TEXTO
REF.: LIVRO “O PAPEL DO PSICÓLOGO – MARTIN BARÓ”.
QUESTÃO
1
– Quais são as três circunstancias concretas, conjunturais dos povos centro
americanos” (Latino Americanos de forma abrangente) definidos por Martin Baró,
e qual é a relação destas circunstancias com o Papel da Psicologia, segundo
ele?
QUESTÃO
2
– Qual é o papel do Psicólogo, Psicóloga e da Psicologia enquanto ciência e
profissão segundo Martin Baró?
RESPOSTAS:
Questão
1:
1) A injustiça estrutural:
Os sistemas sociais estão distribuídos de forma injusta. Os regimes políticos
distribuem desigualmente os bens disponíveis. Enquanto a maioria da população
vive em condições miseráveis, uma minoria oligárquica desfruta de comodidade e
luxo. Essa discrepância constitui na priori da violação dos direitos humanos
fundamentais (alimentação, moradia, saúde e educação). Essa situação se mantém
através de mecanismos violentos de controle e repressão social, esses impedem
as mudanças dessas estruturas sociais.
2) As guerras ou quase guerras
revolucionárias: Todos os países dessa região enfrentam
situações de guerra onde sofrem os danos que essas originam. Essas guerras
aliadas a situação de miséria estrutural definem-se como catastróficas, pois
reduzem e estacionam o desenvolvimento econômico dos mesmos. Algumas economias
que já são débeis se veem forçadas a dedicarem a maior parte das reservas
econômicas ao esforço bélico. Pode-se dizer que a militarização desses lugares
é gravíssima porque impõe um regime de exploração opressiva administrada pelas
Forças Armadas.
3) A perda da soberania nacional:
Os países da América Central de certa forma têm perdido a autonomia nas
decisões nacionais, que interessam a esses países. O USA tem dominado até mesmo
a cultura desses locais impondo em nome de uma segurança nacional uma aversão
aos governos comunistas. A princípio os USA permitiram uma certa autonomia
política e interna, porém rapidamente essa liberdade foi eliminada. Isso é
muito ruim porque penhora a identidade e a autonomia dos países
impossibilitando a resolução de problemas e eliminando as possibilidades de um
futuro nacional. Na maioria das decisões importantes há uma preocupação com a
Segurança Nacional dos USA em detrimento à necessidade dos povos. Enfim, isso
polariza grupos e interesses em bons e maus, amigos e inimigos.
Relação destas três circunstancias com o
Papel da Psicologia: Não se pode fazer psicologia na América Central sem
assumir uma responsabilidade
histórica. Para isso o “quefazer”
deve ser científico e prático. A priori deve ser uma conscientização que
seja crítica às práticas injustas, observando historicamente as raízes da
alienação social. A simples consciência não romperá com as estruturas, mas será
a seta que aponta o caminho da mudança em oposição ao fatalismo e o
determinismo. Esse processo implica no abandono da mecânica-reprodutora de
dominação-submissão. O processo dialético do indivíduo com a sociedade supõe
uma mudança radical nas relações sociais. Enfim, a tomada de consciência aponta
diretamente ao problema da identidade tanto pessoal como social, grupal e
nacional. A conscientização leva os indivíduos a recuperarem sua memória
histórica, fazendo do seu presente o melhor processo numa perspectiva de
melhoramento pessoal e nacional.
Não está nas
mãos do psicólogo, enquanto tal, mudar as injustas estruturas socioeconômicas
de nossos países, resolver os conflitos armados ou resgatar a soberania
nacional, servilmente penhorada aos Estados Unidos [...] É chamado a intervir
nos processos subjetivos que sustentam e viabilizam essas estruturas injustas;
se não lhe cabe conciliar as forças e interesses sociais em luta, compete a ele
ajudar a encontrar caminhos para substituir hábitos violentos por hábitos mais
racionais [...] o psicólogo pode
contribuir para a formação de uma identidade, pessoal e coletiva, que responda
às exigências mais autênticas dos povos. (MARTIN-BARÓ, 1996, p. 22).
Questão 2:
Na
medida em que a psicologia tome como seu objetivo específico os processos da
consciência humana, deverá atender ao saber das pessoas sobre si mesmas
enquanto indivíduos e enquanto membros de uma coletividade. A consciência é uma
realidade psicossocial, relacionada coletiva.
Como
consequência do viés da psicologia, assume-se como óbvio o trabalho de
desalienação da consciência individual, no sentido de eliminar ou controlar
aqueles mecanismos que bloqueiam a consciência da identidade pessoal e levam a
pessoa a comportar-se como um alienado, como um “louco”, ao mesmo tempo em que
se deixa de lado o trabalho de desalienação da
consciência social, no sentido de suprimir ou mudar aqueles mecanismos de que
bloqueiam a consciência da identidade sócia e levam a pessoa a comportar-se
como um dominador ou um dominado, como um explorador opressivo ou um
marginalizado oprimido.
O
papel do psicólogo não pode limitar-se ao plano abstrato do indivíduo, mas deve
confrontar também os fatores sociais onde se materializa toda individualidade
humana. Reconhece-se a necessária centralização da psicologia no âmbito
pessoal, mas não como terreno oposto ou alheio ao social, mas como seu
correlato dialético e, portanto, incompreensível sem a sua referência
constitutiva. Não há pessoal sem família, aprendizagem sem cultura, portanto,
não pode haver um eu sem um nós, uma desordem que não se remeta as normas
morais e uma normalidade social.
Não
se trata de abarcar exclusivamente uma área de trabalho, mas de se fixar um
horizonte para o que fazer profissional. Então, as perguntas críticas que os
psicólogos precisam formular é sobre o papel que está desempenhando na
sociedade, e não deve centrar-se tanto no onde, mas no a partir de quem; não
tanto no tipo de atividade que se pratica, mas sobre quais são as consequências
históricas concretas que essa atividade está produzindo.
REFERÊNCIA:
Martin-Baró, Ignácio. O papel do Psicólogo. Estudos de Psicologia 1996, 2(1), 7-27. Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/%0D/epsic/v2n1/a02v2n1.pdf>. Acesso em:13 abr. 2018.
REFERÊNCIA:
Martin-Baró, Ignácio. O papel do Psicólogo. Estudos de Psicologia 1996, 2(1), 7-27. Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/%0D/epsic/v2n1/a02v2n1.pdf>. Acesso em:13 abr. 2018.
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