sexta-feira, 13 de abril de 2018

UMA ORQUESTRA QUE AINDA DESAFINA: GESTÃO ESCOLAR, DEMOCRACIA E QUALIDADE DE ENSINO


UMA ORQUESTRA QUE AINDA DESAFINA: GESTÃO ESCOLAR, DEMOCRACIA E QUALIDADE DE ENSINO

7º período do curso de Pedagogia turma 2008/1

RESUMO:
O texto aborda a estrutura administrativa de uma escola, as articulações entre direção e órgãos deliberativos. Traz uma perspectiva da educação atual e da educação que queremos. Analisa a organização escolar como uma intersecção de todos os participantes da comunidade escolar a fim de realizar um ensino que proporcione formação profissional, cidadania e produção de cultura. E, enfim, prioriza a qualidade de ensino pela democracia baseados no autor Vitor Henrique Paro.

PALAVRAS-CHAVE:
Gestão, democracia, qualidade, ensino, compromisso, responsabilidade, organização e formação.

1.1. Gestão democrática: uma reflexão entre duas visões

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB 9394/96, em seu artigo 14, expõe sobre a gestão escolar afirmando que esta deve ser democrática, ou seja, deve envolver não só o diretor, mas também toda a comunidade escolar representada pelos órgãos colegiados, associação de pais, mestres e funcionários, conselho escolar e grêmio estudantil.
Paro (2007, p.83) ao falar da estrutura administrativa da escola e da participação faz as seguintes considerações:

A consideração da estrutura administrativa se justifica porque, para a educação do homem como ser histórico, em bases democráticas, é preciso levar em conta não apenas o que ele aprende e como ele aprende, mas também a medida em que o ambiente ou a instituição em que se dá esse aprendizado está contribuindo para a efetividade dessa educação. (PARO, 2007, p.83)
   
Levando em consideração essas informações, fizemos o quadro comparativo entre Vitor Henrique Paro, pedagogo, mestre e doutor em educação em seu livro: Gestão escolar, democracia e qualidade de ensino e Maria Helena Guimarães de Castro, cientista social e secretária da educação em São Paulo em entrevista cedida à Revista Veja do dia 13-02-2008:

MARIA HELENA GUIMARÃES DE CASTRO (2008)
VITOR HENRIQUE PARO (2007)
O desempenho dos alunos em provas aplicadas pela própria secretaria terá o maior peso. Esse é, não resta dúvida, um excelente medidor de sucesso acadêmico de uma escola.
p.22 – O produto da educação, o ser humano educado, não se deixa captar por mecanismos convencionais de aferição de qualidade.
Um passo fundamental é fazer a escola se sentir responsável pelos resultados dos estudantes, algo ainda bastante longínquo, mas possível de alcançar com a cobrança de metas.
p.24 – não é possível conceber uma educação pública de qualidade, sem levar em conta os fins sociais da escola, o que significa, em última análise, educar para a democracia...
[...] trata-se da presença de um diretor competente, com atributos de liderança semelhantes aos de qualquer chefe de uma grande empresa. Sob a sua batuta, os professores trabalham estimulados [...]
p.27 – no caso da administração escolar, tenho insistido que são objeto de seu estudo, quando consideradas em sua função de buscar a realização dos fins educativos, tanto as atividades-meio quanto as atividades-fim que se desenrolam na escola, e não apenas atividades de direção.
Quadro nº 1: Comparativo entre as falas de Maria Helena e Vitor H. Paro.

Analisando as concepções acima mencionadas, podemos observar que ambos anseiam por uma educação de qualidade, mas que pensam de formas diferentes, que concebem a educação de diversos ângulos.
Percebemos que Maria Helena (2008) durante toda a sua entrevista trouxe à tona a ineficácia do ensino público na pessoa dos seus docentes, culpabilizando a formação desses e criticando suas ações pedagógicas.
Maria Helena (2008, p.09-13), enfatizou o índice alto de reprovação escolar, informou que as escolas públicas de São Paulo passarão a ter metas acadêmicas no horizonte e receberão mais verbas caso venham a cumpri-las.
Essas afirmações chocaram a muitos, no entanto mais importante que isso são as questões que se levantam sobre a qualidade da educação e quais políticas educacionais devem ser adotadas no país.
Entendemos que estabelecer metas é mercantilizar a educação. E sabemos que esta não é uma mercadoria. Não estamos aqui defendendo uma idéia que renegue a informação, mas contrariando a que foca somente a transmissão de informações.
Para Paro (2007, p.20-21) a educação é mais que simples transmissão de informações. Ela na verdade tem por fim último favorecer uma vida de maior satisfação individual e melhor convivência social.
Ainda, segundo Paro (2007, p 20):

