Interpretações filosóficas para
problemas psicológicos - Seminário de Filosofia
TRÊS GRANDES DIÁLOGOS
Para
entendermos as raízes epistemológicas da Psicologia é necessário entender seu
percurso histórico e os diálogos existentes nesse percurso.
A Psicologia
teve como base primeira a Filosofia.
Segundo Gomes
para entendermos os diálogos da psicologia como ciência com a filosofia faz-se
necessário o estudo de três diálogos:
1) com as
psicologias dos grandes filósofos (procura esclarecer a concepção de psicológico
no pensamento que vai dos gregos aos primórdios da psicologia experimental)
2) com a
filosofia da ciência (contrasta o discurso epistemológico das décadas 70/80 com
o quadro atual (séc. XXI)
3) com a
psicologia filosófica destaca as principais preocupações e debates da
psicologia filosófica dos últimos anos)
Diálogo com as psicologias dos grandes
filósofos
Platão (427 – 347 a.C.)
Dualismo
(Corpo prisão – Alma Origem Divina)
Aproveitou as
ideias dos órficos (600 a.C). A alma era semelhante ao ar e insuflava vida no
corpo.
Aristóteles (384 – 322 a.C.)
Monismo
(União indissolúvel com o corpo)
Sistematizou
o estudo da alma. Concepção biologicista: alma
= princípio da vida.
A alma
incorpora a faculdade da lógica.
A alma é
independente do corpo, e imortal.
Esta partição
da alma impregnou por muito tempo o desenvolvimento da psicologia.
Galeno (129 - 199)
Teoria dobre
as conexões entre os fluidos corporais e a personalidade (Hipócrates).
4 tipos de
personalidade são possíveis: Melancólico, Fleumático, Colérico e Sanguíneo.
O equilíbrio
dos humores – determina os tipos de personalidade e também a tendência a sofrer
certas doenças.
Agostinho – 354 – 430
Conciliar as
escrituras sagradas com a filosofia.
Espírito em
conexão temporal – passado = memória
Presente =
intuição e entendimento - Futuro = vontade
Alma é uma
unidade
Tomás de Aquino – 1225 – 1274
Unir teologia
e filosofia. Revê Aristóteles.
Alma é
unitária, abrange corpo e espírito. Alma é imortal.
Surgem o
Racionalismo - Desvalorizando a religião e valorizando a ciência, a psicologia
ganhou força.
Descartes (1596 – 1650)
Atos involuntários
Automatismos
(mecanicismo)
Reações
inatas a estímulos externos
Próprios de
animais
CORPO
Atos voluntários
Dirigidos
pela mente
Fruto da
reflexão e decisão
Específicos
dos humanos
MENTE
Mente e corpo
interagem através da Glândula Pineal
Mente e corpo
são separados.
A mente é
imaterial mas tem localização.
O corpo é uma
máquina mecânica e material.
A mente pode
controlar o corpo físico, estimulando os espíritos animais a fluir pelo sistema
nervoso.
Duas linhas
da psicologia partem daí:
MENTALISTA
Estuda
Através da introspecção, o mental inobservável.
FISIOLOGISTA
Estuda
através da Observação os atos involuntários
John Locke (1632 – 1704)
Experiência
(Empirismo)
Mente humana
é uma folha em branco ao nascer.
A experiência
configura a vida do homem.
Experiência
sensorial e a reflexão.
O homem é um
mecanismo auto controlável, dependente de energia externa. O espírito é o
cérebro, máquina fabricadora de símbolos.
Christian Wolff (1679 – 1754)
Razão
(Racionalismo).
Corpo e alma
são separados
História da
alma (impressões, percepção, representação, memória, linguagem, sentimento e
vontade) e Ciência da alma
(Tudo o que
deve penetrar a essência da alma e do espírito)
Wundt (1832-1920) Estruturalismo
Fundador da
psicologia
1º
laboratório experimental: Leipzig 1870
Objeto de
estudo: os conteúdos da mente – Sensações – Sentimentos - Imagens
Método:
Introspecção
Temas de
estudo
Psicofisiologia
da sensação
Relação
psicofísica entre S – R
Descrição da
consciência sensorial
W. James (1842-1910) Funcionalismo
Crítica a
Wundt: não podemos ver a mente senão os comportamentos.
Faz da ação
(comportamento) o ponto central.
