sexta-feira, 13 de abril de 2018

Documentário Babies (2010)


TEXTO REF.: A Periodização do desenvolvimento psicológico individual na perspectiva de Leontiev, Elkonin e Vigotski.

QUESTÃO 1 – Quais são os determinantes, ou variáveis mediadoras do desenvolvimento humano que aparecem no filme?

QUESTÃO 2 – Quais são as atividades e instrumentos que mediam o desenvolvimento biológico e quais são as atividades que mediam o desenvolvimento psicológico dos bebês?


A partir do documentário pudemos ver que as crianças nascem como se fossem um papel em branco. Todas nascem sem conhecimento do que é perigo, sem saber andar e falar, se comunicam como conseguem que é através do choro. 

Sabemos que o que diferencia cada criança é a cultura, ela é um forte determinante que interfere no preenchimento do seu Eu. Enquanto as crianças da África são amamentadas pelas mulheres da tribo e vivem de maneira mais livre, as crianças americanas são amamentadas por mamadeiras e criadas em ambientes mais fechados. 

A cultura e o modo da criação interferem em diversos aspectos. As crianças da África por serem criadas de forma mais simples, em contato com a terra, demonstram ter uma maior resistência a diversas coisas como exemplo, uma boa saúde; andam um pouco antes que as crianças americanas por exemplo. 

Outra variável é a personalidade, que seria a mistura da sociedade e do seu próprio EU, e isso que mostra a diferença de cada criança de uma mesma cultura. Parecem ser iguais no modo de agir, mas existe uma individualidade, que mostra vários comportamentos. 

O filme apresenta uma série de situações diferenciadas, mas que possuem alguns pontos em comum. Apesar das diferenças culturais e estilos de vida de cada comunidade algumas premissas básicas e humanas se mantêm. Premissas que são do ponto biológico similares em todo o mundo. Percebemos que apesar da diversidade cultural o ser humano constituído enquanto instancia psíquica superior necessita dos instrumentos elementares como os primeiros cuidados extrínsecos. 

Em todas as culturas observadas houve uma preocupação com o cuidado pré-natal e pós-natal de manter dignamente a vida (proteção) das crianças e uma manutenção que é afetiva, emocional e física. As diferenças não extinguem os cuidados básicos que cada criança necessita o que é bem observável. 

Observando os estágios de Elkonin (1987) onde ele institui um caráter periódico, podemos observar que o filme retrata a Primeira Infância, aonde a comunicação verbal dos bebês e as atividades objetais manipuladoras se dão através dos processos de assimilação. 

No filme ficam bem claras essas instâncias psíquicas quando os bebês fazem uso de situações para intencionalmente controlar as situações implicando de certa forma punição ao outro, como as que acontecem com Bayer da Mongólia que ao ser incomodado pelo irmão chora pedindo atenção dos cuidadores. De alguma maneira ele manipula a situação para chamar a atenção e vitimizar-se e consequentemente ver o irmão punido. Outro exemplo dessa relação de poder está na menina Mari do Japão que também se utiliza do choro como forma de chamar atenção para si diante das dificuldades apresentadas no dia a dia. Hattie dos Estados Unidos utiliza-se da fala para impor e manipular as situações. Faz uso de suas capacidades para se impor ou negar imposições dos cuidadores. 

Em todos os casos os mediadores estão constituídos na materialidade que se apresenta das relações pessoais e ideias culturais, ou seja, na forma de se relacionar dos adultos e da composição da sociedade (urbana ou rural). Podemos inferir que essa constituição psíquica a princípio é na verdade uma reprodução da cultura adulta e que a criança não possui ainda a capacidade intrínseca de produzir uma cultura própria. 

Ela assimila tudo que está a sua volta, quase que como uma esponja, reproduzindo o mundo adulto, sem ter ainda capacidades intrínsecas de fazer separação entre ideais de ordem moral, ética. Cabe ao adulto mediar esse conhecimento que implica culturalmente o certo e o errado. Cabe também aos instrumentos materiais a mediação de informações de ordem sensitiva e que geram consequências negativas ou positivas. A criança ao interagir com a materialidade aprende que determinadas situações a colocam em risco, pois trazem consequências negativas como a dor, por exemplo. 

Como mediadores biológicos, enquanto atividades e instrumentos, temos a amamentação, o cuidado, a manutenção da vida, o suprimento dos elementos vitais enquanto afeto, carinho, etc. Em todas as culturas há a manutenção de cuidados básicos para a manutenção da vida. Não basta o sujeito social ser constituído biologicamente (instância filogenética) de uma estrutura humana para se tornar humano. Sem as interações materiais e sociais ele não pode humanizar-se, porque é na interação com seus pares que ele aprende, ou seja, assimila a condição de ser humano. Esses processos mentais elementares são mediados pela atividade humana e interação social-cultural. É o espaço externo que constrói o interno. 

Como mediadores psicológicos, enquanto atividades e signos, temos a mais importante de todas que é a linguagem. É na comunicação verbal que as crianças vão desenvolvendo a capacidade de raciocinar e expressar suas emoções e desejos. Conforme Facci (2004, p. 68) “ Até mais ou menos os 18 meses, a criança ainda não consegue descobrir as funções simbólicas da linguagem, que é uma operação intelectual consciente e altamente complexa. ”. 

Ainda sobre a linguagem, Schmitt (2013) conclui: 

Seja na África, na América ou na Ásia as primeiras palavras balbuciadas pelas crianças são as mesmas, aquelas que remetem aos que lhes deram a vida, embora saibamos que pai e mãe não são somente os biológicos, mas o caso do documentário são aquelas pessoas que dão a sensação de segurança para as crianças, que são sua referência de mundo, das quais se percebem como extensões, as primeiras palavras de todos os bebês foram mama e papa (SCHMITT, 2013, p. 6).

Enfim, os processos mentais superiores intrapsíquicos são construídos a partir do contato externo enquanto atividade humana extrínseca-objetiva-concreta, portanto, o psiquismo não é função, mas “integralidade” que se constitui nessa interação bio-psico-social. Signos, portanto, é algo simbólico, social, cultural e que significa alguma coisa e esses significados são construídos socialmente. 

O filme Babies (2010) é uma excelente ferramenta para observarmos como essas relações sociais compõem a estrutura humana integral, ou seja, da filogênese, ontogênese, sociogênese e microgênese. 




REFERÊNCIAS: 



BABIES. Direção: Thomas Balmès. [S.I.]: Focus Features, 2010. 1 DVD (79 min). NTSC, color. 


CARNEIRO, Ana Carolina Rocha. Infância e diversidade cultural: uma reflexão sobre o filme “Babies” Zero a Seis: Revista Eletrônica editada pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas de Educação na Pequena Infância. v. 16, n. 30 p. 316-325 | Florianópolis | jul-dez 2014. 


FACCI, Marilda Gonçalves Dias. A periodização do desenvolvimento psicológico individual na perspectiva de Leontiev, Elkonin e Vigotski. Cad. Cedes, Campinas, vol. 24, n. 62, p. 64-81, abril 2004 67. Disponível em https://www.scielo.br/pdf/ccedes/v24n62/20092.pdf


SCHMITT, Bárbara Jucinsky. Uma análise da cultura e das identidades a partir do documentário Babies. Mestranda do Curso Processos e Manifestações Culturais da Universidade Feevale. V ENALLI: Encontro Nacional de Língua e Literatura: Representação do Espaço Urbano. 12 p. 2013.

Um comentário:

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