quinta-feira, 6 de junho de 2019

EMOÇÃO, TEORIAS E SEUS COMPONENTES



INTRODUÇÃO 
#Dâmaris Alcídia da Costa Melgaço

No estudo das emoções algumas teorias surgiram ao longo do tempo. Citaremos três mais importantes: teorias de James-Lange, Cannon-Bard e a dos dois fatores A teoria de James-Lange é conhecida como teoria de James-Lange, porque essa mesma teoria era defendida por Carl Lange. Segundo essa teoria (1884) o indivíduo percebe um estímulo (S) ameaçador e tem como reação (R) sintomas fisiológicos desprazerosos, como o medo. Seu slogan poderia ser: “a emoção é a sensação”. Uma pessoa sente medo porque o seu corpo respondeu com determinadas reações fisiológicas a uma situação. Perante uma situação de emergência, primeiro o homem reage e foge e é por fugir que sente medo. Estamos emocionados porque o nosso corpo se emociona (MYERS, 2012, LOPES, 2011, ).

James e Lange propunham-se a estudar as emoções-padrão que tinham expressão corporal determinada e óbvia: surpresa, curiosidade, êxtase, medo, raiva, luxúria, cobiça etc. Essas emoções recebiam uma classificação entre os processos sensoriais do cérebro a partir da percepção de objetos externos. James defendeu que as mudanças corporais poderiam ser percebidas antes mesmo de serem produzidas. Eles postulam que não choramos porque estamos tristes, mas ficamos tristes porque choramos. Para os teóricos nenhum conteúdo cognitivo poderia gerar isoladamente uma emoção. Para eles todas as percepções cognitivas, ou seja, da consciência eram de origem periférica. Uma ilustração dada por essa teoria é a do feedback facial que nada mais é do que imitar a expressão facial das emoções livremente. Essa por sua vez desencadeará as reações fisiológicas e de humor correspondentes. As emoções consistem da percepção das alterações fisiológicas desencadeadas pelo estímulo emocional. A resposta emocional (comportamental e autonômica) precede a experiência emocional. O sentimento é a última instância (MYERS, 2012).

Walter Cannon em 1927 propôs uma teoria alternativa, baseando-se nas investigações de Philip Bard. Na teoria Cannon-Bard, o estímulo (S) ameaçador produz em primeiro lugar um sentimento de medo, causando posteriormente no indivíduo, uma reação (R) física (tremores, sudorese, dilatação da pupila e etc.). O sentimento ocorre simultaneamente à resposta corporal. De acordo com essa teoria, as emoções têm origem no cérebro, ocorrem ao mesmo tempo em que as reações fisiológicas, mas não são causadas por estas. Segundo essa Teoria, os estímulos emocionais têm dois efeitos excitatórios independentes: Provocam o sentimento da emoção no cérebro bem como a expressão da emoção no sistema nervoso autônomo e somático. Tanto a emoção como a reação a um estímulo seriam simultâneos. Assim, numa situação de perigo, o indivíduo perante um estímulo ameaçador sente primeiro medo e depois tem a reação física, foge (MYERS, 2012). 

A experiência emocional resulta da ativação de circuitos no SNC. Em resumo, quando o indivíduo se encontra diante de um acontecimento que, de alguma forma, a afeta, o impulso nervoso atinge inicialmente o tálamo e aí, a mensagem se divide. Uma parte vai para o córtex cerebral, onde originam experiências subjetivas de medo, raiva, tristeza, alegria, etc. A outra se dirige para o hipotálamo, o qual determina as alterações neurovegetativas periféricas (sintomas). Ou seja, por esta teoria, as reações fisiológicas e a experiência emocional são simultâneas. O erro essencial da teoria Cannon-Bard foi considerar a existência de um "centro" inicial (o tálamo) para a emoção (MYERS, 2012). 

A teoria dos dois fatores proposta por Schachter e Singer, propõe que tanto a mente cognitiva quanto o corpo fisiológico criam as emoções. As emoções possuem dois componentes: 1) excitação física e 2) rótulo cognitivo. Quando se tem consciência da resposta corporal à emoção consequentemente ela aumenta. Emoções são fisiologicamente semelhantes. Consideram que o córtex cerebral interpreta as mudanças fisiológicas de acordo com as informações referentes à situação a fim de determinar quais emoções estamos sentindo. os processos cognitivos, como as percepções, recordações e aprendizagens, são fundamentais para se perceberem as emoções. Uma situação provoca uma reação fisiológica e procuramos identificar a razão (compreender) dessa excitação fisiológica de modo a nomear a emoção que lhe corresponde (MYERS, 2012).

Os componentes de uma emoção, portanto são a apresentação de respostas dadas por todo e qualquer organismo as interações existentes entre a excitação corpórea, expressões de comportamento e consciência da experiência vivida. Logo, pode-se afirmar que as emoções são tanto psicológicas como fisiológicas, sendo que boa parte das emoções estão sobre o controle das funções do SNA (sistema nervoso autônomo) – simpática e parassimpática – excitação e relaxamento de expressão fisiológica. Quando a excitação é moderada há mais controle da emoção. Embora as emoções sejam igualmente excitantes elas se diferem pela expressão física da emoção e estas diferenças estão em áreas corticais do cérebro que utilizam caminhos e hormônios distintos a depender da emoção experenciada. Lazarus afirma que o uso do pensamento é essencial porque o que sentimos depende de como interpretamos ou inferimos as emoções, no entanto Jazonc e LeDoux algumas expressões da emoção são instantâneas e fora da consciência e do processo cognitivo. Logo emoção e pensamento caminham em duas vias: a consciente e a adaptativa (MYERS, 2012). 