Objeto de estudo:
os mecanismos da mente para adaptar-se
Estuda as
emoções
Interesse por
observações objetivas
Sistema
nervoso: máquina que converte S em R
Wertheimer (1880-1943) Gestalt
Rechaça a
Wundt: insuficiência de elementos no estudo da percepcção.
As propriedades
do todo são mais fortes e prioritárias que as partes.
Freud (1856-1939) Psicanálise
Estudou as
neuropatologias (histeria e neurose) e afirmou sua origem psicológica.
Afirmou a
existência de uma dimensão irracional no homem: o inconsciente
Constituem os
processos fundamentais do psiquismo - Determinados pelos instintos
Afloram ao
consciente, disfarçados - Lapsos linguagem, Atos falhos, Sonhos
Mentalista:
através da mente se podem explicar - A personalidade – Enfermidades Além de uma
teoria é também uma psicoterapia
Pavlov (1849-1936) Reflexologia
Criou o
“condicionamento clássico”
Reflexo
condicionado
Fundamento de
sua teoria da aprendizagem.
Chamou a
atividade psíquica “a atividade nervosa superior”.
Nega a
existência de caracteres inatos
Skinner (1904-1990) Behaviorismo
Radical
Toda conduta
está sempre determinada pelo reforçamento
Desenvolveu o
condicionamento operante
Uma resposta
se repete se teve êxito (reforço)
A psicologia se insere no campo geral
do conhecimento e faz intersecção entre as humanidades e as ciências.
O diálogo com
outros saberes é fértil, no entanto, porque as vezes insistimos em usar a
interdisciplinaridade como sendo suficiente para o discurso fica empobrecida. O
ideal é que trabalhasse com os contrastes existentes entre as epistemologias,
ou seja; reconstruísse racionalmente o conhecimento científico, conhecendo,
analisando, todo o processo gnosiológico (do conhecimento humano em geral) da
ciência do ponto de vista lógico, linguístico, sociológico, interdisciplinar,
político, filosófico e histórico.
Dialogar com
a filosofia da ciência e da ética em especial é relevante para um apuro extremo
dos conceitos e para o exercício crítico de qualquer campo do conhecimento.
Um Problema
Ontológico, que estuda o ser, é a representação (símbolo). A moral é ou não
importante para o comportamento humano? Como ela se dá e se deve ser entendida
na sua realidade ou pluralidade. Esse é apenas um exemplo. Existe uma sociedade
inteira de psicologia dedicada às questões filosóficas.
No Brasil o interesse
está nas relações entre psicologia e filosofia com métodos qualitativos e de
defesa da subjetividade.
Para
entendermos as raízes epistemológicas da Psicologia é necessário entender seu
percurso histórico e os diálogos existentes nesse percurso.
A Psicologia
teve como base primeira a Filosofia.
Segundo Gomes
para entendermos os diálogos da psicologia como ciência com a filosofia faz-se
necessário o estudo de três diálogos:
1.
Com as psicologias dos
grandes filósofos (procura esclarecer a concepção de psicológico no pensamento
que vai dos gregos aos primórdios da psicologia experimental)
2.
Com a filosofia da ciência
(contrasta o discurso epistemológico das décadas 70/80 com o quadro atual (séc.
XXI)
3.
Com a psicologia filosófica
destaca as principais preocupações e debates da psicologia filosófica dos
últimos anos)
A relação que
existe entre Filosofia e Psicologia é a de amor e ódio. Logo que a psicologia
experimental surgiu com Wundt, a filosofia foi vista como um mal a ser afastado
porque impedia a investigação científica. Já para os filósofos era a psicologia
que estava à deriva por não ter método e clareza de objeto de estudo.
A psicologia
ocupou o lugar que se dedicava ao estudo do sujeito cognoscitivo, um campo de
descrição e reflexão filosófica por excelência, desde os primórdios do
pensamento humano.
Essa primeira
aversão a filosofia tradicional tinha seus fundamentos. Não era possível
explorar com um único recurso de proposições lógicas as bases do intelecto e da
motivação humana. Precisavam deixar claro qual era o campo da psicologia. Não
era moral e nem pretendia pesquisar processos complexos do pensamento. Ela
rompeu com a especulação sobre a natureza humana.
Alguns erros
filosóficos:
•
Aristóteles desprezou as
relações entre cérebro e mente já indicados na medicina de Hipócrates.
•
Locke errou ao propor a
doutrina da tábula rasa que ainda hoje interfere em decisões políticas,
confundido igualmente jurídica com igualdade biológica.
