quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

PSICOLOGIA E MEDIAÇÃO FAMILIAR E OS PROCESSOS GRUPAIS

INTRODUÇÃO
A Presença do serviço de Psicologia no Âmbito jurídico é de suma importância. Presente nos conflitos de separação/divórcio, guarda dos filhos, visitação e pensão alimentícia. Nota-se que ao analisar, a família em um mundo de relações afetivas, o profissional se dedica ao atendimento psicológico, avaliando esse complexo relacional.
O Trabalho do psicólogo no âmbito jurídico, está voltado para o sujeito e sua totalidade. Através da busca das ações no âmbito judiciário, buscando abordar as situações jurídicas em sua integralidade, ou seja, recitando as pessoas envolvidas nos processos jurídicos a posição central do litígio. O fazer de ter sentimentos acolhidos.
A atualidade mostra uma maior demanda que chega para o serviço de psicologia em um núcleo de assistência jurídica, é a procura de mulheres/mães, com a busca por resoluções de conflitos familiares. Se destaca a busca por reivindicações de pensões alimentícias. No entanto sendo o pedido inicial, pode abrir possibilidades para tratar de outros temas que envolvem as relações familiares, como a guarda e a visitação.
Pode se inferir que a mediação familiar tem se mostrado uma prática eficaz na dissolução de conflitos, principalmente quando pensamos na homologação da totalidade dos acordos realizados por meio desta técnica. Os pais envolvidos podem ter ampliado suas possiblidades de atenção em relação aos filhos conseguindo dialogar sobre eles. Ou seja, aceitando o lugar do outro na relação com a prole.
A mediação tem se destacado como uma intervenção capaz de resolver conflitos de forma diferenciada nos dias de hoje. É, portanto, permitir que as partes em conflitos resgatem a responsabilidade por suas próprias escolhas. A mediação familiar é portanto, um acompanhamento das partes na gestão de seus conflitos, para que tomem uma decisão ponderada e eficaz, levando em conta o interesse da criança.
· PERSPECTIVA HISTÓRICA
As culturas judaicas, cristãs, islâmicas e budistas são exemplo das antigas raízes filosóficas da mediação. Alguns casos relatados nos comércios da Grécia Antiga e logo depois na civilização romana trazem nomes como médium, intercessor e philantropus para hoje, denominado mediador.
Na época, o treinamento dos mediadores era informal e exerciam com base em diferentes funções e deveres. A mediação tornou-se institucionalizada a partir do século XX, junto com o reconhecimento da profissão, mas não houve mudança na forma de solucionar os conflitos. A sociedade contemporânea busca, em cima de cada necessidade e práticas culturais, adequá-la a instituição ocorrendo mudanças no modelo de gestão de cada conflito com base nas referências sociais e culturais. No Japão, os tribunais de família exigem qualificação técnica para cada função, admitindo outros especialistas para o auxílio necessário.
O surgimento da mediação no ocidente surgiu no final do século XX através de dois movimentos simultâneos. Um deles foi associado para ajudar divorciados, o 'Parents for ever", destacando a fundação do serviço independente de mediação familiar voltada para a guarda e visitas das crianças. Surgiu em outros lugares com outras diferentes finalidades como pacificar conflitos da comunidade, por exemplo.
Foi se diversificando ao passar das décadas pelo reconhecimento crescente dos direitos humanos e ganhando qualificação, rapidez e eficiência, aumentando a necessidade de transformação.
A mediação está em crescente desenvolvimento e destaque nos fenômenos mundiais. No Brasil, desenvolveu-se há pouco mais de 20 anos nas esferas trabalhistas, comerciais e empresariais. Na década de 90 aumentou o interesse na mediação familiar, que hoje vem crescendo principalmente junto as Instâncias Judiciais, sem uniformidade as práticas adotadas.
