sexta-feira, 13 de abril de 2018

“O PAPEL DO PSICÓLOGO – MARTIN BARÓ”


TEXTO REF.: LIVRO “O PAPEL DO PSICÓLOGO – MARTIN BARÓ”.

QUESTÃO 1 – Quais são as três circunstancias concretas, conjunturais dos povos centro americanos” (Latino Americanos de forma abrangente) definidos por Martin Baró, e qual é a relação destas circunstancias com o Papel da Psicologia, segundo ele?

QUESTÃO 2 – Qual é o papel do Psicólogo, Psicóloga e da Psicologia enquanto ciência e profissão segundo Martin Baró?


RESPOSTAS:

Questão 1:
1)      A injustiça estrutural: Os sistemas sociais estão distribuídos de forma injusta. Os regimes políticos distribuem desigualmente os bens disponíveis. Enquanto a maioria da população vive em condições miseráveis, uma minoria oligárquica desfruta de comodidade e luxo. Essa discrepância constitui na priori da violação dos direitos humanos fundamentais (alimentação, moradia, saúde e educação). Essa situação se mantém através de mecanismos violentos de controle e repressão social, esses impedem as mudanças dessas estruturas sociais.
2)      As guerras ou quase guerras revolucionárias: Todos os países dessa região enfrentam situações de guerra onde sofrem os danos que essas originam. Essas guerras aliadas a situação de miséria estrutural definem-se como catastróficas, pois reduzem e estacionam o desenvolvimento econômico dos mesmos. Algumas economias que já são débeis se veem forçadas a dedicarem a maior parte das reservas econômicas ao esforço bélico. Pode-se dizer que a militarização desses lugares é gravíssima porque impõe um regime de exploração opressiva administrada pelas Forças Armadas.
3)      A perda da soberania nacional: Os países da América Central de certa forma têm perdido a autonomia nas decisões nacionais, que interessam a esses países. O USA tem dominado até mesmo a cultura desses locais impondo em nome de uma segurança nacional uma aversão aos governos comunistas. A princípio os USA permitiram uma certa autonomia política e interna, porém rapidamente essa liberdade foi eliminada. Isso é muito ruim porque penhora a identidade e a autonomia dos países impossibilitando a resolução de problemas e eliminando as possibilidades de um futuro nacional. Na maioria das decisões importantes há uma preocupação com a Segurança Nacional dos USA em detrimento à necessidade dos povos. Enfim, isso polariza grupos e interesses em bons e maus, amigos e inimigos.
            Relação destas três circunstancias com o Papel da Psicologia: Não se pode fazer psicologia na América Central sem assumir uma responsabilidade histórica. Para isso o “quefazer” deve ser científico e prático. A priori deve ser uma conscientização que seja crítica às práticas injustas, observando historicamente as raízes da alienação social. A simples consciência não romperá com as estruturas, mas será a seta que aponta o caminho da mudança em oposição ao fatalismo e o determinismo. Esse processo implica no abandono da mecânica-reprodutora de dominação-submissão. O processo dialético do indivíduo com a sociedade supõe uma mudança radical nas relações sociais. Enfim, a tomada de consciência aponta diretamente ao problema da identidade tanto pessoal como social, grupal e nacional. A conscientização leva os indivíduos a recuperarem sua memória histórica, fazendo do seu presente o melhor processo numa perspectiva de melhoramento pessoal e nacional.

Não está nas mãos do psicólogo, enquanto tal, mudar as injustas estruturas socioeconômicas de nossos países, resolver os conflitos armados ou resgatar a soberania nacional, servilmente penhorada aos Estados Unidos [...]  É chamado a intervir nos processos subjetivos que sustentam e viabilizam essas estruturas injustas; se não lhe cabe conciliar as forças e interesses sociais em luta, compete a ele ajudar a encontrar caminhos para substituir hábitos violentos por hábitos mais racionais [...] o psicólogo pode contribuir para a formação de uma identidade, pessoal e coletiva, que responda às exigências mais autênticas dos povos. (MARTIN-BARÓ, 1996, p. 22).

Questão 2:
Na medida em que a psicologia tome como seu objetivo específico os processos da consciência humana, deverá atender ao saber das pessoas sobre si mesmas enquanto indivíduos e enquanto membros de uma coletividade. A consciência é uma realidade psicossocial, relacionada coletiva.
Como consequência do viés da psicologia, assume-se como óbvio o trabalho de desalienação da consciência individual, no sentido de eliminar ou controlar aqueles mecanismos que bloqueiam a consciência da identidade pessoal e levam a pessoa a comportar-se como um alienado, como um “louco”, ao mesmo tempo em que se deixa de lado o trabalho de desalienação da consciência social, no sentido de suprimir ou mudar aqueles mecanismos de que bloqueiam a consciência da identidade sócia e levam a pessoa a comportar-se como um dominador ou um dominado, como um explorador opressivo ou um marginalizado oprimido.
O papel do psicólogo não pode limitar-se ao plano abstrato do indivíduo, mas deve confrontar também os fatores sociais onde se materializa toda individualidade humana. Reconhece-se a necessária centralização da psicologia no âmbito pessoal, mas não como terreno oposto ou alheio ao social, mas como seu correlato dialético e, portanto, incompreensível sem a sua referência constitutiva. Não há pessoal sem família, aprendizagem sem cultura, portanto, não pode haver um eu sem um nós, uma desordem que não se remeta as normas morais e uma normalidade social.
Não se trata de abarcar exclusivamente uma área de trabalho, mas de se fixar um horizonte para o que fazer profissional. Então, as perguntas críticas que os psicólogos precisam formular é sobre o papel que está desempenhando na sociedade, e não deve centrar-se tanto no onde, mas no a partir de quem; não tanto no tipo de atividade que se pratica, mas sobre quais são as consequências históricas concretas que essa atividade está produzindo. 

REFERÊNCIA:
Martin-Baró, Ignácio. O papel do Psicólogo. Estudos de Psicologia 1996, 2(1), 7-27. Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/%0D/epsic/v2n1/a02v2n1.pdf>. Acesso em:13 abr. 2018.



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