sábado, 12 de dezembro de 2020

Síntese do Texto [Evangelista, P. E. R. A., Dois Caminhos da Psicologia Fenomenológica Existencial. Cap. III]

 

Existe diferença entre a psicologia de Husserl e Jasper, já que Husserl pensa a reflexão do homem em sua relação com o mundo (exterior) e Jasper com a interioridade humana. Van Den Berg (1955) propõe uma divisão da psicologia fenomenológica existencial em três fases: 1ª fase (1913-1923): Jasper, sob influência de Dilthey, psicopatologia fenomenológica. 2ª fase (1923-1933): Binswanger, sob influência de Husserl e 3ª fase (1933): Binswanger, sob influência de Heidegger. Estas fases não compartilham da mesma compreensão da natureza humana.

May (1958) & Spiegelberg (1972) também propõem uma divisão de uma psicopatologia fenomenológica em duas fases: uma fenomenológica e uma existencial. A primeira, de Jasper (1910), baseia-se numa fenomenologia descritiva que suspende a epoché para descrever os estados da consciência pura. Minkowsky (1922) também é citado como estudioso desta fase descritiva. A segunda, de Binswanger assume os estudos da esquizofrenia a partir da obra “Ser e Tempo” de Heidegger.

Van Den Berg (1955) propõe que existem diferenças entre a psicologia fenomenológica europeia, mais filosófica e americana, mais sociopsicológica. Ao longo da trajetória histórica de desenvolvimento de uma psicologia fenomenológica existencial buscou-se sistematizar estas psicologias. São seis as modalidades de psicoterapia existencial: Daseinanálise, Logoterapia, Psicoterapia existencial-humanista norte-americana, Psicoterapia existencial britânica, Psicoterapia existencial breve, Psicoterapia existencial Sartreana.

Na Logoterapia (Frankl/Scheler/Freud) o sentido (logos) da vida pode deixar de existir devido ao sofrimento, logo é preciso redescobrir este sentido. Na Psicoterapia Existencial Britânica (Laing/Deurzen-Smith), Estudo anti-psiquiatria enfatiza dilemas e paradoxos do existir. Objetiva experimentação de modos diferentes para a descoberta de valores essenciais a vida pela livre exploração. A Psicoterapia Existencial Sartreana (Sartre) visa possibilitar confronto entre a projeção do mundo pessoal para uma redefinição de prioridades existenciais. Compreende a existência a partir das escolhas enquanto “projeto existencial”.

            Da Escola Americana tem-se: Psicoterapia Humanista-Existencial (Rogers), Psicoterapia Existencial (Whitaker e Malone) e Psicoterapia Fenomenológica-Existencial (May e Gendlin), Década 80/90: Existenciais (Yalon; Maddi). Da Escola Europeia tem-se Psicoterapia Fenomenológica-Existencial (Boss e Binswanger), Psicoterapias Antropológicas: Logoterapia (Frankl), Psicoterapia Antropológica-Fenomenológica (Weizsacker, Christian, Brautigan). Década de 80/90: Dialytica (Cencillo), Interativa (Wyss).

Importante saber que existem diferenças entre o existencialismo e o humanismo. Enquanto o existencialismo se ampara na fenomenologia (método), cujo objeto é a existência histórica; o humanismo se ampara na vivência do cliente, cuja ideia é a de que o ser humano é uma força vital e criativa que tende ao crescimento e a autorrealização. Cabe ao terapeuta utilizar-se destas abordagens com autenticidade, aceitação pessoal e compreensão empática mantendo o distanciamento analítico.

No Brasil, estas teorias se misturam, pois herdam uma psicologia experiencial e humanista (USA) e uma psicologia filosófica (Europa). A Psicologia Humanista Individual aparece como uma terceira força. Em Maslow (1920) o indivíduo passa a ser estudado empiricamente sendo compreendido como possuidor de uma natureza interna essencial, biologicamente alicerçada, natural, intrínseca e dada. O homem é realidade e potencialidade, natureza e divindade. A Weltanschauung é uma maneira para penetrar nesta realidade; cujo fim é ver o mundo sob a ótica de sua individualidade.

Nos Estados Unidos o humanismo ganha força devido a revolução cultural do momento que questionava o behaviorismo, criticava as guerras do Vietnã e Coreia, e estava no auge do consumo de drogas, dos movimentos hippies e dos conflitos raciais.  A psicologia Humanista está em sintonia com o Zeitgeist ao colocar em questão o sentido da vida. Na Europa, após a 1ª guerra, o auge da Psicologia é a Existencialista criando raízes filosóficas de base fenomenológica.

Para Evangelista existem duas histórias de imigração da Psicologia Fenomenológica e Existencial Brasileira, uma europeia e uma norte-americana. A Europeia foi marcada pela influência das obras de Heidegger na psicopatologia e psicanálise, de Binswanger e Boss na Daseinanálise. A norte-americana como Psicologia Humanista: Abordagem Centrada na Pessoa de Rogers; Gestalt Terapia de Perls; Psicologias de Maslow, Fromm e May. As filosofias, fenomenológica e existencial, dão os subsídios teóricos à Psicologia Humanista, ou seja; a fundamentação de que necessitam.

 

Referências Bibliográficas

 

EVANGELISTA, P. E. R. A. Psicologia Fenomenológica Existencial: a prática psicológica à luz de Heidegger. Curitiba: Juruá, 2016, pp. 67-83.

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