quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Síntese do Texto [Zavattaro, H. A., Diagnóstico psico-social da Organização: 3 modelos]:

 

Muitas vezes o psicólogo organizacional fica preso a normas técnicas e métodos ou limitado a psicodiagnósticos em sua atividade laboral, porque existem poucas bibliografias na área e complexidade nas organizações que dificultam as relações humanas. Nesta área atuam leigo e profissional especializado. O leigo baseia-se na experiência, enquanto o profissional referenda-se na teoria aprendida diferenciando-se pela reflexão da prática.

Garcia (1980, p. 5) aponta para uma teoria das organizações que se apoia na “racionalidade funcional ou instrumental”, ou seja; apreendendo “. . . os fatos da vida diária apenas pelas suas aparências interesses imediatos utilitários.”. Para não incorrer neste erro é necessário que o profissional repense a sua formação e as suas bases psicossociais, bem como as que norteiam a sua formação acadêmica, já que paradigmas são estabelecidos inevitavelmente. O importante é que estes modelos estejam voltados a uma prática consciente pela crítica e por movimentos de transformação.

Sendo assim, compromissos devem ser firmados pelos profissionais com as demandas humanas (participantes da organização) como: passividade diante dos sistemas políticos das organizações, potencialidade transformadora dos indivíduos mediante o exercício da consciência autônoma. “A luta pela emancipação do homem, pela promoção de valores humanos, pela manifestação do poder de criação, deve ser, a nosso ver, a razão de ser, tanto existencial quanto profissional.”.

O modelo da Pesquisa-Ação de Kurt Lewin (1934), USA, estudos humanos dá início a abordagem de Desenvolvimento Organizacional. As etapas do diagnóstico dividem-se em: identificar o problema, intelectualizar o problema, planejar a ação e tomar a decisão e avaliar a pesquisa ação. Vários são os subsistemas de uma organização: grupos sociais e de interesses e configurações de poder. Por esta razão é necessário clarificar quem é o beneficiário e quem é o cliente. Muitas vezes a pesquisa é banalizada pela coleta de informações sem levar em conta os indivíduos envolvidos na pesquisa. Desta maneira, o profissional psicólogo, atua como um mero assistente da chefia, um pau- mandado. Identificado o cliente, é necessário adotar um modelo teórico que servirá de suporte para substanciar possíveis resoluções para o problema identificado. “Pesquisa Ação é uma estratégia, uma tentativa de resolução de problemas práticos, com a participação dos clientes.”.

Os sentimentos que podem acompanhar o cliente diante do problema são frustração e dúvida, e isto não deve ser ignorado já que é função do psicólogo organizacional auxiliá-lo na intelectualização da questão, ou seja; apresentar a hipótese de trabalho que funciona dentro de uma estrutura de sistema, para então buscar resolutividade na expressão do observável real (fatos e evidências). A partir de então se passa a adequar o sistema social e o técnico para obtenção de uma melhoria na qualidade das relações existentes entre as partes interessadas cliente e beneficiário, bem como na melhoria do produto final. A avaliação final se dá no levantamento de questões a respeito do produto, do modelo sócio-técnico, do modelo de análise e investigação e sua efetividade na resolução do problema, as consequências das mudanças planejadas e sua importância na reavaliação do problema.

O Diagnóstico Emancipador, Garcia (1990), surge como uma crítica alternativa às teorias organizacionais do Diagnóstico. Esta se baseia em três dimensões: 1) Poder que transforma o mundo presente no indivíduo pela consciência atuante, 2) A organização deve atender a autodeterminação do indivíduo e 3) O Indivíduo precisa ser emancipado através da criação de recursos e instrumentos. “O objetivo é a transformação emancipadora das relações sociais passivas e acríticas em relações autodeterminadas e realizadoras.”.

Aqui o trabalho está para a coletividade numa busca pela consciência de classes. Não se trata mais de aplicação de técnicas e métodos que paralisam, mas a retomada do curso da ação de aprimorar-se. É a busca do auxílio mútuo, numa perspectiva multidisciplinar, da representatividade e do princípio ético. Três são as fases deste movimento investigativo: 1 - Expressão e descrição da realidade, 2 - Crítica e 3 - Criatividade. As ideias conceituais são expostas livremente nos pequenos grupos, considerando-se para análise os simbolismos existentes na vida e no trabalho cotidiano, bem como a formação social de suas mentes quanto às relações de poder e submissão. Objetiva-se com isto trazer às consciências individuais as barreiras que distanciam as realidades estruturais da efetiva benesse almejada nestas relações de trabalho, ou seja, entre o que é falado e o que é executado. Finalmente, estabelecer ações direcionadas para relações mais éticas, verdadeiras e coerentes numa automobilização de recursos estratégicos.

“Deve, o Diagnóstico Emancipador, caracterizar: 1) As estruturas globais da sociedade; 2) O contexto ou situação da organização; 3) A estratégia organizacional e os polos de tensão; 4) A estrutura e os mecanismos internos da organização.”. Dificilmente organizações com acúmulo de capital abraçariam esta metodologia, sendo mais aplicável nas organizações comunitárias.

 

Análise Crítica

 

            O psicólogo organizacional enfrenta muitas barreiras internas e externas, sejam de caráter formativo acadêmico, seja pela pressão social das grandes organizações capitalistas ou por suas demandas existenciais. Para tanto, ele precisa apropriar-se da criticidade e consciência das bases sociopolíticas que pautam as ações nas relações de trabalho. Conhecer o compendio de normas e técnicas de atuação profissional, bem como teorias organizacionais, ignorando o teor político ideológico que pautam e dão as bases de seu trabalho no mundo capitalista, implicam em profissionais que se alienam a sistemas políticos, econômicos e sociais, sendo meramente apoiadores de culturas organizacionais que aprisionam os seres de si mesmos.

            Numa perspectiva emancipadora estas relações devem ter como premissa a autonomia da consciência cidadã, da consciência laboral, da força do trabalho, da importância da permuta que gerencia as relações na empresa. Logo, se o profissional organizacional se alia a formas de domínio coercitivo está a ferir os princípios éticos que regem a sua profissão, visto que este tem como princípios fundamentais o trabalho respaldado no “respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades contribuindo para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”. (Resolução CFP nº 010/05).”.

            Diante deste compromisso moral e ético o psicólogo organizacional encontra grandes desafios que podem impedir sua permanência nas organizações, já que a maior parte das empresas está sob a égide do capital, que visa o lucro pela apropriação da mão de obra e da força do trabalho; tendo como primazia a competitividade e o mercado agressivo, aonde os fracos não permanecem. Porém, é muito importante que este profissional permaneça neste lugar, pois sua contribuição é de suma importância para a melhoria das condições de trabalho, para a promoção da qualidade nas diversas formas relacionais entre indivíduos, já que possui as condições psicossociais e acadêmicas para mediar conflitos de forma equitativa e justa.

 

Referências Bibliográficas

ZAVATTARO, H. A. Diagnóstico Psico-Social da Organização: 3 modelos. Material Didático da UNIP.   

 

Código de Ética Profissional do Psicólogo. Conselho Federal de Psicologia, Brasília, agosto de 2005.

 

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