quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

ARTE E PSICANÁLISE: A ANÁLISE DE UM FILME: QUERO MATAR MEU CHEFE

Apresentação da Obra
Esse trabalho teve como objetivo analisar um filme e suas personagens a fim de estabelecer correlações com a matéria estudada em Fundamentos Epistemológicos - Enfoque Psicodinâmico. Procuramos a luz da Psicanáliseapresentar um panorama psicológico das principais personagens do filme "Quero Matar o Meu Chefe I" do roteirista Michael Markowitz sob a direção e produção de Seth Gordon, Brett Ratner e Jay Stern.
O filme em questão é uma comédia de 2011 (dois mil e onze), cuja sinopse apresentaos personagens Nick, Kurt e Dale que vivem rotinas estressantes e, muitas vezes humilhantes, graças a seus chefes. E como as opções para se livrarem deles não incluem pedir demissão, o trio aceita o duvidoso conselho de um ex-presidiário: eliminar seus patrões definitivamente!
Os três amigos, interpretados por Jason Bateman, Charlie Day e Jason Sudeikis, só não conseguiram aliar o suposto plano infalível à execução do próprio e as confusões ditam o ritmo do filme.
Quero Matar Meu Chefe traz Jennifer Aniston, Colin Farrell e Kevin Spacey na pele dos chefes insuportáveis, cujas vidas correm perigo.
Após assistirmos ao filme, fizemos uma análise das personagens e seus respectivos chefes, traçando um perfil psicológico, buscando possíveis causas à luz da teoria psicanalítica.
Criamos também algumas tipologias relacionadas ao id, ego e superego a partir de alguns diálogos das personagens aqui transcritos.
2. INTRODUÇÃO DA ANÁLISE:
A história apresenta uma insatisfação que permeia a maior parte da população: nem sempre a vida nos dá o que merecemos.
São sete perfis que apresentam uma fragilidade emocional que gera instabilidade psíquica e que consequentemente são prejudiciais e nocivas a vida social.
Quem nunca sentiu desejo de matar como forma de aniquilar um problema? Nessa premissa os produtores expõem os desejos mais primitivos e os põe na balança.
Numa abordagem psicanalítica queremos propor uma viagem do id ao superego. E esse filme traz de forma harmoniosa e bem distinta um passeio criativo entre as divagações do id, do ego e do superego. Também nos apresenta as influências do inconsciente nas ações conscientes.
Analisaremos nas personagens principais essas instancias psíquicas, incluindo a perversão e a psicopatia.
2.1. Perfil Psicológicos das Personagens
DAVID HARKEN (chefe) -Perfil psicopata. Faz uso de pressões psicológicas para atingir seus funcionários. Necessita sempre se dar bem. Sem escrúpulos. Frio e calculista. Zomba de sentimentalismos. Mantem aparência de bom chefe e profissional. Exigente e manipulador. Chantagista. Arrogante e dominador. Possessivo e assassino.
NICK HENDRICKS (funcionário) -Perfil engolidor de sapo. Incapaz de defender seus interesses. Sujeita-se a toda forma de humilhação, pois acredita que dessa forma atingirá seu objetivo (reconhecimento). Frustrado e calado. Não expõe seus sentimentos e nem delimita seu espaço. Alvo fácil de manobra e manipulação. Fraco e insatisfeito.
BOBBY PELLITT(chefe) - Perfil egocêntrico. Quer se dar bem e lucrar. Não se preocupa com causas ambientais ou se fará danos as pessoas. Viciado em cocaína e prostituição. Apatia de sentimentos fraternais, inclusive em relação ao pai. Ressentido com seu pai e ciumento de sua relação com funcionários. Preconceituoso com gordos, pessoas com deficiência, etc. Frouxo e hedonista (prazer é o seu centro).
KURT BUCKMAN (funcionário) -Perfil extrovertido. Animoso e feliz na sua antiga relação patrão empregado. Sentimentos de filiação. Amistoso com todos os colegas. Consciência social bem resolvida. Com nuances de perversão. Paquerador, mulherengo, dado as orgias, sexo livre e descompromissado. Vive os prazeres instintivamente e não se preocupa com moralidade, ou seja, condição civil de parceiros. Objeto sexual é bem definido.
