Ser
psicólogo-psicoterapeuta é uma possibilidade de encontro que expõe as questões
ônticas, por exemplo; a obrigação de ter que ser finito do existir. É um
esforço para acolher o outro que se apresenta como um ser relacionável, porém
numa visão particular e individual do que são os outros ou as coisas. Dasein é
suas possibilidades, é clareira que se abre para o que foi entendido,
encontrado e expressado podendo ser expressões autênticas e próximas ou não do
dasein real. Desta forma estas possibilidades são resultado de uma
indeterminação ôntica referentes à existência, fatalidade ou a um esmaecer do
ser.
O psicoterapeuta desvela-se impotente, porque devolve ao
outro a responsabilidade pela recusa de suas possibilidades existenciais.
Diante disto entra-se em cheque: se não cura-se, não se altera sintomas, não
muda-se o outro, pra que serve? Para a liberdade e autonomia do ente. Há desta
maneira uma abertura a própria indigência do psicoterapeuta que promove o
encontro do paciente com a alteridade.
Ser psicólogo-supervisor
é possibilidade de ser psicólogo, mas ao auxiliar o estagiando a ênfase não
está no paciente e sim no supervisionando. É o momento de proporcionar ao
supervisionando liberdade para ser e estar com o paciente, ou seja; cuidar para
que este seja fenomenológico. Este encontro com o estagiando deve levá-lo a
questionar-se sobre os modos como se encontra com o paciente e consiga por ele
mesmo direcionar sua ação na compreensão do outro e de si mesmo.
O plantão sugere
rearticular o sentido que dá base ao sofrimento. Não produz efeitos
pré-determinados, mas abre possibilidades indeterminadas de novos vir a ser.
Neste contexto psicólogo plantonista é testemunha do fenômeno, cuidando para
que o ser existente não se perca, acolhendo-o como vier naquele momento. Mais
do que um serviço, é um acontecimento.
O professor no
contato com seus alunos descobre os seus modos de ser, à medida que observa
como eles se colocam diante dos pacientes e as suas interpretações discursivas
diante daquilo que tem contatado. Esses
modos de ser revelam aprisionamentos teóricos e defesa de valores que nem mesmo
eles têm consciência de onde proveem. Ao questionarem-se eles podem se abrir
para o outro e para si mesmos de multiformas.
O eixo de história
pessoal e sentido de vida se encontram na noção e na prática da
narrativa segundo a filósofa Critelli. A historiobiografia é a narrativa da
história pessoal que faz emergir o sentido da vida e é juntando
"história" e "sentido" que a narrativa enreda os eventos transformando
a vida em biografia. Muitos dos problemas decorrem da incompreensão do sentido
da vida que os originaram.
Nessa perspectiva, a
filosofia pode ser uma ferramenta fundamental. Quando se pensa, transformam-se
crenças e modos de viver. A filosofia não é clínica, mas possui uma inequívoca
força terapêutica, que reside naquilo que propriamente a caracteriza: sua
estrutura reflexiva. Toda reflexão é um exercício de entendimento que retira os
eventos de seu ocultamento (que vai do mero desconhecimento às interpretações
corriqueiras) e os lança à luz.
Enfim, conclui Evangelista: “O que as
experiências que retomo até agora revelam é que a fenomenologia existencial
abre possibilidades de ser com o outro, seja na condição de psicoterapeuta,
psicólogo, conselheiro, plantonista, supervisor e professor. Não é o que se
faz, portanto, mas como se faz.” (p. 231).
Referências
Bibliográficas
EVANGELISTA, P. E. R. A. Psicologia
Fenomenológica Existencial: a prática psicológica à luz de Heidegger. Curitiba: Juruá, 2016, pp. 215-237.
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