sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Vivi a experiência, senti, apreendi o sentido e dei a ele significado.

A vivência é uma escola lúcida, porque ensina pelos sentidos o sentido do sentir, lhe dotando de significado subjetivo e intersubjetivo. A vivência é social dada pelo meio, mas o constructo do sentir é de início singular. 

É social, pois na medida em que ocorrem interações, na externalidade, com os objetos pertencentes ao meio ambiente, constitui-se relacional, ou seja; é em si mesmo relação.

Uma relação que proporciona experiências que sempre passam pelos sentidos. Elas se apresentam na imediaticidade, como sensações positivas ou negativas e; entre estes dois polos estanques. 

É singular porque a partir destas apreensões sensoriais os indivíduos sociais formarão o arcabouço do sentido que cada um apreende no momento exato da vivência.

É significante apropriado de determinada realidade. Pode-se dizer que as infinitas subjetividades constituem uma gama de intersubjetividades irrestritas.

É claro que as condições materiais em que estas experiências ocorrem são variáveis determinantes do sentir vivido, significado, conceituado e compartilhado.

Por esta razão é impossível garantir uma hegemonia do sentir, já que para que algo seja hegemônico é preciso que todos os seres sociais sintam da mesma forma e sejam dominados por um único sentido ideológico.






sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Do filme Arábia


 “Cachorro pequenininho não pode enfrentar dogão não, mas agora que se você junta mil cachorrinho; o dogão é que fica pequeno (sic.)”¹. 

É interessante observar como a classe-que-vive-do-trabalho se percebe neste discurso. 

A metáfora do cachorrinho e a simbologia do adestramento, da servidão e da pureza na expectativa frente à lógica do receber ou merecer algo. É pequenininho, diminuto na luta pela sobrevivência frente o semelhante maior, imponente. 

O princípio da coletividade é evocado na junção das forças pequenas, a totalidade da classe, o fortalecimento da conjuntura que reverte às forças, tornando o pequeno grande e maior que a ameaça percebida. 

A escolha dessa metáfora é intencional, já que demarca a cisão entre uma consciência percebida desvinculada do vivido. Ela retoma o vivido, a experiência em si, percebida como a causa do sofrimento e que empurra o indivíduo para uma consciência social que está constantemente em atrito com a consciência imposta, ideológica. 

É o retrato de uma minúcia de abertura e oportunidade de opor-se e resistir, como mediação de práxis formativa de identidades de classes.1 Essa frase é, portanto; significativa na medida em que traduz a lógica da luta de classes que é processo de produção coletiva, obviamente imprescindível na história dos indivíduos sociais.

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¹ “Arábia”. Diretores Affonso Uchôa e João Dumans. Brasil: 2017. 1 bobina cinematográfica (97 min). son., colorido. 

A individualização da vida do ser é solidão


Há momentos que na vida pensamos em olhar atrás e é preciso pedir ajuda para poder continuar...

Essa canção religiosa aponta uma expressão vívida da alma de muitos homens e mulheres, a angústia e o desespero presentes na existência humana. Porque existir é doloroso na medida em que os homens caminham só. 

Talvez essa seja uma expressão maior do quanto o individualismo pregado na sociedade nos coloca numa tremenda solidão. Estruturas que nos abortam enquanto seres sociais. 

Acho lindo como essa canção singela expõe as nossas fragilidades e a necessidade de ser coletivo. E há muitas críticas subjetivas que faço aqui, mas que guardo pra mim. 

Na expressão de sua fé esse ser social apela para a sua entidade mítica, que nesse caso é expressão de coletividade, irmandade e comunhão. 

Então, deve-se compreender que a maior demonstração de amor é partilhar da comunhão universal.

É hipocrisia afirmar que ama, ao permanecer em movimentos individualistas.

Os homens precisam compreender que ser social significa extensionar braços e mãos. 

Somos seres sociais coletivos e isto é tudo o que temos.

Precisamos ajudar a carregar as cargas uns dos outros.

Mais que isso¹ Precisamos diminuí-las com ações justas que busquem uma maior unidade de valor social e coletivo.

As cargas podem ser leves, na medida em que os homens busquem políticas sociais e econômicas que garantam alteridade.


terça-feira, 7 de dezembro de 2021

O sonho é o caminho da concretude


 Você já ousou sonhar?

O sonho embora pareça utopia é possibilidade.

Há os que se cansam de lutar.

Há os que desistem na tempestade.

Há os que submergem as ondas.

Há os que antes de chegar a marina abandonam o leme.

Há os que desesperados rasgam os corações.

Há os covardes, tímidos e intimidados.

Todos estes há, no entanto os que clamam no deserto persistem.

São aqueles que não desistem.

Que irrompem o caos.

Que se tornam raio e trovão.

Que não envergam e nem abandonam a embarcação.

São os corajosos que fazem das dificuldades a ponte para a concretude.

E da concretude a realização do que sonharam.

Estes não sonham só, sonham junto, irmanados.

Pois entendem que a liberdade é universal.

E que ninguém é livre só.

Estes resgatam os que há morreram.

Porque a morte do sonho é a desgraça da raça.

É a mortalha dos mortais.

É a estação dos perdidos.

Mas a vida do sonho é o recomeço da retomada do ser.

Das asas, da imaginação e da permanência do sentido.

Das introspecções de o ovo e a galinha em Clarice Lispector.

Ilustração da obra Tacuinum Sanitatis Quem sou eu para desvendar tal mistério se nem mesmo Clarice desvendou, embora intuitivamente eu o sai...