quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

PSICO-ONCOLOGIA: O PACIENTE E O PSICÓLOGO HOSPITALAR :RESENHA

Dâmaris Alcídia da Costa Melgaço *
CHRISTO, Zuriel Mello de; TRAESEL, Elisete Soares. Aspectos Psicológicos do Paciente Oncológico e a atuação da Psico-Oncologia no Hospital. Disc. Scientia. Série: Ciências Humanas, S. Maria, v. 10, n. 1, p. 75-87, 2009.
Christo e Traesel (2009), acadêmica e orientadora do Curso de psicologia da UNIFRA, discorrem sobre a experiência do estágio em Psicologia Hospitalar na subárea da Oncologia e discutem o adoecimento e aspectos psicológicos que envolvem pacientes e sua subjetividade. Para tanto as autoras, a partir de uma pesquisa qualitativa, elaboraram Diários de Campo que foram analisados seguindo um viés exploratório e de história de vida. Durante as análises buscaram dar voz aos pacientes com câncer respeitando suas vivências e subjetividades não apenas lançando o olhar sobre eles, mas parando para escutá-los. A partir dessa escuta verificou-se que a maior parte dos pacientes oncológicos possuíam sonhos e expectativas em relação à vida até mesmo os mais idosos expressaram seus desejos de viver e voltar pra casa. Como foi o caso de uma das pacientes de 88 (oitenta e oito anos): "- Quero muito viver, ir para a minha casinha, cuidar da minha horta, esperar meus filhos para o domingo. Rezo e peço a Deus que me cure." (CHRISTO, TRAESEL, 2009, p. 80). No texto, as autoras apresentam os processos de adoecimento e como acontecem, fazendo uma retrospectiva breve da doença.
Além disso, escrevem sobre a importância da escuta psicológica atentando para o fato de que indivíduos acometidos pela doença, em específico, o câncer, enfrentam conflitos internos como dor, perda e luto. Silva (2009) apud Christo e Traesel (2009, p.78) afirma que "o câncer ainda hoje é uma doença estigmatizada, carregada de negativismo, associada a uma sentença de morte, relacionada a sentimentos bons e ruins." Segundo Laurell (1982, p. 2-3) de um extremo temos o conceito de saúde e como esse é definido socialmente e; de outro, a doença propriamente dita em seu estado biológico, onde; não interessa o conceito pensado sobre a mesma. Para a autora "é necessário, então, comprovar o caráter social de ambas." Na pesquisa de Christo e Traesel (2009) verifica-se essa necessidade, pois as pesquisadoras procuram através dela apresentar as implicações sociais das relações subjetivas e pessoais de cada sujeito e como essa afeta socialmente os entrevistados. Christo e Traesel (2009), então, teorizam que todos os aspectos da vida desses pacientes devem ser considerados, haja vista que essa área visa o atendimento integral dos sujeitos. Concluindo, as pesquisadoras consideram no âmbito hospitalar, em específico os pacientes oncológicos, que é de suma importância que a psicologia e a medicina trabalhem juntas e integradas. Destacam a importância das equipes interdisciplinares, pois o paciente com câncer carece ser atendido numa totalidade que envolve aspectos físicos, psicológicos e sociais. Castro e Bornholdt (2004, p. 51) afirmam:
Para que o psicólogo esteja capacitado a trabalhar em saúde, é imprescindível refletir se sua formação lhe dá as bases necessárias para essa prática. A aprendizagem não deve ser só teórica e técnica, pois o psicólogo tem que ser comprometido socialmente, estar preparado para lidar com os problemas de saúde de sua região e ter condições de atuar em equipe com outros profissionais. (CASTRO e BORNHOLDT, 2004, p. 51)