· DEFINIÇÃO
A mediação familiar, juridicamente falando, é uma técnica utilizada para resolução de conflitos conjugais e familiares, advindos do rompimento conjugal; funciona como um método na perspectiva de transformação a partir do conflito posto. Embora esse método seja inovador dentro do nosso cenário brasileiro, ele tem suas origens na civilização chinesa, trata-se de um tema antigo, mas sobre uma nova forma.
Locais de atendimento e Usuários do serviço
Os locais de atendimento são dentro das comarcas dos tribunais judiciários espalhados por todo o país, dentro delas funciona o Serviço de Mediação Familiar (SMF) que realiza este processo de acordo com as demandas municipais e estaduais sob responsabilidade da comarca. Também funcionam em Serviços de Psicologia juntos aos Núcleos de Assistência Judiciária espalhados pelas universidades nacionais.
O perfil dos usuários é diverso, são pessoas de ambos os sexos de qualquer classe social, faixa etária, grau de escolaridade, situação civil e ocupação. Um estudo feito no SMF de Florianópolis/SC, apresenta alguns dados referentes aos perfis dos usuários: 71% das pessoas que procuram o serviço na triagem são do sexo feminino; 47% correspondem a faixa etária entre 20 e 30 anos de idade; 66 % dos usuários estão desempregados; 32% desejam resolver a questão da pensão alimentícia; 55% possuem apenas um filho; 42 % tem o ensino fundamental incompleto e 41% tem renda fixa de dois salários mínimos.
Contexto para aplicação da Mediação Familiar
O contexto jurídico para resolução de conflitos familiares é palco para aplicação da mediação familiar, em que não se vale de uma disputa entre partes, mas de uma conciliação entre elas diante de um problema pertinente. Os rompimentos conjugais muitas vezes ocorrem de forma traumática para ambas as partes e para os filhos, por esse motivo, os psicólogos exercem papel fundamental de mediador dentro destes cenários, uma vez que possibilita uma resolução menos prejudicial a todos.
Os Motivos da procura
A procura normalmente é feita apenas por uma das partes envolvidas no conflito, e a outra parte é notificada a comparecer às audiências dentro do serviço. Os motivos são os mais diversos, em um trabalho de extensão apresentado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Santa Maria/RS cita-se os seguintes: queixas relacionadas à guarda em 5% dos casos, à visitação dos filhos em 22%, bem como à separação e dissolução de união estável em 17% dos casos. Contudo, a maior demanda apresentada pelos usuários relaciona-se a questões de pensão alimentícia, totalizando 44%. Outros motivos são apresentados pelo SMF de Florianópolis: dissoluções de sociedade de fato (37%), separações de direito (26%), alimentos (14%), divórcios diretos (20%) e guarda, modificação de guarda e visitas (3%).
· O Psicólogo Mediador
Equipe multidisciplinar
Existe no estado de Santa Catarina o serviço de mediação familiar que foi elaborado pelo Tribunal de Justiça do próprio estado e tem sido empregado em diversas comarcas deste.
O objetivo deste projeto é um meio alternativo para a solução de conflitos e visa aliviar a via judicial com ações que podem ser resolvidas de modo consensual, para proporcionar um atendimento interdisciplinar, com mediadores treinados, sendo eles: psicólogos, advogados e assistentes social.
Ele atende pessoas de baixa renda que não conseguem pagar um advogado para solucionarem seus conflitos, dentre eles: divórcio, guarda de menores, regulamentação de visitas e investigação de paternidade.
O projeto tem um caráter pedagógico, pois, procura a mudança de comportamentos de uma sociedade acostumada com o modelo judicial como meio de resolver os problemas. A maioria das mediações ocorrem em casos extrajudiciais, mas o juiz também pode encaminhar as partes ao projeto de mediação antes ou depois da audiência de conciliação.
Assim, o projeto é uma medida que pretende solucionar os problemas ao acesso judiciário, pois a solução é resolver os conflitos familiares sem a necessidade de uma ação judicial formal.
