sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

VIOLÊNCIA SOCIAL


Árvore da Violência Social
Criminalidade e Violência
Foco sociológico
Relação com o todo – estruturas sociais e culturais
Transcende o senso comum
Temas cotidianos – expressa opinião e pensamento.

A visão do senso comum ou popular aborda a violência como um mecanismo que resulta da experiência diária das pessoas.
Criminalidade e Violência
São fenômenos distintos
Crimes não violentos, atos violentos não criminosos - “Olhar da lei ESTATAL”, por exemplo: A guerra ou a Revolução (Figura 2) Violência socialmente aceita: esporte (Figura 3)
A violência é parte das relações que compõem a sociedade e, consequentemente, segundo Roberto DaMatta (1982), sua condição de “normalidade” é precisamente o fato de ser reprimida e evitada.

Guerra ou Revolução



Esporte

VIOLÊNCIA E CRIMINALIDADE
Associadas, porém distintas enquanto fenômeno
O QUE INTERESSA A SOCIOLOGIA, ENTÃO?
Vandalismo, homicídios, suicídios, teorias do Direito, de criminologia, guerras e conflitos sociais.
Análise científica (isenta)
Olhar sociológico
Violência: fenômenos da exclusão, preconceito e pobreza.

VIOLÊNCIA

É como uma célula doente que é contida pela defesa orgânica, a taxa dessas unidades mórbidas é alta e precisam individualmente serem tratadas.

AMARAL, Luiz Otávio Obras e Ensaios Jurídicos

Cada sociedade estabelece até que ponto há de tolerar a violência.
O limite à violência é legal e sobretudo social.
Dir-se-ia que a violência quando guiada por valores ético-sociais, não pode ser descartada, mas é um mal necessário para a evolução.

VOGT, Carlos. (IN)VELHO, Gilberto (antropólogo) www.comciencia.br

A manipulação de poder, a corrupção e o uso da força são aceitos, tolerados e mesmo valorizados, tendo papel fundamental na manutenção do sistema social.
A violência foi legitimada historicamente na sociedade brasileira.
Isso nos coloca em pé de igualdade com países em guerra civil.

Chacina Candelária e Vigário Geral (1993)


ONG acusa polícia do Rio de criminalizar a pobreza

Em entrevista à BBC Brasil, o diretor-executivo da ONG Viva Rio, Rubem César Fernandes, afirma que, desde o final da década de 80, o Rio vive picos de violência "em um padrão que se repete", mas que, apesar disso, o número de homicídios vem caindo.
"Para a população, é o horror de sempre. Em um confronto tão violento, em um território tão pequeno, tão denso, é inevitável que ocorram erros", disse. "É uma lógica que nos coloca em um ambiente de insegurança radical, a própria polícia fica insegura."

Violência e Corrupção


Violência fenômeno socioeconômico, mas também ético-moral

Pobreza versus Violência


Violência Urbana

Designa o fenômeno social de comportamento transgressor e agressivo do convívio humano.
Típico de grandes cidades.
Esta ligada às condições sociais e de vida impostas no espaço urbano.
É evidente pelo alto índice de criminalidade.
Infração dos códigos elementares de conduta civilizada.
Alguns países impingem a outros seu modelo de violência.
Populações de países mais pobres aprendem e reproduzem processos violentos originários de expressões artísticas que tem a violência como tema principal.
Exemplo: O CINEMA.
Manifestações mais extremadas ocorrem em sociedades onde há tradição cultural de violência e divisões étnicas, sociais e econômicas.
A violência resulta de tensões sociais:
Desigualdade
Estrutura “não menos violenta” de privilégios.
A violência se agrava em países cujo funcionamento é precário dos mecanismos de controle social, político e jurídico.
No Brasil:
Instituições frágeis, profunda desigualdade econômica, tradição cultural de violência.
Realidade violenta por esta causa.
    Causas:
1.Aceitação social da ruptura das normas jurídicas;
2.Desrespeito a noção de cidadania e de direito;
3.Violência dos agentes de Estado contra os mais pobres;
4.Descompromisso com as regras de convívio aceita com certa indiferença;
  Isso reforça a cultura e o modo como o País enxerga o pobre e a violência que está relacionada a ele. 
São comuns e corriqueiras nas grandes cidades:
1.Impunidade do uso da tortura pela polícia (investigação);
2.Ocupação de espaço público por camelô;
3.Infração de trânsito;
4.Incompetência administrativa;
5.Negligência de toda forma de acidente;
6.Desrespeito ao consumidor;