As autoras Christo e Traesel (2009), através dessa pesquisa voltada à prática dos estágios no Hospital e na área específica "Oncologia", demonstram que realmente a inserção do graduando "in lócus" é imprescindível para a formação profissional, visto que é na realidade investigativa e radical que o profissional internaliza as teorias e pode assim relacioná-las a prática. Dessa forma a aprendizagem não se resume a teoria e a técnica, mas também se apropria do mundo e da realidade social em que determinada profissão está inserida. Essa idéia é reforçada por Spink (2003, p.30) quando em sua análise histórica afirma que a psicologia chegou devagar e pequena, mas buscando objetivar seu espaço de atuação e sua contribuição teórica que integraria o biológico, social e psicológico, lançando fora a ênfase num ser abstrato e sem história. Dessa forma entendemos que hoje a psicologia enquanto profissão é uma atividade que precisa dar lugar ao ator social. Spink (1996, p. 11) enfatiza que:
Ao reconfigurar a psicologia do trabalho enquanto ação processual a partir da psicologia social do fenômeno organizativo abre-se a opção de reassumir a intervenção investigativa da pesquisa-ação como base para um diálogo que apóia a agência do outro na alteração de práticas e formas de agir. (SPINK, 1996, p. 11)
Portanto para as autoras, Christo e Traesel (2009), o atendimento deve se voltar para a pessoa com câncer a fim de trazer a luz, diariamente, sua perspectiva de vida, enquanto ser presente no mundo, independentemente de todos os procedimentos técnicos que envolvem o paciente e o tratamento da doença. Christo e Traesel (2009) deixam, finalmente, a informação de que entendem ser importante a continuação dos estudos referentes à temática explorada em estudos mais aprofundados como pós-graduação. Explicitam que devido às limitações e especificidades do contexto dos estágios finais das graduações os aprofundamentos necessários ficaram limitados. Essa informação corrobora com os autores Castro e Bornholdt (2004) e também Spink (1996) que dão ênfase a importância da pesquisa-ação e da formação reflexiva e prática, enquanto base para uma práxis que seja de fato investigativa e transformadora, além de produtora de novas culturas. Embora a pesquisa de Christo e Traesel (2009) tenha um enfoque psicanalítico e não aborde propriamente as questões sociais que levaram as pessoas à situação de adoecimento, o trabalho é considerável na medida em que apresenta a importância do psicólogo dentro da instituição e do trabalho conjunto a outros profissionais e o grande valor desse profissional na escuta dos pacientes adoecidos.
Afinal, essa escuta é uma forma de entender o indivíduo como um ser histórico-cultural, ou seja, alguém que tem uma vivencia diferenciada de todas as outras, com sonhos, projetos e também realizações. Pessoa essa que carrega dentro de si medos, anseios e desejos e que possui representações pessoais e sociais diferenciadas. O psicólogo hospitalar dessa forma pode contribuir ouvindo e direcionando seu paciente a reflexão do porque sente o que sente. Abrindo janelas de esperança não só para o outro, mas também para si mesmo.
REFERÊNCIAS:
CASTRO, Elisa Kern de; BORNHOLDT, Ellen . Psicologia da Saúde x Psicologia Hospitalar: Definições e Possibilidades de Inserção Profissional. PSICOLOGIA: CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2004, 24 (3), p. 48-57. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pcp/v24n3/v24n3a07.pdf>.
LAURELL, Asa Cristina A saúde-doença como processo social. Revista Latinoamericana de Salud, México, 2, 1982, pp. 7-25. Trad. E. D. Nunes. Disponível em: <file:///C:/Users/Cliente/Downloads/saudedoenca%20(3).pdf.>
SPINK, M. J. Psicologia social e saúde: práticas, saberes e sentidos. Petrópolis: Vozes, 2003.
SPINK, P. K. Organização como fenômeno psicossocial: notas para uma redefinição da psicologia do trabalho. Psicologia e Sociedade: 8(1): 174-192, jan./jun., 1996. Disponível em: <http://gvpesquisa.fgv.br/sites/gvpesquisa.fgv.br/files/arquivos/spink- a_organizacao como_fenomeno_psicossocial.pdf>.


_______________________ * Aluna da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, campus de Paranaíba, cursando Psicologia no curso de Graduação do CPAR.

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