A primeira
tarefa dos psicólogos foi romper com a especulação metafísica (investigação das
realidades que transcendem a experiência sensível) para estabelece-la como
ciência natural.
A psicologia
como ciência das mentes individuais finitas, assume como seus dados (James):
1.
Os pensamentos e
sentimentos.
2.
O mundo físico em tempo e
espaço com os quais eles coexistem.
3.
O mundo físico em tempo e
espaço com os quais eles conhecem.
A psicologia
não pode ir além de verificar a correlação empírica dos vários tipos de
pensamento ou sentimento com condições definidas pelo cérebro. Caso tente
explicar a alma, ego transcendental, ideias ou unidades elementares da
consciência transforma-se em metafísica.
Há uma
revisão em 1973 das relações entre psicologia e filosofia (Wolman).
O termo
ciência é apresentado com duas conotações: busca do conhecimento e resultados
dessa busca. O termo filosofia é definido como amor à sabedoria (conhecimento
em oposição à ignorância.
A filosofia
reinou na Grécia Antiga e Idade Média.
Os progressos
científicos dos Tempos modernos ultrapassaram a filosofia e a teologia.
Laboratórios
e expedições cientificas produziram mais conhecimento nos últimos três séculos
como jamais foi inventado pelas meditações e especulações
As ideias
revolucionárias que trouxeram a psicologia definitivamente para o campo
científico vieram do evolucionismo e descobertas neurofisiológicas. Romperam as
barreiras artificiais entre o humano e o resto da natureza. Foi a biologia, a
fisiologia, a neurologia e a moderna psicologia que viram o humano como parcela
e parte do mundo orgânico.
A filosofia
especuladora da alma, psique e mente foi gradualmente substituída por
observações e experimentos sobre o comportamento dos organismos vivos,
incluindo o comportamento humano (isso ocorre com Pavlov, Watson, Skinner).
Barreiras
enfrentadas na Psicologia:
Falha dos
professores na explicação do que seja a psicologia; também na promoção da
criticidade em análise e falha na grade curricular por não incluir para
discussão questões e mal-entendidos dos estudantes.
Isso leva a
um desconhecimento de sua natureza até mesmo por aqueles que a estudam. A
psicologia é realmente uma ciência, porem pouca gente sabe disso.
A psicologia
requer habilidades em pensamento crítico para permitir aos estudantes a
separação entre joio e trigo.
A psicologia
experimental dividia-se em tantas frentes que a visão de globalidade e de
inter-relação entre fenômenos psicológicos era de difícil discernimento. A
reação veio por meio das teorias da personalidade e das teorias de psicoterapia
que, ao oferecerem uma visão global do dinamismo humano e das diferenças
individuais, traziam embutida a hipótese primeira, em muitos casos uma doutrina
metafísica.
A definição
de natureza humana já é em si uma questão merecedora de análise criteriosa. O
problema se agrava diante da atração de psicólogos e estudantes as chamadas
psicologias alternativas.
Um modo
interessante de lidar com essas questões e de desenvolver habilidades de
pensamento crítico é o diálogo com os grandes filósofos, em particular com as
teorias sobre natureza e comportamento humano.
A filosofia
caracteriza-se pelo estudo do amplo e do universal, enquanto as ciências
concentram-se no particular, ocupando-se de parcelas da realidade. A filosofia,
em suas análises globais, permite a compreensão gradativa e articulada de temas
complexos e controversos.
O campo
psicológico contemporâneo é extenso, mas para usufruí-los deve-se, antes,
aprender a pensar criticamente.
Na Antiga
Grécia até o século XVIII, nota-se que os fenômenos chamados de psicológico
emergem de dois polos tensionais: a gnose e o éthos: a primeira se referindo à
ação de conhecer; a segunda ao lócus onde tal ação se manifesta. Por éthos se
entende o conjunto de costumes e hábitos fundamentais, no âmbito do
comportamento humano e da cultura, característicos de uma determinada coletividade,
época e região.
A reflexão
ocupa-se então de duas tarefas: discernir a veracidade do conhecimento e
explicar a capacidade de conhecer. Tem-se, então, a invenção da filosofia e da
psicologia: (epistemologia) a primeira ocupando-se da origem lógica, da
validade e do valor universal do conhecimento; a segunda, (gnosiologia) da
gênese e do valor individual do conhecimento.
A distinção
entre gnosiologia e epistemologia facilita o reconhecimento das diferenças
entre racionalismo e empirismo quando aplicados à gênese do intelecto
(nativismo versus ambientalismo), e à verificação lógica do conhecimento
(dedução e indução).
