Autor(es): |
ANCONA-LOPEZ, Silvia (org.) |
Organizador (es): |
Silvia Ancona-Lopez |
Coordenador (es): |
Danilo A Q Morales |
Editor (es): |
Não consta |
Tradutor: |
Não consta |
Título e
subtítulo da obra: |
Psicodiagnóstico
Interventivo: evolução de uma prática |
Título e subtítulo do capítulo 1: |
Psicodiagnóstico
fenomenológico-existencial: focalizando os aspectos saudáveis |
Autor (es) do capítulo: |
Gohara Yvette Yehia |
Edição: |
1 ed. |
Local de
publicação: |
São Paulo |
Editora: |
Cortez |
Data da
publicação: |
2014 |
Coleção: |
|
Páginas: |
186 p. |
Intervalo
de páginas do capítulo: |
|
Volume: |
|
(para
livros na internet) Disponível em: |
https://docero.com.br/doc/s058e |
(para
livros na internet) Acesso em: |
Março 2019 |
Um pouco de História (20-22 p.) ü SaúdexDoença: Não é
dicotômica, estão inter-relacionadas. É um processo único, ou seja, não está
no fato de ter ou não ter. Ex. Doença mental: poderia caracterizar uma
construção de outros modos de existência, mediante dificuldades de respostas
hábeis às existência. Outra forma de existir que foge a norma. ü Saúde do
latim: salus – bem estar/integridade/cuidado; grego: pathos – sofrer/ser
afetado/não resistir. ü Ao longo
da história saúde e doença foi vista de diferentes formas e acompanhou a
evolução da ciência e da sociedade: ü Idade Média: A vida
era coletiva, voltada às tradições e a entidades poderosas (míticas). ü Renascimento: descobertas, ampliação
do comércio, muitas possibilidades. Os sentimentos marcantes desse período
eram o desamparo, incertezas. O mundo aparentemente inóspito. Surge a
necessidade de controle e um movimento para a introspecção e racionalidade. ü Idade Moderna: Criação do
método. Valorização da lógica, coerência. Fenômenos devem ser explicados pela
razão – exclusão do senso comum. Predomínio da técnica e privilegia
procedimentos técnicos Distancia-se do ato de debruçar-se sobre o leito. O
clínico é o especialista. Redução do acolhimento à triagem. Uso da técnica
para encaminhar às especialidades (mediação técnica). ü Modelo técnico científico – sinais
de esgotamento. Técnica Fenomenológica Existencial - Encontro com o outro.
Domínio do saber não funciona como um lugar seguro; não traz respostas
absolutas. Não alivia a angústia e alteridade, ao contrário nega a alteridade
e a reduz num encaixe normativo de constructos teóricos. Homem teórico e
racional que explica irracionalidade (vista como um desvio) – fim último:
controlar e ajustar. ü Nova Proposta: Campo
ético – desloca-se o saber e constroem-se sentidos. O psicólogo é um mediador
e não um mero especialista que detém o saber. Ele acolhe os saberes do outro
para então resgatar a dimensão ética. Desmistifica verdades que anulam o
outro (exclusão X injustiça social). Normas naturalizantes e
universalizantes. A diferença não aparece como algo a ser negado ou excluído.
Contribui para mudar os sistemas que estão cristalizados. Cultura – corpo
normativo – uso da palavra – signos. Estabelecimento da cultura de exclusão
podendo ser transformada pela consolidação de nova cultura. ü À medida
que o homem faz uso de uma prática pautada no comprometimento social, como é
o caso da Fenomenologia existencial, haverá uma emancipação cidadã porque os
profissionais estarão imbuídos de lutar pela promoção do desenvolvimento
profissional e pessoal dos indivíduos. O olhar atuante do profissional estará
voltado para as causas do sofrimento humano e preocupado em utilizar
abordagens teóricas que contemplem essas dimensões do campo social. ü Tem,
portanto a Clínica Fenomenologia Existencial uma consideração pela
constituição da existência humana levando em conta que essa é relacional, ou
seja, que ela se revela quando dois indivíduos se encontram. É o encontro de
intersubjetividades que oportunizam mudanças desenvolvimentais, cognitivas e
sociais. É o lugar de ver e ser visto, de ouvir e ser ouvido (Figueiredo,
1995 apud Yehia, 2014). |
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O psicodiagnóstico (22-24 p) ü Muitas
instituições são procuradas pela gratuidade do atendimento psicológico e na
sua maioria por pais com filhos com algum problema de aprendizagem
relacionado a distúrbios no comportamento que tiveram encaminhamento por
médico, assistente social, escola entre outros. ü As
instituições aceitam a demanda, pois existem muitas causas concorrentes -
intelecto, emoção, psicomotricidade, neural e fonoaudiológica - que precisam
de investigação profissional. ü Psicodiagnóstico tradicional: 1 ou 2
entrevistas com pais – contato com a queixa, dinâmica da família e
desenvolvimento da criança – testes, avaliação desses testes, 1 ou 2
entrevistas devolutivas aos responsáveis para oferecimento de conclusões
diagnósticas, sugestão de caminhos a serem trilhados: psicoterapia,
orientação, psicomotricidade, etc. ü Os pais
que após receberem essa orientação comparecem na orientação e mostram-se