Violência Urbana e graves violações de direitos humanos

A problemática da violência tornou-se objeto de discussão e interesse de especialistas.
Pesquisas apontam para o seguinte fenômeno:
üBaixa credibilidade das instituições de segurança e justiça junto a população;
A sociedade brasileira tem acompanhado o aumento da violência e da criminalidade, ao mesmo tempo, observa a ausência de resposta por parte da polícia e para enfrentar o crime a impunidade.
Não há no Brasil uma base nacional de dados sobre:
      Criminalidade;
Roubo;
Estupro;
Sequestro.
 Há déficit então de informação – registros policiais – impossibilidade de análise comparativa.
 A única base de registro de dados são os homicídios, proporcionando comparação em relação à segurança pública.
 Os homicídios dolosos corresponde a 35,7% dos óbitos. 1980 a 1998. Os homicídios vem aumentando tendência de crescimento como causa externa de mortalidade.
 A violência vem crescendo em ritmo considerável em todo país. É necessário relativizar estas frequências com base em diferentes variáveis.
 As variáveis observadas seriam: região, sexo, faixa etária, nível socioeconômico.
 Embora o senso comum vincule o aumento da criminalidade ao aumento da pobreza, não se pode omitir o fato de que o empobrecimento de largas camadas da população tem sido resultado de um crescimento econômico desordenado e da distribuição desigual da riqueza.
São assim definidos os crimes praticados por agentes do estado contra a população, seja no exercício legal de suas atividades, seja atuando para além delas.
Incluímos sob esta rubrica aqueles crimes que são praticados por cidadãos comuns, que tomam para si a função de aplicar a Justiça, “estimulados” pela ausência do estado em seu papel de regulador público da violência e pelo mau funcionamento das instituições de segurança e justiça.
De todas as mudanças que ocorrem no cenário político brasileiro, as práticas policiais sofreram poucas mudanças.
Sua principal característica tem sido o uso excessiva da força, expresso, por um lado, na desproporcionalidade de agentes por caso, em média, e, por outro, nas altas taxas de letalidade em que resultam os confrontos.
A ausência de respostas do poder pública nestes casos somente contribui para agravar o quadro de descrédito destas instituições junto à população.

Referências Bibliográficas:

KUPPER, Agnaldo. Sociologia Livro Único. 1ed. São Paulo: Editora Poliedro. 2010. 281p.
SORJ, Bernardo. brasil@povo.com: a luta contra a desigualdade na Sociedade da Informação. Rio de Janeiro : Jorge Zahar ED. ; Brasília, DF: Unesco, 2003.
GULLO, Álvaro de Aquino e Silva. Violência urbana: um problema social. Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 10(1): 105-119, maio de 1998.
OBJETIVO. Caderno de Sociologia: material modular 9. Criminalidade e Violência. 2015. 6p.


INTERPRETAÇÕES FILOSÓFICAS PARA PROBLEMAS PSICOLÓGICOS

Interpretações filosóficas para problemas psicológicos - Seminário de Filosofia

 TRÊS GRANDES DIÁLOGOS

Para entendermos as raízes epistemológicas da Psicologia é necessário entender seu percurso histórico e os diálogos existentes nesse percurso.
A Psicologia teve como base primeira a Filosofia.
Segundo Gomes para entendermos os diálogos da psicologia como ciência com a filosofia faz-se necessário o estudo de três diálogos:
1) com as psicologias dos grandes filósofos (procura esclarecer a concepção de psicológico no pensamento que vai dos gregos aos primórdios da psicologia experimental)
2) com a filosofia da ciência (contrasta o discurso epistemológico das décadas 70/80 com o quadro atual (séc. XXI)
3) com a psicologia filosófica destaca as principais preocupações e debates da psicologia filosófica dos últimos anos)