O ethos é o
contexto cultural que baliza as regras da moral e do direito. Comportamento
socialmente adequados.
ÉTHOS:
Qualquer comportamento humano é social e qualquer ato humano é moral.
Teorias
metafísicas analisadas auxiliam na introdução dessas questões complexas. São
elas elementos e princípios da vida, sensibilidade (sensações, apetites,
emoções) e racionalidade e inteligência. São próximas as definições de James:
1.
Os pensamentos e
sentimentos.
2.
O mundo físico em tempo e
espaço com os quais eles coexistem.
3.
O mundo físico em tempo e
espaço com os quais eles conhecem.
Todos esses
elementos são compreendidos por um princípio fundamental (ontologia)
supra-sensível (racionalismo) ou não (empirismo) que serve de base para as
intervenções educacionais e psicológicas.
Diálogo com filosofia da ciência
Como a
psicologia assumiu a postura de uma ciência autônoma restou a filosofia fazer
uma leitura crítica das ciências.
Filósofos da
Ciência não são filósofos no sentido tradicional e tem pouco a ver com a visão
de mundo dos sistemas metafísicos (...) eles não descobrem ou trazem qualquer
conhecimento sobre astronomia, física, biologia e psicologia, mas analisam os
trabalhos e as palavras dos astrônomos, dos físicos, dos biólogos, e dos
psicólogos.
Nos anos 1970
e 1980, vários cursos de psicologia deram início a um conjunto de atividades
para o estudo da filosofia da ciência.
As ideias
francesas sobre marxismo, estruturalismo, fenomenologia e existencialismo
animavam nossas aulas e debates. Essas teorias exerciam forte influência em
estudos literários, filosóficos, cinematográficos e psicanalíticos.
Os resultados
manifestaram-se de diversos modos: na polarização entre ciências naturais e
ciências humanas; na emergência de uma psicologia social de orientação crítica,
ou sócio- histórica; e na procura por cursos de pós-graduação na área da
filosofia ou da linguística por parte de muitos psicólogos.
Coerência
epistemológica: Tal coerência é avaliada na habilidade de ser capaz de conduzir
a pesquisa, de acordo com um determinado referencial, seja um autor ou teoria.
A análise
comparativa de conceitos e o apoio da evidência empírica são fundamentais para
o avanço do conhecimento.
Na década de
1990, notou-se um acentuado declínio na polarização entre ciência natural e
ciência humana nas discussões psicológicas na literatura internacional.
É óbvio que
há ainda um radicalismo remanescente que mantém o reducionismo para as duas
pontas (natural ou humano; quantitativo ou qualitativo, objetivista ou
subjetivista), mas há também uma maior abertura e mesmo um amadurecimento na
discussão destas questões.
Tome, por
exemplo, a epistemologia da moral e pergunte: como se faz possível o
conhecimento da moral? A resposta é problemática. A perspectiva sociológica
defronta-se com duas possibilidades opostas: 1) fatos morais não existem e os
conflitos devem-se, muito mais, à sensibilidade moral do que aos fatos morais;
ou 2) existe conhecimento moral, mas os fatos morais dependem dos valores do
grupo e por isso não são verdades universais. A perspectiva psicológica traz o
problema do julgamento moral como dependente de motivações intrínsecas, sendo
impossível falar-se de conhecimento da moral. A perspectiva ontológica vai
perguntar o que é moral? A resposta vai depender de uma outra análise: moral é
uma realidade natural ou supra-sensível, internalista ou externalista? Logo, o
conhecimento moral dependerá da definição de sua realidade. A perspectiva
feminista entende que o encaminhamento da questão é suspeito, pois pode trazer
critérios implícitos de verdade que têm prejudicado mulheres ao longo do tempo.
Enfim, como se mover em tamanha controvérsia?
Diante da variedade
de epistemologias, pode-se argumentar que a tarefa do pesquisador se resume a
escolha da teoria que se ajusta a seu modo de conhecer ou ao que quer conhecer.
No entanto, há um forte movimento entre filósofos contrários ao relativismo
epistemológico.
Um
entendimento corporificado de epistemologia, filosofia da ciência, filosofia da
mente, e ética é a tendência mais difundida e influente na filosofia
contemporânea é o que há de mais atual.
Diálogos com a psicologia filosófica
O interesse
da psicologia filosófica abrange todas as frentes da psicologia contemporânea.
Exemplo: problemas da representação, da experiência consciente, da vontade, e
da moral.
