sábado, 12 de dezembro de 2020

Síntese do Texto [Evangelista, P. E. R. A., Que posso eu, psicólogo? Cap. XI]

 

Ser psicólogo-psicoterapeuta é uma possibilidade de encontro que expõe as questões ônticas, por exemplo; a obrigação de ter que ser finito do existir. É um esforço para acolher o outro que se apresenta como um ser relacionável, porém numa visão particular e individual do que são os outros ou as coisas. Dasein é suas possibilidades, é clareira que se abre para o que foi entendido, encontrado e expressado podendo ser expressões autênticas e próximas ou não do dasein real. Desta forma estas possibilidades são resultado de uma indeterminação ôntica referentes à existência, fatalidade ou a um esmaecer do ser.

            O psicoterapeuta desvela-se impotente, porque devolve ao outro a responsabilidade pela recusa de suas possibilidades existenciais. Diante disto entra-se em cheque: se não cura-se, não se altera sintomas, não muda-se o outro, pra que serve? Para a liberdade e autonomia do ente. Há desta maneira uma abertura a própria indigência do psicoterapeuta que promove o encontro do paciente com a alteridade.

Ser psicólogo-supervisor é possibilidade de ser psicólogo, mas ao auxiliar o estagiando a ênfase não está no paciente e sim no supervisionando. É o momento de proporcionar ao supervisionando liberdade para ser e estar com o paciente, ou seja; cuidar para que este seja fenomenológico. Este encontro com o estagiando deve levá-lo a questionar-se sobre os modos como se encontra com o paciente e consiga por ele mesmo direcionar sua ação na compreensão do outro e de si mesmo.

O plantão sugere rearticular o sentido que dá base ao sofrimento. Não produz efeitos pré-determinados, mas abre possibilidades indeterminadas de novos vir a ser. Neste contexto psicólogo plantonista é testemunha do fenômeno, cuidando para que o ser existente não se perca, acolhendo-o como vier naquele momento. Mais do que um serviço, é um acontecimento.

O professor no contato com seus alunos descobre os seus modos de ser, à medida que observa como eles se colocam diante dos pacientes e as suas interpretações discursivas diante daquilo que tem contatado.  Esses modos de ser revelam aprisionamentos teóricos e defesa de valores que nem mesmo eles têm consciência de onde proveem. Ao questionarem-se eles podem se abrir para o outro e para si mesmos de multiformas.

 O eixo de história pessoal e sentido de vida se encontram na noção e na prática da narrativa segundo a filósofa Critelli. A historiobiografia é a narrativa da história pessoal que faz emergir o sentido da vida e é juntando "história" e "sentido" que a narrativa enreda os eventos transformando a vida em biografia. Muitos dos problemas decorrem da incompreensão do sentido da vida que os originaram.

Nessa perspectiva, a filosofia pode ser uma ferramenta fundamental. Quando se pensa, transformam-se crenças e modos de viver. A filosofia não é clínica, mas possui uma inequívoca força terapêutica, que reside naquilo que propriamente a caracteriza: sua estrutura reflexiva. Toda reflexão é um exercício de entendimento que retira os eventos de seu ocultamento (que vai do mero desconhecimento às interpretações corriqueiras) e os lança à luz.

Enfim, conclui Evangelista: “O que as experiências que retomo até agora revelam é que a fenomenologia existencial abre possibilidades de ser com o outro, seja na condição de psicoterapeuta, psicólogo, conselheiro, plantonista, supervisor e professor. Não é o que se faz, portanto, mas como se faz.” (p. 231).

 

Referências Bibliográficas

 

EVANGELISTA, P. E. R. A. Psicologia Fenomenológica Existencial: a prática psicológica à luz de Heidegger. Curitiba: Juruá, 2016, pp. 215-237.

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