Tipos de Mediação
A mediação é fortalecida quando há um terceiro como mediador em uma conversa, e isto propõe um sistema de orientações que possui duas definições do problema e papel do mediador.
Dentro da definição do problema existem dois estilos: o restrito e o amplo. No restrito são abrangidos poucos aspectos do problema e é limitado o alcance das informações para que o procedimento se mantenha de forma simples. Já o estilo amplo, é voltado para problemas complexos, focalizando nos interesses, nos aspectos pessoais e relacionais. A principal meta de mediação é dar ao participante a oportunidade de aprender e/ou de mudar.
Robert Bush e Joseph Folger foram os criadores do modelo de "mediação transformativa", onde o conflitante é mais privilegiado do que o próprio conflito. Sua proposta é auxiliar as pessoas a conhecerem si mesma. Os principais focos no processo de mediação é a autonomia e o protagonismo.
Existe também um modelo desenvolvido pela Universidade de Harvard que priorizaram a negociação através de princípios e seu método é baseado em diferenciar as pessoas dos problemas, focar nos objetivos comuns e não nas oposições. Este modelo foi adaptado por Marodin e Haynes para a mediação em divórcios, apontando que um terapeuta pode ser o melhor mediador nesses casos de conflitos familiares, através da entrevista separada com cada uma das partes, fazendo reduzir os bloqueios emocionais, resolvendo os temas mais conflitantes.
Outra que desenvolveu um modelo de mediação para divórcio foi Kaslow. Ela enfatiza a defasagem temporal entre o divórcio processual e o divórcio emocional. Para ela, a intervenção terapêutica é de suma importância, tanto em relação ao casal, como em relação às crianças, porém, o ambiente precisa ser favorável e o profissional necessita ser capaz em atender este tipo de demanda. Ela ressalta ainda que o casal estará melhor preparado para a mediação caso untem algumas características como: inteligência, autoestima, etc.
Outros autores definem somente dois tipos de mediação: o "task-oriented" e o "socioemocional", este último conhecido como "humanística". O primeiro tipo de mediação é baseado na pressão efetuada pelo mediador sobre as partes interessadas, já o segundo tipo de mediação é baseado na ampliação do foco do conflito para as questões subjacentes.
Também existe o modelo circular narrativo de Cobb (1995) e de Seares (2002). Neste modelo, procura-se informações sobre o processo de disputa e seu objetivo. Aqui a linguagem adquire maior importância como ferramenta de trabalho, sendo as perguntas uma ferramenta crucial para reflexão e transformação dos significados.
Apesar de inúmeros tipos de mediação, algumas orientações são comuns, porém, cada mediação é única, pois está ligado ao diálogo e aos processos emergentes do sujeito, não existindo assim, receitas para o manejo do conflito. As características da mediação dependerão da orientação do mediador, do contexto em que esta mediação acontece, dentre outros.
O Papel do Mediador
No contesto jurídico, é necessário que o mediador reflita seu posicionamento, invista em uma boa formação e pense suas estratégias de trabalho, para que esta seja mais humana e social.
A função do mediador pode varia, podendo ser mais de caráter avaliativo, remetendo mais a um perfil autoritário e jurídico, ou, facilitador como uma ideia mais voltada ao entendimento das partes envolvidas no sistema, sendo mais sensível e compassivo. É importante que o profissional sabia a diferença entre esses perfis para poder ajuizar seu direcionamento no trabalho.
O medidor na teoria é voltado para o "facilitador", recebendo até um nome que remeta seu trabalho. De acordo com o Dicionário Online de Português, mediador é definido como o "indivíduo que medeia, que intervém, que é responsável por acordos ou pela conciliação entre as partes conflitante", assim, ele deve repensar suas práticas para ser um mediador e conciliador e não mais uma figura de coerção.
De acordo com pesquisas norte-americanas, observaram a variação entre dois estilos o terapêutico e a barganha. O primeiro está ligado a expressões de sentimento, atuando no desenvolvimento mútuo das partes envolvidas manejando as relações interpessoais. Já o segundo revela uma atitude de autoridade e menor comunicação entre as partes.