Diálogo com as psicologias dos grandes filósofos

Platão (427 – 347 a.C.)
Dualismo (Corpo prisão – Alma Origem Divina)
Aproveitou as ideias dos órficos (600 a.C). A alma era semelhante ao ar e insuflava vida no corpo.
Aristóteles (384 – 322 a.C.)
Monismo (União indissolúvel com o corpo)
Sistematizou o estudo da alma. Concepção biologicista: alma  =  princípio da vida.
A alma incorpora a faculdade da lógica.
A alma é independente do corpo, e imortal.
Esta partição da alma impregnou por muito tempo o desenvolvimento da psicologia.
Galeno (129 - 199)
Teoria dobre as conexões entre os fluidos corporais e a personalidade (Hipócrates).
4 tipos de personalidade são possíveis: Melancólico, Fleumático, Colérico e Sanguíneo.
O equilíbrio dos humores – determina os tipos de personalidade e também a tendência a sofrer certas doenças.
Agostinho – 354 – 430
Conciliar as escrituras sagradas com a filosofia.
Espírito em conexão temporal – passado = memória
Presente = intuição e entendimento - Futuro = vontade
Alma é uma unidade
Tomás de Aquino – 1225 – 1274
Unir teologia e filosofia. Revê Aristóteles.
Alma é unitária, abrange corpo e espírito. Alma é imortal.
Surgem o Racionalismo - Desvalorizando a religião e valorizando a ciência, a psicologia ganhou força.
Descartes (1596 – 1650)
Atos involuntários
Automatismos (mecanicismo)
Reações inatas a estímulos externos
Próprios de animais
CORPO
Atos voluntários
Dirigidos pela mente
Fruto da reflexão e decisão
Específicos dos humanos
MENTE
Mente e corpo interagem através da Glândula Pineal
Mente e corpo são separados.
A mente é imaterial mas tem localização.
O corpo é uma máquina mecânica e material.
A mente pode controlar o corpo físico, estimulando os espíritos animais a fluir pelo sistema nervoso.
Duas linhas da psicologia partem daí:
MENTALISTA
Estuda Através da introspecção, o mental inobservável.
FISIOLOGISTA
Estuda através da Observação os atos involuntários
John Locke (1632 – 1704)
Experiência (Empirismo)
Mente humana é uma folha em branco ao nascer.
A experiência configura a vida do homem.
Experiência sensorial e a reflexão.
O homem é um mecanismo auto controlável, dependente de energia externa. O espírito é o cérebro, máquina fabricadora de símbolos.
Christian Wolff (1679 – 1754)
Razão (Racionalismo).
Corpo e alma são separados
História da alma (impressões, percepção, representação, memória, linguagem, sentimento e vontade) e Ciência da alma
(Tudo o que deve penetrar a essência da alma e do espírito)
Wundt (1832-1920) Estruturalismo
Fundador da psicologia
1º laboratório experimental: Leipzig 1870
Objeto de estudo: os conteúdos da mente – Sensações – Sentimentos - Imagens
Método: Introspecção
Temas de estudo
Psicofisiologia da sensação
Relação psicofísica entre S – R
Descrição da consciência sensorial
W. James (1842-1910)  Funcionalismo
Crítica a Wundt: não podemos ver a mente senão os comportamentos.
Faz da ação (comportamento) o ponto central.
Objeto de estudo: os mecanismos da mente para adaptar-se
Estuda as emoções
Interesse por observações objetivas
Sistema nervoso: máquina que converte S em R
Wertheimer (1880-1943) Gestalt
Rechaça a Wundt: insuficiência de elementos no estudo da percepcção.
As propriedades do todo são mais fortes e prioritárias que as partes.
Freud (1856-1939) Psicanálise
Estudou as neuropatologias (histeria e neurose) e afirmou sua origem psicológica.
Afirmou a existência de uma dimensão irracional no homem: o inconsciente
Constituem os processos fundamentais do psiquismo - Determinados pelos instintos
Afloram ao consciente, disfarçados - Lapsos linguagem, Atos falhos, Sonhos
Mentalista: através da mente se podem explicar - A personalidade – Enfermidades Além de uma teoria é também uma psicoterapia
Pavlov (1849-1936) Reflexologia
Criou o “condicionamento clássico”
Reflexo condicionado
Fundamento de sua teoria da aprendizagem.
Chamou a atividade psíquica “a atividade nervosa superior”.
Nega a existência de caracteres inatos
Skinner (1904-1990) Behaviorismo Radical
Toda conduta está sempre determinada pelo reforçamento
Desenvolveu o condicionamento operante
Uma resposta se repete se teve êxito (reforço)

A psicologia se insere no campo geral do conhecimento e faz intersecção entre as humanidades e as ciências.