A leitura dos
primeiros pensadores da idade moderna possa nos ajudar a entender como nós
podemos ter representação (cognitivamente) e realismo. O esquema usado para
definir representação contém três partes: o que é representado (mundo), a
representação (ideia), e o usuário da representação (mente).
A falha do
esquema, segundo Slezak (2002) é não fazer a distinção entre representações
internas e externas, e pensar que a ideia se interpõe entre o mundo e a mente.
A exclusão da
mente acabaria com qualquer projeto de psicologia, e o sujeito cognoscitivo não
passaria de um robô.
Dados
experienciais e primeira pessoa remetem à tradição filosófica da fenomenologia
(Brentano, Husserl, Jaspers, Heidegger, Sartre e Merleau-Ponty.).
Essas
abordagens foram responsáveis por uma reaproximação temática entre psicologia e
filosofia, nos meados do século XX, com repercussão no campo da psicopatologia,
da psicoterapia e da pesquisa qualitativa.
A surpresa
deste diálogo entre psicólogos e fenomenólogos está no seu objetivo: a
naturalização da fenomenologia. O mais surpreendente é que esses diálogos,
fundamentados em pesquisa empírica e análise filosófica, estão trazendo
contribuições importantes para uma compreensão mais articulada e integrada da
teoria psicológica.
Na verdade, a
naturalização da fenomenologia teve início com a filosofia de Merleau-Ponty
(1942/1975, 1945/1994), reintegrando as observações de Husserl sobre o fenômeno
da consciência com a estrutura de como a consciência é vivenciada no corpo. Por
volta de 1990, investigações reconhecidas como neurofenomenologia receberam
grande impulso, sob a liderança do proeminente neurocientista Francisco Varela.
As pesquisas
em cognição sofreram muitos percalços ao longo de século XX. Experiência e
cognição, enquanto consciência, constituiu o primeiro foco de pesquisa em
psicologia experimental.
Limitações
instrumentais e metodológicas desviaram a atenção da cognição para o
comportamento, perdendo-se no percurso os dados de primeira pessoa, aqueles
dados experienciais ou subjetivos, tão caros aos experimentos em psicofísica,
no século XIX.
Alguns
cognitivistas foram aos poucos introduzindo dados de primeira pessoa ao
solicitar relatos verbais dos sujeitos de pesquisa. A aliança entre cognição e
fenomenologia é um programa interdisciplinar na procura de soluções
epistemológicas satisfatórias para os dados de primeira pessoa e para a
estrutura cognitiva da percepção de tempo.
Há estados
mentais inconscientes ou processos envolvidos na produção e controle da ação do
agente, das quais o agente não tem acesso consciente ou não está ciente, mesmo
assim, é inapropriado do ponto de vista conceptual a aplicação do termo
volições não-conscientes, pois diminuem e empobrecem o vocabulário filosófico e
científico.
Estudos
científicos da volição e do desejo, com base em achados das neurociências,
evidenciam a correlação entre processos mentais e processos cerebrais. Funções
e processos mentais superiores tais como consciência, atenção e controle motor
voluntário distribuem-se e interagem com várias regiões cerebrais, sugerindo
que os processos psicológicos são globais e integrados.
A controvérsia
mais proeminente é sobre a abordagem de primeira pessoa. Pergunta-se, então, a
experiência consciente e a representação são conceitos ontológicos
cientificamente justificados?
Chegaremos a
algum consenso ou continuaremos com as discussões por tempo indeterminado? Só o
futuro dirá.
Referências Bibliográficas
Relações entre Psicologia e Filosofia:
A psicologia filosófica (William B. Gomes).
Disponível em: http://www.ufrgs.br/museupsi/dicotomia.htm. Acesso em:
16/08/2016. 09:49h.
Principais linhas epistemológicas
contemporâneas (Gelson João Tesser).
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40601994000100012.
Acesso em: 16/08/2016. 07:20h.
O que é Ontologia? Disponível em: http://www.significados.com.br/ontologia/. Acesso
em: 16/08/2016. 07:42h.
Filosofia como fundamento e fronteira
da psicologia. Gustavo A C. Disponível em:
http://www.editora.ufrrj.br/revistas/humanasesociais/rch/rch30%20n1/E%2010-18.pdf.
Acesso em: 16/08/2016. 09:49h.
SCHULTZ, D. P.; SHULTZ,
S. E. História da psicologia moderna. São Paulo: Cultrix,
2004.