quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Psicodiagnóstico (Cap. 1 ANCONA-LOPEZ)

 

Autor(es):

ANCONA-LOPEZ, Silvia (org.)

Organizador (es):

Silvia Ancona-Lopez

Coordenador (es):

Danilo A Q Morales

Editor (es):

Não consta

Tradutor:

Não consta

Título e subtítulo da obra:

Psicodiagnóstico Interventivo: evolução de uma prática

Título e subtítulo do capítulo 1:

Psicodiagnóstico fenomenológico-existencial: focalizando os aspectos saudáveis

Autor (es) do capítulo:

Gohara Yvette Yehia

Edição:

1  ed.

Local de publicação:

São Paulo

Editora:

Cortez

Data da publicação:

2014

Coleção:

 

Páginas:

186 p.

Intervalo de páginas do capítulo:

 

Volume:

 

(para livros na internet) Disponível em:

https://docero.com.br/doc/s058e

(para livros na internet) Acesso em:

Março 2019

Um pouco de História (20-22 p.)

 

ü  SaúdexDoença: Não é dicotômica, estão inter-relacionadas. É um processo único, ou seja, não está no fato de ter ou não ter. Ex. Doença mental: poderia caracterizar uma construção de outros modos de existência, mediante dificuldades de respostas hábeis às existência. Outra forma de existir que foge a norma.

ü  Saúde do latim: salus – bem estar/integridade/cuidado; grego: pathos – sofrer/ser afetado/não resistir.

ü  Ao longo da história saúde e doença foi vista de diferentes formas e acompanhou a evolução da ciência e da sociedade:

ü  Idade Média: A vida era coletiva, voltada às tradições e a entidades poderosas (míticas).

ü   Renascimento: descobertas, ampliação do comércio, muitas possibilidades. Os sentimentos marcantes desse período eram o desamparo, incertezas. O mundo aparentemente inóspito. Surge a necessidade de controle e um movimento para a introspecção e racionalidade.

ü  Idade Moderna: Criação do método. Valorização da lógica, coerência. Fenômenos devem ser explicados pela razão – exclusão do senso comum. Predomínio da técnica e privilegia procedimentos técnicos Distancia-se do ato de debruçar-se sobre o leito. O clínico é o especialista. Redução do acolhimento à triagem. Uso da técnica para encaminhar às especialidades (mediação técnica).

ü  Modelo técnico científico – sinais de esgotamento. Técnica Fenomenológica Existencial - Encontro com o outro. Domínio do saber não funciona como um lugar seguro; não traz respostas absolutas. Não alivia a angústia e alteridade, ao contrário nega a alteridade e a reduz num encaixe normativo de constructos teóricos. Homem teórico e racional que explica irracionalidade (vista como um desvio) – fim último: controlar e ajustar.

ü  Nova Proposta: Campo ético – desloca-se o saber e constroem-se sentidos. O psicólogo é um mediador e não um mero especialista que detém o saber. Ele acolhe os saberes do outro para então resgatar a dimensão ética. Desmistifica verdades que anulam o outro (exclusão X injustiça social). Normas naturalizantes e universalizantes. A diferença não aparece como algo a ser negado ou excluído. Contribui para mudar os sistemas que estão cristalizados. Cultura – corpo normativo – uso da palavra – signos. Estabelecimento da cultura de exclusão podendo ser transformada pela consolidação de nova cultura.

ü  À medida que o homem faz uso de uma prática pautada no comprometimento social, como é o caso da Fenomenologia existencial, haverá uma emancipação cidadã porque os profissionais estarão imbuídos de lutar pela promoção do desenvolvimento profissional e pessoal dos indivíduos. O olhar atuante do profissional estará voltado para as causas do sofrimento humano e preocupado em utilizar abordagens teóricas que contemplem essas dimensões do campo social.

ü  Tem, portanto a Clínica Fenomenologia Existencial uma consideração pela constituição da existência humana levando em conta que essa é relacional, ou seja, que ela se revela quando dois indivíduos se encontram. É o encontro de intersubjetividades que oportunizam mudanças desenvolvimentais, cognitivas e sociais. É o lugar de ver e ser visto, de ouvir e ser ouvido (Figueiredo, 1995 apud Yehia, 2014).

 

O psicodiagnóstico (22-24 p)

 

ü  Muitas instituições são procuradas pela gratuidade do atendimento psicológico e na sua maioria por pais com filhos com algum problema de aprendizagem relacionado a distúrbios no comportamento que tiveram encaminhamento por médico, assistente social, escola entre outros.

ü  As instituições aceitam a demanda, pois existem muitas causas concorrentes - intelecto, emoção, psicomotricidade, neural e fonoaudiológica - que precisam de investigação profissional.

ü  Psicodiagnóstico tradicional: 1 ou 2 entrevistas com pais – contato com a queixa, dinâmica da família e desenvolvimento da criança – testes, avaliação desses testes, 1 ou 2 entrevistas devolutivas aos responsáveis para oferecimento de conclusões diagnósticas, sugestão de caminhos a serem trilhados: psicoterapia, orientação, psicomotricidade, etc.