decepcionados, sem vontade, sem conhecimento do que ocorreu no processo,
repetem a queixa e a indicação terapêutica. ü O mesmo
não ocorre com o psicólogo já que esse sente que cumpriu seu papel fazendo
uma indicação terapêutica dentro do observado e investigado. ü Porém, se
o psicodiagnóstico for uma forma de levantar dados para orientar o processo terapêutico como
uma ponte para o que ocorrerá depois, então será significativo e capaz de
operar mudanças reais. ü “[...] o atendimento somente deve tornar-se
efetivo na psicoterapia”? (p. 23). A autora sugere que é preciso torná-lo
mais significativo e satisfatório. ü 1987 –
metodologia fenomenológica – Ancona-Lopez entra em contato com trabalhos de
Fischer verificando aspectos comuns em relação à possível intervenção durante
o processo psicodiagnóstico. 1994 – Yehia retoma esse trabalho em follow-up. O processo psicodiagnóstico fenomenológico existencial [...] (24-27 p.) ü Processo fenomenológico-existencial infantil – 10 ou
12 sessões, dessas 6 ou 7 com pais. ü Os objetos
tem um significante através das relações estabelecidas com outros
significados já prontos. Objetos usuais não são questionados toda hora, nem
as pessoas com quem se divide o mundo. ü No
entanto, quando alguma coisa ou comportamento da criança torna-se inusual
percebe-se que algo está errado, foi rompido e os objetos passam a ser
questionados. ü Essa é a
oportunidade para questionar as relações pais&filhos, problematizando-as
nas intersubjetividades relacionadas aos objetos, pessoas e mundo. “É neste contexto que o psicodiagnóstico
se propõe explicitar o sentido da experiência do cliente”. (p. 24). ü O objetivo
do psicodiagnóstico infantil é explorar o significado da queixa e dos
sintomas, e da leitura individual dos envolvidos na problemática. Mesmo que
seja a criança a ser atendida, compreender que são os responsáveis que arcam
com despesas, tempo em disponibilidade e mudanças transformadores que o
processo terapêutico proporciona. Por essa razão é preciso apoiá-los,
incentivá-los e motivá-los a manterem-se firmes na caminhada terapêutica. |
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ü 1ª sessão
– questionar o motivo da consulta. Como eles entendem o atendimento e qual a
expectativa? Possibilitar compreensão da importância de sua participação no
processo. ü Psicólogo
– compreender a pergunta trazida, participar do significado comum do projeto
do cliente. Acontecimentos e contextos devem ser identificados para compreender os motivos da procura. ü Sessões
seguintes- anamnese – conhecer condições familiares e sociais, bem como os
vínculos e papéis ocupados no contexto. O roteiro é importante, pois através
dele conhecem-se as condições biopsicossociais da criança e oportuniza aos
responsáveis participarem do processo passado e presente e suas relações
envolvidas por sentimentos, expectativas e ações que implicam nas relações
pessoais com a criança. ü Mesmo não
tendo ainda contato com a criança o psicólogo começa a delinear uma imagem da
mesma por intermédio dos responsáveis. Numa terceira e quarta sessões haverá
o primeiro contato com a criança que deve ser orientado do porque está ali.
Muitas vezes os responsáveis sentem-se inseguros em relação aos sentimentos
da criança e temem que ela possa piorar, é papel do terapeuta retomar as
fantasias dos envolvidos no processo. ü A criança:
1º contato – observação lúdica, entrevista acompanhada de desenho. Sessões
intercaladas com responsáveis e a criança começam a ocorrer. ü Pesquisa
com os pais a partir do material coletado anteriormente faz-se necessário a
certos aspectos da vida cotidiana da criança, pois esse contato abre outras
possibilidades de entendimento. ü Cada
instrumento utilizado (testes, observações) deve ser comunicado aos
responsáveis. Para compreenderem de onde o profissional está partindo e quais
referenciais teóricos estão usando, podendo participar de decisões sobre o
que investigar e desmitificando os instrumentos. ü Nessa
comunicação a linguagem deve ser acessível ao nível socioeconômico e cultural
dos envolvidos para que possa fazer sentido. ü Ao final
do processo – descrever o passo-a-passo realizado, ler o relatório final e
sua síntese profissional aos pais deixando aberto para modificações,
alterações, acréscimos ou eliminação de termos ou situações. Psicodiagnóstico interventivo, na
abordagem fenomenológica existencial: uma mudança de atitude (27-28 p.) ü “O cliente, antes agente passivo, torna-se um
parceiro ativo e envolvido no trabalho de compreensão e eventual
encaminhamento posterior: é corresponsável pelo trabalho desenvolvido”. ü “O psicólogo não é mais o técnico, o detentor do
saber que procura oferecer respostas às perguntas trazidas pelos pais”. ü “A situação de psicodiagnóstico torna-se, então,
uma situação de cooperação, na qual a capacidade de ambas as partes observarem,
