quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Psicodiagnóstico (Cap. 2 TRINCA)

Autor(es):

Trinca, Walter e cools.

Organizador (es):

Trinca, Walter

Coordenador (es):

Clara Regina Rappaport

Editor (es):

Editora Pedagógica e Universitária Ltda

Tradutor:

Não consta

Título e subtítulo da obra:

Diagnóstico psicológico: prática clínica

Título e subtítulo do capítulo 2:

Processo diagnóstico de tipo compreensivo

Autor (es) do capítulo:

Walter Trinca

Edição:

Local de publicação:

São Paulo

Editora:

E.P.U

Data da publicação:

1984

Coleção:

Temas Básicos de Psicologia

Páginas:

111 p.

Intervalo de páginas do capítulo:

1-13 pp.

Volume:

11

(para livros na internet) Disponível em:








file:///C:/Users/Cliente/Downloads/[TRINCA,%20W.]%20Diagn%C3%B3stico%20Psicol%C3%B3gico%20-%20a%20pr%C3% A1tica %20cl%C3%ADnica.pdf

p. 14 (2.1. Introdução)

ü  “Processo diagnóstico é a forma resultante de determinada organização e estruturação dos elementos de um estudo de caso, realizado segundo certa concepção diagnóstica (p. 14)”.

ü  Obedece a uma sequência de etapas e períodos para atingir os objetivos do diagnóstico. Essas etapas e períodos possuem uma base teórica e prática que são classificadas de acordo com os tipos teóricos existentes:

  1. Processo psicométrico: psicólogo é “[...] um aplicador e avaliador de testes psicológicos [...]” com pouco contato aos “[...] aspectos parciais da personalidade do paciente [...]”, cuja objetividade “[...] evita maiores compromissos profissionais com a vida pessoal e afetiva do paciente, prejudicando a integração dos dados numa visão globalizadora (p. 14)”.
  2. Processo comportamental: “[...] observação objetiva, exclusão de apreciações a respeito do mundo interno, [...] referenciais extraídos da Psicologia da Aprendizagem, [...] programas desenvolvidos pela Psicologia Experimental, [...] noções de condicionamentos clássico e operante (p. 14)”.
  3. Processo psicanalítico: “[...] concepção predominante, [...] diagnóstico deve configurar uma espécie de antevisão dos fenômenos [...] (p. 14).”.
  4. Processo baseado no modelo médico: “[...] transposição, para o diagnóstico psicológico, [...] noções advindas do diagnóstico clínico em medicina, [...] visão médica, [...] impregna o diagnóstico psicológico neste processo, toma a vida emocional em termos similares àqueles empregados para o organismo, [...] objeto concebido como doente, próprio para ser manipulado, dissecado, tratado etc. (p. 14).”.
  5. Processo compreensivo: parte da necessidade de abarcar uma variação grande de causas que se apresentam nos estudos de caso. “[...] significa abraçar, tomar e apreender o conjunto. (p. 14)”.  Procura dar sentido a um conjunto de informações, ou seja, busca as relevâncias significativas da personalidade através de um contato pessoal empático cuja profundidade das emoções será buscada. Na Psicologia Clínica, caracteriza-se por dar ênfase às particularidades do indivíduo, utilizando-se de metodologia própria na busca de soluções e empregando referenciais diversos confrontando as metodologias que caminham em uma única via afastando o indivíduo de sua integralidade. É um processo amplo das ““dinâmicas intrapsíquicas, intrafamiliares e sócio-culturais, como forças e conjuntos de forças em interação, que resultam em desajustamentos individuais”.” (Trinca, 1983, p. 17 apud Trinca, 1984, p. 14). Procura avaliar destacando aspectos intelectuais, psicomotores e emocionais não deixando de enxergar o indivíduo como um ser integral.

 p. 16 (2.2. Fatores estruturantes do processo compreensivo)

ü  “No caso do processo diagnóstico de tipo compreensivo encontramos, comumente associados em um mesmo estudo de caso, os seguintes principais fatores estruturantes:[...]” (p. 16)

p. 16 e 17 (2.2.1. Objetivo de elucidar o significado das perturbações)

ü  Primeiramente há uma busca por trazer a tona o significado do desajuste que trouxe a pessoa até a clínica. O compromisso do profissional está na compreensão da queixa, dos sintomas e dos distúrbios. Busca captar as mensagens do inconsciente.