A inclusão do psicólogo como mediador está sendo muito estudada e discutida na Psicologia. Está sendo colocada como subárea da psicologia jurídica. Sendo um profissional que presa pelos direitos humanos e valoriza cada indivíduo como único, está perdendo o foco primordial de sua formação já que acaba, trabalhos mostraram que há uma "tendência a mediações restritas ao poder público" (Alfini apoud Riskin 1996). Verificamos que o psicólogo está mais voltado ao judiciário, do que com os indivíduos que estão envolvidos.
A identidade do mediador embora está sendo ligado a magistratura, julgamento e pode, deveria ser totalmente ao contrário para criar uma identidade próprio, para não ficar a sobra do juiz, promotor, etc. Concluímos então que o mediador deve ter seu trabalho a serviço do social mesmo que serva o judicial, deve também ser flexível, aberto a novas práticas e ideias, utilizar do dialogar e a integração.
O Mediador Criativo
A criatividade é uma construção de marcos interpretativos, necessária para um bom trabalho do mediador, e "estará a serviço do homem em sua tendência a concretizar suas potencialidades" (May, 1976, apuod, Pligher, 2007). Através da criatividade o mediador pode mudar o foco de visão com relação ao problema, de crise passar a terem um olhar mais positivo, como também redefinir conceitos e interpretações a respeito do conflito.
Ao ouvir a todos da família o mediador auxiliara a fazer uma co-criação, de afeto, cognitivo e de ação. Desenvolvendo a flexibilização frente ao conflito, "nesse processo tanto os mediadores como os mediandos trabalham criativamente - combinando possibilidades, redefinindo problemas, reinterpretando-os e expandindo suas práticas" (Pligher, 2007).
Neste procedimento é importante que o mediador tenha uma linguagem fácil e explicativa, para que as pessoas com quem ele está lidando entenda-o e compreenda-o. Como também deve ter um escuta ativa e uma "atenção flutuante", de modo que consiga entender mais a fundo o que cada pessoa relata.
O humor é uma ferramenta de grande utilidade, através dela as pessoas relaxam, alivia, reconfiguram e reduz o desgaste de situações de grande tensão.
Dessa forma o mediador redefinira o problema e junto as pessoas envolvidas criaram estratégia de resolução do conflito de maneira mais harmônica, diminuindo a tensão e o desgaste.
· Psicodrama: Vivência e Mediação
O Psicodrama surge como uma abordagem sócio-psicoterápica, pois nasce de um interesse de Jacob Levy Moreno pelas relações sociais e pela arte. Segundo Marra (2004):
O homem é visto por Moreno como um ser essencialmente social, um homem em relação. Co-criador do universo, uma centelha divina, agente de sua história e construtor de seu drama na convivência de seu átomo social. Concebe o homem (...) em sua dupla dimensão: individual e relacional. No nível individual, a espontaneidade é o núcleo antropológico. No nível relacional, cria um conceito de grupo - sujeito que se nutre da "tele estrutura" (força inter-relacional, cimento que mantém os grupos unidos). Esse homem, simultaneamente individual e grupal, atua por meio do "eu tangível", ou seja, do papel. A personalidade manifesta-se na conduta por intermédio dos papéis que definem o homem. Com base na observação do desempenho de papéis dos atores espontâneos em situação, Moreno preconiza o treinamento da espontaneidade. (MARRA, 2004, p. 40).
Situa-se na interface entre a arte e a ciência e é definido como o método que estuda as verdades existenciais através da ação, pois no grego o termo "drama" significa "ação".
Foi uma reação aos métodos individualistas e racionalistas predominantes e privilegiou o estudo do homem em relação, como um ser biopsicossocial e cósmico.
Segundo Gonçalves (1988) as bases filosóficas do psicodrama encontramos na filosofia existencial-fenomenológica, pois Moreno recebeu influência de Henri Bérgson, Martin Buber, E. Husserl e F. Nietzsche, entre outros.