É preciso não apenas fazer a revisão critica das concepções existentes, em especial o paradigma neoliberal que associa o papel da escola ao atendimento das leis de mercado, mas principalmente contribuir para a elaboração de um conceito de qualidade que valha a pena ser posto como horizonte e que sirva de parâmetro para a proposição de políticas públicas consistentes e realistas para o ensino fundamental. (PARO, 2007, p.20).

Diante disso, a pergunta que fazemos é, “será que estabelecer metas acadêmicas com incentivos monetários seria esse conceito de qualidade que Paro retrata e que valeria a pena ser colocado como horizonte?”.
O primeiro entrave é que encarar a educação como simples apuração de resultados não significa que esses serão a prova de que as escolas estarão realizando ensino de qualidade . O ensino de qualidade que Paro defende é aquele que proporciona informação e formação para a vida. De nada servem informação por informação. Numa sociedade capitalista números revelam aprovação de mercado, porém é preciso mais que isso. É necessário, conforme Paro (2007, p. 24), “ter a educação para a democracia como componente fundamental de qualidade de ensino”.
Paro (2007, p. 20-25), traz a idéia de que é preciso que a educação se preocupe em criar condições aos alunos de apropriarem-se das capacidades culturais, numa atualização histórico-cultural, exigidas para exercer a cidadania, sendo esta uma construção que se dá na prática social. Logo, a preocupação maior deveria ser a qualidade e não a quantidade.
Basear-se em números é retroalimentar uma idéia capitalista, onde os melhores números ou as melhores notas são atestados de capacidade e não é isso que, definitivamente, queremos.

