quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Síntese: Capítulo IV - Morato, Barreto & Nunes: Aconselhamento psicológico numa perspectiva fenomenológica existencial: uma introdução.

CALDAS, M. T. Psicopatologia, Fenomenologia e Existência. (In) MORATO, H. T. P.; BARRETO; C. L. B. T.; NUNES, A. P. (coord.). Aconselhamento psicológico numa perspectiva fenomenológica existencial: uma introdução. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. Caps. IV, pp. 52-64. 

Segundo Dalgalarrondo (2000) psicopatologia é um dos vieses da ciência que estuda o ser humano e o seu adoecimento resultando em uma síntese de saberes sobre este processo. O autor informa que foi Jaspers (1913) que colocou a psicopatologia entre as ciências que apoiam à psiquiatria, já que “esta” está intimamente ligada à prática profissional e sua reflexibilidade social, pois sua ligação histórica com a medicina levou-a a dedicar-se apuradamente ao sofrimento, paixão e afeto humano tendo como base teórica o conceito médico de doença mental.

 Dentro dos estudos da psicopatologia existem diversidades de teorias e embora tenha inicio na junção parceira com a medicina psiquiátrica não possui matriz única, pois está associada às diversas matrizes da psicologia, ou seja; partem de um pressuposto de homem ou questão podendo ser: “[...] descritiva, médica, dinâmica, comportamental-cognitiva, categorial, psicanalítica, dimensional, biológica, sociocultural, operacional-pragmática, fenomenológica existencial ou fundamental.”. (p.52).

A psicologia de base fenomenológica de Husserl e existencial de Heidegger procura compreender a existência humana a partir do que é singular ao mundo humano e histórico, logo não está alicerçada apenas no biológico e psicológico. É, portanto um modo de pensar que revoluciona as bases de compreensão das patologias humanas, porque prioriza a especificidade da existência humana e a amplitude daquilo que singularmente cada um experiencia (Cardinalli, 2004; Dalgalarrondo, 2000 apud Caldas, 2009).

Segundo Ellenberger (1967) o movimento fenomenológico-existencial situa-se historicamente em três momentos principais:

FENOMENOLOGIA DESCRITIVA - JASPERS (1913)

MÉTODO GENÉTICO-ESTRUTURAL – MINKOWSKI (1926-1933) VON GEBSATTEL (1947-1969)

ANÁLISE CATEGORIAL - BINSWANGER, STRAUS, FISCHER, MINKOWSKI E VON GEBSATTEL.

 

Objetivo:

Estabelecer as variações de quantidade e qualidade, conexões de parentesco, derivações, ou seja, apreender o compreensível dos fenômenos psíquicos mórbidos.

 

 

Objetivo:

Estabelecer conexões e inter- relações entre o arsenal de dados que a observação fenomenológica permite de maneira tal que certa estrutura ou molde geral espontaneamente se destaque de modo a mostrar-se perceptível e acessível à observação do pesquisador.

 

 

Objetivo:

Permitir ao pesquisador uma reconstrução perfeita e detalhada do mundo interior de seus clientes através da análise de certas coordenadas, a casualidade, a materialidade e, mais importantes, o tempo definido como temporalidade e o espaço como espacialidade.

 

Propôs abordar o fenômeno psíquico mórbido a partir das experiências subjetivas dos próprios pacientes, de suas vivências.

 

 

Busca um “fator genético”, um denominador comum que ajudaria a entender e reconstruir a unidade fundamental da consciência.

 

Quebram as fronteiras da fenomenologia de Jaspers, estudando a história de vida do homem normal e anormal, tal qual experiência a si mesmo em relação ao mundo.

 

 

Ressonância empática com o que é revelado.

 

Importância do tempo-espaço ou temporalidade-espacialidade.

 

 

Nós estamos vendo a nós mesmos quando observamos o mundo.

