construir uma psicologia
verdadeiramente científica fazendo junções de pedaços de textos de Marx e
informações de coleta empírica que se utilizasse de métodos contrários aos
ideais marxistas. Vigotski compreendia que se fazia necessária a construção de
um constructo teórico que mediasse o materialismo histórico dialético e as
pesquisas que abarcam o fenômeno psíquico na materialidade, de forma que
ocupasse uma amplitude máxima e universal, enquanto corrente filosófica
(Duarte, 2000).
O
autor acreditava poder trabalhar paralelamente uma teoria da psicologia da
mediação e o materialismo histórico dialético, porque o materialismo, para ele,
tinha o papel de mediar à análise das problemáticas concretas que envolviam a
história das sociedades, bem como suas construções sociais, entre eles; o
capital e o capitalismo. “Por essa razão Vigotski afirmou ser necessária uma
teoria que desempenhasse para a psicologia o mesmo papel que a obra O capital
de Karl Marx desempenha para a análise do capitalismo” (Duarte, 2000, p. 80).
Para
pensar sobre a práxis atual é necessário retomar um pouco a história da práxis,
pois este conceito até chegar à atualidade teve uma perspectiva de ordem
filosófica dependente do tempo e da visão de uma sociedade. A práxis não inicia
em Marx, mas tem nele um marco simbólico de uma consciência maior, a
consciência da práxis que só emerge quando é possível olhar a partir de uma estrutura
histórica específica, “. . . cada tempo produz um conceito de práxis que dá as
condições de possibilidade da ação e consequentemente uma teoria sobre elas.”
(Silva, 2017, p. 60).
A
época clássica, em termos, já possuía uma consciência de práxis, porém
condicionada aos modos de produção daquela sociedade, que já separava as
atividades mais nobres das braçais, tanto que a intelectualidade era valorizada
na polis. Na Renascença a práxis é marcada pelo surgimento da burguesia e o
desejo do capital pelo acúmulo de bens, pelo valor da moeda e certo fetichismo
relacionado ao dinheiro. Pode-se falar do surgimento de uma práxis burguesa que
sempre entrelaçou os interesses da burguesia ou classe dominante, a depender do
período histórico, e a manutenção do status quo (Silva, 2017).
Se
na antiguidade a práxis era dotada de certa positividade pela filosofia da
contemplação, na renascença ela toma características de negatividade, pois a
consciência de que a naturalização da práxis que separa o homem do ato
produtivo, dando status ao conhecimento apenas as classes dominantes, relegando
o trabalho braçal ao proletariado dotando-lhe de um estado de alienação é assim
desvelado em Marx (Silva, 2017).
Para
Marx a filosofia é uma filosofia da práxis que tem um fim, um objetivo e uma
utilidade. Ela está ligada conscientemente a uma práxis revolucionária que
deseja transformar a sociedade em suas bases, para uma nova sociedade, a
socialista, sendo uma filosofia radical, que sabe que pra transpor a ideologia
existente precisa utilizar-se da crítica (Vázquez, 2011).
Investigar
a consciência na perspectiva da transformação radical da sociedade ou práxis,
só possui um sentido na medida em que estará contribuindo para que os
indivíduos reflitam sobre os processos de exploração e da ideologia que os
envolve, já que a consciência se ampara à existência concreta na atividade. À
medida que ocorre o estranhamento nas relações de trabalho, ocorre também um
estranhamento que se reflete na consciência (Carvalho, 2014).
Vázquez
(2011) faz diferenciações importantes quando expõe as relações humanas
envolvidas na práxis. Para o autor há uma distinção entre práxis espontânea e
práxis reflexiva, porém ele não bate o martelo separando as práxis em duas
linhas associativas: 1) práxis espontânea e reiterativa e/ou 2) práxis
reflexiva e criadora. Ao contrário, ele se posiciona contra esta linearidade
classificatória, pois acredita que mesmo dentro de uma atividade mecânica pode
existir práxis reflexiva, porém é taxativo em relação à práxis espontânea,
porque acredita que esta não pode ser transformadora sendo inverso a práxis reflexiva
que possui em si potencial transformador.
Costa
(2015) em seus estudos, à luz teórica de Martiza Montero pensando uma
psicologia da comunidade, expõe que:
. . . tanto o
trabalho comunitário quanto a práxis psicopolítica . . . têm buscado responder
criticamente às condições estruturais de injustiça social a partir da
construção de uma nova práxis. Fazendo a crítica ao poder, ao mesmo tempo em
que ressalta o potencial transformador das comunidades, Martiza Montero indica
um caminho para a construção de uma práxis libertadora, de “fazer para
transformar” (Costa, 2015, p. 281).
Portanto,
fazer para transformar ou práxis acontece a partir da existência concreta na
atividade, na qual o indivíduo está atuante mais a relação teórica onde a
prática gera o conhecimento e o conhecimento a prática. Logo, a práxis possui um
caráter ético e político devendo tornar o indivíduo atuante nas ações que
ocorrem nos espaços públicos, mediante o exercício pleno da sua cidadania
(Montero, 2006 apud Costa, 2015).