1.2. Qualidade de ensino: uma analogia entre o funcionamento de uma orquestra e a escola

Ao retomarmos a fala de Maria Helena (2008, p.13) quando afirma que a gestão deve pautar-se na pessoa de um diretor que use a sua batuta, e que tenha atributos de liderança como qualquer chefe de uma grande empresa, nos permitimos fazer algumas analogias.
Sabemos que essa visão está deturpada do ponto de vista democrático, porém a palavra “batuta” levou-nos a pensar nas características que regem uma orquestra e suas semelhanças ou dessemelhanças com a educação.
A batuta é o instrumento usado pelo maestro para marcar o compasso, o andamento da música e a entrada de diversos instrumentos. A primeira analogia que fazemos é que a escola é o instrumento para marcar a vida dos alunos de maneira tão positiva que produza compasso e inclusão, no acolhimento e aceitação da diversidade ou das diferenças.
Infelizmente, muitas vezes, esse compasso não acontece. Observamos que a escola caminha num descompasso entre o que deveria ser e o que é. As questões que levantamos são por que isso ocorre? Seria a falta de um diretor que use a sua batuta? Acreditamos que não.
Ao analisarmos os últimos acontecimentos em Londrina/PR, no dia 3 (três) de abril de 2008 (dois mil e oito), nas escolas, Lauro Pessoa e Olympia Tormenta, onde alunos destruíram carteiras e livros, além de quebrarem os vidros, detectamos que esse descompasso realmente existe. Mas por que ele existe? Para tentar entender essa questão, buscamos auxílio em Paro (2007, p. 33) que nos apresenta em seu segundo capítulo os descompassos existentes entre estrutura escolar e necessidades do alunado.
Nesse capítulo o autor traz depoimentos de docentes sobre o que é a educação e qual o seu papel. Analisa essas falas e nos traz excelentes reflexões sobre qualidade de ensino e suas relações com a estrutura didática da escola. Portanto, analisar os caminhos percorridos pelos gestores em sua ação e interação escolar é de fundamental importância para entender o descompasso da educação.
Sabemos que para produzir boa música uma orquestra deve caminhar junta, no mesmo objetivo que é obter música de qualidade. Para isso todos, profissionais e instrumentos, enquanto objetos de produção musical, trabalham. Aproveitam-se os talentos individuais dos músicos, sua intimidade com seu instrumento, seu conhecimento teórico, e seu cuidado com o mesmo. Há de se entender então que sem músico e instrumento não existe música, porque essa ação coletiva fará surgir harmonia. Dos instrumentos emanam os sons que nas mãos do músico se tornarão harmoniosos. Está aí a segunda analogia.
O mesmo ocorre com a escola. Para que ela produza boa educação precisa caminhar unida, tendo por meta a qualidade de ensino. Para que essa qualidade seja conhecida é preciso que todos, gestores, orientadores, professores, alunos, pais, comunidade, estejam num mesmo compasso, trabalhando. Assim aproveitam-se os talentos individuais dos professores, sua intima compreensão do seu alunado, seus conhecimentos teóricos, e seu cuidado com os mesmos, bem como os talentos individuais de seus alunos, seus conhecimentos prévios e suas capacidades em potencial de produção cultural. Dessa interação poderá surgir uma canção harmoniosa, uma sintonia entre gestão escolar e democracia que valorize todos os talentos da comunidade escolar, que poderá ser entendida como produto final de algo que começa agora e será visto daqui a muitas gerações.
Compreendemos então, que sem a educação não há a transmissão de cultura e sem o aluno não há produção de cultura. A escola evolui à medida que consegue formar sujeitos capazes de produzir cultura que melhore a qualidade de vida humana.
 Com a leitura do livro: Gestão Escolar, democracia e qualidade de ensino de Vitor Paro (2007), verificamos como grupo, o quanto é significante que nos preocupemos com a qualidade de ensino oferecido aos alunos de diferentes campos educacionais, respeitando suas especificidades culturais, pois cada um é um sujeito individual que tem por cultura maior a cultura brasileira, mas também àquela do seu bairro ou zona periférica.
Mais importante, ainda; são as relações de afetividade e confiança entre as partes. O aluno deve ter a escola como uma extensão de sua casa, no sentido de que essa deve ser acolhedora e prazerosa. Aprender deveria ser uma ação de prazer e não de tortura.
Uma dificuldade apontada por Paro (2007, p. 36) é a de compreensão por parte dos docentes do que seja a real função da escola e isso se apresenta na dificuldade de responder à questão: “Como a escola prepara para a vida?”. Segundo o autor, alguns entendem que preparar para a vida é ensinar o mínimo para obter êxitos em vestibular, ou em preencher uma ficha de emprego. Até mesmo os pais relacionam a escola em melhoria de vida financeira. Porém, essa não é a real função da escola.
 Paro (2007, p. 37) continua informando que apesar de mostrarem-se preocupados com a formação do cidadão, essa se resume ao mínimo para garantir sua sobrevivência. Ainda segundo o autor “em suas falas não aparece nada relativo ao direito das pessoas de apropriar-se da cultura para usufruto dos bens culturais herdados historicamente”.
Retomando os acontecimentos em Londrina/PR, percebemos nas declarações de alguns professores o total desconhecimento dessas questões e evidente a dificuldade de responder a pergunta de Paro (2007, p.36): “Como a escola prepara para a vida?”. Segundo eles os alunos destroem a escola pelo prazer de destruir, são violentos em relação à linguagem e não fazem as atividades escolares. Eles afirmam ainda, que se encontram reféns desses por não terem mais domínio sobre eles. Segundo a pedagoga Rosemari Friedmann (2008, p.03)  “os alunos não percebem a escola como um instrumento para melhorar a própria vida” e complementa “o aluno não percebe a escola como um espaço dele, que vai melhorar sua condição de vida”.
A pergunta que levantamos é qual a real função da escola, qual deve ser a atitude do gestor da educação perante essas situações e onde a apropriação dos bens culturais históricos se encontra nessas falas? Na prática escolar percebemos, assim como Paro, que a equipe escolar apresenta uma visão distorcida da real função da escola, pois desmerece seus alunos, sua comunidade, sua cultura local, trabalhando mecanicamente os conteúdos com o fim último de preparar para o mercado de trabalho, sem atentar para a transmissão da cultura produzida a fim de formar produtores de cultura. Homens e mulheres críticos e cientes de sua função social.
 Faz-se necessário uma reflexão profunda de como estamos entendendo a educação e de como estamos nos entendendo enquanto profissionais de educação. Entender a nós mesmos aponta para o caminho da descoberta. Perceber quais preconceitos carregamos enquanto pessoas na nossa prática social. Por que é tão difícil aceitar que pessoas são diferentes e pensam diferentemente de mim, e consequentemente entender que a nossa verdade não é a verdade do outro? Entender que a história avança no tempo e reconstrói conceitos. Entender que já fomos como, já sentimos como e vivenciamos situações parecidas.
É preciso arrancar as capas da auto defesa e abrir-se para o mundo numa compreensão mais profunda do conceito de humanidade. Compreender que enquanto humanos erramos sempre e sempre, mas que também acertamos. Sair do pedestal da auto-suficiência e sabedoria e juntar-se às classes, para compreender o que é ser humano e agir como tal, conduzindo o outro na subida dos degraus da sabedoria, a fim de que ele desça e continue o nosso trabalho.
  E, enfim, é preciso ouvir o outro, assim como nossa colega Juliana, que já fez parte dessa comunidade tão enxovalhada pelos profissionais da educação.
“Éramos menosprezados, preconceituados. Já andei com aqueles que hoje vandalizam aquela escola. Não entendíamos a escola como espaço nosso. O ensino era mecânico e descontextualizado. Porém naquela época não existiam esses atos de vandalismo”.(Aluna do curso de Pedagogia).