ü  Os pais que após receberem essa orientação comparecem na orientação e mostram-se decepcionados, sem vontade, sem conhecimento do que ocorreu no processo, repetem a queixa e a indicação terapêutica.

ü  O mesmo não ocorre com o psicólogo já que esse sente que cumpriu seu papel fazendo uma indicação terapêutica dentro do observado e investigado.

ü  Porém, se o psicodiagnóstico for uma forma de levantar dados  para orientar o processo terapêutico como uma ponte para o que ocorrerá depois, então será significativo e capaz de operar mudanças reais.

ü  “[...] o atendimento somente deve tornar-se efetivo na psicoterapia”? (p. 23). A autora sugere que é preciso torná-lo mais significativo e satisfatório.

ü  1987 – metodologia fenomenológica – Ancona-Lopez entra em contato com trabalhos de Fischer verificando aspectos comuns em relação à possível intervenção durante o processo psicodiagnóstico. 1994 – Yehia retoma esse trabalho em follow-up.

 

O processo psicodiagnóstico fenomenológico existencial [...] 

(24-27 p.)

 

ü  Processo  fenomenológico-existencial infantil – 10 ou 12 sessões, dessas 6 ou 7 com pais.

ü  Os objetos tem um significante através das relações estabelecidas com outros significados já prontos. Objetos usuais não são questionados toda hora, nem as pessoas com quem se divide o mundo.

ü  No entanto, quando alguma coisa ou comportamento da criança torna-se inusual percebe-se que algo está errado, foi rompido e os objetos passam a ser questionados.

ü  Essa é a oportunidade para questionar as relações pais&filhos, problematizando-as nas intersubjetividades relacionadas aos objetos, pessoas e mundo. “É neste contexto que o psicodiagnóstico se propõe explicitar o sentido da experiência do cliente”. (p. 24).

ü  O objetivo do psicodiagnóstico infantil é explorar o significado da queixa e dos sintomas, e da leitura individual dos envolvidos na problemática. Mesmo que seja a criança a ser atendida, compreender que são os responsáveis que arcam com despesas, tempo em disponibilidade e mudanças transformadores que o processo terapêutico proporciona. Por essa razão é preciso apoiá-los, incentivá-los e motivá-los a manterem-se firmes na caminhada terapêutica.

 

ü  1ª sessão – questionar o motivo da consulta. Como eles entendem o atendimento e qual a expectativa? Possibilitar compreensão da importância de sua participação no processo.

ü  Psicólogo – compreender a pergunta trazida, participar do significado comum do projeto do cliente. Acontecimentos e contextos devem ser identificados  para compreender os motivos da procura.

ü  Sessões seguintes- anamnese – conhecer condições familiares e sociais, bem como os vínculos e papéis ocupados no contexto. O roteiro é importante, pois através dele conhecem-se as condições biopsicossociais da criança e oportuniza aos responsáveis participarem do processo passado e presente e suas relações envolvidas por sentimentos, expectativas e ações que implicam nas relações pessoais com a criança.

ü  Mesmo não tendo ainda contato com a criança o psicólogo começa a delinear uma imagem da mesma por intermédio dos responsáveis. Numa terceira e quarta sessões haverá o primeiro contato com a criança que deve ser orientado do porque está ali. Muitas vezes os responsáveis sentem-se inseguros em relação aos sentimentos da criança e temem que ela possa piorar, é papel do terapeuta retomar as fantasias dos envolvidos no processo.

ü  A criança: 1º contato – observação lúdica, entrevista acompanhada de desenho. Sessões intercaladas com responsáveis e a criança começam a ocorrer.

ü  Pesquisa com os pais a partir do material coletado anteriormente faz-se necessário a certos aspectos da vida cotidiana da criança, pois esse contato abre outras possibilidades de entendimento.

ü  Cada instrumento utilizado (testes, observações) deve ser comunicado aos responsáveis. Para compreenderem de onde o profissional está partindo e quais referenciais teóricos estão usando, podendo participar de decisões sobre o que investigar e desmitificando os instrumentos.

ü  Nessa comunicação a linguagem deve ser acessível ao nível socioeconômico e cultural dos envolvidos para que possa fazer sentido.

ü  Ao final do processo – descrever o passo-a-passo realizado, ler o relatório final e sua síntese profissional aos pais deixando aberto para modificações, alterações, acréscimos ou eliminação de termos ou situações.

 

Psicodiagnóstico interventivo, na abordagem fenomenológica existencial: uma mudança de atitude (27-28 p.)

 

ü  “O cliente, antes agente passivo, torna-se um parceiro ativo e envolvido no trabalho de compreensão e eventual encaminhamento posterior: é corresponsável pelo trabalho desenvolvido”.

ü  “O psicólogo não é mais o técnico, o detentor do saber que procura oferecer respostas às perguntas trazidas pelos pais”.

ü  “A situação de psicodiagnóstico torna-se, então, uma situação de cooperação, na qual a capacidade de ambas as partes observarem, apreenderem e compreenderem constitui a base indispensável para o trabalho”.

