Segundo Dalgalarrondo (2000) psicopatologia é um dos vieses da ciência que estuda o ser humano e o seu adoecimento resultando em uma síntese de saberes sobre este processo. O autor informa que foi Jaspers (1913) que colocou a psicopatologia entre as ciências que apoiam à psiquiatria, já que “esta” está intimamente ligada à prática profissional e sua reflexibilidade social, pois sua ligação histórica com a medicina levou-a a dedicar-se apuradamente ao sofrimento, paixão e afeto humano tendo como base teórica o conceito médico de doença mental.
Dentro dos estudos da psicopatologia existem diversidades de teorias e embora tenha inicio na junção parceira com a medicina psiquiátrica não possui matriz única, pois está associada às diversas matrizes da psicologia, ou seja; partem de um pressuposto de homem ou questão podendo ser: “[...] descritiva, médica, dinâmica, comportamental-cognitiva, categorial, psicanalítica, dimensional, biológica, sociocultural, operacional-pragmática, fenomenológica existencial ou fundamental.”. (p.52).
A psicologia de base fenomenológica de Husserl e existencial de Heidegger procura compreender a existência humana a partir do que é singular ao mundo humano e histórico, logo não está alicerçada apenas no biológico e psicológico. É, portanto um modo de pensar que revoluciona as bases de compreensão das patologias humanas, porque prioriza a especificidade da existência humana e a amplitude daquilo que singularmente cada um experiencia (Cardinalli, 2004; Dalgalarrondo, 2000 apud Caldas, 2009).
Segundo Ellenberger (1967) o movimento fenomenológico-existencial situa-se historicamente em três momentos principais:
FENOMENOLOGIA DESCRITIVA - JASPERS (1913) |
MÉTODO GENÉTICO-ESTRUTURAL – MINKOWSKI (1926-1933) VON GEBSATTEL (1947-1969) |
ANÁLISE CATEGORIAL - BINSWANGER, STRAUS, FISCHER, MINKOWSKI E VON GEBSATTEL. |
Objetivo: Estabelecer as variações
de quantidade e qualidade, conexões de parentesco, derivações, ou seja,
apreender o compreensível dos fenômenos psíquicos mórbidos. |
Objetivo: Estabelecer conexões e
inter- relações entre o arsenal de dados que a observação fenomenológica
permite de maneira tal que certa estrutura ou molde geral espontaneamente se
destaque de modo a mostrar-se perceptível e acessível à observação do
pesquisador. |
Objetivo: Permitir ao pesquisador
uma reconstrução perfeita e detalhada do mundo interior de seus clientes
através da análise de certas coordenadas, a casualidade, a materialidade e,
mais importantes, o tempo definido como temporalidade e o espaço como
espacialidade. |
Propôs abordar o fenômeno
psíquico mórbido a partir das experiências subjetivas dos próprios pacientes,
de suas vivências. |
Busca um “fator genético”,
um denominador comum que ajudaria a entender e reconstruir a unidade
fundamental da consciência. |
Quebram as fronteiras da
fenomenologia de Jaspers, estudando a história de vida do homem normal e
anormal, tal qual experiência a si mesmo em relação ao mundo. |
Ressonância empática com o
que é revelado. |
Importância do
tempo-espaço ou temporalidade-espacialidade. |
Nós estamos vendo a nós
mesmos quando observamos o mundo. |
Descrições minuciosas,
sistemáticas, intensivas, e a necessidade de delimitar, distinguir, precisar
e apresentar de forma clara, concreta e objetiva os fenômenos vividos pelo paciente. |
No estudo do tempo está a
velocidade com que cada indivíduo o experimenta. O tempo vivido na forma de
um fluxo contínuo, automático e irreversível: passado, presente e futuro. |
Não há hiato entre o homem
e o mundo. O mundo é o lugar de residência da natureza humana e também da
doença. O fenomenologista não deve voltar seu olhar para dentro, mas para
fora. |
Conceitos de reação,
processo e desenvolvimento, sintomas primários e secundários, delirante e
deliróide. Deliróide,
experiência extravagante, porém compreensível e acessível ao homem normal. Delírio,
compreensível em seu conteúdo, apesar de incompreensível em sua forma, e
inacessível à experiência do homem normal. |
O presente:
experiência da consciência da atividade própria e do impulso interior a
atuar. O passado: algo
que nos deixa, embora ainda esteja ao nosso alcance através da memória. O Futuro:
certeza da morte, abertura, projeção, expectação. |
Para Straus (1967): Na melancolia não ocorre
só a lentificação do devenir subjetivo, mas autêntica retroatividade de
vivência do tempo. Em algumas situações psicopatológicas, nas psicoses, se
perde toda possibilidade de con-versar. Nosso mundo cotidiano se
organiza a partir do que é gerado pela experiência sensorial e de acordo com
as características das modalidades (auditivas, visuais, etc.). Quando as
relações entre o eu e o mundo se alteram em profundidade, podem ocorrer as
mais graves perturbações. |
1) Desenvolvimento: Capacidade de compreender
o desabrochar de uma personalidade em suas conexões histórico-vitais. 2) Processo: Ruptura incompreensível do
desenvolvimento, não há mais possibilidade de acesso à sintomatologia
psíquica pela abordagem psicoterápica havendo então a necessidade de
tratamento médico. 3) O primário: Associado ao
incompreensível, ao irredutível no sentido fenomenológico. 4) O secundário: Associado a toda
possibilidade de compreensão, o derivável, o psíquico, o constituinte da
trama biográfico-humana. |
Para Minkowski (1933): Na melancolia e na
esquizofrenia, o transtorno básico estaria relacionado à experiência
do tempo. No primeiro caso, o melancólico percebe o futuro como bloqueado
e o presente, como estancado, dirigindo sua atenção ao passado. No segundo
caso, o esquizofrênico não percebe o tempo como uma continuação, pois perde
seu contato vital com a realidade. Para Von Gebsattel (1967): A experiência de
estagnação-contaminação está relacionada à falta da entrega generosa e
purificadora às forças do futuro, e a sensação de estar sujo, à culpa de não
conseguir se liberar do passado. A estagnação é onipotente no mundo dos
obsessivos. |
Para Binswanger (1946): Caracteriza que o mundo do
maníaco é a fuga de ideias, compreendido a partir de sua “antropologia
filosófica” como “saltante” e “turbilhonante”, fuga ordenada ou desordenada. O maníaco é puro presente,
porque não encontra “defesa” num passado sólido e num futuro efetivamente
projetado, que ele é o que o mundo (material) faz dele, que ele é esse mundo. A consequência da
extravagância ou presunção é permanecer suspenso ou cair. Resulta em autismo
(isolamento), delírio ou suicídio. Uma das características da extravagância é
a ruptura de toda comunicação existencial. Para Boss (1977): Todo tédio comum, desde
logo, inclui aquilo que exprime a própria palavra, um sofrer do tempo
vagaroso, uma secreta saudade de estar abrigado num lugar familiar tão
almejado quando inacessível, ou por uma pessoa querida e distante. Onde não há angústia a ser
superada, não é preciso coragem. Mas, onde reinam o amor, ‘o estar- abrigado’
e a confiança, toda angústia pode desaparecer. |
Quadro 1 - resumo elaborado a partir das informações pp. 53-63.
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