JULIA HARRIS (chefe) - Perfil pervertido. Abusa de sua condição para obter prazer. Não dada a leis ou ordens morais. Quer satisfazer suas necessidades a todo custo. Essa satisfação se dá quando submete o outro a sua ação. Fixação por "falo" e costuma coleciona-los na mente. Desejo desenfreado e sem noção de perigo expondo pessoas e ela mesmo a situações perigosas. Chega ao ponto de "crime" de ordem moral, como assédio sexual em ambiente de trabalho, envolvendo funcionários e clientes. Chantagista.
DALE ARBUS (funcionário) -Perfil pai de família. Instinto protetor. Consciência de ordem moral bem rígida. Preza valores e virtudes como lealdade e fidelidade. Inocente, bem ao estilo "Peter Pan". Atitudes impensadas que geraram fama de pervertido, sem ser. Sonha com o casamento e filhos. Estabelece seus limites e deixa claro o que gosta e o que não gosta. Não admite os abusos, mas incapaz de posicionar-se em relação à vida. Medroso e receoso quanto a decisões por instinto de preservação. Um cara que pensa antes de agir. Valoriza a racionalidade.
DEAN JONES (METE A MÃE) (matador de aluguel) -Perfil malandro. Oportunista. Aproveita-se de situações para se dar bem. Oferece suporte criminal, sem nem mesmo ter matado alguém. Seu apelido remete a relações incestuosas ou desejos sexuais pela mãe. Trapalhão e meio tolo. Esperto e vivaldino.
3. ANALISANDO AS PERSONAGENS:
3.1. David Harken e Nick Hendricks:
Nick sempre desejou ascensão na empresa. Para tanto aguentou oito longos anos os desmandos do chefe. Desde cobranças excessivas por atrasos de dois minutos, ausência forçada no velório de sua vozinha: Fica, como ser obrigado a beber uísque as oito horas da manhã e depois disso ser acusado de bêbado.
Percebemos nessa personagem uma dificuldade no estabelecimento do "EU", do próprio ego. Dificuldade que segundo a psicodinâmica ocorre na infância. As fases de desenvolvimento são muito importantes pois proporcionam ao indivíduo um bom constructo. É na fase oral que a criança experimenta as primeiras sensações com o mundo externo, para Freud, denominado "princípio de realidade". É nessa fase que o sujeito cria a noção de identificação com as pessoas.
Já na fase anal o sentimento de pertinência começa a surgir e a necessidade de demarcar o espaço territorial, desenvolvendo assim a personalidade. Nessa fasea identidade se constrói. É necessário o contato com os limites, pois eles ajudam a estabelecer uma consciência equilibrada e são protetivos inclusive para a saúde psíquica. Esses limites estabelecem o superego.
Provavelmente Nick teve algumas falhas nessa fase, como ausência de pais, ou pais castradores e extremamente exigentes, ou displicentes que geraram uma fragilidade no seu ego, de forma que diante do mundo real ele não conseguisse se posicionar seguramente. A ideia que temos é que ele é um fraco e o próprio filme aponta isso.
Em determinado momento eles entram em uma discussão sobre quem seria mais estuprável, caso fossem presos.A resposta dada por Dale é a seguinte:
"- O Nick. Tem a ver com fraqueza e vulnerabilidade! "
Dessa forma Dale deixa claro que Nick apresenta essas características.
Harken apresenta um quadro de psicopatia. Os psicopatas não possuem naturalmente um sentimento chamado empatia. E, portanto, pessoas como Nick são pratos perfeitos a serem saboreados por perfis psicopatas, ou seja, são vulneráveis. Harken parece aproveitar-se disso explorando e humilhando o funcionário com o único intuito: se dar bem. E é o que ele faz. Após um tempo de falsas esperanças dadas, ele enfim anuncia que o cargo oferecido será ocupado por ele mesmo com aumento de salário em 85%, o que parece ser bem vantajoso.
Bem característico da psicopatia Harken cultiva um sentimento de posse em relação as suas funções profissionais e também a sua esposa.