Vida e Obra
Nasceu em 06/05/1889 na Cidade de Bucarest na Romênia. Era judeu. Aos 5 (cinco) anos brincou de ser "deus" com amigos "anjos". Ao pedirem que esse voasse, assim o fez, o resultado foi a fratura de seu braço direito. Moreno, segundo Gonçalves (1988), afirma esse episódio ser o embrião de sua teoria da espontaneidade e as centelhas divinas em nós.
No início da Faculdade de Medicina reunia crianças formando grupos de brincadeiras de improvisação. Depois trabalhou com um grupo de prostitutas, utilizando técnicas grupais. Em 1921, fundou o Teatro Vienense da Espontaneidade, onde começou a formar suas idéias da Psicoterapia de Grupo e do Psicodrama.
O grande ato público de Moreno, foi no Teatro Komödien Haus. Ao se abrir a cortina, havia uma coroa numa cadeira de veludo, espaldar alto e dourado, como um trono real. O tema utilizado por ele, era a busca de uma nova ordem de coisas, buscando no público os que tivessem espírito de liderança, sendo o rei por algum momento no qual o júri seria o resto da platéia.
Quando lançou o "Jornal Vivo", onde as pessoas a partir das notícias de jornais locais realizavam uma dramatização, criou a raiz do Sociodrama. Transformou os atores profissionais fiéis ao seu trabalho em "egos-auxiliares". Assim, Moreno vai desenvolvendo seu trabalho, transformando o Teatro da Espontaneidade em Teatro Terapêutico e este no Psicodrama Terapêutico.
Em 1925 foi morar nos EUA onde desenvolveu e sistematizou suas descobertas: a socionomia. Esta teoria de estudo se divide em sociometria, sociodinâmica e a sociatria. Socionomia é composta pelo estudo do grupo e suas relações. Sociometria pretende medir as relações entre os membros do grupo, evidenciando as preferências e evitações presentes nas relações grupais. Moreno desenvolveu o teste sociométrico com objetivo de mensurar e visualizar as relações existentes em um grupo. A sociodinâmica busca entender a dinâmica do grupo. Sociatria trata as relações grupais utilizando três métodos: o Sociodrama, a Psicoterapia de grupo e o famoso Psicodrama.
Gonçalves (1988) apresenta, em seu capítulo três, quatro elementos criativos em Moreno, assim; denominados na tabela abaixo:
Morre em 14 de maio de 1974, com 85 anos, pedindo para gravar em sua sepultura: "Aqui jaz aquele que abriu as portas da psiquiatria à alegria."
Fundamentos Teóricos
Psicodrama é uma psicoterapia de grupo, em que a representação dramática é usada como ferramenta para explorar a psique humana e seus vínculos emocionais.
Utiliza como pontos básicos de sua teoria o conceito de espontaneidade-criatividade, a teoria dos papéis, a psicoterapia grupal.
A ação dramática permite insights profundos por parte do protagonista e do grupo, a respeito do significado dos papéis assumidos.
Para Moreno, toda ação é interação por meio de papéis.
Espontaneidade: capacidade de agir de forma natural, congruente com o momento e criativa. Tele: percepção e comunicação objetiva das situações e das relações entre as pessoas.
Empatia: capacidade de se colocar no lugar do outro em determinada situação.
Co-inconsciente: fantasias, vivências e sentimentos comuns a duas ou mais pessoas no grupo.
Matriz de identidade: características pessoais que se constituem a partir das vivências das primeiras relações. Esta possui três etapas de formação que vão auxiliá-lo a criar as técnicas dramáticas.
Fases técnicas/dramáticas
Indiferenciação Eu-Tu: como quando a criança precisa que alguém faça algo por ela, porque ela ainda não consegue fazer. Esta é a técnica do duplo.
Reconhecimento do Eu-Tu: como quando a criança se olha no espelho e não se reconhece através da imagem. Esta é a técnica do espelho.