O diálogo com outros saberes é fértil, no entanto, porque as vezes insistimos em usar a interdisciplinaridade como sendo suficiente para o discurso fica empobrecida. O ideal é que trabalhasse com os contrastes existentes entre as epistemologias, ou seja; reconstruísse racionalmente o conhecimento científico, conhecendo, analisando, todo o processo gnosiológico (do conhecimento humano em geral) da ciência do ponto de vista lógico, linguístico, sociológico, interdisciplinar, político, filosófico e histórico.
Dialogar com a filosofia da ciência e da ética em especial é relevante para um apuro extremo dos conceitos e para o exercício crítico de qualquer campo do conhecimento.
Um Problema Ontológico, que estuda o ser, é a representação (símbolo). A moral é ou não importante para o comportamento humano? Como ela se dá e se deve ser entendida na sua realidade ou pluralidade. Esse é apenas um exemplo. Existe uma sociedade inteira de psicologia dedicada às questões filosóficas.
No Brasil o interesse está nas relações entre psicologia e filosofia com métodos qualitativos e de defesa da subjetividade.
Para entendermos as raízes epistemológicas da Psicologia é necessário entender seu percurso histórico e os diálogos existentes nesse percurso.
A Psicologia teve como base primeira a Filosofia.
Segundo Gomes para entendermos os diálogos da psicologia como ciência com a filosofia faz-se necessário o estudo de três diálogos:
1.                   Com as psicologias dos grandes filósofos (procura esclarecer a concepção de psicológico no pensamento que vai dos gregos aos primórdios da psicologia experimental)
2.                   Com a filosofia da ciência (contrasta o discurso epistemológico das décadas 70/80 com o quadro atual (séc. XXI)
3.                   Com a psicologia filosófica destaca as principais preocupações e debates da psicologia filosófica dos últimos anos)
A relação que existe entre Filosofia e Psicologia é a de amor e ódio. Logo que a psicologia experimental surgiu com Wundt, a filosofia foi vista como um mal a ser afastado porque impedia a investigação científica. Já para os filósofos era a psicologia que estava à deriva por não ter método e clareza de objeto de estudo.
A psicologia ocupou o lugar que se dedicava ao estudo do sujeito cognoscitivo, um campo de descrição e reflexão filosófica por excelência, desde os primórdios do pensamento humano.
Essa primeira aversão a filosofia tradicional tinha seus fundamentos. Não era possível explorar com um único recurso de proposições lógicas as bases do intelecto e da motivação humana. Precisavam deixar claro qual era o campo da psicologia. Não era moral e nem pretendia pesquisar processos complexos do pensamento. Ela rompeu com a especulação sobre a natureza humana.
Alguns erros filosóficos:
                      Aristóteles desprezou as relações entre cérebro e mente já indicados na medicina de Hipócrates.
                      Locke errou ao propor a doutrina da tábula rasa que ainda hoje interfere em decisões políticas, confundido igualmente jurídica com igualdade biológica.
A primeira tarefa dos psicólogos foi romper com a especulação metafísica (investigação das realidades que transcendem a experiência sensível) para estabelece-la como ciência natural.
A psicologia como ciência das mentes individuais finitas, assume como seus dados (James):
1.                   Os pensamentos e sentimentos.
2.                   O mundo físico em tempo e espaço com os quais eles coexistem.
3.                   O mundo físico em tempo e espaço com os quais eles conhecem.
A psicologia não pode ir além de verificar a correlação empírica dos vários tipos de pensamento ou sentimento com condições definidas pelo cérebro. Caso tente explicar a alma, ego transcendental, ideias ou unidades elementares da consciência transforma-se em metafísica.
Há uma revisão em 1973 das relações entre psicologia e filosofia (Wolman).
O termo ciência é apresentado com duas conotações: busca do conhecimento e resultados dessa busca. O termo filosofia é definido como amor à sabedoria (conhecimento em oposição à ignorância.
A filosofia reinou na Grécia Antiga e Idade Média.
Os progressos científicos dos Tempos modernos ultrapassaram a filosofia e a teologia.
