quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Resumo: Trabalho infantil produtivo e desenvolvimento humano.

CAMPOS, H. R.; FRANCISCHINI, R. Trabalho infantil produtivo e desenvolvimento humano. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 8, n. 1, p. 119-129, jan./jun. 2003.i 

RESUMO 

O artigo apresenta e discute as consequências do trabalho infantil quando realizado em uma idade inapropriada ao desenvolvimento da criança. Não é uma tentativa de abarcar todas as consequências, mas de explanar as possíveis; levando em conta a dinâmica cotidiana dos adolescentes dentro de seus núcleos familiares. Os autores levam em conta as tendências teóricas desenvolvidas ao longo dos anos adotando como base teórica os estudos de Vygotsky, considerando o processo de desenvolvimento com base na internalização das regras, valores, maneiras de pensar e agir que se estabelecem nas interações entre pares na sociedade e suas instituições sociais. A partir desse enfoque imergem numa comunidade carente do Rio Grande do Norte para examinar e discutir os impactos do trabalho precoce de crianças nessa comunidade. No decorrer dos estudos percebem que o primeiro impacto é a incorporação do trabalho infantil como sendo algo naturalizado tanto pela necessidade como reiteração da importância do mesmo na manutenção dos lares. O segundo está na justificação da ociosidade masculina adulta que se ampara no desemprego para explorar o trabalho de mulheres e crianças dentro de casa, já que esses trabalham com a fabricação de redes. O terceiro impacto está nas condições físicas das crianças que muito pequenas sofrem com a sobrecarga dos serviços perdendo o interesse pelas práticas infantis, bem como pelos estudos. O quarto impacto é observado na evasão e fracasso escolar, já que as crianças chegam muito cansadas à escola ou vêem nela a única oportunidade de brincar e socializar sem pesos de responsabilidade. O quinto impacto é percebido na relação do adolescente com o dinheiro e o consumo que descarta o valor do estudo já que ganham valores maiores na força do seu trabalho do que com a intectualidade. O sexto impacto interligado ao quinto expõe a vulnerabilidade dos mesmos às drogas lícitas e ilícitas, à prostituição e ao consumo exagerado e o fascínio por itens que ostentam marcas famosas. Dentro dessa perspectiva holística se percebeu como as forças do capitalismo imperam para um aprisionamento do ser de si mesmo, também chamado estado de “alienação”, já que o trabalho explorado de todas as forças paralelo às condições miseráveis da população reitera a força do capital, pois proporcionam aumento da renda para consumo e ao mesmo tempo o lucro do empresário. Nessa lógica perpetua-se a pobreza e é contraditório, mas por estarem presos ao ciclo da ignorância sentem-se fortes pelo aumento da renda, sem perceber que continuam escravos do sistema que impõe danos à humanização por roubar dos indivíduos a saúde, a escolarização e a sua própria identidade. “O modo de produção da vida material condiciona o desenvolvimento da vida social, política e intelectual em geral. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, é o seu ser social que inversamente, determina sua consciência” (MARX,1973, p.28). 

 

REFERÊNCIA: MARX, Karl. Contribuição para a crítica da economia política. Lisboa: Estampa, 1973. 

 

 

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