Reconhecimento do Eu: é quando ocorre a tomada do papel do outro havendo a inversão de papéis. Esta é a técnica da inversão de papéis.
Metodologia Psicodramática
Dividimos o Psicodrama em três etapas: aquecimento (inespecífico e específico), dramatização e compartilhamento.
Aquecimento: Aquecimento inespecífico: iniciadores físicos, mentais, sociais e expressivos.
Servem para auxiliar o surgimento do tema emergente do grupo.
Aquecimento específico: delimitar a forma de trabalho com o tema emergente.
Dramatização: etapa onde o grupo participa terapeuticamente compartilhando seus sentimentos e vivências.
Compartilhamento: etapa indispensável para que as pessoas compartilhem o que foi vivido no grupo.
Elementos da dramatização
Cenário: espaço onde acontece a produção e nele podem-se representar fatos simples da vida cotidiana, sonhos, delírios, alucinações.
Protagonista: o protagonista pode ser um indivíduo, uma dupla ou um grupo. É aquele que no Psicodrama protagoniza seu próprio drama, representando a si mesmo e seus personagens.
Diretor: é o terapeuta que dirige o grupo ou a cena, orientando a encenação e sugerindo determinados papéis, guiando o protagonista para chegar à cena com espontaneidade.
Público: é o grupo terapêutico.
A Nossa Arte em Ação
Resolvemos utilizar do Psicodrama por entendermos que esse se encaixa como uma ferramenta a mais nas mediações de conflitos familiares. Também escolhemos essa técnica porque entendemos subsidiados por Moreno que ao praticar a arte do espelho em técnica podemos refletir no outro nossas ações e reações podendo nos perceber engessados libertando nossa espontaneidade. Esta técnica do espelho consiste em o terapeuta ou os egos auxiliares se colocarem na postura física que o paciente assume em determinado momento da dramatização, com o objetivo de que o paciente, olhando para si de fora da cena, perceba com todos os aspectos presentes nela. É um recurso útil para o fim de dramatizações, pois é uma das técnicas que melhor favorece o insight.
O gráfico abaixo expõe de forma simples essa explanação:
Figura 1 (extraída de KHOURI, 1996, p. 3)
Outro fator que nos levou a escolher o Psicodrama para o trabalho mediador dos conflitos familiares está intimamente ligado ao jogo de papéis na técnica do esquema de papéis, onde há uma exploração de acontecimentos que o indivíduo vive no cotidiano. Representando esse papel a pedido do terapeuta ele poderá ser o protagonista de sua história sendo mediado pelo terapeuta.
· Dinâmica
Aquecimento
O grupo deve retirar os sapatos, caminhar descalça pela sala explorando o ambiente mantendo distância de seus colegas. Aos poucos devem ir se aproximando a meia distância até que quase encostem uns nos outros. Ao sinal dos egos auxiliares deverão parar de frente um pro outro e por um tempo olharem no olho da pessoa mais próxima. Sem desviar o olhar devem ir se afastando devagar até a distância inicial. Todos devem sentar em círculo.
O Teatro Personagens: Um casal
Situação conflituosa: Estão no Tribunal de Justiça na vara da Família para processo consensual entre casal por pensão alimentícia.

Emanuel (42 anos):
Pai de três filhos, separado, vivendo com outra mulher, está ausente de sua casa em obrigações paternas, faz promessas e não cumpre. Diz estar desempregado e sem condições para pagar a pensão alimentícia de seus três filhos de 15, 13 e 9 anos respectivamente. Vivendo uma situação não amistosa com a ex-esposa devido às marcas da traição e do abandono do lar.
Brenda (36 anos):
Mãe de três filhos, separada, sozinha, presente na vida dos filhos e trabalhando muito. Intérprete de Libras e Pedagoga. Foi criada pela mãe que foi pai e mãe dela e de sua irmã. Sente-se ressentida pelo abandono e a descoberta de que o ex-marido não era tudo que imaginava. Extremamente irada com a postura do "ex" que parece ter se separado dos filhos também e não paga a pensão. Está muito chateada porque esse ano seu marido foi a escola dos filhos e prometeu passar o dia dos pais com eles, porém não apareceu.