As expressões da emoção ocorrem de forma não verbal, no silêncio fisiológico, podendo ser percebidas mesmo quando não há a expressão da palavra ou do corpo. Leituras de emoções podem ser feitas através de gestos culturais: expressões da face são comuns em todas as culturas evidenciando sentimentos como: alegria, medo, raiva, etc., porém as culturas diferem na quantidade de expressão emocional. Estas expressões transmitem nossos sentimentos aos outros, bem como ampliam a emoção dando sinais ao corpo do outro para que correspondam as emissões dadas pela emoção. Já as diversas formas de experenciar a emoção nos informam como uma mesma emoção possui benefícios e malefícios a depender de sua aparição. O medo, por exemplo, tem valor adaptativo (MYERS, 2012).

Tanto pode nos proteger como nos paralisar. O medo é bom quando na dose certa nos impulsiona a enfrentar ameaças e detectá-las para defesa, mas em excesso torna-se fobia paralisante que ocasiona prejuízo. O medo é aprendido por imitação – condicionamento e observação - ou por experiência. A raiva, outro sentimento característico da expressão humana pode ser impulso bom ou prejudicial à saúde física. Na cultura ocidental orienta-se a catarse que é a expressão livre da raiva para melhora, porém sabe-se que os resultados são piores, tornando as pessoas adeptas desta orientação mais agressivas e intolerantes. Sendo, portanto o caminho da tolerância e perdão mais benéficos para a saúde física humana. Em relação a felicidade pode-se afirmar que pessoas animadas curam, pois sentem a necessidade de ajudar os outros. Emoções vividas em relação ao humor tendem a diminuir durante o dia conforme os acontecimentos negativos surgem e vice-versa, no entanto quando a positividade ganha permanência há a tendência para adaptação e exigência de novas possibilidades positivas para experimentar nova euforia. Portanto, a felicidade é relativa e a presença de fatores positivos nem sempre a mantém, pois dependem de outros fatores relacionados à interioridade subjetiva (MYERS, 2012).

O estresse é um fator preocupante em relação ao bem estar físico e psicológico dos seres humanos. Para Cannon o estresse é um processo que decorre de situações que nos desafiam e ameaçam, cuja resposta dada é a luta ou a fuga. Hans e Salie vão definir o estresse como uma síndrome de adaptação geral (SAG), cuja divisão se dá em três fases: 1) alarme, 2) resistência e 3) exaustão. Primeiramente diante da situação ameaçadora o indivíduo reage fisicamente através do SNA. Há aumento cardíaco, respiratório, sudorese, diminuição do trabalho digestório, aumento das pupilas, diminuição salivar. Consequentemente há estabilização e diminuição dos sintomas para resistência a ameaça. Finalmente o indivíduo chega a exaustão quando não há a resolução da situação gerando queda do sistema imunológico, podendo ser fatal. Vários são os eventos ou situações que desencadeiam um processo estressor, entre eles, catástrofes, como acidentes inesperados, perdas significativas de entes queridos ou situações cotidianas relacionais.(MYERS, 2012).

Segundo estudos, pessoas com tendências a personalidades intensas e competitivas tem maior probabilidade de sofrerem com problemas de coração pelo entupimento de artérias o que não ocorre com pessoas mais tranquilas e calmas. Outros fatores como depressão e estresse estão associados a problemas cardíacos e inflamações que persistem. O estresse, portanto, desvia a energia do sistema imunológico inibindo a atividade de linfócitos do tipo B e T – macrófagos e células que naturalmente exterminam ameaças ao organismo, deixando-nos mais vulneráveis às enfermidades. Não há nenhuma relação entre estresse como causa do HIV ou do câncer, no entanto há relações de melhora quando o indivíduo com estas enfermidades está fora do alcance de atividades estressoras. (MYERS, 2012).

Alguns requisitos são importantes no combate dos eventos estressores: estar controlado diante das situações vividas nem sempre positivas, possuir uma visão mais otimista da vida e das pessoas, possuir um campo relacional produtivo que nos forneça ajuda e suporte social. Logo, possuir estratégias de enfrentamento das situações estressoras aliviam o estresse, e possuir estratégias de enfrentamento com foco na emoção nos ajudam a experimentar alívio emocional. Logo pessoas otimistas enfrentam melhor a vida possuindo maior resiliência. Juntamente com estratégias de enfrentamento algumas táticas são importantes e ajudam a combater o estresse, como atividades aeróbicas, meditação, relaxamento e religiosidade (MYERS, 2012). 


REFERÊNCIAS 


LOPES, R. B. As emoções. Disponível em: https://psicologado.com/psicologia-geral/introducao/asemocoes. Acesso em 21 mai. 2019. 

MYERS, D. Psicologia. Rio de Janeiro: LTC, 2012, cap. 12. 

TOASSA, Gisele. Vigotski contra James-Lange: crítica para uma teoria histórico-cultural das emoções. Psicologia USP, v. 23, nº 01, p. 91-110, jan./mar., 2012.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Das introspecções de o ovo e a galinha em Clarice Lispector.

Ilustração da obra Tacuinum Sanitatis Quem sou eu para desvendar tal mistério se nem mesmo Clarice desvendou, embora intuitivamente eu o sai...