Laboratórios e expedições cientificas produziram mais conhecimento nos últimos três séculos como jamais foi inventado pelas meditações e especulações
As ideias revolucionárias que trouxeram a psicologia definitivamente para o campo científico vieram do evolucionismo e descobertas neurofisiológicas. Romperam as barreiras artificiais entre o humano e o resto da natureza. Foi a biologia, a fisiologia, a neurologia e a moderna psicologia que viram o humano como parcela e parte do mundo orgânico.
A filosofia especuladora da alma, psique e mente foi gradualmente substituída por observações e experimentos sobre o comportamento dos organismos vivos, incluindo o comportamento humano (isso ocorre com Pavlov, Watson, Skinner).
Barreiras enfrentadas na Psicologia:
Falha dos professores na explicação do que seja a psicologia; também na promoção da criticidade em análise e falha na grade curricular por não incluir para discussão questões e mal-entendidos dos estudantes.
Isso leva a um desconhecimento de sua natureza até mesmo por aqueles que a estudam. A psicologia é realmente uma ciência, porem pouca gente sabe disso.
A psicologia requer habilidades em pensamento crítico para permitir aos estudantes a separação entre joio e trigo.
A psicologia experimental dividia-se em tantas frentes que a visão de globalidade e de inter-relação entre fenômenos psicológicos era de difícil discernimento. A reação veio por meio das teorias da personalidade e das teorias de psicoterapia que, ao oferecerem uma visão global do dinamismo humano e das diferenças individuais, traziam embutida a hipótese primeira, em muitos casos uma doutrina metafísica.
A definição de natureza humana já é em si uma questão merecedora de análise criteriosa. O problema se agrava diante da atração de psicólogos e estudantes as chamadas psicologias alternativas.
Um modo interessante de lidar com essas questões e de desenvolver habilidades de pensamento crítico é o diálogo com os grandes filósofos, em particular com as teorias sobre natureza e comportamento humano.
A filosofia caracteriza-se pelo estudo do amplo e do universal, enquanto as ciências concentram-se no particular, ocupando-se de parcelas da realidade. A filosofia, em suas análises globais, permite a compreensão gradativa e articulada de temas complexos e controversos.
O campo psicológico contemporâneo é extenso, mas para usufruí-los deve-se, antes, aprender a pensar criticamente.
Na Antiga Grécia até o século XVIII, nota-se que os fenômenos chamados de psicológico emergem de dois polos tensionais: a gnose e o éthos: a primeira se referindo à ação de conhecer; a segunda ao lócus onde tal ação se manifesta. Por éthos se entende o conjunto de costumes e hábitos fundamentais, no âmbito do comportamento humano e da cultura, característicos de uma determinada coletividade, época e região.
A reflexão ocupa-se então de duas tarefas: discernir a veracidade do conhecimento e explicar a capacidade de conhecer. Tem-se, então, a invenção da filosofia e da psicologia: (epistemologia) a primeira ocupando-se da origem lógica, da validade e do valor universal do conhecimento; a segunda, (gnosiologia) da gênese e do valor individual do conhecimento.
A distinção entre gnosiologia e epistemologia facilita o reconhecimento das diferenças entre racionalismo e empirismo quando aplicados à gênese do intelecto (nativismo versus ambientalismo), e à verificação lógica do conhecimento (dedução e indução).
O ethos é o contexto cultural que baliza as regras da moral e do direito. Comportamento socialmente adequados.
ÉTHOS: Qualquer comportamento humano é social e qualquer ato humano é moral.
Teorias metafísicas analisadas auxiliam na introdução dessas questões complexas. São elas elementos e princípios da vida, sensibilidade (sensações, apetites, emoções) e racionalidade e inteligência. São próximas as definições de James:
1.                   Os pensamentos e sentimentos.
2.                   O mundo físico em tempo e espaço com os quais eles coexistem.
3.                   O mundo físico em tempo e espaço com os quais eles conhecem.
Todos esses elementos são compreendidos por um princípio fundamental (ontologia) supra-sensível (racionalismo) ou não (empirismo) que serve de base para as intervenções educacionais e psicológicas.