apreenderem e compreenderem constitui a base indispensável para o trabalho”. ü “O psicólogo aceita as colocações dos pais a
respeito daquilo que eles observam, pensam e concluem, procurando ampliar seu
campo de visão, contextualizando a queixa particular para inseri-la em
contexto mais amplo”. ü “Em geral, através de suas intervenções, o
psicólogo procura promover novas possibilidades existenciais na medida em que
trabalha com o outro a transformação de seu projeto”. |
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ü “A partir de seus contatos com a criança, o
psicólogo procura descrever como compreendeu os comportamentos que lhe
apareceram”. ü “O uso de qualquer instrumento é discutido tanto
com os pais como com a criança, sendo explicitados o objetivo e os princípios
gerais subjacentes a eles”. ü “Assim, o psicodiagnóstico
fenomenológico-existencial envolve um trabalho de redirecionamento dos pais a
partir da compreensão da criança e da dinâmica familiar, com o objetivo de
facilitar o relacionamento, propiciar novas formas de interação e abrir novas
perspectivas experienciais”. O estilo das intervenções do
psicólogo (28-29 p.) ü “Para conhecer a criança, o profissional faz uso
de diversos instrumentos, pertencentes ao cabedal de recursos dos quais o
psicólogo clínico dispõe para atender a um cliente. Entre estes se destacam a
observação lúdica, mais utilizada com crianças pequenas, entrevistas e
testes”. ü “Frequentemente, em se tratando de dificuldades de
aprendizagem, é necessário recorrer a testes de nível intelectual”. ü “São muitas as críticas que algumas abordagens em
Psicologia fazem à utilização deste tipo de instrumento, quando utilizado
seguindo as normas da psicometria, mesmo depois de elas serem adaptadas para
a população brasileira. Entretanto, a recusa desses instrumentos parece-nos
uma atitude extremada, uma vez que pode levar à rejeição de possibilidades de
interação com a criança nas situações propostas pelo teste (uma vez que
reproduzem algumas daquelas que a criança vive em seu dia a dia)”. ü Resumindo, consideramos os testes organizadores
que possibilitam a emergência de vivências que ocorrem no cotidiano da
criança. Outros recursos utilizados: a visita
domiciliar e a visita à escola (p. 29) ü Visita domiciliar: [...] permite a observação, in
loco, da família, assim como a ressignificação de falas e observações
ocorridas durante as sessões e à escola: [...] podem-se observar e, às vezes,
redimensionar queixas em relação à criança. Dependendo da disponibilidade da
escola, ainda torna possível orientar a professora a partir da compreensão da
criança. As repercussões deste trabalho sobre
os pais (p. 29-31) ü Em vários casos estudados, nota-se um movimento
dos pais que culmina, geralmente, em torno da quinta sessão, quando eles
relatam modificações em sua compreensão da criança e tentativas de mudança em
sua forma de se relacionarem com ela, ao mesmo tempo que, também, parecem ter
perdido seus referenciais, tornando-se dependentes das indicações do
psicólogo. ü Em alguns casos, o trabalho se encerra nesta
primeira fase. De fato, quando os pais não estão motivados para o trabalho
proposto, por se mostrar distante de suas expectativas ou muito ameaçador,
desistem do atendimento. |
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ü Em outros casos, porém, é possível instalar-se um
campo interacional, no qual os pais e o psicólogo viverão experiências [...]
Entretanto, enquanto esta nova construção ainda não se deu e a antiga
encontra-se abalada, é como se os participantes pairassem numa espécie de
vazio, com a sensação de que perderam o pé, não sabem o que fazer. ü É esse o momento em que os aspectos terapêuticos
do processo se manifestam mais claramente. Eles foram sendo preparados e
aconteceram sem ter sido, obrigatoriamente, formulados através de
verbalizações. ü Insisto, neste trabalho, busca-se sempre focalizar
os aspectos saudáveis da criança e dos pais, fazendo apelo à abertura de
novas possibilidades de estar-com em vez da busca de uma adequação a algo
considerado “normal” pela ciência, respeitando a cultura e o contexto
familiar. ü Desse modo, pode-se compreender a importância da
elaboração do relatório final [...] permite verificar a consistência e a
coerência das conclusões às quais se chegou. Ele tem a finalidade de
constituir-se em uma síntese do processo, descrevendo o que ocorreu neste
período de atendimento. ü Por essa perspectiva, a leitura do relatório no final
do atendimento se constitui em um momento significativo do processo.
Para isso, o psicólogo está aberto para alterações
do texto, caso eles não concordem com este. O follow-up (p. 31-32) ü A entrevista de follow-up é realizada com a
finalidade de retomar, passado algum tempo, a experiência vivida pelos pais
durante o psicodiagnóstico, a fim de conhecer sua fecundidade e eficácia. |
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