ü  Enquanto o modelo médico dá uma explicação etiológica, ou seja, nomeia o fenômeno pelos sintomas, o modelo compreensivo busca deixar evidentes as

atividades dos distúrbios e os motivos inconscientes que mantém o comportamento. Exemplo: uma criança com enurese, segura o “xixi” para assegurar sua autonomia. Poderia significar liberdade em relação a uma mãe dominadora, ou o sintoma seria a maneira que ela encontra para exprimir o conflito com a mãe real ou com a mãe internalizada – “conflito intrapsíquico”.

ü  O objetivo do psicólogo é enxergar além do que se apresenta e trazer à luz os determinantes que originam os distúrbios, fazendo uso de referencial psicanalítico. Melanie Klein explicaria essa apreensão como uma tentativa de alcançar os vértices que originaram a angústia e a fantasia inconsciente que são os responsáveis pelos desencontros da personalidade, mas que se bem observados podem ser ricas fontes para o desenvolvimento do indivíduo.

p. 17 (2 .2 .2 . Ênfase na dinâmica emocional inconsciente)

ü  A abordagem psicanalítica é preponderante nesse processo, por essa razão o psicólogo deve estar habituado a fazer uso desses referenciais. O constante uso de entrevistas, anamnese, testes projetivos torna necessário que o profissional reconheça os fenômenos inconscientes e sua dinâmica, bem como a dinâmica dos conflitos, a estrutura e a organização latente da personalidade. Necessita ainda, conhecer a dinâmica familiar e as disputas que permeiam essas relações e que se dão inconscientemente.

ü  Outro fator importante é reconhecer os processos de transferência e contratransferência e saber lidar com eles, já que o profissional experiente possui habilidades experienciadas de lida com o mundo interno. A reflexão sobre os próprios sentimentos envolvidos durante o setting.

ü  A associação livre como pedra angular da psicanálise é de suma importância para a compreensão da totalidade desse indivíduo. As entrevistas livres com a dinâmica familiar constituem um uso modificado dessa técnica para fins diagnósticos.

p. 17, 18 (2.2.3. Considerações de conjunto para o material clínico)

ü  O diagnóstico do tipo compreensivo é um contexto de diagnóstico, porque leva em consideração todos os aspectos que envolvem o encaminhamento daquele paciente até a sua resolução final. É uma visão de conjunto de material a fim de estabelecer o produto da clínica. É uma análise global. É esse contexto que dará prosseguimento à investigação.

ü  Todo esse contexto desde o contato com quem encaminhou, bem como a família e o paciente, seu ambiente social, cultural, considerações observadas, entrevistas realizadas, testes em contexto, técnicas investigativas, o próprio material biopsicossocial do profissional, bagagens de conhecimento clínico, teórico e de referências compõem o todo que auxiliará na totalidade dos dados.

[...] um diagnóstico psicológico de tipo compreensivo realiza um levantamento exaustivo de dados e informações, abrangendo os múltiplos aspectos da personalidade do paciente, do ambiente familiar e social deste, e da interação entre esses fatores [...] contexto diagnóstico é tudo o que ocorre de modo significativo na realização de determinado estudo diagnóstico [...] (p. 18).

p. 18-19 (2.2.4. Busca de compreensão psicológica globalizada do paciente)

ü  Para realizar uma avaliação psicodiagnóstica é preciso mensurar a totalidade de um indivíduo, por isso na avaliação diagnóstica compreensiva procura-se por na balança todas as forças constitutivas de um ser humano, entre elas as

 

ü  Intrapsíquicas, cujo conhecimento elucida o hoje vivido e o desenvolvimento enquanto processo evolutivo, as Intrafamiliares que pontuam decisoriamente nos processos psicopatológicos e psicopatogênicos e as Socioculturais que constituem dados básicos para elucidação do caso.

Interessam-nos, principalmente, as estruturas psicopatológicas e as disfunções dinâmicas que se inserem no arcabouço sadio da personalidade, as bases de funcionamento da personalidade em seus vários níveis, os traços de caráter, a organização e a estruturação da personalidade, com atenção especial à distinção entre estruturas neuróticas e psicóticas, os elementos constitutivos da personalidade, sua interação com o mundo externo etc. (p. 19).

p. 19-20 (2.2.5. Seleção de aspectos centrais e nodais)

ü  A escolha seletiva é central para que uma conclusão de orientação segura ocorra. Essa escolha se aterá a fatos relevantes e essenciais, não que os fatores irrelevantes sejam ignorados, mas os determinantes mais significativos são elencados com prioridade.