Com Nick sua atitude é de controle absoluto. Quando finalmente confrontado por Nick, Harken vocifera poder acusá-lo de ser insubordinado, desonesto e bêbado, caso ele peça demissão. Além disso faz chacota dos seus sentimentos em relação a sua vozinha: Fica. Ele ri escancaradamente dele e de seu sentimentalismo. Finaliza dizendo: "- Eu mando em você! ".
Extremamente possessivo ele chega as vias de fato quando descobre por acaso um celular em sua casa. Não pensa duas vezes, pega sua arma, vai à casa do suposto amante e atira em seu peito a queima-roupas e em sua cabeça.
Próprio da frieza psicopata ao ser confrontado por Nick e seus amigos sobre o crime ele afirma:
"- Sim eu matei. Fui até a casa dele e o matei. E quer saber? Eu gostei! "
Até o fim do filme Harken mantêm uma mente criminosa em ação. Criando uma armadilha e dissimulando um ataque e uma cena perfeita de crime, porém o grande herói, e que põe fim aos seus crimes, é a tecnologia instalada no carro de Kurt por codinome Gregory, que grava toda a ação e diálogo do crime.
3.2. Bobby Pellitt e Kurt Buckman:
Kurt é uma cara gente fina, boa praça que mantem um relacionamento amigável e fraternal com seu patrão Jack, um homem justo e amável. Percebe-se que Kurt pode estar fazendo uma transferência para Jack.
Talvez por lembrar seu pai ou figura masculina apreendida na fase de latência, onde a sexualidade é formada. Ele pode ter tido um pai que foi seu amigo, protetor ou não. Poderia ser um ideal (concepção idealizada) espelhada na figura amigável de seu patrão.
Percebemos também que essa relação não agradava o filho de Jack, Bobby. Esse, contrário a Kurt, não gostava de seu pai. Talvez por uma disfunção edipiana. Onde a mãe ainda continuava sendo a detentora de seus desejos. Não houve corte e, portanto, o ódio ao pai. Seria ausência de castração?
Mas Kurt também tem nuances de uma personalidade bem erotizada e dada as relações neuróticas. Nessa área apresenta uma propensão a realizar as pulsões sexuais, obedecendo mais ao Id do que ao superego.
Segundo Lacan (in) Martinho 2013 "para o neurótico há com o seu parceiro uma relação de complemento". Verificamos isso na fala dessa personagem depois de uma transa quente com Julia. Ele acredita que ela não mais perturbaria Dale, pois havia experimentado muito sexo bom com ele, ou seja, ela estaria completa.
Dale tem muito bem estabelecido o objeto de seu desejo sexual. Em uma das cenas observa uma bunda por um binóculo e ao ver que se tratava de um homem logo se decepciona.
Sua consciência de moralidade é bem fraca. Isso é perceptível em duas situações: quando tem que vigiar Julia, chefe de Dale, e não resiste aos apelos sexuais da mesma colocando o plano deles em risco e quando quase ao final do filme ele não controla seus impulsos e vai ao banheiro para transar com a esposa de Harken, perdendo a oportunidade de gravar a confissão do assassino, colocando todos em risco, inclusive ele mesmo.
Kurt começa a ter problemas, quando seu chefe morre e seu filho Bobby assume a presidência da empresa.
Bobby é uma pessoa de natureza egocêntrica. Sabemos que é na fase anal que a natureza egoísta e o aparecimento de pertencimento ocorre, porém quando os limites não são trabalhados de forma que não há regulação das ações egoísticas isso acarretará na supervalorização do ego e de um superego fragilizado.
Os limites são importantes porque fazem com que o indivíduo experimente a frustração e com ela os sentimentos importantes para a vida como raiva, culpa, medo, ódio, amor, etc. Um superego fragilizado nos deixa vulneráveis as doenças mentais, porque é ele que reprime os impulsos inconscientes.
Bobby apresenta sentimento egoísta em detrimento aos outros e isso se apresenta em ações inconsequentes que mais obedecem ao Id para obtenção de prazer imediato. As drogas, o sexo e o dinheiro são seus únicos interesses e tudo em excesso.
Bobby está preso na adolescência que retoma a fase anal. Pois é nessa fase que aparece o sentimento de angustia (falta). Incorre em utilização de drogas e outras adições. Uma fase em que "nada preenche" e onde o "prazer dura pouco".
