sábado, 12 de dezembro de 2020

Síntese do Texto [Evangelista, P. E. R. A., Sobre o Ser da Ciência Psicologia. Cap. IX]

 

Ao se falar em Psicologia Fenomenológica Existencial partindo-se do método fenomenológico é preciso considerar a tradição teórica e a sua natureza filosófica, já que não toma o homem ou o indivíduo como um simples objeto de estudo, pois este é um ser subjetivo e com uma história única que se manifesta fenomenologicamente de maneira diversificada.

A psicologia ao pretender ser ciência exige um método empírico que embase teoricamente o que pretende provar, logo; a depender das faces das abordagens haverá a adoção de ângulos diferenciados para o olhar apurado sobre o objeto de estudo que no caso da psicologia não consegue determinar por ser múltiplo. Logo, um olhar apurado sobre as maneiras que o indivíduo adquire e produz o conhecimento são essenciais na perspectiva humanista e fenomenológica-existencial.

Diferentemente das outras psicologias esta se apropria do ser existente fazendo pontes na sua história individual como ela é ou como o “ser” está aqui e agora. Pode ser criticada pelos modelos empíricos que determinam um método diagnóstico e fechado em medições e variáveis. É, portanto, um método de fluxo que pretende entender o fenômeno como se apresenta no mundo.

Para Heidegger a era da técnica aponta para o fim da filosofia. A modernização e a utilização de técnicas de controle torna-se uma forma de fazer psicologia sem espontaneidade, sem a leitura do todo, já que autodetermina respostas, ou seja, generaliza o conceito sobre o humano. Desta forma o Humanismo de Rogers defende que é o homem que se autodetermina dentro de sua experiência individual sendo ele cheio de potencialidades e autorrealizações. Para Heidegger não é o homem que dispõe a ciência, mas ela mesma que dá previamente os modos de ser de cada um.

A fenomenologia heideggeriana propõe reflexão neste caminho tecnológico do ser proposto pela ciência moderna, já que é ele mesmo a base da observação e da produção científica. Desta forma, pretende resguardar as outras formas de ser existentes no mundo social.  Heidegger levanta a questão do subjetivismo até mesmo nas ciências humanistas, pois o subjetivismo pode parecer rarefeito quando não encarado como em sua radicalidade real que extrapola a visão de um sujeito humano. É para além deste conceito já que pensa realisticamente o problema do indivíduo no momento em que este se apresenta como ser subjetivo.

É objetivo clarificar o ser no mundo mediante o período histórico. Conhecer o que se é só faz sentido quando o ser aí e o ser no mundo são pensados filosoficamente, logo, parte da premissa de Sócrates: Conhece-te a ti mesmo. Este mergulho no ser existente em cada um é a própria filosofia que contrasta a psicologia, psicanálise e a moralidade.

Na construção dos signos o homem criou os instrumentos e por meio deles homogeneizou maneiras de fazer ciência, ou qualquer ação. A criação de instrumentos possibilitou formas unívocas de transmitir informação ou jeitos de fazer coisas. A automatização tirou do humano a diversidade de comunicações e ações e as multipossibilidades de ser a mesma coisa.

Não é um chamado ao arcadismo e as formas de senso comum, mas uma crítica às formas fechadas de fazer, ver, ser, sem a reflexão do porque são? É uma reflexão da história pelo processo histórico que autodeterminou as ações comportamentais. É uma busca pelos determinantes desta historicidade que culminou no fechamento radical de diferentes formas de ser em uma única forma de ser. Para Heidegger a ciência deve ser a experiência do real.

O real é aquilo que é manifesto pelos entes no mundo naquele determinado tempo, consigo mesmo e com os outros, e os significados que apreendem àquela ação naquele tempo, ou seja, aqui e agora. O fenômeno é o que se mostra em si mesmo e o discurso (verbo/logos) é deixar expressar e compreender o que se diz no momento em que se diz. A crítica à atualidade é justamente a objetificação do ser.

O ser humano deve ser visto na condição de andante. Ele está agora, mas pode vir a ser depois. Não está estático, mas na consciência moderna perde este poder já que é apropriado de si para ser o que deve ser. A physis é o vigor reinante, o desabrochar e o perdurar, ou seja; ela é um modo de operar e fazer. A thesis ou hipótese é o elencado sobre o ser e suas possibilidades. A união destes conceitos força operadora e hipóteses geram o real e o vigente. A realidade, então, é o vigente, é o perdurar e o permanecer no desvelamento do fenômeno que a existência acessa e manifesta através do discurso.

Enquanto para os gregos o real era a experiência como produção, para a ciência psicológica atual o real aparece como um produto de algo que já foi produzido. O real agora é o certo, não há duvidas e isto se distancia do pensamento filosófico.  Para àqueles pensadores o real estava em movimento podendo, constantemente, vir a ser ou deixar de ser sendo expresso pela opinião (doxa) daquele que experiencia; porém, para as teorias modernas, o real toma a forma de efeito da causa e da consequência, do asseguramento e da certificação e por isto torna-se objeto.

O objeto pode ser definido como o que se lança contra o indivíduo. Para Heidegger, ‘objetidade’ é o que dá sentido àquilo que o indivíduo manifesta sobre o mundo, ou seja; a imagem do mundo ou a sua representação, logo  “. . . a ‘objetividade’ traz consigo o sujeito que a representa.  . . “A ciência é a teoria do real”.” (p. 193).

Teoria se mostra como a observação e apropriação do real. Talvez por isto ainda não se determinou o objeto, pois aparentemente este parece desvincular-se desta apropriação indevida. Desta forma, o real acaba por fragmentar-se na insistência das abordagens psicológicas em trabalhar com acúmulos de saberes que culminam no extermínio da reflexão, já que se ampara no falatório, no encobrimento das ontologias e na legitimação das ciências.

 Por não compreenderam a existência humana pesquisadores do objeto homem vivem a denominar o animal racional como ser biopsicossocial o que torna o objeto multifacetado. “Mas o ser aí não é um ente natural. É abertura na qual todo ente é . . .  Ser aí não pode ser controlado antecipadamente.” (p. 198). Por esta razão é necessário um método de investigação que corresponda à existência deste ser.

 

Referências Bibliográficas

 

EVANGELISTA, P. E. R. A. Psicologia Fenomenológica Existencial: a prática psicológica à luz de Heidegger. Curitiba: Juruá, 2016, pp. 181-200.

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