 

Descrições minuciosas, sistemáticas, intensivas, e a necessidade de delimitar, distinguir, precisar e apresentar de forma clara, concreta e objetiva os fenômenos vividos pelo paciente.

 

 

 

No estudo do tempo está a velocidade com que cada indivíduo o experimenta. O tempo vivido na forma de um fluxo contínuo, automático e irreversível: passado, presente e futuro.

 

 

Não há hiato entre o homem e o mundo. O mundo é o lugar de residência da natureza humana e também da doença. O fenomenologista não deve voltar seu olhar para dentro, mas para fora.

 

Conceitos de reação, processo e desenvolvimento, sintomas primários e secundários, delirante e deliróide.

Deliróide, experiência extravagante, porém compreensível e acessível ao homem normal.

Delírio, compreensível em seu conteúdo, apesar de incompreensível em sua forma, e inacessível à experiência do homem normal.

 

O presente: experiência da consciência da atividade própria e do impulso interior a atuar.

O passado: algo que nos deixa, embora ainda esteja ao nosso alcance através da memória.

O Futuro: certeza da morte, abertura, projeção, expectação.

 

Para Straus (1967):

Na melancolia não ocorre só a lentificação do devenir subjetivo, mas autêntica retroatividade de vivência do tempo. Em algumas situações psicopatológicas, nas psicoses, se perde toda possibilidade de con-versar.

Nosso mundo cotidiano se organiza a partir do que é gerado pela experiência sensorial e de acordo com as características das modalidades (auditivas, visuais, etc.). Quando as relações entre o eu e o mundo se alteram em profundidade, podem ocorrer as mais graves perturbações.

 

1) Desenvolvimento:

Capacidade de compreender o desabrochar de uma personalidade em suas conexões histórico-vitais.

2) Processo:

Ruptura incompreensível do desenvolvimento, não há mais possibilidade de acesso à sintomatologia psíquica pela abordagem psicoterápica havendo então a necessidade de tratamento médico.

3) O primário:

Associado ao incompreensível, ao irredutível no sentido fenomenológico.

4) O secundário:

Associado a toda possibilidade de compreensão, o derivável, o psíquico, o constituinte da trama biográfico-humana.

 

 

Para Minkowski (1933):

Na melancolia e na esquizofrenia, o transtorno básico estaria relacionado à experiência do tempo. No primeiro caso, o melancólico percebe o futuro como bloqueado e o presente, como estancado, dirigindo sua atenção ao passado. No segundo caso, o esquizofrênico não percebe o tempo como uma continuação, pois perde seu contato vital com a realidade.

Para Von Gebsattel (1967):

A experiência de estagnação-contaminação está relacionada à falta da entrega generosa e purificadora às forças do futuro, e a sensação de estar sujo, à culpa de não conseguir se liberar do passado. A estagnação é onipotente no mundo dos obsessivos.

 

Para Binswanger (1946):

Caracteriza que o mundo do maníaco é a fuga de ideias, compreendido a partir de sua “antropologia filosófica” como “saltante” e “turbilhonante”, fuga ordenada ou desordenada.

O maníaco é puro presente, porque não encontra “defesa” num passado sólido e num futuro efetivamente projetado, que ele é o que o mundo (material) faz dele, que ele é esse mundo.

A consequência da extravagância ou presunção é permanecer suspenso ou cair. Resulta em autismo (isolamento), delírio ou suicídio. Uma das características da extravagância é a ruptura de toda comunicação existencial.

Para Boss (1977):

Todo tédio comum, desde logo, inclui aquilo que exprime a própria palavra, um sofrer do tempo vagaroso, uma secreta saudade de estar abrigado num lugar familiar tão almejado quando inacessível, ou por uma pessoa querida e distante.

Onde não há angústia a ser superada, não é preciso coragem. Mas, onde reinam o amor, ‘o estar- abrigado’ e a confiança, toda angústia pode desaparecer.

Quadro 1 - resumo elaborado a partir das informações pp. 53-63.

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