ü  “O psicólogo aceita as colocações dos pais a respeito daquilo que eles observam, pensam e concluem, procurando ampliar seu campo de visão, contextualizando a queixa particular para inseri-la em contexto mais amplo”.

ü  “Em geral, através de suas intervenções, o psicólogo procura promover novas possibilidades existenciais na medida em que trabalha com o outro a transformação de seu projeto”.

ü  “A partir de seus contatos com a criança, o psicólogo procura descrever como compreendeu os comportamentos que lhe apareceram”.

ü  “O uso de qualquer instrumento é discutido tanto com os pais como com a criança, sendo explicitados o objetivo e os princípios gerais subjacentes a eles”.

ü  “Assim, o psicodiagnóstico fenomenológico-existencial envolve um trabalho de redirecionamento dos pais a partir da compreensão da criança e da dinâmica familiar, com o objetivo de facilitar o relacionamento, propiciar novas formas de interação e abrir novas perspectivas experienciais”.

 

O estilo das intervenções do psicólogo (28-29 p.)

 

ü  “Para conhecer a criança, o profissional faz uso de diversos instrumentos, pertencentes ao cabedal de recursos dos quais o psicólogo clínico dispõe para atender a um cliente. Entre estes se destacam a observação lúdica, mais utilizada com crianças pequenas, entrevistas e testes”.

ü  “Frequentemente, em se tratando de dificuldades de aprendizagem, é necessário recorrer a testes de nível intelectual”.

ü  “São muitas as críticas que algumas abordagens em Psicologia fazem à utilização deste tipo de instrumento, quando utilizado seguindo as normas da psicometria, mesmo depois de elas serem adaptadas para a população brasileira. Entretanto, a recusa desses instrumentos parece-nos uma atitude extremada, uma vez que pode levar à rejeição de possibilidades de interação com a criança nas situações propostas pelo teste (uma vez que reproduzem algumas daquelas que a criança vive em seu dia a dia)”.

ü  Resumindo, consideramos os testes organizadores que possibilitam a emergência de vivências que ocorrem no cotidiano da criança.

 

Outros recursos utilizados: a visita domiciliar e a visita à escola (p. 29)

 

ü  Visita domiciliar: [...] permite a observação, in loco, da família, assim como a ressignificação de falas e observações ocorridas durante as sessões e à escola: [...] podem-se observar e, às vezes, redimensionar queixas em relação à criança. Dependendo da disponibilidade da escola, ainda torna possível orientar a professora a partir da compreensão da criança.

 

As repercussões deste trabalho sobre os pais (p. 29-31)

 

ü  Em vários casos estudados, nota-se um movimento dos pais que culmina, geralmente, em torno da quinta sessão, quando eles relatam modificações em sua compreensão da criança e tentativas de mudança em sua forma de se relacionarem com ela, ao mesmo tempo que, também, parecem ter perdido seus referenciais, tornando-se dependentes das indicações do psicólogo.

ü  Em alguns casos, o trabalho se encerra nesta primeira fase. De fato, quando os pais não estão motivados para o trabalho proposto, por se mostrar distante de suas expectativas ou muito ameaçador, desistem do atendimento.

 

ü  Em outros casos, porém, é possível instalar-se um campo interacional, no qual os pais e o psicólogo viverão experiências [...] Entretanto, enquanto esta nova construção ainda não se deu e a antiga encontra-se abalada, é como se os participantes pairassem numa espécie de vazio, com a sensação de que perderam o pé, não sabem o que fazer.

ü  É esse o momento em que os aspectos terapêuticos do processo se manifestam mais claramente. Eles foram sendo preparados e aconteceram sem ter sido, obrigatoriamente, formulados através de verbalizações.

ü  Insisto, neste trabalho, busca-se sempre focalizar os aspectos saudáveis da criança e dos pais, fazendo apelo à abertura de novas possibilidades de estar-com em vez da busca de uma adequação a algo considerado “normal” pela ciência, respeitando a cultura e o contexto familiar.

ü  Desse modo, pode-se compreender a importância da elaboração do relatório final [...] permite verificar a consistência e a coerência das conclusões às quais se chegou. Ele tem a finalidade de constituir-se em uma síntese do processo, descrevendo o que ocorreu neste período de atendimento.

ü  Por essa perspectiva, a leitura do relatório no final do atendimento se constitui em um momento significativo do processo. Para isso, o psicólogo está aberto para alterações do texto, caso eles não concordem com este.

 

O follow-up (p. 31-32)

 

ü  A entrevista de follow-up é realizada com a finalidade de retomar, passado algum tempo, a experiência vivida pelos pais durante o psicodiagnóstico, a fim de conhecer sua fecundidade e eficácia.

 

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Das introspecções de o ovo e a galinha em Clarice Lispector.

Ilustração da obra Tacuinum Sanitatis Quem sou eu para desvendar tal mistério se nem mesmo Clarice desvendou, embora intuitivamente eu o sai...