"Atenção pra você que só ejaculou, mas não cuidou, não confunda dia do Orgasmo com Dia dos Pais".
A Dramatização
No meio do círculo inicia-se um diálogo espontâneo entre o casal sobre o porquê estão ali, para que; e os motivos que os levaram até ali? A conversa deve começar calma e ir se avolumando conforme os assuntos conflituosos surjam. Em determinado momento como ato livre os atores devem interagir com os colegas num desabafo e pedir a opinião acerca de seus conflitos. Num 1º momento pela Brenda e num segundo momento pelo Emanuel. O terapeuta (Dâmaris) entrará e tirará de cena a Brenda colocando um Ego Auxiliar (Barbara) em seu lugar. E essa continuará a discussão. Após um tempo (Dâmaris) tirará o Emanuel de cena inserindo um ego auxiliar (Vinícius) no seu lugar e esse deverá dar sequência à cena.
O Compartilhamento
Todos entrarão no círculo e escolheremos alguns para falaram do que sentiram ou viveram na história, bem como de suas emoções e ou resgates dolorosos pessoais, de algum conhecido, amigo, etc.
Caxangá, como uma forma lúdica; pode ser cantada e com suas garrafinhas de água os colegas participarão do jogo. Uma das garrafas estará marcada. Na mão de quem essa garrafa parar estará a bola da vez para falar. A liberdade para entrar no meio e falar ao público também estará disponibilizada

Conclusão
Entendendo a mediação como instrumento que pode promover o desenvolvimento da autonomia de indivíduos, a partir da premissa de que os sujeitos, na maioria das vezes, são capazes de se autodeterminarem na resolução de problemas, a busca por conscientização.
Desta forma contribuir para efetivamente para a pacificação social e o desenvolvimento do ser humano. Tais fatores poderão fazer a diferença entre uma política voltada para os interesses da classe dominantes ou para a promoção de espaços de diálogo, cidadania, transformação social e promoção da paz.
A pensão alimentícia podendo gerar conflitos internos, até mesmo em relação a guarda da criança, sem dúvidas é necessário a mediação, pois, em uma sociedade marcada pela intolerância, pela violência individual e coletiva, torna-se cada vez mais necessário a criação de novas formas de comunicação e de relacionamento. Reconhecendo a importância da psicologia no estudo do conflito inter-relaciona, especialmente pela necessidade de escuta do sujeito para além de seu discurso manifesto, amplia-se a possibilidade de uma melhor intervenção no conflito e o desenvolvimento de estratégias e modelos de comunicação que viabilizem a construção do consenso.

Referência Bibliográfica
MÜLLER, Fernanda Graudenz; Beiras, Adriano; Cruz, Roberto Moraes. O trabalho do psicólogo na mediação de conflitos familiares: reflexões com base na experiência do serviço de mediação familiar em Santa Catarina. Aletheia, n.26, p.196-209, jul./dez. 2007.
PLIGHER, S. A. (2007). Mediação de Conflitos Familiares e Criatividade: Um Estudo a partir do perfil do Mediador. Dissertação de Mestrado. Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Campinas, p. 25-29.
Dicionário Online de Português. Acesso em: 19/11/2017. Disponível em: https://www.dicio.com.br/mediador/.
MARRA, Marlene M. O agente social que transforma - O sociodrama na organização de grupos. São Paulo: Ágora, 2004.
KHOURI, G. S. Desenvolvimento de papéis nas organizações: "Do sociodrama tematizado ao role-playing" apud KHOURI, G. S. Desenvolvimento de papéis nas organizações. Disponível em: <http://www.asbap.com.br/producao /psicodrama_org.pdf>, Acesso em: 18 nov. 2017

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