Com alguma experiência, o psicólogo pode visualizar, no contexto diagnóstico, as principais forças e conjuntos de forças psicopatológicas e psicopatogênicas que se ressaltam por sua intensidade, repetição, colorido emocional, modo peculiar de se comportar, dano produzido etc. (p. 19).

ü  Nos casos onde o emocional encontra-se em desordem os fatores como angústia e fantasias inconscientes mantém o organismo em desequilíbrio e são os pontos chamados de nodais ou centrais, ou seja, eles precisam vir a tona, pois integram assertivamente o desenvolvimento patológico. São “[...] núcleos destes processos e devem ser diferenciadas dos aspectos secundários que, inevitavelmente, gravitam ao redor dos núcleos”. (p. 20)

p. 20-21 (2.2.6. Predomínio do julgamento clínico)

ü  1950 – Controvérsias entre estudiosos sobre testes quantitativos e análises clínicas. A grande ênfase a cientificidade dos testes, validação e constructos lógicos punham em dúvida a validade dos julgamentos clínicos de métodos clínicos.

ü  Ao longo dos anos houve mudanças em relação a isso, pois “[...] os testes psicológicos objetivos não podiam abarcar a maioria dos problemas humanos com que um psicólogo clínico habitualmente se defronta [...] (p. 20)”.

O modelo diagnóstico de tipo compreensivo não dispensa o uso de testes psicológicos objetivos; coloca-os a serviço do julgamento clínico. Este, por sua vez, depende do grau de evolução profissional e maturidade alcançado pelo psicólogo em suas atividades clínicas (p. 21).

p. 21 (2.2.7. Subordinação do processo diagnóstico ao pensamento clínico)

ü  No diagnóstico psicológico de tipo compreensivo, a maneira como se constrói o processo diagnóstico fica sob o comando do tipo de pensamento com que o estudo de caso será conduzido. Isso significa que o processo diagnóstico mais uniforme, imutável e generalizador será precedido de uma maior flexibilidade no tratamento dos contextos mentais em ascensão.

ü  Cada caso clínico permite que ocorra pelo menos uma forma de pensamento a ele relativa. O processo diagnóstico se estrutura em conformidade com essa forma (p.21).

ü  Elementos no contexto diagnóstico (testes psicológicos, por exemplo) ficam na dependência das exigências do pensamento clínico em questão (p.21).

ü  O processo diagnóstico é estruturado no contexto de relações significativas dadas pelo pensamento clínico, e não através de justaposições cegas de elementos ou arranjos das informações como “colchas de retalhos” (p.21).

ü  Torna o assunto amplo e interessante, descortinando-se-lhe horizontes de imensas possibilidades (p.21).

p. 21-22 (2.2.8. Prevalência do uso de métodos e técnicas de exame fundamentados na associação livre)

ü  Processo de tipo compreensivo: “[...] lugar de relevo a entrevista clínica, a observação clínica, os testes psicológicos, os testes psicológicos usados como formas auxiliares de entrevistas, demais técnicas de investigação clínica da personalidade etc.” (p. 21).

ü  O uso desses procedimentos é determinado por sua capacidade de eliciar material clínico significativo: entrevista clínica - espécie de desdobramento, especialmente quando se aplica a crianças. É a escolha daqueles procedimentos que permitem maior liberdade para a emergência de material clínico (p. 22).

ü  Mais usados - aqueles que se fundamentam nos princípios de associação livre de Freud: Jogo de Rabiscos (Winnicott, 1971), da Observação Lúdica ou Hora de Jogo (Aberastury, 1962) e do Procedimento de Desenhos-Estórias (Trinca, 1976 apud Trinca, 1984, p. 22).

ü  Por quê? Situação de estímulos não estruturados ou semi-estruturados [...]  exprimir suas dificuldades emocionais. Adaptam facilmente ao modo peculiar de comunicação de crianças e de adolescentes. Facilitam a expressão emocional dos adultos, em função de conterem o princípio da associação livre (p. 22).

ü  Avaliação desses procedimentos clínicos é feita geralmente através da livre inspeção do material, com base na experiência do profissional (p. 22).

 

p. 22-23 (2.3. Outros aspectos)

ü  O processo diagnóstico de tipo compreensivo sofre influências de alguns aspectos importantes e pode ser estudado por esses aspectos. São eles: [...] a) Como uma forma da relação do psicólogo com o seu trabalho [...] b) Como uma forma da relação psicólogo-paciente [...] c) Como um leque de finalidades práticas [...] d) Como um posicionamento epistemológico do psicólogo [...]  e) Como um sistema de referenciais múltiplos (p. 23).

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