Diálogo com filosofia da ciência

Como a psicologia assumiu a postura de uma ciência autônoma restou a filosofia fazer uma leitura crítica das ciências.
Filósofos da Ciência não são filósofos no sentido tradicional e tem pouco a ver com a visão de mundo dos sistemas metafísicos (...) eles não descobrem ou trazem qualquer conhecimento sobre astronomia, física, biologia e psicologia, mas analisam os trabalhos e as palavras dos astrônomos, dos físicos, dos biólogos, e dos psicólogos.
Nos anos 1970 e 1980, vários cursos de psicologia deram início a um conjunto de atividades para o estudo da filosofia da ciência.
As ideias francesas sobre marxismo, estruturalismo, fenomenologia e existencialismo animavam nossas aulas e debates. Essas teorias exerciam forte influência em estudos literários, filosóficos, cinematográficos e psicanalíticos.
Os resultados manifestaram-se de diversos modos: na polarização entre ciências naturais e ciências humanas; na emergência de uma psicologia social de orientação crítica, ou sócio- histórica; e na procura por cursos de pós-graduação na área da filosofia ou da linguística por parte de muitos psicólogos.
Coerência epistemológica: Tal coerência é avaliada na habilidade de ser capaz de conduzir a pesquisa, de acordo com um determinado referencial, seja um autor ou teoria.
A análise comparativa de conceitos e o apoio da evidência empírica são fundamentais para o avanço do conhecimento.
Na década de 1990, notou-se um acentuado declínio na polarização entre ciência natural e ciência humana nas discussões psicológicas na literatura internacional.
É óbvio que há ainda um radicalismo remanescente que mantém o reducionismo para as duas pontas (natural ou humano; quantitativo ou qualitativo, objetivista ou subjetivista), mas há também uma maior abertura e mesmo um amadurecimento na discussão destas questões.
Tome, por exemplo, a epistemologia da moral e pergunte: como se faz possível o conhecimento da moral? A resposta é problemática. A perspectiva sociológica defronta-se com duas possibilidades opostas: 1) fatos morais não existem e os conflitos devem-se, muito mais, à sensibilidade moral do que aos fatos morais; ou 2) existe conhecimento moral, mas os fatos morais dependem dos valores do grupo e por isso não são verdades universais. A perspectiva psicológica traz o problema do julgamento moral como dependente de motivações intrínsecas, sendo impossível falar-se de conhecimento da moral. A perspectiva ontológica vai perguntar o que é moral? A resposta vai depender de uma outra análise: moral é uma realidade natural ou supra-sensível, internalista ou externalista? Logo, o conhecimento moral dependerá da definição de sua realidade. A perspectiva feminista entende que o encaminhamento da questão é suspeito, pois pode trazer critérios implícitos de verdade que têm prejudicado mulheres ao longo do tempo. Enfim, como se mover em tamanha controvérsia?
Diante da variedade de epistemologias, pode-se argumentar que a tarefa do pesquisador se resume a escolha da teoria que se ajusta a seu modo de conhecer ou ao que quer conhecer. No entanto, há um forte movimento entre filósofos contrários ao relativismo epistemológico.
Um entendimento corporificado de epistemologia, filosofia da ciência, filosofia da mente, e ética é a tendência mais difundida e influente na filosofia contemporânea é o que há de mais atual.