3.3. Julia Harris e Dale Arbus:
Dale sempre teve um sonho: ser pai de família e estava caminhando para essa realização, tanto que estava noivo de Stacy.
Apresenta um superego bem rígido e não se permite fazer coisas que aparentemente aos colegas parecem normais.
Isso fica claro em uma de suas conversas onde os amigos declaram não entender porque os assédios sexuais de Julia eram ruins.
Percebemos que em Dale essa instancia psíquica é bem forte e rígida o que impõe a ele culpa até mesmo por aquilo que não fez. Isso pode ter ocorrido na fase anal, onde a estruturação do superego pode ter sofrido limites repressores muito fortes, próprios de uma criação rígida e impregnada de valores morais.
Por isso os assédios de sua chefe tornam-se tão horríveis e abomináveis ao ponto de desequilibrarem o seu mundo organizado. Para Dale as atitudes imorais de Julia são inconcebíveis.
Dale apresenta também características de um menino grande, que apesar de ter crescido ainda mantem uma certa inocência pueril.
Ele ainda vive em um mundo fantasioso, onde tudo é perfeito e sem maldade. Notamos isso quando ao conversar com os amigos lhe é relembrado uma atitude impensada que gerou a ele uma consequência ruim: ser fichado na polícia como pervertido. Tudo porque estava num bar que ficava ao lado de um parquinho e ao sair dele foi urinar no mesmo, sendo autuado em flagrante, com o "falo" na mão.
É uma comédia sua fala:
"- Parquinhos não deviam estar ao lado de bares! "
Percebemos em Dale que a fase da adolescência ainda persiste em seus mitos e ritos. Isso impregnou sua personalidade com uma idealização que não corresponde com o "princípio da realidade" e talvez na fase anal houve falhas na construção desse contato com o real pelas histórias contadas e repetidas várias vezes.
Julia Harris é a chefe de Dale, uma mulher linda e interessante bem-sucedida e que apresenta um comportamento externalizado por perversão sexual.
Segundo Freud (In) Martinho 2013 "...na perversão...há com o seu parceiro uma relação de suplemento. O perverso é aquele que quer oferecer ao seu parceiro aquilo que ele acha que lhe falta: o gozo. "
Em busca dessa realização, Julia tem uma fixação por Dale querendo dar a ele um prazer que ela acredita que ele não tem.
Ela é avessa as leis e infringe todas elas. Segundo Serge André (1993) (In) Corrêa (2006), "a perversão seria um modo de pensar, uma forma de relação com a fantasia e com a lei".
Para obter o seu intento Julia faz uso de chantagem e todo tipo de artifícios, e é essa adrenalina que a motiva. Ela não tem limites.
4. DIÁLOGOS QUE TIPIFICAM TRÊS INSTANCIAS:
O primeiro diálogo que ocorre entre Kurt, Nick e Dale ocorre em um bar. Todos reconhecem que odeiam seus respectivos empregos e chefes.
Cansados e reconhecendo suas dificuldades em relação aos patrões eles iniciam um diálogo bem interessante onde podemos capturar algumas instancias psíquicas e como elas agem na tomada de decisões.
Analisamos que cada personagem representa uma instancia que juntas formam a personalidade do sujeito. Instancias essas que se localizam no consciente e inconsciente.
Percebemos também como essas instancias dialogam entre si, influenciando as decisões e ações.
4.1. Primeiro diálogo:
Kurt, Nick e Dale cogitam hipoteticamente a possibilidade de matar os chefes.
Respectivamente assim fica nossa tipologia: Kurt (Id), Nick (ego), Dale (superego).