1.3. Reflexões sobre o que deve ser uma gestão democrática

Concluímos que é preciso fazer uma análise profunda da realidade da população local a fim de entender a cultura local, para então apresentar uma educação mais adequada ao momento histórico da comunidade. Com isso, poderemos manter com democracia a qualidade de ensino, independentemente das metodologias ou visões educacionais.
Entendemos também que se faz necessária uma importante reflexão de nossas próprias concepções do que seja educação e de nossos preconceitos.  
Concordamos que nem sempre se saberá o que é melhor para aquela determinada comunidade, porém existe um caminho para entendermos o que é um bom ensino: a) respeito mútuo; b) saber acolher o aluno, pais e a comunidade local; c) envolvimento dos pais na gestão escolar a fim de contribuírem democraticamente das políticas de ensino, pois eles têm muito a dizer; d) avaliação de prioridades culturais locais a fim de elaborar uma estrutura didática que atenda essas prioridades; e) consciência de que a escola é parte da sociedade e não está isolada da mesma.
E enfim, compreender que a escola forma não só profissionalmente, mas também para a cidadania e para a produção de cultura. Que é seu dever assegurar que o que é necessário seja garantido para as novas gerações com a intenção de que essa melhore a qualidade de vida dos sujeitos. A escola não é uma empresa, mas um espaço educativo, responsável socialmente pelo acesso aos conhecimentos acumulados historicamente. Enfim, a boa gestão escolar está na consciência de que erramos e que precisamos estar em constante exercício de reflexão.
Pensemos que a orquestra educacional ainda precisa de muitos ensaios para poder executar cantos harmônicos que trarão alegria e magia para todos os que dela ouvirem falar. Ainda falta muito para que todos os instrumentos estejam afinados e em sintonia com a peça que pretendemos apresentar:
Quadro 2: Simulação de um convite feito a  todos os gestores das comunidades escolares e a todos que anseiam  gerir uma escola.

Em última análise, concluímos, então que para se ter uma escola que produza ensino de qualidade a gestão escolar é uma priori. Ela deve estar pautada na responsabilidade, no compromisso, na organização, no favorecimento de produção cultural, na formação e principalmente na democracia.
Se todas essas peças estiverem encaixadas, com certeza a realização dessa peça que pretendemos apresentar poderá ser uma realidade e é isso que esperamos.




REFERÊNCIAS:

PARO, Vitor Henrique. Gestão escolar: democracia e qualidade de ensino. São Paulo: Ática, 2007.

WEINBERG, Mônica. Entrevista: Maria Helena Guimarães de Castro. Premiar o mérito. REVISTA VEJA, Rio de Janeiro, p.09-13, fev. 2008.

ORTEGA, Marta. Alunos depredam colégios da Zona Norte: na escola Lauro Pessoa, carteiras e livros foram destruídos; no Olympia Tormenta, estudantes quebraram vidros. Folha de Londrina, Londrina, 4 abril. 2008. Caderno Cidades, p. 03.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Das introspecções de o ovo e a galinha em Clarice Lispector.

Ilustração da obra Tacuinum Sanitatis Quem sou eu para desvendar tal mistério se nem mesmo Clarice desvendou, embora intuitivamente eu o sai...