5. Considerações Finais
A deficiência ao longo do tempo sempre veio
carregada de bagagem cultural depreciativa que colocou a diferença na
marginalidade da história. Nos primórdios estava relacionada à impossibilidade
de sobrevivência, mais tarde foi ganhando características místicas sendo
relacionado a castigo e maldição. Estereótipos, estigmas e preconceitos foram
se ampliando na consciência social, principalmente na ocidental tendo sido
reforçado pelo capitalismo e seus modos de exclusão.
Vigotski
sob a consistência teórica marxista, que já havia desvelado a consciência da
práxis e todo o controle da consciência humana pela alienação dos homens,
inicia seus estudos recriando os espaços teóricos, propondo uma nova forma de
compreensão de desenvolvimento humano, contrariando todo o pensamento cultural
e científico positivista de sua época. Percebe-se que este homem não era
alienado as condições políticas de sua época e que mesmo não tendo participado
do partido comunista, envolveu-se na política como deputado e atuou como
educador sempre em confronto as práticas educativas de sua realidade
histórico-social.
Abarcaram-se
as concepções da práxis e verificou-se que esta não é uma simples unidade que
separa ou une dois conceitos distintos, prática e teoria. Observou-se, também;
que a práxis existe e sempre esteve presente na sociedade de alguma forma,
desde a era clássica até o renascimento e o surgimento da burguesia
capitalista. Para além das explicações simplistas e condicionantes da práxis,
verificou-se em Marx um desvelamento da consciência da práxis que é levar o
homem a pensar sua atividade a partir de sua materialidade, num movimento
crítico e transformador, cujo caráter é político e revolucionário.
Refletiu-se
sobre a sociedade capitalista e seu modo de produção, que inclui os indivíduos
para ao mesmo tempo os excluir, já que não lhes dá a subsistência necessária
para o acesso aos seus direitos. Questionou-se se seria possível existir na
sociedade capitalista sendo minoria e destoando das políticas neoliberais que
existem para a competitividade e a falsa promessa de ofertas igualitárias.
Verificou-se,
tanto em Marx quanto em Vigotski que a existência de uma nova sociedade só é
possível através do desmantelamento das políticas do capital que caminham à
contramão de uma sociedade ideal, a socialista, e que toda tentativa de incluir
já é por si só o reflexo da hegemonia classista. Durante as reflexões perceberam-se
as incongruências presentes na sociedade, que surgem como barreiras e
empecilhos para a inclusão, através do discurso democrático que determina a
inclusão de pessoas com deficiência nas escolas, mas não lhes garante as
condições materiais para recebê-las. Uma democracia que encobre o impingir de
uma vontade superior que não respeita o indivíduo social e nem o seu
autoentendimento ético.
Observou-se,
também, que muitas das conquistas em relação ao sistema têm advindo das lutas
sociais pelos direitos das minorias. Percebeu-se que o próprio Vigotski inicia
esta luta quando constrói seu trabalho pedagógico com pessoas deficientes a
partir de uma nova proposição não biologizante e estigmatizadora. Atentou-se
para o fato de que ele acreditava numa teoria que fosse relevante à psicologia
da mesma forma que a teoria de Marx era para as análises do capital. Não se
adentrou especificamente na teoria de Vigotski sobre o potencial de
aprendizagem e os esquemas de assimilação, mas debruçou-se sobre a importância
de seus constructos para uma psicologia da inclusão e de como esta fundou a
psicologia histórico-cultural.
Finalmente,
analisou-se a existência de muitas práxis, uma que serve a política dominante e
uma reflexiva que possui em si o potencial de transformação. Conclui-se que o
tema é abrangente e não pode ser esgotado em uma simples análise, pois enquanto
existir a sociedade capitalista, sempre existirá a necessidade de debater as
políticas de inclusão, não ignorando os processos já vividos ao longo da
história, tendo uma consciência ativa de uma filosofia da história, com
potenciais para a transformação social à medida que este saber confronta a
realidade, dinamiza o engajamento político de luta de classes, não somente dos
que produzem conhecimento, mas também dos que operam na produção braçal no chão
das fábricas.
As
reflexões devem levar a luta, porque se não desencadeiam revolução, não
transformam e nem cumprem o seu papel libertador. O caminho da inclusão ainda é
longo, mas é necessário. É preciso que todos estejam num mesmo compasso,
trabalhando para o mesmo objetivo. Assim aproveitam-se os talentos individuais
dos profissionais, seus conhecimentos teóricos, seus conhecimentos prévios e
suas capacidades em potencial de produção cultural. Compreende-se; então, que
sem educação não há transmissão de cultura e sem indivíduos aprendizes não há
produção de novas culturas e que a maioria dentro do sistema é um aprendiz em
potencial. O processo educativo evolui à medida que consegue formar indivíduos
capazes de produzir cultura que melhore a qualidade de vida humana. Qualidade
que precisa predominar no meio comunitário não somente escolar, mas social e
político, objetivando eliminar a dicotomia social existente que separa as
pessoas em classes sociais, incluído e excluído, dominador e dominado.
A
saber, compreendeu-se um princípio básico, o qual se abstém de ilusões de que
exista uma democracia ou uma convivência pacífica de várias culturas que caminhem
para o que se poderia chamar respeitoso, pois neste projeto do capital não há
espaços para a pluralidade ou diferenças autênticas.
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