Kurt (o id) desejoso de matar e eliminar o problema sugere:
"- Nossas vidas seriam muito mais fáceis se pudéssemos matar os chefes! "
Nick (o ego) se propõe a ouvir. E Kurt (o id) continua:
"- Vamos ser infelizes para o resto da vida? "
Nick (o ego) responde:
"- Eu deveria matar o meu chefe por ele não ter me permitido ir ao velório da vó Fica? "
No que prontamente Kurt (o id) responde:
"- Eu mataria. A gente imagina matar o chefe e isso alivia a tensão. "
Dale (o superego) prontamente dita:
"- Não. Não importa se os nossos chefes são péssimos. Não somos assassinos! "
Kurt (o id) como voz do inconsciente sussurra:
"- Mas não seria bom se pudéssemos matar os nossos chefes? "
E Dale (o superego) já irritado termina o diálogo:
" - Seria. Vamos a casa da Julia esquarteja-la, coloca-la numa caixa e manda-la para vocês que são dois mafiosos! "
Ao analisarmos esse diálogo percebemos como essas instancias interagem. A princípio Freud apresenta em seus estudos a teoria da personalidade dividida em três instancias psíquicas: A consciência, a pré-consciência e a inconsciência.
Para o estudioso a inconsciência define-se como a instancia onde ficam os conteúdos reprimidos que ora já foram conscientes, ora verdadeiramente inconscientes. O inconsciente é um sistema do aparelho psíquico regido por leis próprias de funcionamento, onde as noções de presente e passado não existem.
A pré-consciência refere-se ao sistema onde permanecem conteúdos ainda acessíveis e que ora não está na consciência, ora podendo estar.
E a consciência é o sistema que recebe as informações do mundo exterior e interior. Ela capta e percebe o mundo exterior recebendo as informações que levam o indivíduo a vivenciar os princípios da realidade.
Essa teoria foi remodeladae os conceitos de id, ego e superego passaram a serem usados para referirem-se aos três sistemas da personalidade.
Como o ego está numa relação de dependência e de mediação entre as reivindicações do Id, os imperativos do Superego e as exigências da realidade, percebemos que Nick tipifica claramente essa relação dialógica. Ele é o primeiro protagonista e fica entre Kurt e Dale.
A ideia de matar o chefe não vem dele e sim de Kurt, o cara mais instintivo e que obedece às pulsões. Ele apenas ouve as sugestões e dialoga com Dale que parece ser sempre contrário as sugestões de Kurt, realizando essa ponte com a realidade, trazendo ao grupo sanidade.
No entanto, após um dia cheio e opressor Dale acaba concordando e cedendo temporariamente à sugestão de Kurt e Nick.
"- Sim, vamos matar nossos chefes! "
Isso prova que apesar do consciente ser essa instancia que traz luz à razão, ela muitas vezes pode ser influenciada pelas forças inconscientes que tem a maior parte dos conteúdos mentais e que agem na atividade mental e no ajustamento do sujeito.
4.2. Em busca de um assassino
Damos uma pequena pausa nos diálogos para verificarmos a reação perante a concretização da ideia.
Os três na verdade não são assassinos e, portanto, vivem os conflitos entre fazer ou não fazer o ilícito. Realizar ou não realizar os desejos primitivos de suas pulsões. Esses questionamentos retratam o medo e a culpa, que é importante para o psiquismo se proteger contra os impulsos inconscientes.
Nessa busca enfiam os pés pelas mãos e é mais uma vez Dale que comete as gafes. Entra na internet para buscar um assassino de aluguel, porém acaba contratando um garoto de programa, vulgo "chuveirinho", que urina em seus clientes.
Não obtendo êxito na primeira procura, partem para um bar de um local perigoso por roubos e furtos. É lá que acabam conhecendo Dean Jones, cujo apelido é mete a mãe.
É aqui que queremos fazer um parêntese interessante.
Dean Jones acaba por ser o mentor dos crimes, ou seja, um consultor de assassinatos. E a sua história faz alusão aos sentimentos incestuosos, visto que o seu apelido se refere a ideia de um incesto.
Ao ser questionado pelos três sobre a razão de seu apelido, Dean explica que um dia ao chegar em casa encontrou a mãe bêbada e pelada e foi logo metendo a mão... na bolsa dela, para pegar a grana. Ficou conhecido como "mete a mãe".
Curioso que é justamente esse cara, Dean, que governa a teoria da conspiração contra os chefes, dando as diretrizes de como proceder.
Aqui está nosso parêntese. Observamos que a teoria edipiana se faz presente no filme, tipificando essa relação que acontece na fase fálica e que forma a sexualidade infantil. Nessa fase desenvolve-se um desejo incestuoso para com a mãe e que tem como rival, o pai.
