Ao
se falar em Psicologia Fenomenológica Existencial partindo-se do método
fenomenológico é preciso considerar a tradição teórica e a sua natureza filosófica,
já que não toma o homem ou o indivíduo como um simples objeto de estudo, pois
este é um ser subjetivo e com uma história única que se manifesta
fenomenologicamente de maneira diversificada.
A
psicologia ao pretender ser ciência exige um método empírico que embase
teoricamente o que pretende provar, logo; a depender das faces das abordagens
haverá a adoção de ângulos diferenciados para o olhar apurado sobre o objeto de
estudo que no caso da psicologia não consegue determinar por ser múltiplo. Logo,
um olhar apurado sobre as maneiras que o indivíduo adquire e produz o
conhecimento são essenciais na perspectiva humanista e
fenomenológica-existencial.
Diferentemente
das outras psicologias esta se apropria do ser existente fazendo pontes na sua
história individual como ela é ou como o “ser” está aqui e agora. Pode ser
criticada pelos modelos empíricos que determinam um método diagnóstico e
fechado em medições e variáveis. É, portanto, um método de fluxo que pretende
entender o fenômeno como se apresenta no mundo.
Para
Heidegger a era da técnica aponta para o fim da filosofia. A modernização e a
utilização de técnicas de controle torna-se uma forma de fazer psicologia sem
espontaneidade, sem a leitura do todo, já que autodetermina respostas, ou seja,
generaliza o conceito sobre o humano. Desta forma o Humanismo de Rogers defende
que é o homem que se autodetermina dentro de sua experiência individual sendo
ele cheio de potencialidades e autorrealizações. Para Heidegger não é o homem
que dispõe a ciência, mas ela mesma que dá previamente os modos de ser de cada
um.
A
fenomenologia heideggeriana propõe reflexão neste caminho tecnológico do ser
proposto pela ciência moderna, já que é ele mesmo a base da observação e da
produção científica. Desta forma, pretende resguardar as outras formas de ser
existentes no mundo social. Heidegger
levanta a questão do subjetivismo até mesmo nas ciências humanistas, pois o
subjetivismo pode parecer rarefeito quando não encarado como em sua
radicalidade real que extrapola a visão de um sujeito humano. É para além deste
conceito já que pensa realisticamente o problema do indivíduo no momento em que
este se apresenta como ser subjetivo.
É
objetivo clarificar o ser no mundo mediante o período histórico. Conhecer o que
se é só faz sentido quando o ser aí e o ser no mundo são pensados
filosoficamente, logo, parte da premissa de Sócrates: Conhece-te a ti mesmo.
Este mergulho no ser existente em cada um é a própria filosofia que contrasta a
psicologia, psicanálise e a moralidade.
Na
construção dos signos o homem criou os instrumentos e por meio deles
homogeneizou maneiras de fazer ciência, ou qualquer ação. A criação de
instrumentos possibilitou formas unívocas de transmitir informação ou jeitos de
fazer coisas. A automatização tirou do humano a diversidade de comunicações e
ações e as multipossibilidades de ser a mesma coisa.
Não
é um chamado ao arcadismo e as formas de senso comum, mas uma crítica às formas
fechadas de fazer, ver, ser, sem a reflexão do porque são? É uma reflexão da
história pelo processo histórico que autodeterminou as ações comportamentais. É
uma busca pelos determinantes desta historicidade que culminou no fechamento
radical de diferentes formas de ser em uma única forma de ser. Para Heidegger a
ciência deve ser a experiência do real.
O
real é aquilo que é manifesto pelos entes no mundo naquele determinado tempo,
consigo mesmo e com os outros, e os significados que apreendem àquela ação
naquele tempo, ou seja, aqui e agora. O fenômeno é o que se mostra em si mesmo
e o discurso (verbo/logos) é deixar expressar e compreender o que se diz no
momento em que se diz. A crítica à atualidade é
justamente a objetificação do ser.
O
ser humano deve ser visto na condição de andante. Ele está agora, mas pode vir
a ser depois. Não está estático, mas na consciência moderna perde este poder já
que é apropriado de si para ser o que deve ser. A physis é o vigor reinante, o desabrochar e o perdurar, ou seja; ela
é um modo de operar e fazer. A thesis
ou hipótese é o elencado sobre o ser e suas possibilidades. A união destes
conceitos força operadora e hipóteses geram o real e o vigente. A realidade,
então, é o vigente, é o perdurar e o permanecer no desvelamento do fenômeno que
a existência acessa e manifesta através do discurso.
Enquanto
para os gregos o real era a experiência como produção, para a ciência psicológica
atual o real aparece como um produto de algo que já foi produzido. O real agora
é o certo, não há duvidas e isto se distancia do pensamento filosófico. Para àqueles pensadores o real estava em
movimento podendo, constantemente, vir a
ser ou deixar de ser sendo
expresso pela opinião (doxa) daquele que experiencia; porém, para as teorias
modernas, o real toma a forma de efeito da causa e da consequência, do asseguramento
e da certificação e por isto torna-se objeto.
O
objeto pode ser definido como o que se lança contra o indivíduo. Para
Heidegger, ‘objetidade’ é o que dá sentido àquilo que o indivíduo manifesta
sobre o mundo, ou seja; a imagem do mundo ou a sua representação, logo “. . . a ‘objetividade’ traz consigo o sujeito
que a representa. . . “A ciência é a
teoria do real”.” (p. 193).
Teoria
se mostra como a observação e apropriação do real. Talvez por isto ainda não se
determinou o objeto, pois aparentemente este parece desvincular-se desta
apropriação indevida. Desta forma, o real acaba por fragmentar-se na
insistência das abordagens psicológicas em trabalhar com acúmulos de saberes
que culminam no extermínio da reflexão, já que se ampara no falatório, no
encobrimento das ontologias e na legitimação das ciências.
Por não compreenderam a existência humana
pesquisadores do objeto homem vivem a denominar o animal racional como ser
biopsicossocial o que torna o objeto multifacetado. “Mas o ser aí não é um ente
natural. É abertura na qual todo ente é . . . Ser aí não pode ser controlado
antecipadamente.” (p. 198). Por esta razão é necessário um método de
investigação que corresponda à existência deste ser.
Referências
Bibliográficas
EVANGELISTA, P. E. R. A. Psicologia
Fenomenológica Existencial: a prática psicológica à luz de Heidegger. Curitiba: Juruá, 2016, pp. 181-200.
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