Diálogos com a psicologia filosófica

O interesse da psicologia filosófica abrange todas as frentes da psicologia contemporânea. Exemplo: problemas da representação, da experiência consciente, da vontade, e da moral.
A leitura dos primeiros pensadores da idade moderna possa nos ajudar a entender como nós podemos ter representação (cognitivamente) e realismo. O esquema usado para definir representação contém três partes: o que é representado (mundo), a representação (ideia), e o usuário da representação (mente).
A falha do esquema, segundo Slezak (2002) é não fazer a distinção entre representações internas e externas, e pensar que a ideia se interpõe entre o mundo e a mente.
A exclusão da mente acabaria com qualquer projeto de psicologia, e o sujeito cognoscitivo não passaria de um robô.
Dados experienciais e primeira pessoa remetem à tradição filosófica da fenomenologia (Brentano, Husserl, Jaspers, Heidegger, Sartre e Merleau-Ponty.).
Essas abordagens foram responsáveis por uma reaproximação temática entre psicologia e filosofia, nos meados do século XX, com repercussão no campo da psicopatologia, da psicoterapia e da pesquisa qualitativa.
A surpresa deste diálogo entre psicólogos e fenomenólogos está no seu objetivo: a naturalização da fenomenologia. O mais surpreendente é que esses diálogos, fundamentados em pesquisa empírica e análise filosófica, estão trazendo contribuições importantes para uma compreensão mais articulada e integrada da teoria psicológica. 
Na verdade, a naturalização da fenomenologia teve início com a filosofia de Merleau-Ponty (1942/1975, 1945/1994), reintegrando as observações de Husserl sobre o fenômeno da consciência com a estrutura de como a consciência é vivenciada no corpo. Por volta de 1990, investigações reconhecidas como neurofenomenologia receberam grande impulso, sob a liderança do proeminente neurocientista Francisco Varela.
As pesquisas em cognição sofreram muitos percalços ao longo de século XX. Experiência e cognição, enquanto consciência, constituiu o primeiro foco de pesquisa em psicologia experimental.
Limitações instrumentais e metodológicas desviaram a atenção da cognição para o comportamento, perdendo-se no percurso os dados de primeira pessoa, aqueles dados experienciais ou subjetivos, tão caros aos experimentos em psicofísica, no século XIX.
Alguns cognitivistas foram aos poucos introduzindo dados de primeira pessoa ao solicitar relatos verbais dos sujeitos de pesquisa. A aliança entre cognição e fenomenologia é um programa interdisciplinar na procura de soluções epistemológicas satisfatórias para os dados de primeira pessoa e para a estrutura cognitiva da percepção de tempo.
Há estados mentais inconscientes ou processos envolvidos na produção e controle da ação do agente, das quais o agente não tem acesso consciente ou não está ciente, mesmo assim, é inapropriado do ponto de vista conceptual a aplicação do termo volições não-conscientes, pois diminuem e empobrecem o vocabulário filosófico e científico.
Estudos científicos da volição e do desejo, com base em achados das neurociências, evidenciam a correlação entre processos mentais e processos cerebrais. Funções e processos mentais superiores tais como consciência, atenção e controle motor voluntário distribuem-se e interagem com várias regiões cerebrais, sugerindo que os processos psicológicos são globais e integrados.
A controvérsia mais proeminente é sobre a abordagem de primeira pessoa. Pergunta-se, então, a experiência consciente e a representação são conceitos ontológicos cientificamente justificados?
Chegaremos a algum consenso ou continuaremos com as discussões por tempo indeterminado? Só o futuro dirá.

Referências Bibliográficas
Relações entre Psicologia e Filosofia: A psicologia filosófica (William B. Gomes). Disponível em: http://www.ufrgs.br/museupsi/dicotomia.htm. Acesso em: 16/08/2016. 09:49h.
Principais linhas epistemológicas contemporâneas (Gelson João Tesser). Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40601994000100012. Acesso em: 16/08/2016. 07:20h.
O que é Ontologia? Disponível em: http://www.significados.com.br/ontologia/. Acesso em: 16/08/2016. 07:42h.
Filosofia como fundamento e fronteira da psicologia. Gustavo A C. Disponível em: http://www.editora.ufrrj.br/revistas/humanasesociais/rch/rch30%20n1/E%2010-18.pdf. Acesso em: 16/08/2016. 09:49h.

SCHULTZ, D. P.; SHULTZ, S. E. História da psicologia moderna. São Paulo: Cultrix, 2004. 

Das introspecções de o ovo e a galinha em Clarice Lispector.

Ilustração da obra Tacuinum Sanitatis Quem sou eu para desvendar tal mistério se nem mesmo Clarice desvendou, embora intuitivamente eu o sai...