A superação desse complexo é fundamental, segundo Freud, para o reconhecimento da função paterna e de sua representatividade, como também para a estruturação da personalidade. Quando isso não acontece podem surgir problemas como grande dependência do sexo oposto, submissão ou opressão.
Verificamos que muitas vezes as questões ligadas a sexualidade norteiam inconscientemente as ações individuais.
4.3. Segundo diálogo:
Após os conselhos de Dean Jones, nossos amigos resolvem pôr o plano em ação: Investigar, observar para descobrir falhas e matar os chefes uns dos outros.
Entram na casa de Bobby clandestinamente. Kurt e Nick entram primeiro e depois Dale.Dale faz questão de a todo momento trazer a consciência de que estão fazendo algo errado.
Obedecendo aos seus instintos mais primitivos Kurt passa a escova de dente do chefe na bunda e o fio dental também. Sente satisfação e prazer na vingança.Nick e Dale deixam cair uma caixa de cocaína no chão a acabam por ficar doidos.
Kurt rouba o celular do chefe e todos saem da casa de Bobby.
Já no carro inicia-se o segundo diálogo. Todos estão eufóricos pelos feitos e Kurt (o id) anuncia o roubo do celular. Dale (o superego) começa a criticá-lo falando:
"- Me pede antes de roubar as coisas, você tem que me pedir! ".
Nessa hora Kurt (o id) interpela:
" - Você invadiu uma casa, cheirou cocaína e roubou e quer me dar lição de moral? "
Dale (o superego) responde:
" - Tem razão, três crimes! "
Kurt (o id) rebate:
"- Estamos em processo de matar três pessoas e você vai me dar bronca por um roubo! ".
Os dois se agridem infantilmente, mediados por Nick (o ego).
O que observamos aqui nesse diálogo é a insistência de Dale (o superego) em afirmar: "você tem que me pedir! ". Como se as forças da consciência gritassem ao inconsciente: Não pode sair por aí fazendo o que bem entender! Me consulte, me pergunte se você pode fazer algo! E eu direi o sim ou o não!
4.4. Terceiro diálogo:
Dessa vez Kurt e Nick resolvem deixar Dale de fora como cão de guarda, bem as funções do superego não acham?
Mais uma vez Kurt manifesta suas pulsões ao ver a foto da mulher de Harken. Nick o censura pela distração.
Enquanto isso Dale está distraído e não vê Harken se aproximar! Ao recolher uma sacola de lixo jogada por Dale na rua Harken começa a ter uma reação alérgica a amendoim. Desesperado Dale salva a vida do homem com uma seringa e sente orgulho do seu feito.
O terceiro diálogo inicia-se.
(Nick) "- Espera, o meu chefe que estamos querendo matar está morrendo na sua frente e você salva a vida dele! ".
(Dale) "- Pensando assim parece bem ruim! "
Novamente percebemos como o superego tem papel preponderante nas decisões e apesar de concordar em assassinar, vive às turras com o ego e o id. Mediando os desejos e impulsos com a realidade que se apresenta.
Essa capacidade que temos de "empatia". A necessidade de ajudar e salvar a vida do outro. Nessa hora o que falou mais alto foi o instinto da sobrevivência e preservação.
Bravos com os últimos acontecimentos Nick (ego) e Kurt (id) entram no carro e deixam Dale de fora para confabularem sozinhos.
Risos (Rsrsrs)! Como se fosse possível se livrar do Superego!
4.5. Quarto diálogo:
Chegou a hora de pôr o plano em ação! Já que Harken tem alergia a amendoim decidiram colocar o mesmo em seu xampu e veneno de rato na droga do Bobby.
Na hora H, Dale (superego) não consegue pôr o plano em prática e liga para Nick (ego).
"- Eu não vou conseguir não, eu não sou assassino! ".
"- Vamos cancelar! ".
Nick concorda:
"-Vamos avisar o Kurt! ".
Porém, não dá tempo de nada. Nick vê Harken assassinando Bobby com dois tiros à queima-roupa. Desesperado foge do local e é pego pelo pardal (controlador de velocidades).
4.6. O desfecho Final:
Decidem ir à casa de Harken para gravar a confissão do mesmo. Chegam na casa e surpresa! É a festa surpresa de Harken!
Kurt (o id) já chega fixando seu desejo na mulher de Harken. Os dois somem da festa e das vistas de Nick (o ego) e Dale (superego).
Ao confrontarem Harken esse confessa tudo e ainda os ameaça. Nessa hora percebem a ausência de Kurt (o id).
Kurt estava no banheiro dando uma com a mulher de Harken.
Mais uma vez percebemos as tendências do Id e das forças inconscientes. Que nos arrastam para desejos e tendências que nos tiram da razão consciente. Havia uma objetividade na presença deles na festa e o responsável por gravar a confissão era Kurt, mas na hora H ele falhou. Seguiu seus instintos de cópula cegamente e falhou.
Segundo Freud (In) Gomes (2003) "a qualidade de ser consciente... permanece sendo a única luz que ilumina nosso caminho e nos conduz através da obscuridade da vida mental. "
Kurt (o id) reconhece:
"- Eu não parei para pensar. Ela é gostosa demais. Eu sou fraco... fraco... eu admito! ".
Conclusão
A partir das análises do filme concluímos que a arte em muito encena a vida real e participa de nossas fantasias e desejos que muitas vezes nos são desconhecidos.
Essa relação emblemática que se dá na inconsciência e que aparece muitas vezes na consciência em ações é uma dialética incrível.
Assim como os filmes remontam as cenas de um sonho acordado, também nossas emoções são diante dele manifestas como se de alguma forma pudéssemos apaziguar nossas confusões ou emaranhados de pensamentos que embora desconexos tem o seu sentido real.
A mente humana é uma caixinha de surpresas e apesar de tantas descobertas sobre ela ainda não pode ser totalmente desvendada.
Enquanto caminhamos a passos largos para o futuro, ainda não se descobriu como essa mente se movimenta e como os processamentos duais se estabelecem, mas em Freud encontramos uma boa diretriz.
Consciência e inconsciência se desvelam. Funções psíquicas mostram que na maioria das vezes é assim mesmo que ocorrem os processos mentais.
Analisando as construções humanas da sociedade moderna, verificamos como alguns movimentos não mudam.
Se realmente tudo é movido pelas pulsões sexuais não sabemos, mas que o falotem o seu valor nas construções humanas, isso tem.
Afinal, para a sobrevivência das espécies a premissa básica é a cópula que perpetua. Sem a sexualidade não há como sobreviver enquanto ser vivo ao longo da história. O sexo é premissa básica e durante toda a existência somos preparados para o auge da maturação biológica, ou seja, desde o nascimento a sexualidade está presente como forma de manter e perpetuar as espécies.
Importante lembrarmos que essas necessidades em Freud são chamadas pulsões porque se diferem dos instintos pela relação que esses têm com a mente e como essa mente quer satisfazer essas necessidades, ou seja, há diferentes maneiras de satisfazer um desejo e esse é diferente para cada ser humano.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAPELATTO, IVAN. Por que as fases do desenvolvimento da criança são tão importantes? (In) Vir a Ser - O desenvolvimento da Afetividade. Nº 1. Quarto trimestre. 1998. 9-16.
PAPALIA, Diane E., OLDS, Sally Wendkos. Desenvolvimento Humano. 7 ed. Porto Alegre: Artes Médicas. 2000. P. 250-299.

2 comentários:

  1. Interessante, você gostou do filme? É excelente, sinto que história é boa, mas o que realmente faz a diferença é a participação do ator Jason Bateman neste filme. O último que eu vi foi em um de os melhores filmes de comedia chamado A Noite do Jogo na minha opinião, foi um dos melhores filmes. O ritmo é bom e consegue nos prender desde o princípio, cuida todos os detalhes e como resultado é uma grande produção, um filme que se converteu em um do meus preferidos. Sem dúvida a veria novamente! É uma boa opção para uma tarde de lazer.

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    1. Oi! Só agora vi seu comentário (rsrs). Criei esta página apenas para registros de construções minhas da faculdade. Não vi este filme que você indicou, mas acho que seria interessante assisti-lo. Obrigada pela dica.

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